As ondas quebravam furiosamente contra a encosta de pedra, onde ficava a fortaleza da Casa Vysarion. Embora estivesse longe dos dias de glória da verdadeira fortaleza dos Vysarion na antiga Valíria, ainda mantém um ar imponente e majestoso.
Em pé na muralha externa da fortaleza, onde os guardas costumavam fazer sua patrulha, o jovem Vaelor, principal herdeiro do Senhor da Casa Vysarion, estava centrado, olhando para o pôr do sol sobre o mar. Os raios avermelhados iluminavam seus olhos âmbar, que pareciam brilhar. O vento gelado vindo das ondas balançava seus cabelos escuros, deixando expostas as duas mechas roxas — um símbolo de sua linhagem Vysarion. Sua pele era clara, e seus traços aristocráticos, herdados de gerações passadas, davam-lhe uma aparência refinada. Embora jovem, havia em seu olhar uma seriedade que parecia carregar o peso de gerações, uma marca da rigidez imposta por seu pai.
A brisa salgada do mar trouxe um leve alívio do calor da tarde, mas Vaelor mal a percebeu. Seus pensamentos estavam distantes. Ele sempre soube que sua vida não lhe pertencia, que seu destino havia sido traçado muito antes de seu nascimento. Mas isso não diminuía sua relutância em aceitá-lo. O peso do nome Vysarion repousava sobre seus ombros desde que se lembrava.
Ele era o herdeiro de uma linhagem antiga, de uma casa que outrora montava dragões, mas que agora mal sobrevivia em terras que, de certa forma, também pertenciam às conquistas de seus antepassados.
Com o semblante fechado, Vaelor refletia sobre uma conversa que ouvira na noite anterior. Seu pai, Lorde Gaeron Vysarion, não havia sido sutil ao discutir o destino do filho com seus conselheiros. Um casamento com a Casa Targaryen estava sendo planejado; uma aliança que, na mente de seu pai, seria a salvação da casa.
— Então é isso — murmurou para si mesmo, sua voz sendo levada pelo vento. — Um futuro decidido por outros, e eu mal sou consultado.
O som de passos pesados o tirou de seus pensamentos. Era seu pai, Lorde Gaeron. Alto e com traços marcados pela severidade, Gaeron sempre parecia mais uma estátua do que um homem de carne e osso. Seus olhos eram frios e calculistas, como se cada decisão fosse parte de um grande jogo de tabuleiro. Ele observou o filho por um momento antes de se aproximar.
— Vaelor — disse ele com voz firme, mas sem emoção. — Acredito que chegou a hora de conversar com você.
Vaelor não se virou imediatamente, mas assentiu levemente. Sabia que, quando seu pai tinha aquele tom, não havia espaço para discussão ou desobediência.
— Sobre o que, meu pai? — perguntou, finalmente encarando Gaeron, seus olhos âmbar reluzindo com uma faísca de desinteresse, misturada com sarcasmo. Ele sabia que não deveria provocar o pai, mas não resistiu.
— Chegou a hora de cumprir seu papel — declarou Gaeron sem rodeios. — A aliança com a Casa Targaryen está selada. Você se casará com Lady Daelyra. É nossa chance de restaurar a glória dos Vysarion.
Vaelor ficou em silêncio, absorvendo as palavras de seu pai. Ele sabia que esse dia chegaria, mas isso não tornava a notícia mais fácil de aceitar.
— E se eu disser não? — A pergunta escapou de seus lábios num tom desafiador, embora ele já soubesse a resposta.
Gaeron estreitou os olhos.
— Você não tem esse luxo, Vaelor. Não se trata do que você quer, mas do que é necessário para nossa casa. Esta é a única maneira de garantir que não desapareçamos como tantas outras famílias.
— Então, o sacrifício sou eu? — retrucou Vaelor, o sarcasmo agora mais evidente, embora seu tom permanecesse calmo. Sabia que seu pai desprezava qualquer sinal de fraqueza, e demonstrar desespero ou raiva apenas o tornaria mais vulnerável.
— Se for necessário — respondeu Gaeron friamente.
Vaelor desviou o olhar para o mar mais uma vez. Sentia a pressão sobre seus ombros crescer. Por mais que se opusesse, sabia que seu destino já estava traçado. O casamento era inevitável. No entanto, algo dentro dele se recusava a aceitar a situação com facilidade. Talvez fosse o orgulho valiriano em seu sangue, ou apenas a vontade de decidir seu próprio caminho.
— Quando será? — perguntou finalmente, sua voz carregando a resignação que seu pai tanto esperava ouvir.
— Em breve — respondeu Gaeron, satisfeito com a atitude do filho. — Partiremos para Pedra do Dragão em algumas semanas. Você conhecerá sua futura esposa lá. Até então, prepare-se.
Vaelor não respondeu. Limitou-se a um aceno quase imperceptível.
— Ótimo — disse seu pai.
Gaeron tocou o ombro de Vaelor e saiu, deixando-o sozinho com seus pensamentos.
Vaelor voltou a olhar para a arrebentação das ondas, sentindo o cheiro salgado do mar enquanto seus pensamentos pairavam sobre a conversa de poucos instantes.