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Nin Li

Kasou
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Synopsis
Até que ponto a Magia de torna necessária para uma boa história? Ou uma boa Aventura? Talvez Nin Li poderá descobrir!
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Chapter 1 - capítulo 1: Começando

A noite caía lenta, carregando o vento frio que balançava as árvores lá fora. O som das folhas, batendo umas nas outras, ecoava pela casa, preenchendo o silêncio sufocante que se instalava entre as paredes. Sentada no chão de seu quarto, Nin Li olhava fixamente para o livro velho à sua frente. As páginas estavam amareladas pelo tempo, como se tivessem sido abertas por mãos antigas há muitos séculos. Ela passou os dedos sobre as letras gastas, sentindo uma leve vibração que subia pela ponta dos seus dedos. Magia antiga. Aquele tipo que a maioria das pessoas acreditava ser lenda. Seus olhos, cansados de tantas leituras, fitavam as palavras numa mistura de fascínio e medo.

O quarto era iluminado apenas por velas, cujas chamas tremulavam, lançando sombras dançantes nas paredes. O círculo desenhado no chão, com giz branco, estava perfeito. Cada símbolo traçado com precisão, fruto de horas de dedicação. No meio do círculo, pedras antigas formavam um padrão que ela tinha certeza que ninguém além de si mesma entenderia. Ao redor, os móveis pareciam esmagá-la com a quietude; a cama desarrumada, a escrivaninha cheia de livros e cadernos, e uma janela entreaberta que deixava o vento entrar.

"Será que isso vai funcionar de verdade?", Nin murmurou para si mesma, a voz ecoando pelo quarto vazio. Era tarde demais para voltar atrás, mas mesmo assim, uma dúvida incômoda começava a invadir sua mente. O que ela estava fazendo era insano. Mas depois de tanto tempo tentando encontrar respostas, ela se viu sem outra opção. Ela respirou fundo, fechou os olhos e, finalmente, recitou as palavras que estavam no livro. Cada sílaba parecia ganhar vida, flutuando no ar enquanto ecoavam pelo quarto. A luz das velas começou a vacilar, como se as próprias chamas tivessem medo do que estava por vir. O chão tremeu levemente. Um som grave, vindo do centro do círculo, encheu o ambiente, como se uma porta invisível estivesse se abrindo para um outro mundo. De repente, uma luz dourada surgiu das pedras no chão, iluminando todo o quarto com uma intensidade quase cegante. O ar ficou pesado, como se algo muito antigo e poderoso estivesse prestes a se manifestar.

E então, no meio do círculo, ele apareceu.

O homem que surgiu diante de Nin Li era alto, sua presença preenchendo cada canto do quarto. O manto negro que ele usava parecia feito de sombras puras, se movendo suavemente como se tivessem vida própria. Sua pele, pálida como a lua, contrastava com seus olhos vermelhos, brilhando como brasas acesas. Ele não parecia humano — não completamente. Havia algo nele que era ao mesmo tempo fascinante e assustador. A forma como seus olhos a encaravam, penetrantes, fazia seu coração disparar.

"Você me invocou", a voz dele era profunda, carregada com o peso de séculos, ecoando pelas paredes como se fosse parte da própria escuridão. "Por quê?"

Nin Li não conseguiu responder imediatamente. Seu coração batia tão forte que ela podia senti-lo na garganta. O quarto parecia menor, as sombras nas paredes se movendo de maneira sutil, como se reagissem à presença dele. Ela tentou encontrar sua voz, mas as palavras ficaram presas na garganta.

"Eu... eu queria respostas", ela finalmente conseguiu dizer, a voz saindo fraca, quase um sussurro. Era estranho. Aquela presença dominadora à sua frente era tão intensa que apenas olhá-lo já exigia esforço.

"Respostas?", ele arqueou uma sobrancelha, como se estivesse lidando com algo corriqueiro, mas ao mesmo tempo irritante. Sua expressão, embora calma, trazia um toque de desprezo, como se já tivesse ouvido aquele pedido muitas vezes antes. "Muitos me invocam por poder. Outros, por vingança. Mas você... quer respostas? Que simplório."

