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Sussurros da Lua

🇧🇷Anne_Nascimento_4334
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Chapter 1 - Capítulo 1 – O Chamado da Lua

A floresta de Dunhaven parecia mais ameaçadora à noite. As árvores altas formavam uma muralha, e seus galhos, como mãos retorcidas, bloqueavam a luz da lua, lançando sombras assustadoras no chão coberto de folhas. O ar estava denso, carregado de umidade e algo mais – algo que Elara Kincaid não conseguia identificar, mas que causava um arrepio profundo em sua espinha.

Ela não sabia ao certo o que a levara a correr tão tarde pela floresta. Talvez o súbito ímpeto de fugir das dúvidas e do desconforto de não pertencer a lugar algum. Desde que chegara ao vilarejo para investigar suas origens, sentia-se observada, como se algo ou alguém a seguisse de longe, à espreita. As perguntas sobre seu passado vinham à tona cada vez com mais intensidade, e agora, sozinha no meio de um labirinto de árvores, a sensação de ser vigiada tornava-se quase insuportável.

O som de uivos distantes cortava o silĂŞncio, trazendo Ă  mente as histĂłrias sombrias sobre lobos que os moradores contavam Ă  noite, em volta de fogueiras. Lobisomens, diziam eles. Elara riu nervosa. "Bobagem", pensou, enquanto tentava se convencer de que tudo isso nĂŁo passava de lendas. Mas o medo, aquele medo primal, nĂŁo se acalmava.

Ela tropeçou, o pé enroscando-se em uma raiz oculta pela vegetação. O chão de terra úmida acolheu sua queda com um baque suave, mas a dor em seu tornozelo se espalhou rapidamente. Ela tentou se levantar, mas um som vindo da floresta congelou seu sangue. Galhos quebrando. Passos pesados, aproximando-se.

O coração de Elara acelerou, e seu instinto gritou para ela fugir. Ela forçou-se a se levantar, ignorando a dor, e começou a correr, o desespero alimentando cada passo. O som dos passos era mais próximo agora, inconfundível. Algo a estava seguindo. Algo grande.

A respiração de Elara estava entrecortada, e a adrenalina fez suas pernas tremerem. O que quer que estivesse atrás dela, era rápido demais. Não importava o quanto ela corresse, sabia que não conseguiria escapar. Quando virou a cabeça para tentar identificar o que a perseguia, viu apenas um vulto enorme correndo entre as árvores, os olhos brilhando na escuridão.

Ela gritou, mas sua voz foi abafada pelo som dos galhos estalando e o rugido baixo e ameaçador do que parecia ser um lobo gigantesco. Antes que pudesse reagir, sentiu algo a alcançar por trás.

De repente, um par de braços fortes a envolveu, e a sensação de calor percorreu seu corpo. Era diferente de tudo o que ela esperava. A força era imensa, mas não havia agressão. Quem quer que a tivesse agarrado, estava a protegendo. Elara tentou lutar, mas a exaustão tomou conta, e sua visão começou a escurecer. As últimas coisas que viu foram os olhos âmbar que a observavam com intensidade, enquanto uma voz grave murmurava perto de seu ouvido:

— Está segura agora.

Quando Elara acordou, estava em um lugar completamente diferente. A dor em seu tornozelo ainda latejava, mas ao abrir os olhos, ela se viu deitada em uma cama simples, coberta com peles grossas e aquecedoras. A luz suave da lareira dançava nas paredes da pequena cabana onde estava. O cheiro de madeira queimando preenchia o ar, e por um breve momento, ela se perguntou se tudo não tinha sido um sonho.

No entanto, ao se mexer, percebeu que nĂŁo estava sozinha.

Sentado em uma poltrona perto da lareira, o homem que a salvara a observava. Ele era imponente, mesmo em repouso. Alto, com ombros largos e músculos visíveis por baixo da camisa simples. O fogo da lareira refletia em seus olhos, que brilhavam como âmbar derretido, quase hipnotizando Elara. Ela tentou se sentar, ignorando a dor, e seus olhos encontraram os dele.

