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Chapter 3 - Capítulo 3 - Doce Sonho

Deitado em uma cama limpa, com lençóis, capas de travesseiro e cobertas brancas. A elevação do travesseiro é ideal e junto dela, a maciez da cama parece enfeitiçar quem nela deitar. Um jovem de aparência não muito normal reside nesta cama.

Seus braços estão enfaixados, junto de seu tórax e sua barriga. Uma estranha massa esverdeada pode ser vista pelas faixas meio transparentes. Sua respiração é fraca, mas incessante. Seus olhos se encontram fechados e o canto de seus lábios se encontra levemente curvado para cima, enquanto um objeto circular com desenhos vermelhos repousa em cima de sua cabeça.

Enquanto imerso em um sonho lindo, Anthony se vê cercado por um infinito campo florido com diversas flores diferentes. Sejam elas margaridas, lírios, rosas ou cinerárias, existem flores de todos os tipos. 

Um pequeno caminho é formado entre as flores, como se existisse para impedir alguém de machucá-las. O jovem fica em silêncio vendo tudo isso. Sua mente é enchida de paz, enquanto seu corpo dolorido lentamente se torna dormente. Pequenos fragmentos de memória incompletos ressurgem das profundezas de sua mente e junto deles, algumas pequenas lágrimas formam-se em seus olhos.

Abaixando-se, se aproxima de um lírio e gentilmente o acaricia utilizando seu dedo indicador e seu dedão. Observando aquela linda flor, Anthony abre um leve sorriso, mas isto cessaria logo. Repentinamente, um trovão pode ser ouvido. Virando seu rosto para a direção do som, é possível notar que uma mancha vermelha começa a se espalhar no céu azul, tal mancha tem alguns pontos pretos que se assemelham com faces.

O jovem rapidamente se põe de pé e ao começar a correr na direção contrária da mancha, seus instintos gritam, rugem para não fazer isso. Ao sentir isso, rapidamente cessa seu movimento e após suspirar, faz seu caminho para a direção da mancha. Seus pés batendo nas delicadas flores, que, a cada pisar, um líquido vermelho é expelido.

Percebendo a inaturalidade disto, Anthony começa a pensar, mas se vê atrapalhado, pois, a mancha vermelha o alcança.

Subitamente, o mundo parece ser girado de cabeça para baixo. Sua visão se contorce e seu sangue parece ferver. Uma dor lacerante assalta seu corpo e pontos vermelhos profundos surgem em sua pele levemente arroxeada, enquanto seus joelhos ameaçam fraquejar.

O jovem utiliza toda sua mente em se manter de pé, pois algo em sua mente diz que caso se ajoelhe uma vez, nunca mais poderá se levantar. A dor em seu corpo piora com o tempo, junto dos pontos vermelhos em sua pele, que a essa hora já são muito mais que meros pontos. Formações circulares do tamanho de bolas de sinuca se espalham pelo seu corpo e sua pele se mostra pálida.

A força que afetava seus joelhos é aumentada e com a constante briga de forças bem localizadas causa sérios danos na área. Sua própria força física não causaria danos na região normalmente, pois seria espalhado para o resto de sua perna e cintura, mas uma força sobrenatural parece o afetar, tal força faz com que todo o impacto, mesmo que não causado só por ele, seja concentrado em seu joelho.

CRACK!!! Um som terrível é ouvido e junto de Anthony tem sua direção invertida. Ao invés de dobrar para trás, o mesmo passa a dobrar para frente e junto disso, um rugido pode ser ouvido da boca do rapaz. AAAAAAAAAAAAAHHHHHHH!!! Sua mente é assaltada em alguns instantes por sensações que não foram sentidas em uma vida inteira.

O chão se mostra um amigo do jovem neste momento, querendo abraçar sua queda, mas surpreendentemente, apesar da dor agonizante, Anthony coloca suas mãos em seu joelho esquerdo e com seus olhos injetados de sangue, ruge forçando sua perna a funcionar corretamente.

A súbita força adicional do jovem parece pegar a força sobrenatural desprevenida, já que no momento seguinte, o rapaz se encontraria perfeitamente em pé utilizando somente a perna esquerda. Seu joelho que restou range e ativamente trinca, mas o Jovem força-o no lugar com suas mãos.