Nin tentou se manter firme, mas a proximidade dele era esmagadora. O cheiro do ar ao redor mudara. Uma mistura de ferro e algo que lembrava terra molhada, como se ele tivesse acabado de sair de um campo de batalha. Seus olhos vermelhos pareciam brilhar mais intensamente, fixos nela.

"Qual o seu nome?", ela perguntou, tentando desviar a conversa, sentindo uma necessidade quase desesperada de entendê-lo. Havia algo nele que parecia... conhecido. Um sentimento de déjà vu que a fez questionar se aquela era realmente a primeira vez que se encontravam.

Ele a observou por um longo momento, um silêncio quase ensurdecedor tomando conta do espaço entre eles. Então, com um sorriso de canto, ele falou.

"Cain."

O nome reverberou no ar, como uma memória distante, enterrada nas profundezas da mente de Nin. Havia algo naquele nome que lhe parecia antigo, pesado, carregado de histórias que ela não conseguia lembrar completamente. Mas não importava agora. Ele estava ali, e o contrato que ela tinha iniciado estava prestes a ser selado.

"O preço, Nin Li, é sua alma", ele continuou, sua voz agora soando mais suave, quase convidativa. "Um contrato entre nós. Você me invoca, eu te dou o que você busca. Mas uma vez feito, não há volta. Está preparada para pagar o preço?"

Nin sentiu um frio na espinha. Aquilo era sério, muito mais sério do que ela havia imaginado. O ar ao redor parecia mais denso, como se estivesse sendo drenado pelo poder que ele emanava. Mas, ao mesmo tempo, havia uma atração irresistível. Algo em Cain a chamava, como se ele fosse mais do que apenas um demônio. Como se ele entendesse algo profundo dentro dela que ninguém mais jamais compreendeu.

"Por que eu confiaria em você?" Ela finalmente perguntou, tentando soar firme, mas sentia sua voz tremer levemente. Ela sabia que aquele não era um jogo qualquer. Estava prestes a fazer uma escolha que poderia mudar não só a sua vida, mas o destino de tudo ao seu redor.

Cain sorriu, um sorriso enigmático que não mostrava dentes, mas revelava poder. "Você não deveria."

Ele estendeu a mão, sua palma aberta à espera da dela. Seus olhos vermelhos não deixavam os dela por um segundo. Nin sabia que, a partir do momento em que aceitasse, estaria cruzando um limite do qual nunca poderia voltar. Mas, naquele momento, ela não via outra saída.

Ela respirou fundo, sua mão trêmula estendendo-se lentamente até encontrar a dele. No instante em que seus dedos se tocaram, uma onda de calor percorreu seu corpo, como se uma corrente elétrica atravessasse cada célula sua.

O contrato estava selado. Agora mais tarde no dia seguinte. Nin Li acordou com uma dor de cabeça pulsante, como se um tambor ecoasse dentro de seu crânio. O quarto estava mais escuro do que na noite anterior, como se a própria luz tivesse decidido não voltar. Ela piscou algumas vezes, tentando lembrar o que tinha acontecido. Tudo parecia um borrão. O círculo, as palavras antigas, o olhar penetrante de Cain... E então, silêncio.

Ela se mexeu na cama, ainda atordoada, mas algo estranho chamou sua atenção. Havia um peso no pescoço, como se estivesse usando um colar muito apertado. Seus dedos tatearam a pele até encontrarem algo frio e áspero. Uma pedra. Uma pedra de cristal negro.

"Que... que diabos é isso?", ela murmurou, tentando se levantar, mas a dor de cabeça só piorou.

De repente, uma explosão de raiva preencheu o ambiente. "VOCÊ É LOUCA?!" Cain apareceu do nada, sua voz grave ecoando no quarto como um trovão. Ele parecia ainda mais intimidador do que na noite anterior. Seu rosto estava torcido em uma expressão de fúria pura, e seus olhos vermelhos brilhavam com uma intensidade perigosa.

Nin arregalou os olhos, ainda segurando a pedra no pescoço. "O quê? Que porra tá acontecendo?"

"O que tá acontecendo? Você tá acontecendo! Isso tá acontecendo!", ele apontou furiosamente para a pedra no pescoço dela. "Você tem ideia do que acabou de fazer?"

Nin piscou, confusa. "Eu... eu só fiz o que o livro disse!"

