Melisa andava pela sua casa, com os pais ao seu lado, tentando absorver este novo mundo em que ela se encontrava.
A casa dos Blackflames era agradável, com tetos altos e alguns móveis ornamentados. Pinturas adornavam as paredes também. Eles pareciam bastante abastados.
Sua mãe, percebendo seu olhar espantado, sorriu gentilmente.
"Alguma coisa aqui parece familiar para você, querida?" ela perguntou, a esperança colorindo a sua voz.
Melisa balançou a cabeça.
"Nem um pouco."
Seus pais trocaram um olhar, suas expressões se abatendo.
"Nós... nós nem sabemos por onde começar," disse seu pai, sua voz carregada de preocupação. "Como ajudamos você a se lembrar de uma vida que você esqueceu completamente?"
Melisa pensou por um momento, uma ideia se formando em sua mente.
"Talvez... talvez devêssemos arrumar um tutor para mim," ela sugeriu, escolhendo suas palavras com cuidado. "Alguém que possa me atualizar sobre os detalhes, me ajudar a recuperar tudo o que perdi."
Seus pais, surpresos, assentiram, um alívio passando por suas feições.
"É uma ideia maravilhosa, Melisa," disse sua mãe, apertando sua mão. "Vamos encontrar a melhor pessoa para o trabalho, prometemos!"
"Mas..." disse seu pai.
"Não agora," sua mãe o interrompeu. "Mas... quando nossos assuntos estiverem resolvidos, certo?"
Ele suspirou.
"Certo. Uma vez... Sim."
Conforme continuavam o tour pela casa, a mente de Melisa se enchia de perguntas.
Ela queria perguntar sobre muitas coisas. A terra, magia, quem eles eram.
Mas ela tinha que ter cuidado. Ela não podia deixar parecer que era uma estranha, que não tinha nenhuma conexão real com esse lugar ou essas pessoas.
Então ela escolheu suas palavras com cuidado, selecionando uma pergunta dentre as muitas que flutuavam em seu crânio.
"Uhmm, eu notei," ela começou, seu tom casual, "que somos diferentes daquele outro cara. Aquele com a pele pálida. Por que isso?"
Sua mãe assentiu, um olhar de compreensão cruzando seu rosto.
"Ah, você quer dizer o humano," ela disse, sua voz assumindo um tom levemente didático. "Não somos humanos, Melisa. Nós somos nims."
As sobrancelhas de Melisa se ergueram.
[Então... nós não somos súcubos? Ou, pelo menos, há um nome diferente para nós aqui?]
"Nims?" ela repetiu, a palavra soando estranha e exótica em sua língua. "O que isso significa, exatamente? Como somos diferentes dos humanos?"
Por alguma razão, essa pergunta fez seus pais fazerem uma careta.
Foi então que Melisa foi atingida por uma revelação particular. Uma revelação que fez com que ela quisesse cair de joelhos e chorar.
O rosto de seu pai se tornou sombrio enquanto ele começou a explicar:
"Bem, para começar," ele disse, sua voz carregada de arrependimento, "você viu o que a mão do humano fez enquanto pairava sobre você? Como brilhou?"
"Mhm."
"Bem, nós não podemos fazer isso," ele declarou. "Isso se chama magia e... nós não podemos usar isso. É uma limitação de nossa espécie, infelizmente."
E o mundo de Melisa se despedaçou.
Magia tinha sido uma das coisas que ela mais estava animada para esse novo mundo, uma chance de empunhar poder além de seus sonhos mais selvagens.
[Eu... não posso usar magia?] ela pensou, sua mente girando. [QUE TIPO DE FANTASIA ISEKAI É ESTA!?]
Mas ela tentou manter seu rosto neutro, não querendo deixar transparecer o quanto essa notícia a afetara.
"Entendo," ela disse, sua voz cuidadosamente controlada. "Isso é... isso é bom saber."
Seu pai assentiu, um olhar de simpatia cruzando seu rosto.
"Há uma outra coisa que você deve saber sobre nossa espécie," ele disse, seu tom ficando levemente constrangido. "Nims precisam de... afeto físico para manter sua saúde. Abraços, eu quero dizer, hehe." Ele esclareceu enquanto Melisa viu sua mãe lançar um olhar severo para seu pai. "Sem eles, podemos enfraquecer e adoecer. Humanos não são assim."
Os olhos de Melisa se arregalaram, sua mente imediatamente fazendo um paralelo com os súcubos de seu mundo antigo.
[Então nós precisamos drenar a força vital dos outros,] ela pensou, uma estranha mistura de animação e apreensão a preenchendo. [Ou, algo assim. Pode não ser o mesmo que as histórias que eu li na Terra, mas... sim, nós basicamente somos súcubos. Somos súcubos em tudo menos no nome.]
Ela assentiu, tentando parecer como se essa informação fosse nova para ela.
"Entendo," disse ela, sua voz cuidadosamente neutra. "Eu... eu vou ter isso em mente." Melisa então perguntou, "quais outras raças existem neste mundo?" ela perguntou, uma genuína curiosidade em sua voz. "Além de nim e humanos, quero dizer."
Sua mãe respondeu desta vez.
"Duas outras," ela disse, parecendo muito aliviada em se afastar do último assunto. "Os darians, para começar. Eles são meio-dragões. Você... lembra o que é um dragão?"
As sobrancelhas de Melisa se ergueram outra vez, seu interesse despertado.
"Pessoas dragão?" ela repetiu, uma nota de admiração em sua voz. "Isso é... isso é incrível."
