Chapter 15 - Feiticeira, Parte Um

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Uma semana passou num piscar de olhos.

Melisa, armada com uma pequena bolsa de sóis que seu pai tinha conseguido economizar, marchou para dentro da loja do velho, cantarolando uma musiquinha.

O lojista olhou para cima quando ela entrou, suas sobrancelhas subindo em reconhecimento.

"Ah, a jovem inventora retorna!" ele exclamou, um indício de diversão em sua voz. "Veio compartilhar alguma nova descoberta revolucionária comigo?"

Melisa bufou, balançando a cabeça.

"Não desta vez, senhor. Estou aqui por uma missão diferente hoje."

Ela se apoiou no balcão, fixando o homem com um olhar sério.

"Preciso de magias. As boas, nada de coisinhas para iluminação noturna. Estou falando de bolas de fogo, raios, qualquer coisa assim!"

O velho riu, acariciando sua barba.

"Ambiciosa, hein? Bem, eu devo ter alguns pergaminhos que podem te ajudar. Deixe-me apenas-"

O tinir do sino da loja o interrompeu.

Um novo cliente chegou.

Melisa olhou por cima do ombro, e seu queixo quase caiu no chão.

[Nossa...]

Ela corou.

Parada na porta estava uma jovem radiante, provavelmente no início dos 20 anos, com cabelos cor-de-laranja claro amarrados em duas tranças. Seus olhos eram de um tom de verde hipnotizante, um pouco mais escuros que os de Isabella, mas igualmente marcantes.

[Caramba, ela é linda!] Melisa pensou, seu coração saltando uma batida. [Mas... Uma humana? O que ela está fazendo aqui?]

Mas não era apenas a beleza da mulher que chamava a atenção de Melisa. Eram as roupas dela, um conjunto prático de armadura de couro e calças que valorizava suas curvas nos lugares certos.

[Vestida para viajar. Provavelmente não planeja ficar por muito tempo.]

Melisa balançou a cabeça então.

[Concentre-se, Melisa! Você está aqui por magias, não por aventureiras sexy!... Ainda.]

Mas mesmo enquanto voltava a se concentrar no lojista, ela não podia evitar de dar olhadelas na mulher.

[Me pergunto qual é a dela. Será que é uma mercenária? Uma caçadora de tesouros? Com certeza, este mundo tem que ter esse tipo de pessoa.]

Foi tudo o que precisou para a imaginação de Melisa disparar.

[Cara, uma vez que eu me tornar feiticeira, é exatamente esse tipo de mulher com quem eu quero sair por aí, me metendo em encrencas e tendo aventuras juntas...]

Ela suspirou sonhadora, momentaneamente perdida em suas fantasias.

[Ahh... Noites atrasadas em volta da fogueira, compartilhando histórias e segredos... beijos de língua sob as estrelas~]

"Ahem."

A tosse pontuada do lojista trouxe Melisa de volta à realidade.

"Suas magias, jovem senhora?"

Melisa corou, percebendo que tinha sido pega olhando fixamente.

"Certo, sim, magias! É para isso que eu vim, sim."

Ela riu nervosamente.

Melisa se virou para o lojista, tentando ignorar a presença da mulher deslumbrante.

"Então, onde estão aqueles, uh, pergaminhos que você mencionou?"

O velho apontou para um canto da loja, seus olhos brilhando divertidos.

"Terceira prateleira de baixo para cima, à esquerda. Tome seu tempo, tenho certeza de que encontrará algo adequado para suas... necessidades."

Melisa assentiu, fazendo seu caminho até a prateleira.

Ao fuçar pelos pergaminhos, ela não pode evitar de sentir o peso do olhar da mulher em suas costas.

Ela tentou se concentrar nos pergaminhos, mas o som da voz da mulher chegou flutuando até ela, fazendo suas orelhas se animarem.

"A Estrada Negra ainda está inacessível?"

"Como sempre, receio eu," a mulher respondeu. "Tem estado assim desde que eu deixei Syux."

[Syux? Eu vi esse nome nos livros do papai. Não é a nação humana? O que ela está fazendo tão longe daqui?]

"E, com sorte, vai continuar assim quando você voltar, Javir," o velho disse.

[Javir,] Melisa disse. [Nome estranho. Talvez comum neste mundo, embora.]

"Ficaria muito surpresa, já que isso não vai acontecer tão cedo."

"Ah, dê mais duas semanas. Eles estarão implorando para tê-la de volta num instante."

"De algum jeito, duvido disso."

A mão de Melisa pousou em um pergaminho rotulado "Tempestade de Gelo," e seus olhos se arregalaram de excitação.

[Ahhh isso parece perfeito! Chamativo, poderoso!]

Ela agarrou o pergaminho, virando-se para voltar ao balcão. Mas enquanto se aproximava, a voz de Javir a parou.

"Perdoe minha curiosidade, pequena, mas por que uma nim está comprando um pergaminho de magia? Sua espécie não consegue usar magia."

[Hehe, ela faz uma afirmação incorreta tão confiantemente. Que adorável,] Melisa pensou se sentindo bastante convencida.

Antes que ela pudesse dizer qualquer coisa, porém, o velho respondeu por ela.