Cain soltou uma risada amarga, andando de um lado pro outro, como uma fera enjaulada. "O livro? Sério, Nin? Você leu o livro, mas não viu essa maldita pedra presa no seu pescoço antes de tentar me invocar?"

Ela tocou a pedra de novo, sentindo sua energia vibrar contra seus dedos. "O que tem de errado com ela? É só... uma pedra, né?"

Cain parou de andar e a encarou com uma mistura de exasperação e raiva. "Só uma pedra? Essa porcaria aí é um Cristal Negro de Bloqueio! Isso significa que metade da invocação deu errado. Eu tô preso aqui, e você nem pode usar meus poderes! Parabéns, garota! Você conseguiu me ferrar legal."

Nin sentiu o coração disparar. "Tá zoando, né? Como assim preso? Eu fiz tudo direitinho!"

Cain bufou, cruzando os braços. "Direitinho? Você fez tudo direitinho e me invocou preso a essa maldição aqui. Isso", ele apontou para o cristal de novo, "bloqueia a minha conexão com o inferno. Ou seja, não só você não vai conseguir nada do que pediu, como eu também tô preso nesse plano sem poder completo. Me diz, como é que alguém faz uma cagada dessas?"

Ela se levantou da cama num pulo, tentando entender a gravidade do que ele estava falando. "Mas e agora? O que eu faço pra tirar isso?"

Cain olhou para ela com desgosto. "Você acha que eu sei? Se eu soubesse, já teria resolvido essa merda. Mas agora tô preso aqui, com você, e com essa pedra no seu pescoço que, aparentemente, só você pode tirar."

"Eu?" Nin cruzou os braços, encarando-o. "E como é que eu faço isso, gênio?"

Ele fechou os olhos por um momento, tentando controlar a raiva. "Você precisa de um outro feitiço. Um que, claramente, não tá nesse livrinho amador que você usou. Algo poderoso o suficiente pra quebrar essa maldição."

Nin respirou fundo, começando a entender o tamanho do problema em que estava metida. "Ok, então a gente precisa de outro feitiço. Mas onde eu vou encontrar isso?"

Cain suspirou, ainda irritado. "Tem uns lugares que você pode procurar, mas vai ser perigoso pra cacete. E adivinha só? Eu não consigo usar toda minha força pra te proteger enquanto você carrega esse colar ridículo."

Ela franziu a testa. "Então, basicamente, eu invoquei um demônio... e ainda tenho que me virar sozinha pra resolver essa bagunça?"

Ele revirou os olhos. "É, mais ou menos isso."

Nin bufou, frustrada. "Ótimo. Perfeito. Eu só queria respostas, e agora tô com um demônio reclamando na minha orelha e uma maldição no pescoço. Dia maravilhoso."

Cain se aproximou, seu rosto sério, mas com um toque de ironia no olhar. "Bem-vinda ao clube dos que se ferram, Nin Li. Agora, é melhor você correr atrás de uma solução. Ou a gente vai ficar grudado assim... para sempre."

Nin olhou para Cain com uma expressão cansada. Eles tinham passado a última meia hora discutindo sobre a maldição e o Cristal Negro. Ela sentia como se estivesse andando em círculos. O demônio, apesar de claramente furioso, parecia manter um controle estranho sobre si mesmo. Ele não levantava a voz além de um certo ponto e nem fazia ameaças vazias. Para um príncipe dos demônios, ele era, no mínimo, diferente.

"Você não pode andar por aí com essas roupas, Cain. Vai chamar muita atenção," ela disse, apontando para as vestes negras, rasgadas e um tanto quanto antigas que ele usava.

Cain cruzou os braços, olhando com desdém para si mesmo. "Bom, se eu tivesse meus poderes completos, a última coisa que eu precisaria seria de roupas humanas."

Nin revirou os olhos, indo até o guarda-roupa no canto do quarto. "Claro, claro, você faria roupas aparecerem do nada. Mas, por enquanto, vai ter que se contentar com o que tem aqui." Ela puxou uma camisa azul e uma calça preta, que estavam dobradas cuidadosamente na prateleira mais alta.

Cain franziu a testa. "Isso... é de quem?"

Ela parou por um segundo antes de responder, segurando as peças de roupa por mais tempo do que pretendia. "Do meu irmão." Sua voz saiu mais baixa, quase imperceptível, mas Cain ouviu claramente.

