Chapter 16 - Feiticeira, Parte Dois

{Javir}

Javir não podia acreditar no que via.

Um nim, uma menininha ainda por cima, capaz de lançar feitiços? Parecia que estava sonhando.

[Por tanto tempo, nos disseram que nims não podem lançar feitiços,] Javir pensou. [Será que isso foi uma mentira?]

Ela só tinha planejado ficar na vila por um dia, apenas o suficiente para reabastecer seus suprimentos. Mas agora, diante dessa incrível descoberta, sabia que tinha que ficar um pouco mais.

[Eu tenho que observá-la, aprender mais sobre como ela faz isso. Não vou conseguir dormir se eu não fizer.]

Com isso em mente, Javir se encontrou de pé diante dos pais da Melisa, apresentando-se com uma reverência educada.

"Saudações, Sr. e Sra. Blackflame. Meu nome é Javir da Casa Folden. Não pude deixar de notar as notáveis habilidades mágicas de sua filha e... Eu pensei que poderia ensinar algo ou outro para ela."

Margaret e Melistair trocaram um olhar surpreso, mas Melisa estava praticamente vibrando de excitação.

"Ela vai me ensinar, gente! Javir é uma maga de verdade, e ela vai me mostrar como lançar todos os tipos de feitiços legais!"

[Ah, ela não é adorável?]

Javir deu uma risadinha, tirando um pergaminho de sua mochila e entregando-o para Melisa.

"Vamos começar com o básico, certo? Esta é uma versão anterior do feitiço de Tempestade de Gelo, um pouco mais simples e menos poderoso. Quero que você aprenda este primeiro, antes de passar para a versão mais avançada. Apenas tente memorizá-lo. É só isso."

Melisa agarrou o pergaminho, seus olhos brilhando com determinação.

"Pode deixar, professora! Vou dominar isso rapidinho!"

Com isso, ela saiu correndo, ansiosa para começar seu treinamento mágico.

Javir balançou a cabeça, um sorriso divertido em seu rosto.

[Pequena entusiasmada, ela não é? Bem, pelo menos isso promete ser interessante.]

Ela se virou de volta para os pais de Melisa, gesticulando para um banco próximo.

"Talvez possamos conversar um momento? Estou curiosa para saber mais sobre as habilidades únicas de sua filha."

Margaret assentiu, liderando o caminho até o banco.

Mas assim que se sentaram, Javir fez questão de deixar uma distância significativa entre si e a mulher nim.

"Antes disso, Javir, me conte um pouco sobre você. De onde você vem?"

Javir se inclinou para trás, cruzando as pernas.

"Syux," Javir respondeu. "Na verdade, eu costumava ser professora na Academia Syux."

As sobrancelhas de Margaret levantaram, impressionadas. Ela tinha bons motivos para isso.

"Academia Syux? Isso é bem prestigioso! Mas o que você está fazendo tão longe de casa, então?"

O sorriso de Javir vacilou, e ela desviou o olhar, distante.

[Ah, droga. Como eu respondo isso sem entrar em todos os... detalhes?]

Ela realmente não queria contar para Margaret sobre o escândalo que havia abalado a academia. Não porque ela tinha feito algo errado, mas porque todo o caso deixou um gosto amargo em sua boca.

[Melhor manter vago, Javir. Não precisa sobrecarregar essa senhora simpática com sua bagagem.]

Ela pigarreou, voltando-se para Margaret com um encolher de ombros.

"Ah, você sabe como é. Às vezes você só precisa de uma mudança de cenário, uma chance de esticar as pernas e ver o mundo."

Não era uma mentira completa. Depois de tudo o que havia acontecido, Javir estava ansiosa para se afastar de Syux, para colocar uma distância entre ela e aquelas pessoas horríveis e sua política interminável.

Mas enquanto observava Melisa praticando seu novo feitiço, com a língua para fora em concentração, Javir sentiu uma pontada de nostalgia.

"Embora eu tenha que admitir," disse ela suavemente, "ver o entusiasmo de sua filha pela magia... está começando a me fazer sentir falta de ensinar, mesmo que só um pouco."