— Quem... quem é você? — ela perguntou, a voz falhando de leve. Estava confusa, assustada e, ao mesmo tempo, inexplicavelmente atraída pela figura à sua frente.

O homem se levantou lentamente, cruzando o pequeno espaço que os separava com passos firmes e controlados. Ele parecia uma força da natureza, algo entre o humano e o selvagem.

— Meu nome é Aidan — disse ele, parando a poucos metros de distância. — Sou o alfa da alcateia de Dunhaven.

Elara arregalou os olhos, sentindo o impacto daquelas palavras. "Alfa?" A palavra ecoou em sua mente, enquanto memĂłrias distantes de histĂłrias sobre lobos e hierarquias surgiam.

— Alcateia...? — murmurou, quase sem acreditar.

— Sim, Elara — respondeu Aidan, a voz dele grave e séria. — E você está em grande perigo.

O coração dela disparou. Mais perigo? O que ele queria dizer com isso? Ela se esforçou para processar a informação, mas sua mente estava uma tempestade de perguntas.

— Perigo? Por quê? — sua voz era quase um sussurro. — O que está acontecendo?

Aidan suspirou, como se estivesse pesando as palavras antes de responder. Ele deu mais um passo em sua direção, até estar bem próximo. Seus olhos a perfuraram com uma intensidade que fez sua respiração falhar por um segundo.

— Você está sendo caçada — ele começou, os dentes cerrando ligeiramente ao dizer isso. — Não por qualquer criatura, mas por um lobo... que quer reivindicar o que não é dele.

Elara sentiu um calafrio subir pela espinha. O medo crescia dentro dela novamente, mas junto com ele, havia uma sensação de incredulidade. Caçada? Por quê? E o que ele queria dizer com "reivindicar"?

— Mas... por que eu? — ela perguntou, o pânico e a confusão evidentes em sua voz. — Eu não sou... Eu não sou nada especial.

— Não é o que ele pensa — disse Aidan, a voz mais baixa, quase um rosnado contido. — E é por isso que eu estou aqui. Para te proteger.

Elara sentiu-se ainda mais desconcertada. O alfa, um lobo, estava ali para protegê-la. Mas proteger do quê? Ou de quem? E por que ela? Aidan parecia saber muito mais do que estava disposto a contar. Ela estava cheia de perguntas, mas antes que pudesse expressá-las, os olhos de Aidan suavizaram, e ele estendeu a mão, tocando de leve o rosto dela. O toque dele era quente, reconfortante.

— Confie em mim, Elara — ele murmurou, os lábios próximos o suficiente para que ela sentisse o calor de sua respiração. — Eu não vou deixar que te machuquem.

O toque dele despertava algo dentro dela, uma atração irresistível que parecia ir além de qualquer coisa que ela já experimentara. Mas ao mesmo tempo, havia um conflito interno. Aidan era um alfa, e ele pertencia ao mundo dos lobos – um mundo que ela mal começava a entender. Havia algo nele, algo perigoso, mas também protetor.

— Eu... não entendo — ela sussurrou, a voz falhando. — Por que está me ajudando?

Aidan a olhou com uma mistura de seriedade e algo mais profundo. Ele nĂŁo respondeu de imediato, como se a resposta fosse mais complicada do que ela imaginava. Seus dedos deslizaram pelo rosto dela, deixando um rastro de calor, antes de ele se afastar, voltando para a porta.

— Porque você merece saber a verdade — ele disse, finalmente, sem olhar para trás. — Sobre quem você é. E sobre o que aconteceu com sua família.

Com essas palavras, ele saiu da cabana, deixando Elara sozinha, envolta em mistério e atraída por um lobo que parecia saber mais sobre sua vida do que ela mesma.