"Seu irmão morreu?" ele perguntou, com um tom que misturava curiosidade e, surpreendentemente, um toque de respeito.

Nin assentiu, engolindo em seco. "Sim... faz uns três anos. Ele era... bem diferente de mim."

Cain pegou a camisa das mãos dela, observando-a por um momento antes de começar a vestir. Ele não falou nada por alguns segundos, apenas olhou em volta, como se estivesse absorvendo algo no ar. "Interessante."

"Interessante o quê?" Nin perguntou, cruzando os braços.

"Os humanos... vocês têm tanto apego às coisas materiais dos mortos. Isso nunca deixa de me intrigar," ele disse enquanto vestia a calça. "Demônios não guardam nada do passado. O que morreu, morreu."

"É, bem, a gente não é tão frio assim," ela retrucou. "E, por favor, não faça pouco caso disso."

Cain ergueu uma sobrancelha, mas não respondeu. Ele terminou de se vestir e, de repente, parou em frente a um quadro pendurado na parede. Era um retrato de seu irmão. Ele estava sorrindo, com uma expressão que transparecia tranquilidade.

"Esse é ele?" Cain perguntou, olhando de perto.

"Sim. Ele... era artista. Pintava muito," ela disse, sentindo um aperto no peito. "Parece meio clichê, mas ele era a pessoa mais bondosa que eu conhecia."

Cain observou o quadro por mais alguns segundos, seus olhos vermelhos analisando cada detalhe. "Parece que ele tinha uma vida boa... antes de morrer."

Nin suspirou, se aproximando para tocar levemente o quadro. "Tinha. E, se tivesse visto você agora, estaria me dando um sermão sobre invocar demônios. Ele era assim, todo certinho."

Cain deu um meio sorriso, embora houvesse algo sombrio em sua expressão. "Bom, pelo menos ele não precisa lidar com a bagunça que você criou."

Ela deu um leve soco no braço dele. "Você realmente não perde uma chance de me irritar, né?"

Cain deu de ombros. "Só tô sendo honesto."

Eles ficaram em silêncio por um momento, até que Nin suspirou e voltou ao assunto mais urgente. "Ok, temos que seguir logo para o Reino. Não posso perder tempo."

"Finalmente algo sensato saindo da sua boca," Cain resmungou. "Mas você sabe que não vai ser fácil, né? Com essa maldição, eu não consigo proteger você totalmente."

Ela o encarou, a irritação crescendo. "Eu não preciso de você pra me proteger. Aliás, tô surpresa que você não tenha tentado me matar ainda. Demônios são sempre tão... agressivos, e você tá aqui, discutindo feito um ser humano comum."

Cain parou e a olhou com intensidade, seus olhos vermelhos parecendo ainda mais profundos. "Não me compare com os outros demônios. Eu sou um príncipe. Sou educado... quando preciso ser. E, neste momento, não me convém te matar. Por enquanto."

Nin arqueou uma sobrancelha, quase rindo. "Educação... isso explica muito."

Ele a ignorou, olhando pela janela. "Acho que já tá na hora de irmos. Cada minuto que você fica com esse cristal no pescoço, meu poder se esvai um pouco mais."

"Ótimo. Vamos logo, então," ela disse, pegando sua capa e saindo na frente. Mas antes de passar pela porta, ela olhou para ele por cima do ombro. "E, só pra constar, demônio ou não, você continua sendo um baita de um reclamão."

Cain riu de leve, mas havia uma faísca de diversão em seus olhos. "E você continua sendo uma humana teimosa."

A viagem até o Reino seria longa, e as discussões entre eles certamente continuariam.

Enquanto caminhavam pela floresta densa em direção ao Reino, Nin Li puxou o capuz da capa para cima, protegendo-se do vento frio que soprava pelos caminhos estreitos. Ao seu lado, Cain andava em silêncio, seus passos longos e decididos contrastando com os dela. Ele era muito mais alto, sua presença imponente parecia engolir o espaço ao redor, e Nin, sem querer, não pôde deixar de lançar alguns olhares discretos para ele enquanto andavam.

