O sol se punha lentamente, banhando o escritório em tons vibrantes de laranja e rosa, como se um artista estivesse pintando sua obra-prima no horizonte. O som contínuo dos teclados ecoava pelo ambiente, misturado ao zumbido suave do ar-condicionado. Sari, a líder do grupo, observava o relógio na parede, seu coração acelerando a cada segundo que passava. A ansiedade começava a se espalhar pelo ar, e uma pontada de nostalgia a atingiu. Havia um tempo em que o pôr do sol significava liberdade, não prazos a cumprir.
Quando os ponteiros finalmente marcaram 17:30, um suspiro coletivo de alívio percorreu o escritório. Cadeiras rangiam ao serem afastadas, e papéis eram rapidamente guardados nas gavetas. Sari se levantou, caminhando até o centro das mesas, o olhar passando pelos rostos cansados, mas animados de seus colegas. O som de suas palmas ecoou pelo ambiente, silenciando as últimas conversas.
— Parabéns a todos nós, valentes escravos do cotidiano! — anunciou, tentando esconder sua própria exaustão.
Antes que pudesse continuar, a música explodiu pelos alto-falantes. A chefe Cristal surgiu de repente, dançando e cantando "Escrava Isaura", provocando risadas e sorrisos espontâneos. Ela arrastou alguns colegas para a brincadeira, e logo a sala se transformou em um pequeno palco de descontração.
— Lê lê lê, lê lê... — Cristal cantava, e Sari não pôde evitar um sorriso. Entre as risadas, Clara, a estagiária tímida, comentou com uma amiga:
— Olha só como ela é incrível! Mas, poxa, a Sari nunca vem às festas.
A amiga respondeu em tom de brincadeira: — A gente precisa convencê-la a se soltar um pouco mais!
Sari observou a empolgação ao redor com um olhar sereno, mas internamente já começava a se desligar daquela atmosfera festiva. A responsabilidade do dia seguinte a aguardava, e o peso crescente sobre os ombros a fazia sentir-se distante.
Quando todos saíram, Sari fechou a porta do escritório atrás de si, o som metálico ecoando na sala agora silenciosa. Um último olhar para os papéis que ainda precisava organizar e ela se permitiu um momento de reflexão. Naquela noite, desejava que a alegria deles pudesse durar mais do que as horas de trabalho.
Lá fora, o vento da noite começava a soprar, trazendo consigo o som distante de carros e buzinas. Sari montou em sua moto, trocando seu terno elegante por uma jaqueta de couro preta e calças jeans gastas. Sentia a leveza do couro contra sua pele e o familiar peso da arma presa na cintura. Um hábito antigo, um resquício de uma vida que deixara para trás, mas que, em momentos como aquele, parecia tão próxima. Ao ligar o motor, suas lembranças vagaram para o passado — dias de adrenalina, sombras e decisões rápidas.
Enquanto ligava o motor, ouviu algumas vozes atrás de si.
— Nossa líder é tão linda…, eu até choro só de olhar pra ela — comentou uma funcionária, a admiração clara em sua voz.
— Uma pena que ela nunca vai às festas — lamentou outra.
Cristal, que estava por perto, interveio com um sorriso travesso:
— Estão dizendo que eu não sou suficiente? — provocou, arrancando risadas das funcionárias.
— Você é a Deusa da nossa empresa! —
Com cabelos ruivos ondulados e olhos azuis como cristais, Cristal era realmente deslumbrante, irradiando uma aura de confiança que inspirava todos ao redor.
Sari sorriu para si mesma, acelerando a moto. O vento frio atingiu seu rosto, e seus pensamentos vagaram brevemente para os dias em que a adrenalina de uma missão a consumia. Aquela vida de ex-assassina parecia distante, mas a arma em sua cintura lembrava que ela nunca poderia baixar totalmente a guarda.
Ao chegar em casa, o silêncio dominava o ambiente. O eco dos pneus da moto no asfalto parecia mais alto do que o normal, e o ar estava denso com algo que Sari não conseguia identificar. As luzes estavam apagadas, e a mensagem que enviara para Yara antes de sair ainda não havia sido visualizada.
Sentiu a respiração acelerar e os músculos se enrijecerem. Instintivamente, a mão foi até a arma em sua cintura, o metal frio lhe dando uma sensação de controle. Os anos de treinamento voltaram em um flash: passos cautelosos, olhar atento, cada detalhe poderia ser uma pista.
Com passos silenciosos, adentrou a casa escura, os sentidos em alerta. O som de sua própria respiração parecia alto demais, ecoando nas paredes. Um estalo distante fez seu coração acelerar, e sua mente já calculava todas as possibilidades. Mas ao acender as luzes, foi surpreendida por uma explosão de cores e vozes.
— Surpresa!
Yara estava lá, sorrindo de orelha a orelha, cercada por amigos e familiares. As paredes estavam decoradas com balões, e uma música festiva preenchia o ar. Sari ficou paralisada por um instante, ainda com a arma na mão. Então, lentamente, ela a guardou de volta na cintura, sentindo o alívio tomar conta de seu corpo.
Yara correu até ela, envolvendo-a em um abraço caloroso.
— Feliz aniversário atrasado, meu amor! — Yara disse, rindo.
Sari sorriu, seu coração agora leve, transbordando de alegria. A tensão havia se dissipado, dando lugar ao calor da celebração. Durante a noite, Sari e Yara dançaram, riram e compartilharam momentos de puro amor, enquanto os amigos aos poucos iam deixando a casa.
Quando a festa acabou, e as duas estavam sozinhas, começaram a arrumar a sala. O som abafado da música de fundo agora era suave, quase um sussurro, enquanto elas recolhiam balões murchos e copos esquecidos. Yara, nervosa, quebrou o silêncio com uma fala hesitante.
— Agora que terminei meu novo livro... acho que é o momento perfeito para começarmos uma família — disse, com os olhos brilhando de expectativa.
O silêncio pairou por um instante, e Sari largou as sacolas, as lágrimas já se formando em seus olhos. Em um gesto espontâneo, ela ergueu Yara do chão, girando-a em um abraço apertado.
— Que tal começarmos a tentar agora mesmo? — Sari disse, com a voz cheia de emoção.
Yara riu, ainda mais feliz, e juntas elas caminharam para o quarto, onde a Alexa já estava programada para criar o clima perfeito: uma música suave começou a tocar, e as luzes diminuíram, criando uma atmosfera íntima e acolhedora.