Eu desperto em uma cama de madeira, com lençóis grosseiros e um teto de palha acima de mim. O ar é úmido e abafado, e ouço som de vozes sussurrando do lado de fora. O cheiro de fumaça e madeira queimada enche o ambiente. Comecei a me lembrar de toda a minha vida passada e do acordo que fiz com a morte.
Me levanto e olho ao redor. Parece ser uma pequena cabana, e estou vestindo roupas simples de linho. Ao sair, vejo que estou em uma aldeia cercada por florestas densas. As pessoas ao redor estão apressadas, algumas carregando baldes de água e outras falando em tom preocupado.
Uma mulher se aproxima e, com os olhos cansados, diz:
- Andril, meu filho, o incêndio ainda está se espalhando pela floresta. Temos que nos preparar para evacuar.
Percebo que, neste mundo, meu nome é Andril, e esta mulher parece ser minha mãe.
seguro a mão dela, sentindo o calor e a tensão. Ela aperta minha mão de volta, aliviada por me ter ao lado.
- Precisamos ir até a praça central - ela diz, me puxando em meio à multidão. - Os anciões estão organizando uma rota de fuga.
A aldeia está em polvorosa. Pessoas correm em todas as direções, e o som de gritos e crepitação das chamas se intensifica. Ao chegar à praça, há um grupo de aldeões ao redor de um homem mais velho, que parece ser um dos líderes. Ele explica que o caminho para fora da aldeia pela estrada principal está bloqueado pelo fogo, e a única rota segura é pela floresta.
- É arriscado, mas é nossa única chance - diz o ancião.
Por um lado, ir pela floresta pode ser perigoso, pois o fogo pode cercá-los, mas ficar na aldeia com o fogo se aproximando também não parece seguro.
Seguro firme a mão dela, sentindo o tremor de seus dedos. Decido confiar em sua experiência e aguardo para ver o que ela faz. Ela olha para mim, seus olhos cheios de preocupação, e depois olha para o ancião, que continua a explicar a rota pela floresta.
- Vamos seguir pela floresta, Andril. Não temos escolha - ela diz, sua voz tremendo um pouco.
Ela me puxa para seguir o grupo de aldeões que começam a correr na direção das árvores, suas silhuetas desaparecendo na névoa de fumaça. A fumaça queima meus olhos e faz minha garganta arder, mas mantenho meu aperto firme em sua mão, determinado a seguir em frente.
A floresta é densa, e o som das chamas ao longe ecoa cada vez mais alto. Consigo sentir o calor aumentando. Meu coração bate rápido, e a visão está um pouco turva pela fumaça que se espalha. Estamos correndo com os outros, tentando nos afastar do perigo.
Olho para trás, tentando enxergar através da fumaça e do caos. Vejo que uma árvore em chamas desabou, bloqueando parte do caminho por onde viemos. Alguns aldeões estão presos do outro lado, tentando encontrar uma forma de contornar o fogo, mas as chamas estão crescendo rápido demais.
Minha mãe me puxa com mais força, forçando-me a olhar para frente novamente.
- Não olhe, Andril! Precisamos continuar!
Sigo em frente, mas o som dos gritos atrás de mim ecoa na minha mente. O calor está insuportável agora, e a fumaça fica mais densa. Tenho dificuldade em respirar, e meus olhos lacrimejam.
Estamos correndo mais rápido, tentando nos afastar, quando vejo algo à frente: uma parte do caminho está bloqueada por uma árvore caída, mas há uma trilha estreita à direita que parece levar para longe do fogo.
Aponto rapidamente para a trilha estreita à direita, puxando a mão dela e tentando mostrar o caminho.
- Mãe, por ali! - digo, com a voz rouca por causa da fumaça.
Ela olha para onde eu indico e, por um momento, hesita, observando o caminho à frente bloqueado pelas árvores caídas. Depois, ela acena com a cabeça e me segue, desviando em direção à trilha estreita. Outros aldeões nos veem mudando de direção e começam a nos acompanhar.
