A noite cobria a cidade de Valtara com um manto de escuridão, e a luz das estrelas parecia ofuscada pela constante névoa que pairava no ar. Em meio às ruas sinuosas e estreitas, um garoto caminhava, suas pequenas botas de couro ecoando suavemente na pedra. Ele tinha apenas 12 anos, mas seu olhar era o de alguém que já havia visto muito mais do que deveria.

O vento frio agitava seus cabelos negros enquanto ele passava por um beco, onde sombras se moviam inquietas. O garoto, no entanto, não se intimidava. Seus olhos, vazios e sem brilho, apenas seguiam em frente, indiferente ao mundo ao seu redor.

Do outro lado da rua, um som interrompeu sua caminhada. Ele parou, ouvindo atentamente. Vozes. Risadas cruéis. E um murmúrio abafado de desespero.

Seu olhar se desviou para o beco escuro, onde três homens estavam encurralando uma garota loira, empurrando-a contra a parede. Ela lutava para se soltar, mas era pequena demais, frágil demais para resistir à força deles.

O garoto observou a cena por um momento, sem nenhuma expressão. Então, com uma calma que não combinava com sua idade, ele atravessou a rua em direção ao beco.

"Ei, pirralho, o que você está fazendo aqui?" Um dos homens gritou, virando-se para ele com um sorriso torto. "Vai embora antes que a gente te ensine uma lição."

O garoto parou, os olhos fixos no homem. Não havia medo em seu olhar, apenas um vazio profundo, como se ele estivesse olhando através do bandido e não para ele.

"Você me ouviu? Cai fora, moleque!" O segundo homem se aproximou, empurrando-o no peito.

O garoto cambaleou para trás, caindo no chão com um baque surdo. Ele não fez nenhum som, não esboçou nenhuma reação. Apenas permaneceu ali, sentado, observando-os.

A garota, percebendo a situação, gritou desesperada: "Parem! Deixem ele em paz!"

O terceiro homem, o líder do grupo, riu alto. "Parece que temos uma heroína aqui! Quer proteger o pirralho, hein? Muito bem, vamos ver o que você vai fazer agora."

Ele avançou para o garoto, levantando o punho, mas antes que pudesse desferir o golpe, algo aconteceu. Os olhos do garoto se estreitaram, e por um breve momento, um lampejo de dor passou por seu rosto, lembrando-se de sua mãe.

Uma lembrança de fogo, sangue, e o grito agonizante de sua mãe. A raiva borbulhou dentro dele, crescendo como uma tempestade prestes a explodir. E então, aconteceu.

Uma explosão de luz vermelha envolveu o beco, cegando os homens. O ar foi preenchido por um calor intenso, e os gritos de dor dos agressores ecoaram pela noite. Quando a luz diminuiu, os três homens estavam caídos no chão, com queimaduras graves por todo o corpo, inconscientes.

A garota, ainda tremendo, correu até o garoto, caindo de joelhos ao lado dele. "Você... você está bem?" sua voz era suave, quase um sussurro, enquanto tocava seu rosto, verificando se ele estava ferido.

O garoto olhou para ela, sua expressão ainda vazia, mas a raiva que havia sentido começava a se dissipar, dando lugar a uma exaustão profunda. Ele não respondeu, apenas fechou os olhos enquanto a escuridão o envolvia, puxando-o para o abismo da inconsciência.