Elara não sabia quanto tempo tinha passado desde que Aidan saiu da cabana, mas sua mente estava em ebulição. A combinação de adrenalina e confusão a mantinha acordada, seus pensamentos vagando pelas palavras que ele dissera. "Você merece saber a verdade." Mas que verdade era essa? E o que ele sabia sobre sua família?
O silêncio da floresta, interrompido apenas pelo estalar das brasas na lareira, parecia se estender por horas. Ela tentou se levantar, o tornozelo ainda dolorido, mas ao menos conseguia se apoiar sem cair. Tinha que sair dali. Tinha que confrontar Aidan e exigir respostas. No entanto, algo a impedia – a mesma sensação que lhe dizia que aquele lugar era, de algum modo, seguro.
Caminhando com cuidado, Elara se aproximou da janela da cabana. A luz da lua cheia iluminava as árvores ao redor, e, ao longe, ela viu uma figura solitária de pé. Era Aidan. Ele estava encostado em uma árvore, olhando para o céu, a lua iluminando seu perfil forte e determinado. Parecia estar em um estado profundo de reflexão.
Elara hesitou. Ela sabia que tinha que falar com ele, mas havia algo de assustadoramente magnético naquela figura. Era como se a própria natureza estivesse dividida entre atraí-la para ele e afastá-la, como uma força invisível lutando dentro dela. Respirou fundo e, decidida, saiu da cabana.
A noite estava fria, mas o ar fresco ajudou a clarear sua mente. Quando se aproximou de Aidan, ele pareceu sentir sua presença antes mesmo de vê-la. Seus olhos âmbar brilharam à luz da lua, e por um momento, o olhar dele a prendeu no lugar.
— Você deveria estar descansando — disse ele, a voz grave rompendo o silêncio da noite.
— Descansar? — Elara riu, embora o som tivesse um toque de nervosismo. — Como eu posso descansar com tudo isso acontecendo? Você me arrasta para cá, me diz que estou em perigo, fala sobre minha família como se soubesse mais do que eu... e depois simplesmente vai embora?
Aidan continuou a encará-la por alguns instantes, antes de suspirar. Ele se afastou da árvore e deu alguns passos na direção dela, mas manteve uma distância cautelosa. Parecia que ele também estava lutando com algo, um conflito interno que Elara não conseguia entender.
— Você merece respostas, Elara — começou ele, sua voz suave, mas cheia de peso. — Mas algumas verdades são difíceis de aceitar. Eu não queria te sobrecarregar de uma vez. Isso tudo... é maior do que você imagina.
Ela cruzou os braços, sentindo o vento frio bater em seu rosto. Algo dentro dela começou a se revoltar contra as palavras dele.
— Não me trate como uma criança, Aidan. Eu já esperei demais. — Sua voz era firme, mas havia um leve tremor de emoção. — Me diga o que está acontecendo. O que você sabe sobre mim? E por que diabos eu estou sendo caçada?
Aidan fechou os olhos por um momento, como se estivesse reunindo coragem para continuar. Quando voltou a encará-la, seus olhos estavam cheios de algo entre a dor e a determinação.
— Você nasceu em uma linhagem que carrega um grande peso, Elara. Seu sangue... — ele hesitou, como se cada palavra fosse cuidadosamente escolhida. — Seu sangue é real. Você é filha de um rei e uma rainha que foram traídos.
Elara ficou em silêncio. As palavras dele não faziam sentido. Rei? Rainha? Ela tentou processar o que ele estava dizendo, mas era como tentar pegar fumaça com as mãos.
— Meu pai... e minha mãe... — ela murmurou, a voz sumindo no vento. — Eles estão... vivos?
— Talvez — disse Aidan, o rosto dele endurecendo com a incerteza. — Mas eu sei que eles tiveram que escondê-la, Elara. O golpe que destruiu o reinado deles também os separou de você. Eles a enviaram para longe, para garantir que você sobrevivesse.
Elara sentiu o chão debaixo de seus pés quase desaparecer. Tudo o que acreditava ser sua vida até agora parecia uma farsa. Mas ainda havia um detalhe que a perturbava profundamente.
— E você? — ela perguntou, com um tom afiado. — Como você sabe tanto? E por que está aqui agora?
Aidan desviou o olhar, a mandíbula contraída. Por um momento, ela achou que ele não responderia, mas então ele falou, sua voz carregada de uma tristeza antiga.
— Eu sou filho do homem que traiu sua família.
Elara sentiu o impacto daquelas palavras como um soco no estômago. Tudo ficou claro, de repente. O lobo que a salvara, o alfa que a protegera, era também filho do traidor, do usurpador que destruíra sua vida. Ela deu um passo para trás, sentindo o peso da revelação desmoronar sobre ela.
— Então... você também é meu inimigo? — sua voz estava quase irreconhecível, tremendo de emoção.
Aidan deu um passo em direção a ela, os olhos ardendo com uma intensidade que fez Elara recuar novamente.
— Eu nunca quis isso — ele disse, a voz rouca. — Meu pai fez o que fez, e eu não concordo com ele. Quando eu descobri o que ele havia feito... eu o abandonei. Desde então, estou procurando por você, tentando desfazer o mal que ele causou.
Elara sentiu lágrimas começarem a se formar em seus olhos, mas ela as segurou com força. Sua mente estava um caos. Como ela poderia confiar nele, o filho de seu inimigo? Mas, ao mesmo tempo, havia algo em Aidan, algo que a puxava, como se ele fosse a única pessoa que entendesse o peso de tudo aquilo.
— E o que eu faço com isso agora? — ela sussurrou, mais para si mesma do que para ele. — Como eu posso confiar em você?
— Eu não espero que confie em mim de imediato — Aidan disse, sua voz quase quebrada. — Mas eu estou aqui para te ajudar, Elara. Juntos, podemos descobrir a verdade. Podemos encontrar seus pais... e tomar de volta o que é seu de direito.
Elara fechou os olhos, tentando processar tudo. Quando os abriu novamente, viu o brilho da lua refletido nos olhos dele, e, apesar de tudo, sentiu um calor inexplicável crescer dentro de si. A proximidade entre eles era palpável, quase elétrica. Ela sabia que não deveria confiar nele, mas ao mesmo tempo, sentia-se atraída de uma forma que não podia controlar.
Eles ficaram em silêncio por alguns segundos, mas a tensão entre eles era inegável. Elara sabia que estava diante de uma escolha difícil: confiar no lobo que a salvara, mesmo sabendo de suas origens, ou continuar sua jornada sozinha, cercada por mentiras e mistérios.
Aidan, por outro lado, parecia lutar contra seus próprios demônios. Havia algo no olhar dele, algo que ele ainda não tinha dito. O ar entre eles estava carregado, e Elara não pôde evitar o impulso de se aproximar mais. Era como se o destino tivesse jogado os dois naquele mesmo caminho, e agora não havia como voltar atrás.
No entanto, antes que qualquer palavra fosse dita, um som distante de uivos ecoou pela floresta. Aidan imediatamente ficou tenso, seu olhar se voltando para as árvores, atento.
— Eles estão vindo — disse ele, com um tom urgente. — Não temos muito tempo.
Elara olhou para ele, assustada.
— Quem está vindo?
— Os caçadores — respondeu Aidan, virando-se para ela. — E eles não vão parar até te encontrar.
O coração de Elara disparou, e sem pensar duas vezes, ela seguiu Aidan, correndo pela floresta, sabendo que algo terrível estava por vir, mas ainda sem compreender toda a extensão do que estava prestes a enfrentar.