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"Ah, mas a jovem Melisa aqui é um caso especial! Ela descobriu uma maneira de nim lançar feitiços, embora esteja guardando os detalhes a sete chaves."

As sobrancelhas de Javir se arquearam, e ela se virou para Melisa com um olhar de surpresa impressionada.

"O quê?"

Aquilo foi provavelmente o "o quê?" mais confuso que ela já tinha ouvido. Nem era alto, mas tão genuinamente surpreso.

"Sim," disse Melisa, orgulhosa.

Javir apenas olhou para ela por um momento.

"É mesmo? Como você conseguiu fazer isso?"

Melisa sorriu, tentando parecer misteriosa e atraente.

"É segredo," disse ela, tocando o lado do nariz. "Mas, se você quiser ver..."

Usar uma pequena quantidade de sua Essência acumulada não faria mal, certo?

Primeiro, ela levantou as mãos, mostrando que não estava usando uma runa. Então, ela atraiu sua Essência (carregada através de abraços e beijos, como de costume) e lentamente começou a desenhar o signo do feitiço para Iluminar.

Uma semana após mais experimentação, ela havia descoberto o que acontecera, e era por isso que estava agindo com tanta lentidão agora.

Um erro de disparo.

À primeira vista, a magia neste mundo parecia muito simples. Diga algumas palavras, mova sua mão em um padrão predefinido e boom! Magia.

Mas, não. Uma coisa complicava a questão, e era o erro de disparo.

Se você desenhasse o feitiço errado ou falasse as palavras incorretamente, então não só você não lançaria o feitiço, mas o dobro da Essência que você usaria para lançá-lo seria gasta.

O que realmente tornava isso tão punitivo era o quão implacável a magia poderia ser quando se tratava do que constituía "cometer um erro".

Falar uma sílaba com o tom errado? Erro de disparo.

Desenhar uma única linha incorretamente? Erro de disparo.

E, se a suposição de Melisa estivesse certa, havia provavelmente outras razões pelas quais as ruas não estavam repletas de feiticeiros com um sistema de magia tão, à primeira vista, simples. Mas, o erro de disparo já era um grande desmotivador por si só.

Com isso em mente, Melisa vinha praticando os feitiços que conhecia intensamente, e agora ela se certificou de desenhar o signo do feitiço no ar bem lentamente.

[Isso, isso e... Diga as palavras... Voilà!]

O feitiço foi ativado.

Javir recuou.

"Você... Você conseguiu," disse ela suavemente.

"Consegui, não foi?"

[Arrasou! Vamos lá, eu sou a garota de 9 anos mais legal que você já viu, admita!]

"Então, é isso," disse Melisa. "Eu posso fazer isso."

E, com isso, ela retomou seus afazeres e foi comprar o pergaminho.

Mas quando Melisa alcançou sua bolsa de moedas, Javir falou novamente, enviando uma onda de choque pelo sistema de Melisa.

"Olha, se você está querendo aprender mais sobre magia, eu poderia te mostrar uma coisa ou duas."

Melisa ficou pasma.

"O quê?"

Javir se inclinou sobre o ombro de Melisa, olhando o pergaminho que ela estava prestes a comprar.

"Tempestade de Gelo. Habilidade totalmente confiável. Eu já lancei isso muitas vezes. Que tal? Eu deveria te ensinar?" Ela perguntou. "Quer que eu seja sua tutora?"

Melisa não conseguia compreender o que estava acontecendo.

[... Ela está falando sério? Ela acabou de se oferecer para me ensinar? Tipo, aulas particulares, só nós duas? Sério mesmo?]

Ela tentou se manter calma, mas sua voz saiu num tom esganiçado.

"R-Realmente? Você faria isso? Por mim?"

Javir deu de ombros com um pequeno sorriso.

"Por que não? Ou você já tem um professor?"

"N-Não, eu não tenho."

"Então, o que você me diz?" Javir agachou-se, colocando-se na altura dos olhos de Melisa. "Quer aprender uma coisa ou duas?"

O coração de Melisa disparou.

[É isso! Essa é a minha chance de aprender com uma verdadeira feiticeira! Eu- Será que minha sorte mudou? Estou me tornando a protagonista!?]

Ela assentiu vigorosamente, praticamente pulando de excitação.

"Sim! Sim, eu adoraria! Quando podemos começar? Onde devemos ir? Preciso levar alguma coisa? Ah, provavelmente devo avisar meus pais, eles podem se preocupar se eu simplesmente desaparecer, mas tenho certeza de que eles vão entender, isso é uma oportunidade única na vida e-"

Javir riu, levantando as mãos para conter o fluxo de palavras de Melisa.

"Calma lá, criança! Um passo de cada vez. Vamos começar com as apresentações e seguimos daí, tá bom?"

Melisa corou, percebendo que havia se adiantado demais.

"Certo, desculpa. Eu sou Melisa. Melisa Chama Negra. E estou pronta para aprender tudo que você tem para me ensinar!"

Ela estendeu a mão, sorrindo de orelha a orelha.

Javir fez o mesmo.

"Eu sou Javir da Casa Folden. Prazer em conhecer."