Margaret seguiu seu olhar, um sorriso orgulhoso em seu rosto.

"Sinceramente? Ela nunca foi realmente do tipo curiosa. Estou meio chocada que ela tenha se interessado por magia tão rapidamente."

"Como assim?"

"Até onde eu sei..." Margaret sorriu, envergonhada. "Ela só descobriu como usar magia essa semana."

As sobrancelhas de Javir subiram.

"Ela fez? Você-"

"Nós não fizemos nada, meu marido e eu," Margaret deixou claro. "Foi tudo ela."

[Isso é... incrível.]

Javir deu uma risada, balançando a cabeça.

"Você tem uma verdadeira prodígio em mãos, então, Sra. Blackflame. Com o treinamento e orientação certa, Melisa poderia se tornar uma pessoa bem notável."

Melisa de repente notou a disposição estranha dos assentos, Javir estando tão longe de Margaret, e falou alto.

"Ei, por que você está sentada tão longe da minha mãe? Tem algo errado? Ela cheira mal ou algo assim?"

"MELISA!" Margaret gaguejou, mas Javir apenas gargalhou.

Aí, Javir hesitou, olhando para Margaret.

"Vocês... já tiveram 'a conversa' com ela? Sobre os efeitos dos nim nas outras raças?"

Margaret balançou a cabeça, parecendo desconfortável.

"Não, ainda não. Não essa parte, de qualquer forma. Ela ainda é jovem, e, bem... Devido a complicações de saúde, ela só agora está começando a ver o mundo ao redor. Ainda não tínhamos chegado nessa parte."

"Hm. Acho que eu poderia dar a ela a versão resumida."

Javir suspirou, voltando-se para Melisa com uma expressão séria.

"Escuta, criança. Se eu me sentar muito perto da sua mãe, ou de qualquer outro nim, por falar nisso, minha mente pode ficar um pouco... bagunçada."

Melisa inclinou a cabeça, a confusão estampada em seu rosto.

"Bagunçada? Como assim?"

Javir passou a mão pelos cabelos, tentando encontrar as palavras certas.

"É como... como se meus pensamentos ficassem todos embaralhados. Eu começo a sentir coisas, desejar coisas que normalmente não desejo. Não é culpa da sua mãe, é apenas a maneira como os nim são. É a natureza de vocês."

Os olhos de Melisa se arregalaram, uma compreensão súbita surgindo.

"Ah! Você quer dizer por causa de toda a coisa 'os nim precisam de afeto físico', certo?"

Javir piscou, surpresa com o conhecimento da menina.

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"Uh, sim. Isso mesmo. Como você...?"

"Nós falamos sobre essa parte," Margaret acrescentou, corando.

Ela olhou para a mãe, depois para Javir, um brilho travesso nos olhos.

"Então, se você está preocupada em ficar muito perto da minha mãe... isso significa que você acha ela bonita? Você gosta dela?"

Javir gaguejou, suas bochechas ficando vermelhas.

"O quê? Não! Quer dizer, não que sua mãe não seja atraente, mas não é esse o ponto!"

Margaret, por sua vez, apenas riu, balançando a cabeça diante das travessuras da filha.

"Melisa, querida, que tal você ir praticar aquele seu novo feitiço? Tenho certeza que eu e Javir ficaremos bem conversando sozinhas."

Melisa fez beicinho mas obedeceu, saindo pulando com o pergaminho apertado contra o peito.

Javir observou-a ir, um sorriso resignado no rosto.

[Essa pirralha atrevida.]

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{Melisa}

Depois, Melisa jogou-se na grama, ofegando pesadamente enquanto a última da sua Essência se esvaía. Ela tinha praticado o novo feitiço por horas, determinada a dominá-lo antes que Javir fosse embora.

[Caramba, estou completamente esgotada,] ela pensou, enxugando o suor da testa. [Mas acho que agora peguei o jeito!]

Javir se aproximou, com um sorriso cansado no rosto.

"Tudo bem, garota, acho que por hoje é suficiente. Você fez um bom progresso, mas eu preciso descansar. Andei bastante e esses ossos velhos não são mais o que costumavam ser."