Apesar de ser um demônio, ele tinha uma beleza brutal. Sua pele pálida contrastava com o cabelo escuro e os olhos vermelhos, que sempre pareciam observar tudo com uma atenção minuciosa. A camisa do irmão caía um pouco folgada em Cain, mas, de alguma forma, ele a usava como se fosse feita sob medida. Era estranho... ver alguém que parecia tanto com seu irmão, mas ao mesmo tempo ser completamente diferente.

Ela soltou um suspiro, quebrando o silêncio que os cercava. "Escuta, Cain, antes de chegarmos ao Reino, tem algumas coisas que você precisa saber sobre... comportamento humano."

Ele olhou para ela, erguendo uma sobrancelha. "Ah, claro. Vou receber lições de humanidade agora?"

Nin riu de leve, ignorando o sarcasmo. "Olha, você pode até ser um príncipe dos demônios e tudo mais, mas aqui... você vai ter que se passar por meu irmão."

Cain parou de andar, franzindo o cenho. "O quê?"

"Isso mesmo. Ninguém no Reino sabe que meu irmão morreu. Ele saiu em uma missão e nunca voltou. Eu mantive essa história porque... bem, era mais fácil assim. Se as pessoas soubessem que ele morreu, iam me encher de perguntas. E eu odeio perguntas." Ela olhou para ele de lado, esperando alguma objeção.

Cain cruzou os braços. "Então, você quer que eu finja ser seu irmão?"

Nin assentiu. "Exatamente. E, pelo que eu vi até agora, você parece muito com ele. Mesma altura, mesmo porte físico. Só precisa aprender a ser um pouco... mais humano."

Ele riu, uma risada seca. "Eu sou um demônio, Nin. Fingir ser humano é o oposto do que eu faço."

Ela deu um leve empurrão no braço dele, sorrindo. "Eu sei. Mas agora vai ter que aprender rápido, ou a gente não vai conseguir entrar no Reino sem levantar suspeitas."

Cain a observou por alguns segundos, seus olhos vermelhos brilhando com um interesse novo. "Você realmente é teimosa, não é?"

Nin sorriu de volta, mas havia uma doçura em seus olhos enquanto olhava para ele. "Eu prefiro dizer que sou determinada." Ela olhou para o caminho à frente e continuou. "E outra coisa, quando estiver lá, precisa parar de ser tão... rígido. Humanos sorriem, fazem piadas, se comportam de maneiras que os demônios normalmente desprezam. Você precisa se misturar."

Ele andou ao lado dela, mantendo o ritmo, embora estivesse claramente relutante. "Sorriem? Fazem piadas? Sério? Eu sou um príncipe dos demônios, não um bufão."

Ela riu novamente. "Eu não estou dizendo que você tem que virar um comediante, mas um sorriso de vez em quando não vai te matar... acho."

Cain fez uma careta, como se a ideia de sorrir fosse dolorosa. "Isso é patético."

Ela olhou para ele de novo, agora com um sorriso mais largo. Era engraçado vê-lo tão irritado com algo tão simples. Ele era muito mais alto que ela, e isso a fazia se sentir pequena ao seu lado, mas não de uma forma ruim. Era uma diferença confortável, uma que ela podia observar com certo fascínio. Por algum motivo, ela se pegou sorrindo enquanto olhava para ele, sem conseguir evitar.

Cain notou o sorriso dela e estreitou os olhos. "O que foi? Por que está me olhando assim?"

Nin apenas balançou a cabeça, ainda sorrindo. "Nada, é só engraçado... Eu nunca imaginei que acabaria andando ao lado de um demônio, discutindo sobre como ele deveria sorrir."

Ele revirou os olhos, mas uma parte dele, lá no fundo, começou a notar a diferença. Ela tinha algo que ele não via há séculos. Cain já tinha passado por incontáveis cortes, se encontrado com princesas, imperatrizes, rainhas e até bruxas poderosas. Mas havia algo em Nin Li que nenhuma delas tinha. Nenhuma delas era tão... real. Tão naturalmente bonita.

Enquanto ela continuava explicando sobre os humanos e seus comportamentos, Cain a observava com mais atenção. Sua pele parecia brilhar sob a luz fraca que passava pelas árvores, e seus olhos tinham uma suavidade que o confundia. Ele nunca foi de prestar muita atenção nessas coisas antes. Para ele, os mortais eram mortais. Um meio para um fim. Mas Nin Li... ela era diferente.