O caminho é apertado, e as árvores parecem se fechar ao nosso redor, mas, por enquanto, estamos longe das chamas. O ar está um pouco mais fresco, mas posso ouvir o rugido do fogo cada vez mais alto, e o cheiro de madeira queimando ainda está forte. Continuo segurando a mão da minha mãe, tentando manter o ritmo.
Ao longo da trilha, vejo que ela se divide em duas: uma parte segue para a esquerda, subindo uma colina, e a outra continua reta, descendo para uma área mais escura e densa da floresta. A colina parece nos levar para um terreno mais alto, mas a fumaça está se espalhando rapidamente, e não sei se é seguro.
Olho para minha mãe e aponto para a colina.
- Vamos subir! Se ficarmos mais altos, talvez a fumaça não nos alcance tão rápido.
Ela concorda, puxando minha mão e nos guiando pela trilha que sobe. O terreno é íngreme, e minhas pernas começam a doer, mas sigo em frente, determinado. Outros aldeões que nos seguem fazem o mesmo, tentando se afastar das chamas que rugem ao longe.
Conforme subimos, o ar parece ficar um pouco mais leve, e a fumaça não é tão densa. Sinto um alívio momentâneo, mas, ao olhar para trás, vejo que o fogo está se espalhando mais rápido do que eu imaginava, engolindo as árvores e se aproximando da base da colina.
Continuo subindo, mas logo o terreno se torna mais rochoso e difícil de escalar. A colina se afunila, e o caminho parece se perder em meio às pedras. Estamos quase no topo, mas é um trecho perigoso, e qualquer movimento errado pode nos fazer cair.
Olho para minha mãe, que também parece cansada, mas determinada a continuar. Sinto que estamos tão perto, mas ainda em perigo.
Respiro fundo e continuo seguindo minha mãe, mantendo o ritmo enquanto ela escala as pedras. Minhas mãos se agarram às rochas, ásperas e frias, enquanto me esforço para subir. O som das chamas ainda ecoa ao longe, mas estamos mais altos agora, e o ar é mais fresco.
Ela me puxa com cuidado, ajudando-me a escalar os trechos mais íngremes. Sinto meus braços cansados, e cada passo parece mais difícil, mas não posso desistir agora. Finalmente, alcançamos um platô no topo da colina. De lá, consigo ver a aldeia ao longe, engolida pelo fogo, e a floresta em chamas que se espalha como uma onda laranja e intensa.
Minha mãe solta minha mão e se ajoelha, respirando fundo enquanto olha ao redor.
- Conseguimos chegar ao alto, mas precisamos encontrar um abrigo seguro, Andril - ela diz, com a voz cansada, mas firme.
Olho ao redor e vejo que há algumas cavernas pequenas nas rochas, um pouco mais adiante. Uma delas parece profunda o suficiente para nos proteger, mas está escura e não sei o que pode haver lá dentro. Outra é mais rasa, mas tem uma visão clara do fogo que está subindo a colina.
Confio na decisão dela e permaneço ao seu lado, esperando para ver o que ela escolhe. Ela observa as duas cavernas por um momento, avaliando nossas opções com cuidado. Depois, ela me pega pela mão e começa a me levar para a caverna mais profunda.
- Vamos entrar nessa. Se o fogo chegar até aqui, estaremos mais seguros lá dentro - ela diz, com determinação na voz.
Seguimos juntos, e logo a escuridão nos envolve. O ar está fresco, e o som do fogo é abafado pelas paredes de pedra. Aos poucos, me acostumo com a escuridão e consigo ver vagamente as formas das paredes ao meu redor. A caverna é fria, mas sinto que estamos seguros, pelo menos por enquanto.
Minha mãe me puxa para o fundo, certificando-se de que estamos o mais longe possível da entrada. Nos sentamos ali, ela me abraça e sinto o calor do seu corpo.
- Vamos ficar aqui até o fogo passar - ela sussurra.
O tempo passa lentamente. Consigo ouvir o rugido distante das chamas lá fora e sinto um medo profundo, mas com minha mãe ao meu lado, tento me manter calmo. Espero que a escolha dela nos mantenha seguros.