"Vou entender isso como um sim," sua mãe riu. "Então há os kitsune. Uma raça totalmente feminina de... bem, na aparência, são basicamente humanos com orelhas de raposa e caudas de raposa."
[AGORA SIM, ISSO É MAIS PARECIDO!] Ela pensou com um pequeno sorriso maroto. [Meninas raposa... Caramba, eu quero ver uma tão desesperadamente!]
Mas mesmo enquanto ela se deleitava nas possibilidades, mais perguntas puxavam a parte de trás de sua mente.
Ela continuou a perguntar.
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"Uhm, qual é o nome de vocês?"
Os pais dela piscaram.
Então, rindo, seu pai se ajoelhou primeiro e disse:
"Meu nome é Melistair."
"E eu sou Margaret."
[E eu sou Melisa. Certo.]
"Agora, vamos lá," disse Margaret, "você não come há uma eternidade. Vamos colocar alguma comida nesse estômago!"
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Melisa sentava em seu quarto, um livro sobre magia aberto em seu colo. Sua testa estava franzida em concentração enquanto se dedicava à leitura dessas páginas.
[Não posso acreditar nisso,] pensou ela. [Que tipo de protagonista de isekai sou eu se nem ao menos consigo usar magia?]
Seus pais ficaram confusos quando ela pediu livros sobre o assunto, dado sua incapacidade para manejá-la. Mas Melisa estava determinada. Era para ser a história dela, a chance de viver todas aquelas fantasias que ela tinha lido de volta na Terra.
Ela tinha que encontrar um jeito.
O livro começou a se aprofundar nas complexidades da magia, explicando como alguém poderia extrair sua Essência interior e tecê-la em feitiços tangíveis. Os Magos, pelo visto, eram chamados de "tecelões" exatamente por isso.
Havia 4 escolas de magia: Elemental, Vida, Arcano e Mental. De acordo com o livro, a mais fácil de aprender era a classe de magia da Água, dentro da escola Elemental.
[Certo, vamos tentar,] pensou Melisa, fechando os olhos e tentando se concentrar no poço de poder dentro dela.
Ela buscou profundamente, procurando aquela centelha de Essência que o livro descrevia.
"HOOOMPH!" Ela se esforçou, como se isso permitisse que sua magia se manifestasse.
Mas, por mais que tentasse, ela não sentia nada.
Nenhuma calor, nenhuma sensação de formigamento, nenhuma onda de energia percorrendo suas veias, nada do que o livro descrevia aconteceu.
"Agh," ela se desanimou. "Droga!" Ela fechou o livro com força. "Eu... eu realmente não consigo usar magia?"
[Que reencarnação terrível.]
Enquanto ela se sentava ali, mergulhada em sua decepção, um som chamou sua atenção.
Era a voz de sua mãe, elevada num tom que soava como raiva ou aflição.
"Hã?"
Curiosa, Melisa saiu de mansinho de seu quarto, movendo-se silenciosamente pelos corredores da grande casa. Conforme se aproximava da sala principal, as vozes ficavam mais claras.
"Vamos à falência, Melistair!" sua mãe estava dizendo, seu tom agudo com preocupação. "Se não encontrarmos uma forma de reverter isso, vamos perder tudo!"
O coração de Melisa afundou.
[Falência? O quê???]
A voz de seu pai estava tensa conforme ele respondia:
"Eu sei, Margaret. Estou tentando resolver o problema, mas Striker está sendo... difícil."
[Striker?] Melisa pensou, sua mente correndo. [Quem é esse?]
Seu pai suspirou, sua voz pesada.
"Eu-I pedi por mais um pouco de tempo, mas ele... rejeitou a ideia."
A mãe de Melisa soltou uma risada amarga.
"Claro que ele fez," disse ela, seu tom afiado com ressentimento. "Você realmente achou que ele simplesmente esqueceria o empréstimo?"
Seu pai ficou em silêncio por um momento. Então, ele disse:
"Eu vou compensar," disse ele, seu tom de repente feroz. "Vou trabalhar o dobro. Mais horas. Farei o que for necessário. Eu prometo."
Houve um momento de silêncio.
"Eu sei que você vai," disse a mãe dela. "Só me pergunto se será suficiente."
O coração de Melisa disparou, sua mente girando com essa nova informação.
[Que diabos aconteceu com essa família?]
Mas ela não podia se dar ao luxo de ser pega bisbilhotando. Silenciosamente, ela voltou para seu quarto, seus pensamentos girando como um redemoinho.
Ela andava de um lado para o outro, sua testa franzida em concentração.
[Por quê? Por que eu seria enviada para uma família à beira do colapso? E eu não consigo usar magia!? Que tipo de piada cruel é essa?]
Mas mesmo enquanto as perguntas e dúvidas a assaltavam, Melisa balançou a cabeça.
Ela acabou de chegar. Ela precisava manter a cabeça erguida.
[Não,] pensou ela, seus punhos cerrados ao lado do corpo. [Eu não vou deixar isso me vencer. Não vou deixar essa segunda vida desmoronar. Não tão cedo.]
Ela não sabia como, mas de alguma maneira, ela iria melhorar as coisas.
Mas primeiro, precisava aprender mais.
Ela precisava entender o que aconteceu com a família Blackflame, e por que eles estavam em uma situação tão desesperadora. Ela precisava saber quem era esse Striker, e por que ele estava dificultando tanto para seu pai.
[Conhecimento é poder,] pensou ela. [E eu preciso me armar até os dentes.]
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