No coração de Lorian, uma sensação de queda pairava como um eco interminável. Sua essência se desintegrava, fragmentando-se como uma bola de lã desenrolando-se lentamente. Memórias, linguagem, sentidos e emoções se dissipavam em um abismo profundo e vazio, deixando apenas o eco de sua existência.
E então, tudo caiu. O que restaria dele depois? Nada. A realidade tornara-se uma prisão, e Lorian sentiu o terror tomar conta. Ele lutava desesperadamente para recompor seu eu disperso, mas cada fragmento se afastava, irremediavelmente perdido. Não importava o quanto tentasse; a derrota era inevitável.
"Eu vou desaparecer. Eu vou morrer." Essas palavras eram mentiras, ecoando em sua mente como um mantra angustiante. A experiência não se assemelhava a um sono tranquilo; era uma separação brutal de seu núcleo, como se estivesse derretendo sob uma força avassaladora. Não havia espaço para tranquilidade, apenas uma sensação angustiante de perder suas faculdades, de não ser mais.
O vazio se tornaria sua única companhia. Nada. Zero. "Eu odeio isso." As palavras reverberavam em sua mente, um mantra de desespero. "Odeio isso, odeio isso, odeio isso!" O ódio brotava de um lugar profundo, um desejo ardente de resistência contra um destino que parecia predeterminado. A ideia de algo maior, de um estado que transcende a dor, tornava-se um paradoxo cruel: um desejo de alcançar o que parecia inatingível, enquanto sua essência se desvanecia.
"Odeio que isso tenha acabado! Estou destinado a permanecer neste vazio, neste mundo onde nada existe? Tudo o que vivi até hoje foi para dar boas-vindas a esse fim?!" Essa ideia de que suas memórias e experiências se dissolveriam no nada era insuportável. O horizonte se tornava um símbolo de tudo que ele desejava ser, e, ao mesmo tempo, um lembrete constante de sua impotência.
As montanhas cercavam seu vilarejo, testemunhas silenciosas de sua dor. Elas eram a constante, a imutável presença de um mundo que continuava a girar, mesmo quando ele se sentia paralisado. Ele era Lorian, um ser sem afiliações, sem magia, em um mundo onde todos dançavam ao som da arcana. Ethan, o mago tirano, e Cedric, o brutamontes, eram sombras que o perseguiam. Ao vê-los juntos, rindo dele, a ilusão de camaradagem se desfez como a lã em suas mãos.
O reconhecimento de sua solidão era esmagador. Sentia-se como um prisioneiro, acorrentado a um destino sombrio, enquanto os outros desfrutavam de uma realidade vibrante. A liberdade parecia um conceito abstrato, distante e inatingível. A sede de sangue se acendia dentro dele, uma chama primitiva que o consumia. Ele queria a força de um leão, o poder que poderia moldar sua realidade.
Furioso e consumido por essa sede, pegou uma espada pela primeira vez. O metal frio pulsava com uma energia desconhecida, como se estivesse despertando algo adormecido dentro dele. O peso da lâmina era tanto um alívio quanto uma maldição. Ao tocá-la, sentiu a conexão com todos que a empunharam antes dele, uma linha tênue que o unia a heróis e vilões, mas também o lembrava de sua própria insignificância.
"Por que eu vivo? Qual o propósito de alguém como eu estar aqui?!" Ele gritava para o vazio, mas a resposta não vinha. "SER INFINITO COMO O HORIZONTE!" Essa ideia se tornava um grito desesperado em sua mente, uma luz distante que parecia zombar dele. Mas o que significava realmente ser infinito? Ser eterno, livre das amarras da dor e da solidão? Ou seria apenas uma ilusão, um anseio sem esperança?