Melisa viu as sobrancelhas de Margaret se levantarem.

"Você está brincando? Você é tão jovem!" Margaret disse. "Acredite, só piora daqui para frente!" Ela riu.

Sorrindo de lado, Javir caminhou até elas.

Aproximando-se, Javir disse:

"Se você é um exemplo do que me espera, então não tenho nada a temer."

Os olhos de Margaret se arregalaram. Os olhos de Melisa também.

Javir deu um passo para trás, parecendo envergonhada, limpando a garganta.

Melisa levantou a sobrancelha.

[Ah... Foi um exemplo daquela 'bagunça' da qual ela falava?]

Melisa se sentou, uma mistura de decepção e compreensão no rosto.

"Ah, já? Mas eu estava começando a pegar o jeito!"

Javir riu, voltando ao normal e bagunçando carinhosamente o cabelo preto de Melisa.

"Eu sei, eu sei. Mas confie em mim, descanso é tão importante quanto a prática. Você não quer se esgotar."

Ela se virou para Margaret, fazendo um aceno educado.

"Vou ficar na estalagem local por alguns dias, se estiver tudo bem para vocês. Pensei que seria mais fácil continuar o treinamento da Melisa se eu estiver por perto."

Margaret sorriu, concordando com a cabeça.

"Claro, Javir. Somos gratos pelo tempo que você está dedicando para ensinar nossa filha. Por favor, sinta-se em casa em nossa vila."

Javir sorriu, jogando a mochila no ombro.

"Farei isso. Te vejo amanhã cedo, Melisa. Esteja pronta para trabalhar duro!"

Com isso, ela partiu, deixando Melisa e a mãe sozinhas no jardim.

Melisa a observou ir, com uma expressão pensativa no rosto. Algo estava incomodando em sua mente durante o treino, uma pergunta que ela não conseguia ignorar.

Ela olhou para Margaret, sua voz hesitante.

"Mãe? Posso te perguntar uma coisa?"

Margaret sentou-se ao seu lado, uma expressão curiosa no rosto.

"Claro, querida. O que está te preocupando?"

Melisa mordeu o lábio, tentando encontrar as palavras certas.

"Bem, é só que... Javir disse que os nim têm esse efeito 'bagunçado' em outras raças, certo? Que nós confundimos os pensamentos deles e tal."

Margaret assentiu, um traço de desconforto em seus olhos.

"Isso mesmo. É uma parte da nossa natureza, algo que não conseguimos realmente controlar."

A testa de Melisa se franziu, confusa.

"Mas eu nunca vi isso acontecer comigo. E a Javir também disse que os nim ficam doentes se não receberem carinho físico suficiente, mas eu me sinto bem. Por que será? Quer dizer, abraços e beijos na testa são realmente o suficiente?"

Margaret suspirou, puxando Melisa para um abraço gentil.

"Isso porque você ainda não atingiu a maturidade, querida. Você ainda é jovem."

Ela se afastou, olhando nos olhos de Melisa com uma expressão séria.

"Mas quando você atingir a maturidade, é quando os verdadeiros efeitos de ser uma nim começarão a aparecer. Você começará a ter esse efeito... 'bagunçado' nos outros, e precisará de muito mais carinho físico do que apenas abraços e beijos para se manter saudável."

Melisa assentiu.

"Então... então eu vou fazer as pessoas se sentirem estranhas? E eu vou ficar doente se eu não... abraçá-las ou algo assim?"

Margaret assentiu, com um sorriso triste no rosto.

"Receio que sim, querida. É parte de quem somos."

Melisa engoliu em seco, sua mente acelerando com as implicações.

"Só tenha isso em mente, porém," Margaret disse. e os olhos de Melisa foram atraídos para ela.

"Sim?"

"Quando começar a acontecer," ela começou, "e, acredite, você vai saber quando chegar a hora, venha falar comigo, certo? Vou te contar como lidar com isso responsavelmente então. Ok?"

"Certo."

[Isso... Parece um pouco assustador, mas ok.]

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