Após tal demonstração insana de determinação, tudo cessa. Sua visão volta ao normal, a dor em seu corpo desaparece, os pontos vermelhos, que se mostravam feitos do sangue do jovem, desaparecem como um passe de mágica e junto deles, o ferimento em seus joelhos.

Surpreso, decidiu olhar para frente e quando o fez, viu uma cena que jamais esqueceria. Uma montanha negra gigantesca tomaria forma do nada. Uma longa escadaria vermelha subindo-a em uma espiral, com uma árvore solitária em seu topo. Cortando a escadaria no meio, um rio de coloração vermelho seguiria cerra-abaixo. 

Um forte cheiro metálico atinge seus sentidos, antes de um mais forte ainda de criaturas mortas vir. Antes mesmo de se adaptar com isto, uma voz tomar forma em sua mente, sussurrando coisas em uma língua indescritível.

Sentindo sua cabeça ameaçar explodir pelos sussurros, o jovem consegue interpretar que aquela montanha teria possivelmente as respostas. Caminhando para a frente, cada passo parece apenas distanciar mais a montanha de si, como se as regras do espaço não existissem neste lugar.

Após um longo tempo caminhando, Anthony começaria a se sentir cansado, mas o pensamento de que agora a montanha estava próxima e que só bastava mais um tempo o impede de parar. Tal sentimento voltaria mais forte poucos minutos depois, mas sua resolução também.

Com muito esforço, após algum tempo indeterminado, o jovem teria alcançado o começo da escadaria. Seu corpo ameaça falhar a qualquer momento, mas seus olhos nunca perderam o foco. Mesmo incapaz de sentir seus pés da dor e tendo suas pernas dormentes, ele continuou em frente.

Estando perto, agora era possível ver melhor a escadaria e a montanha. A longa escadaria se mostra formada de algum material metálico de pigmentação vermelha e frio ao toque. Tal característica tornava muito estranho para Anthony pisar em seus degraus, que eram muito mais frios do que o esperado. Como pisar em cubos de gelo, ou entrar no mar de manhã.

A montanha negra se mostra feita majoritariamente de pedras, com escassas formas de vida vegetal, igualmente escuras, espalhadas por sua área. Enquanto subia, até mesmo viu uma espécie estranha de planta, se assemelhava a uma batata, mas estava com suas raízes viradas para o céu e ativamente crescendo para cima. Percebendo que talvez não seja uma boa ideia se aproximar, o jovem a ignora e continua sua escalada.

Enquanto sobe, suas pernas finalmente cessam seu funcionamento e um baque alto ocorre. Poderia ser dito que alguém próximo ouviu, mas não aparenta ter nenhuma alma viva neste lugar. Bem, fora a batata estranha.

Batendo de cabeça naqueles degraus frios, finalmente percebeu quão baixa a temperatura realmente era. Seus pés estavam já destruídos demais para sentir o terror glacial, mas agora, suas pernas, tronco, cabeça e mãos teriam esse "gostinho".

Rangendo os dentes, Anthony persiste. Mesmo não podendo andar, ele com certeza tinha força o bastante para se arrastar e foi isso que ele fez. Empurrando seu corpo escada acima, eventualmente chegou num ponto onde havia uma queda gigantesca. Facilmente atingindo a marca de 4 metros de distância de uma ponta até a outra.

Distância essa que não seria muito problema para Anthony, se ele pudesse utilizar suas pernas. Encontrando tal problema, o jovem começa a se preocupar. Sua mente trabalha rapidamente para formular um plano.

"Se eu esperar por algumas horas, talvez me recupere para poder pular, mas não sei se algo vai acontecer nesse tempo. Esse lugar é estranho, talvez seja uma provação do meu subconsciente? Não sei, fiz perguntas demais sobre tudo isso enquanto andava e me arrastava. Agora vou precisar ser criativo..."

Olhando ao redor, notou que não existia outro caminho. Para o lado, era parte da montanha, além de que a escada na frente não estava faltando uma parte reta, era como se uma parte da escada tivesse sido somente apagada, sem se importar com o visual do lugar.

O problema aumentou ao se considerar isso, não era só um pulo para frente, tinha que estar na angulação correta para conseguir subir o bastante e atingir a escada. Sua mente foi vagando em opções enquanto ele se aproximava da parede da montanha.

Ao tocar nela, percebeu que a rocha era estupidamente resistente. Resistente ao ponto de que, caso ele tentasse socar, tinha certeza de que iria quebrar sua mão sem conseguir causar nenhum dano naquilo. 