Cada golpe que desferia com a espada era um clamor por significado, uma negação do vazio que o envolvia. Ele não lutava apenas contra Ethan e Cedric; lutava contra o abismo que ameaçava devorá-lo. A dor de sua existência se intensificava, e a violência se tornava sua única saída. Ele desejava ser como as montanhas ao seu redor, indomáveis e eternas. "Se eu não posso ser isso, que ao menos eu seja forte! Que minha dor se transforme em poder!"
A sombra de Ethan e Cedric pairava sobre ele como um presságio, e Lorian não podia ignorar a verdade que se impunha: eles eram reflexos de suas próprias inseguranças. Ele se via neles, nas suas fraquezas e falhas, e essa revelação o atormentava. "Quem sou eu, senão um produto das minhas experiências e relações?" A resposta era dolorosa, e a frustração o consumia.
As montanhas, antes testemunhas silenciosas, agora pareciam imbuídas de um significado profundo. Elas representavam a permanência em um mundo efêmero, a luta constante entre a estabilidade e a mudança. Se a vida era um ciclo de quedas e levantadas, qual era a verdadeira natureza da luta? O que significava realmente alcançar aquele estado de grandeza? A força que ele tanto desejava se tornava um fardo, uma necessidade insaciável que o levava a agir de maneira impulsiva e selvagem.
"Eu sou Lorian!" Ele gritou, a voz reverberando nas montanhas, mas a resposta era o eco do próprio desespero. "Eu sou mais do que minhas circunstâncias! Eu sou a soma das minhas lutas e vitórias!" Mas essas palavras, embora proferidas com fervor, pareciam vazias em meio ao peso da realidade. O horizonte, com toda sua grandiosidade, se tornava uma lembrança dolorosa de que ele nunca poderia alcançá-lo.
Lorian começou a sentir que sua luta não era apenas contra os inimigos, mas contra a própria vida. Cada movimento da espada parecia uma tentativa desesperada de se libertar, de se afirmar, mas a dor era constante, e a realidade, implacável. A ideia de transcender se tornava uma tormenta em sua mente, uma promessa não cumprida que o consumia.
"Se eu vou cair, que seja com a dignidade de um guerreiro! Se eu vou viver, que seja com a força de um ser humano!" A determinação crescia dentro dele como um incêndio, mas o peso da frustração o arrastava para baixo. A vida, com todas as suas complexidades, parecia uma piada cruel, e a luta por algo maior se tornava um fardo.
Em sua agonia, ele se lembrou das palavras de Camus: "A luta em si é suficiente para preencher um coração humano." Mas essa luta o deixava mais vazio a cada dia. O que significava a luta se o horizonte sempre se afastasse? Cada passo em direção ao que desejava parecia apenas aumentar sua solidão e a sede de sangue crescia, uma resposta visceral à dor que o consumia.
Ele precisava confrontar não apenas seus inimigos, mas as verdades que o aprisionavam. A espada em sua mão não era apenas uma arma; era um símbolo de sua determinação. Ele se recusava a ser apenas uma sombra em um mundo de luz. Se o horizonte era uma promessa de grandeza, ele precisava encontrar uma maneira de se aproximar dele, mesmo que isso significasse encarar o abismo dentro de si.
E assim, no coração de Lorian, a luta continuava. Ele estava prestes a descobrir que, mesmo em meio à desolação, a busca por algo mais poderia se transformar em uma jornada de autodescoberta. O que realmente significava ser infinito? Enquanto a dúvida pairava em sua mente, uma nova determinação brotou em seu coração. Ele estava pronto para desafiar não apenas os outros, mas a si mesmo, buscando entender o que era necessário para alcançar aquilo que tanto desejava.
Com a espada em punho, Lorian se preparou para enfrentar os desafios que o aguardavam. O que seria necessário para se tornar aquilo que ansiava? E, ao mesmo tempo, o que a verdadeira luta revelaria sobre sua própria essência? Enquanto os ecos de sua determinação ressoavam nas montanhas, ele sabia que a jornada apenas começava, e o horizonte ainda o chamava, misterioso e sedutor.