Pode-se dizer que o coração humano é volúvel, mas não o de Zhao Huan. Seu plano fora ainda mais bem-sucedido do que ela inicialmente pensara e ela finalmente conheceu os verdadeiros sentimentos de Qie Ran. Ela deduziu que ele sendo frio e indiferente com ela era apenas uma máscara quando, na verdade, o homem estava disposto a matar por ela.
Três dias se passaram com ela confinada em seu pátio sob a supervisão de sua avó. A idosa não estava para brincadeiras quando se tratava de sua obstinada neta e também não era estúpida. Ela tinha quase certeza de que toda essa situação era obra de sua neta, mas ainda especulava qual poderia ter sido o motivo.
No quarto dia, Zhao Huan finalmente teve a chance de sair de casa, já que sua avó tinha ido a algum encontro de chá com algumas senhoras. Ela nem se importava em saber o que a velha dama estava fazendo, tudo o que se importava era em ver Qie Ran. A coceira em seu coração piorava a cada dia que passava e a cura era simples. Apenas um vislumbre de Qie Ran faria com que ela se sentisse completa novamente e então ela saiu da mansão assim que teve a chance.
Sua serva a seguia de perto, participando em silêncio de um protesto. Quando a Moça saiu sem ela, foi ela quem recebeu dez chicotadas por falhar em seu trabalho. Antes de Madame Zhao sair, ela já havia ameaçado a serva dizendo que se Zhao Huan colocasse um pé para fora daquele pátio, ela, a serva, receberia vinte chicotadas, não que a Senhora se importasse.
Justamente quando os garotos terminaram o café da manhã, Zhao Huan chegou com um sorriso animado que poderia agitar os sete mares. Ela os cumprimentou entusiasticamente, mas, para sua surpresa, não recebeu a resposta que esperava. Os garotos fingiram que não a viram e a contornaram para sair da sala com as cabeças baixas. 'Que pirralhos ingratos, eles não sabem quem eu sou?' ela pensou, ainda usando a máscara gentil e calorosa que poderia facilmente enganar qualquer um.
Os garotos desocuparam a sala de jantar, deixando para trás Zhao Huan e sua serva confusa. "Minha senhora, acho melhor irmos embora," disse a serva com uma voz suave. Tinham ido ao abrigo várias vezes antes, mas nunca tinha sido tão hostil. Ela estava preocupada que Zhao Huan causasse problemas e lhe rendesse mais chicotadas, por isso decidiu falar.
Zhao Huan rasgou sua máscara e finalmente mostrou sua raiva. "Quem eles pensam que são, me ignorando desse jeito? Esses órfãos imundos têm sorte de estarem respirando o mesmo ar que eu e ainda ousam me ignorar. Seus bastardos desrespeitosos e ingratos," ela disse, rangendo os dentes. Ela nunca tinha sido desrespeitada assim, ainda pior, desrespeitada por meros camponeses. Se não fosse por Qie Ran, ela teria destruído esse lugar e feito-o desaparecer até o pôr do sol.
Manchu, que acabara de ser informado da chegada de Zhao Huan, foi dar uma olhada. Ele estava plenamente ciente do motivo pelo qual a senhorita mimada tinha agraciado o local com sua presença, mas de maneira alguma Qie Ran iria atendê-la, especialmente no estado de espírito em que se encontrava. A atmosfera no abrigo estava extremamente sombria, sem nenhum raio de sol à vista.
A ausência de Lin Jin havia cultivado uma atmosfera que poderia abalar o espírito de qualquer um assim que entrassem. Desesperados para animar Qie Ran, tinham até ido à Mansão Lin tentar convencer a saozi a voltar com eles, mas cada vez foram recebidos com a mesma resposta. Os garotos não suportavam ver Qie Ran daquele jeito e então, quando ouviram passos se aproximando, supuseram que fosse Lin Jin, já que ele era a única pessoa que poderia entrar sem se anunciar.
Você só pode imaginar a decepção deles quando viram Zhao Huan desfilando como se fosse dona do lugar. Eles não gostavam dela e não fizeram nenhuma tentativa de esconder seus verdadeiros sentimentos, especialmente quando agora sabiam que ela gostava do irmão mais velho deles. Foi aí que eles saíram rudemente, deixando Manchu lidar com a situação.
Manchu estava prestes a entrar na sala de jantar e encontrar uma desculpa educada para mandá-la embora quando ouviu ela falar mal de seus irmãos. Sua língua venenosa não conhecia limites, dizendo o que quer que lhe viesse à mente como se estivesse em sua própria casa. Suas palavras o enfureceram, mas ele se conteve quando pensou em Lin Jin, que sempre falou tão bem dela.
Ele entrou imediatamente pronto para mandá-la embora, sem mais interesse em ouvir nenhum de seus insultos. Manchu estava prestes a arrancar a bandagem o mais rápido possível quando foi recebido pelos olhos piedosos e injetados de sangue de Zhao Huan com lágrimas se acumulando nas bordas de seus lindos olhos, fazendo com que ele esquecesse completamente o que queria dizer.
'Droga! Como ela pode mudar de pele tão rápido?' ele pensou ao ver aquele rosto piedoso, ele teria facilmente acreditado se não tivesse ouvido aquelas palavras dolorosas que ela estava dizendo um segundo atrás. Vendo-o atordoado assim, Zhao Huan aumentou sua súplica, segurando seu braço.
"Irmão Manchu, por favor, deixe-me vê-lo. Tenho que agradecê-lo por salvar minha vida naquele dia. Quero vê-lo e me certificar de que ele está bem. Por favor, eu imploro, irmão Manchu, só desta vez," ela disse quase se ajoelhando no chão e chorando. Manchu estava atônito, olhando para esta mulher que merecia ser uma atriz de renome mundial. Ela era tão convincente que ele começou a duvidar do que tinha ouvido antes.
Manchu estava prestes a descolar essa garota grudenta de seu braço quando ouviu uma voz gélida e ameaçadora vinda da porta, dizendo, "Por que você está aqui?" O ambiente de repente foi preenchido por uma aura opressiva e gelada que fez Manchu e a serva tremerem.
Nisso tudo, Zhao Huan foi a única exceção, correndo direto para os braços de Qie Ran enquanto começava a chorar e dizendo, "Eu senti sua falta, Ran-ge."