A lua cheia pairava alto no céu, lançando sua luz prateada sobre os jardins exuberantes da mansão Reinhardt. Eveline estava na sacada de seu quarto, olhando para as estrelas cintilantes enquanto sua mente vagava pelos eventos recentes. A descoberta de suas habilidades mágicas trouxera nova excitação para sua vida, mas também despertara perguntas e inseguranças com as quais ela não sabia como lidar.
O som distante de uma coruja chamou sua atenção, trazendo-a de volta ao presente. Ela apertou os dedos ao redor do corrimão de mármore frio, tentando acalmar seus pensamentos turbulentos. Desde que acordou neste novo mundo, ela se forçou a aceitar sua nova realidade, mas com o passar do tempo, ela não conseguia se livrar do medo crescente de que pudesse falhar nas expectativas que agora repousavam sobre seus ombros.
"Eu nunca fui bom com responsabilidades... E se eu não conseguir fazer isso? E se... tudo isso for um erro?"
Enquanto esses pensamentos ecoavam em sua mente, Eveline sentiu uma onda crescente de pânico. Em sua vida anterior, Suzume nunca lidou bem com pressão. Ela evitava confrontos, responsabilidades e qualquer coisa que a fizesse se sentir vulnerável. Mas agora, como filha de um conde, fugir não era mais uma opção.
"Você parece perdida em pensamentos, Eveline."
A voz suave e familiar a assustou. Virando-se rapidamente, ela viu uma figura esbelta emergindo das sombras do quarto. Era Amelia, sua mãe, a Condessa Reinhardt. A mulher pisou na sacada com um sorriso gentil, seu longo cabelo loiro brilhando sob o luar.
"Desculpe, não queria te assustar," disse a condessa, se aproximando de Eveline. "Notei que você estava aqui sozinha e pensei que você poderia querer conversar."
Eveline tentou sorrir, mas sabia que seu nervosismo transparecia. "Eu só estava... pensando em algumas coisas, mãe."
Amelia a estudou por um momento, seus olhos azuis cheios de compreensão. "Muita coisa mudou para você recentemente. É natural se sentir sobrecarregada."
Eveline abaixou o olhar, incerta de como expressar suas preocupações. Embora tivesse se adaptado à ideia de ser Eveline, parte dela ainda se sentia como Suzume — uma garota solitária que nunca havia realmente encontrado seu lugar no mundo.
"Eu... eu só tenho medo de não ser boa o suficiente", ela admitiu, finalmente encontrando coragem para expressar o que a estava assombrando. "Parece que há tantas expectativas sobre mim. E se eu decepcionar todo mundo?"
Amelia suspirou suavemente e colocou uma mão gentil no ombro de Eveline. "Minha querida, você não precisa carregar o peso do mundo sozinha. Todos nós temos nossos próprios desafios, e é natural ter dúvidas. Mas o importante a lembrar é que você não está sozinha."
Eveline olhou para a mãe, sentindo uma mistura de gratidão e tristeza. "Mas eu... eu sinto que devo a todos aqui. Você me dá tudo, e eu só... eu só não sei se sou quem você espera que eu seja."
A condessa sorriu, um sorriso cheio de ternura. "Eveline, você não precisa ser nada além de quem você é. Você é nossa filha, e isso é tudo o que importa. Estamos todos aprendendo e crescendo juntos. É assim que as famílias funcionam."
Essas palavras eram estranhas para Eveline. Ela nunca havia experimentado esse tipo de amor incondicional em sua vida anterior. Suzume era uma reclusa, sem conexões fortes com ninguém. O afeto e a aceitação que ela agora sentia como Eveline eram coisas que ela ainda estava aprendendo a abraçar.
"Obrigada, mãe," ela disse, sua voz tremendo. "Eu... eu realmente quero tentar."
Amelia a abraçou suavemente, e Eveline sentiu suas preocupações começarem a se dissipar. O calor do abraço era reconfortante, um lembrete de que, apesar de suas inseguranças, ela não estava mais sozinha.
Depois de um tempo, Amelia se afastou, mas manteve as mãos nos ombros de Eveline. "Eu sei que você vai se sair bem, Eveline. E se você sentir que precisa de ajuda ou de alguém para conversar, eu sempre estarei aqui."
Eveline assentiu, sentindo uma nova determinação se formar em seu coração. Talvez ela ainda estivesse se acostumando com essa nova vida, mas sabia que com o apoio da família, ela poderia encontrar seu caminho.
"Farei o meu melhor", ela prometeu, sentindo a sinceridade em suas palavras.
Enquanto Amelia dava boa noite e voltava para dentro, Eveline ficou na sacada por mais alguns momentos, observando o céu noturno. As estrelas pareciam mais brilhantes agora, como se sussurrassem promessas de um futuro esperançoso.
Mas conforme a noite avançava, Eveline sentiu um estranho arrepio percorrer sua espinha. Era como se uma presença invisível a observasse das sombras. Ela olhou ao redor, mas não viu nada além de escuridão. Ainda assim, a sensação de desconforto persistiu.
"Algo... não está certo", ela murmurou para si mesma, antes de finalmente retornar para seu quarto.
Deitada na cama, Eveline tentou ignorar o desconforto, mas as sombras do passado pareciam permanecer em sua mente. Ela sabia que, para realmente se estabelecer neste novo mundo, ela teria que enfrentar não apenas as expectativas dos outros, mas também os fantasmas que a assombravam de sua vida anterior.
E quando o sono finalmente a dominou, uma pergunta ecoou em sua mente: **Poderia haver algo mais sombrio por trás de seu renascimento, algo que ela ainda não havia descoberto?**
A noite estava silenciosa, mas Eveline sabia que o verdadeiro desafio estava apenas começando.