"Parece ser mais resistente que o crânio daquela Criatura Abissal... talvez eu esteja em um sério problema" pensou enquanto passava a mão pela parede, mas em dado momento notou uma deformidade na mesma. Uma pequena rachadura não visível por conta da escuridão da montanha, mal cabendo a ponta de seus dedos.

Uma ideia começou a tomar forma, ideia essa que precisaria de uma montanha igualmente grande de coragem. Anthony observa suas opções e decide morder a bala. Pior dos casos, ele cairia naquele rio vermelho e descobriria do que ele é feito.

Agarrando na parede com a ponta de seus dedos, começou a procurar a próxima e a encontrou acima da primeira. Ao encontrar, soltou o primeiro buraco. Seu corpo agora acima do chão, sendo segurado apenas pela força da ponta de seus dedos.

Lentamente subindo, procurou a próxima, depois a próxima, a próxima e assim foi. Continuou lentamente se aproximar da próxima volta da escada, o que fez o mesmo cogitar algumas coisas. Chegando bem perto da parte debaixo da escada, tentou tatear em busca de alguma rachadura, mas sem sucesso.

Franzindo o cenho, ideias começam a surgir em sua mente. "Se eu me empurrar pra lá, eu não vou conseguir me agarrar na escada. O corrimão era contínuo e não vazado. Se eu me jogar pra escada de baixo, a queda vai ser grande demais e eu posso até morrer. O que fazer?..."

Pela primeira vez em muito tempo, sua cabeça parece queimar com o esforço intelectual, mas seu pensamento é interrompido pelo som de algo se soltando. Sua alma quase sai do corpo, pois a pedra em que estava segurando tem uma parte de si separada e é jogada para o chão. Quando a mesma atinge a escada, se estilhaça em inúmeros pedaços.

Engolindo em seco, Anthony percebe que não tem muito tempo. Seu plano tem que ser feito agora e é isso que o mesmo vai fazer. Retira sua camisa enquanto troca a mão apoiada no buraco. Ao ter a camisa em mãos, amarra em um laço com uma mão e se arremessa para a direção em que o corrimão da escada ficaria.

Ao chegar muito perto, jogou o laço feito com sua camisa na tentativa de se prender em algo. Seu coração estava em sua boca, mas surpreendentemente, seu plano teve sucesso. Ao notar que prendeu em algo, não se puxou direto, mas girou seu corpo de forma que seu movimento o levasse para o lado da escada e não para longe.

Quando estava ameaçando perder aceleração, se puxou com toda a sua força. A camisa ameaçou rasgar, mas comprou distância o bastante para ele conseguir segurar no corrimão. Suspirando aliviado, ele se puxou para cima e caiu na escada.

Após finalmente alcançar um lugar seguro, sua mente ameaça desligar pelo cansaço, mas Anthony não se permite perder a consciência. Seu caminho é para cima e, já que aqui o seu corpo por completo não parece ceder totalmente, ele iria ultrapassar seus limites para saciar seu coração.

Conforme mais escalava, mais se cansava. Seus braços, antebraços, pulsos, mãos e dedos estão além do ponto da exaustão, a carne em seus membros teria desaparecido se não fosse pelas regras estranhas da realidade neste lugar.

Finalmente, após muito sofrimento, Anthony atinge finalmente o topo. Ao colocar seus olhos acima do limite da escadaria, seu corpo subitamente se tornou leve. Uma força estranha passa a afetar seu peito, erguendo-o no ar.

Sua consciência começa a esvair, enquanto uma frase surge em sua mente "O País das Bestas recebe seu novo herdeiro com júbilo"

Sem entender o que aconteceu, a consciência de Anthony some de lá. No mundo real, o estranho objeto circular em cima de sua cabeça derrete em um líquido preto-vermelho e se funde com seu corpo. Sua biologia começa a se alterar, seus músculos se tornam mais condensados, seus ossos se fortalecem, sua pele se torna mais resistente, seus cabelos se tornam mais sedosos e o processo continua aprimorando cada parte de seu corpo.

Por fim, estranhos símbolos geométricos surgem pelo seu corpo. Alguns sendo quadrangulares e outros hexagonais, junto de um par de algemas, com seu elo quebrado em seus pulsos. Lentamente, seus olhos são abertos e, junto disso, um mundo inteiramente novo se abriria em sua frente.