"Você tá me ouvindo, Cain?" ela perguntou, interrompendo seus pensamentos.

Ele piscou, voltando ao presente. "Claro. Sorrir, piadas, não agir como um demônio. Entendi."

Ela sorriu de novo, um sorriso que iluminava o rosto inteiro. "Bom, estamos progredindo. Vai ver, daqui a pouco você até gosta de ser um humano por um tempo."

Cain bufou, mas uma parte dele não pôde deixar de pensar. De todas as criaturas que ele conheceu em sua longa existência, Nin Li era de longe a mais intrigante. Ele olhou para ela, e por um momento, seus olhos se encontraram. E ali, no silêncio da floresta, algo mudou, mesmo que nenhum dos dois quisesse admitir.

Ele desviou o olhar, tentando afastar qualquer pensamento que o distraísse. "Vamos logo. Quanto mais cedo chegarmos ao Reino, melhor."

Nin, ainda sorrindo, o seguiu, satisfeita por tê-lo feito pensar um pouco mais sobre o que significava ser humano. E, talvez, só talvez, o demônio estivesse começando a entender mais do que gostaria.

Capítulo 6: O Caminho dos Nobres e o Título Revelado

Nin e Cain continuaram sua caminhada pelas ruas de Valonis, sendo constantemente interrompidos por cumprimentos calorosos. Parecia que todos conheciam Nin, e ela, com sua personalidade leve e afável, respondia a cada pessoa com um sorriso genuíno e algumas palavras gentis.

"Lady Nin! Bem-vinda de volta!" uma senhora exclamou, enquanto seu neto corria para abraçar as pernas de Nin, que riu e se abaixou para brincar com o garoto por um momento.

Cain observava a cena com um misto de curiosidade e incômodo. Ele não entendia como Nin conseguia ser tão... popular. Todos pareciam gostar dela, enquanto ele, por onde passava, recebia olhares desconfiados. Mesmo disfarçado como o irmão dela, ele era claramente uma presença estranha ali.

Enquanto continuavam a caminhar, ele começou a notar outra coisa: o jeito que Nin se vestia. Diferente das roupas simples e práticas das pessoas do vilarejo, as roupas dela eram muito mais refinadas. O tecido parecia mais caro, os detalhes eram elegantes, mas não chamativos, como se tudo tivesse sido feito com extremo cuidado. Além disso, havia um símbolo costurado em sua capa, algo que Cain não reconhecia, mas que claramente tinha um significado ali.

Ele olhou de lado para ela, e a curiosidade finalmente o venceu.

"Posso te perguntar uma coisa?" ele começou, seu tom mais sério desta vez.

Nin, distraída em devolver cumprimentos a algumas crianças, virou-se para ele. "Claro, o que foi?"

"Eu notei... você é tratada diferente. E essas suas roupas..." Ele hesitou, mas continuou: "Você é algo mais do que uma simples garota que invoca príncipes dos demônios, né?"

Nin parou de andar por um segundo, um pequeno sorriso surgindo em seus lábios. Ela sabia que esse momento chegaria em algum ponto. Virando-se completamente para Cain, ela cruzou os braços e arqueou uma sobrancelha. "Então você finalmente notou?"

Ele franziu o cenho. "Notar o quê? Fala logo."

Ela suspirou, como se estivesse prestes a explicar algo que deveria ser óbvio. "Aqui em Valonis, algumas pessoas recebem títulos especiais por causa de suas realizações, sabedoria ou... certas conexões," ela disse, claramente escolhendo as palavras com cuidado. "Eu sou uma dessas pessoas."

"E o que isso significa?" Cain perguntou, claramente sem paciência para rodeios.

Nin começou a caminhar novamente, e Cain a seguiu, ainda esperando pela explicação. "Eu tenho o título de 'Hynarikas Talentsas'. É um título que só algumas pessoas conseguem, por serem reconhecidas como sábias em várias áreas do conhecimento, principalmente nas artes mágicas."

Cain arqueou uma sobrancelha, claramente confuso e intrigado ao mesmo tempo. "Hynarikas Talentsas? Que diabos é isso? Parece algum tipo de piada."

Ela riu, balançando a cabeça. "Não é uma piada, Cain. Nesse reino, é um dos títulos mais respeitados. As pessoas que recebem esse título são vistas como figuras sábias e importantes. Elas têm conhecimento sobre tudo... desde magia, política, até as tradições mais antigas. É por isso que as pessoas me tratam assim. Eu não sou só uma garota comum."

Cain parou por um momento, deixando isso afundar. Agora fazia sentido. O jeito que todos a tratavam, a forma como pareciam respeitá-la sem questionar. O príncipe dos demônios nunca se importara muito com humanos, mas ele sabia reconhecer poder quando via.

"Então... você é uma espécie de intelectual ou algo assim?" ele provocou, com um sorriso cínico.

Nin deu uma risada curta, empurrando-o levemente com o ombro enquanto continuavam andando. "Algo assim. Só que mais legal do que você consegue imaginar."

Enquanto eles caminhavam, alguns nobres da cidade passaram por eles, oferecendo reverências a Nin. Cain observava aquilo com uma pontada de desconforto. Ele, o príncipe dos demônios, estava acostumado a ser tratado com respeito — ou com medo. Mas agora, neste reino estranho, ele era o forasteiro, o "irmão" de alguém com um título que ele sequer compreendia completamente.

Mas algo nele admirava a facilidade com que Nin lidava com tudo aquilo. Ela era respeitada, mas não deixava o título subir à cabeça. Ela era... diferente. De todas as imperatrizes, princesas, rainhas e até bruxas que ele já havia conhecido, ela tinha algo a mais. Um brilho, uma naturalidade. E isso o incomodava. Porque, por mais que ele tentasse ignorar, ele sabia que Nin Li era especial.

Eles continuaram caminhando pelas ruas movimentadas de Valonis, até que chegaram a uma grande praça central, cercada por belos edifícios de pedra e com uma fonte no meio. Era o coração da cidade, e várias pessoas estavam ali, algumas vendendo suas mercadorias, outras apenas aproveitando o dia.

E foi ali, no meio da multidão, que Nin parou subitamente. Seus olhos se fixaram em alguém mais à frente, e Cain notou o sorriso tímido que surgiu em seu rosto. Ele seguiu o olhar dela e viu a quem ela estava observando.

Era um homem. Alto, musculoso, com cabelos escuros caindo levemente sobre o rosto e olhos profundos e intensos. Ele estava conversando com alguns dos comerciantes, mas a postura e o jeito dele deixavam claro que ele não era um homem comum.

Nin corou levemente, e Cain não pôde deixar de notar a mudança em sua expressão.

"Quem é aquele?" ele perguntou, sua voz carregada de curiosidade.

"É... é o Aster," Nin disse, tentando manter a voz casual. "Ele é... bem, é só um amigo."

Cain revirou os olhos, claramente não acreditando na tentativa dela de disfarçar. "Amigo, claro." Ele olhou de novo para o tal Aster, que, de fato, era bonito. Mas Cain não iria admitir isso em voz alta. "Esse cara parece saído de uma pintura. Vai lá, fala com ele."

"Eu... eu vou. Só... me dá um segundo," ela murmurou, tentando se recompor.

Quando Aster finalmente percebeu que estava sendo observada, ele se virou e seus olhos se encontraram com os de Nin. Um sorriso suave surgiu nos lábios dele, e ele começou a caminhar na direção dela.

Cain observou a cena com uma expressão impassível, mas quando Aster se aproximou, ele não pôde resistir em fazer uma careta ridícula, mostrando a língua e revirando os olhos, como se a cena toda fosse absurdamente romântica (outra vez) para o gosto dele.

Nin viu a careta e tentou, sem sucesso, segurar uma risada. Ela deu uma cotovelada discreta em Cain antes de finalmente se virar para Aster, o coração ainda batendo um pouco mais rápido do que deveria.

"Aster! Que surpresa te ver aqui," ela disse, sorrindo.

"Lady Nin," Aster disse, inclinando levemente a cabeça em um gesto de respeito, mas havia um brilho em seus olhos que mostrava que ele não a via apenas como uma sábia do reino.

Cain, atrás dela, fez mais uma careta e murmurou para si mesmo: "Esse cara também..."