Mundus Arcana, Ano 312 do Calendário Arcano
Nas profundezas do Tártaro, onde a luz jamais chega e o tempo é uma memória distorcida, a escuridão domina tudo. Este é um lugar de sombras sem fim, onde as almas perdidas vagam eternamente e onde até os mais poderosos temem caminhar. No centro desse caos, como uma presença imponente e inevitável, está Azrael, o Cavaleiro da Morte. Envolto em um manto negro que parece absorver qualquer traço de luz, ele caminha silenciosamente, uma figura de poder absoluto e indiferença fria.
Por eras incontáveis, Azrael cumpriu sua tarefa de guiar as almas dos mortos. Seu propósito era claro, sua existência definida por essa única função. Mas, com o passar do tempo, uma inquietação começou a crescer dentro dele. O vazio do Tártaro, antes seu domínio indiscutível, agora parecia uma prisão sufocante. Ele ansiava por algo mais—uma existência além das sombras, onde pudesse experimentar a vida que tantas almas temiam perder.
Azrael sabia que, para escapar do Tártaro, precisaria romper a barreira que separava aquele abismo do mundo dos vivos. Mas essa barreira, forjada pelos deuses, era praticamente inquebrável. Para superá-la, ele precisaria de um poder imenso, um sacrifício que abalaria as próprias fundações do Tártaro.
Com determinação inabalável, Azrael começou a convocar os demônios mais poderosos do Tártaro. Cem seres de pura maldade e poder, cada um uma força da natureza por direito próprio, responderam ao seu chamado. Eles se reuniram ao redor dele, formando um círculo sombrio, seus olhos brilhando com uma luz maligna, mas também com uma pitada de curiosidade. Eles conheciam Azrael, temiam-no e respeitavam-no, mas não tinham ideia do que ele realmente pretendia.
"Vocês foram chamados para um propósito," disse Azrael, sua voz firme e cheia de uma determinação fria. "Para abrir uma passagem para o mundo dos vivos, é necessário um poder que só o sacrifício de seres como vocês pode proporcionar."
A tensão no ar era palpável, mas antes que qualquer um dos demônios pudesse reagir, Azrael se moveu com a velocidade de um raio. Com sua espada curvada em mãos, ele começou a cortar através de cada um deles. Não havia palavras, não havia negociações. Ele era o Cavaleiro da Morte, e eles eram simplesmente o meio para seu fim.
Um a um, os demônios caíram sob a lâmina de Azrael, suas essências sendo absorvidas pela espada que ele empunhava. Cada vida tirada aumentava o poder concentrado na lâmina, e a energia acumulada começou a distorcer o próprio tecido da realidade ao redor. O ar tremia, as sombras se agitavam, e o Tártaro ecoava com os gritos agonizantes dos que eram sacrificados.
Azrael sentia a energia crescer dentro da lâmina, um poder imenso e selvagem, pronto para ser liberado. Com um movimento decisivo, ele ergueu a espada e desferiu um golpe contra o vazio à sua frente. A barreira que separava o Tártaro do mundo dos vivos resistiu, mas apenas por um momento. Com um som que parecia um grito primordial, a barreira se rasgou, criando uma fenda estreita, brilhando com uma luz ofuscante que contrastava violentamente com a escuridão ao redor.
Sem hesitar, Azrael avançou pela fenda. Ao atravessá-la, ele sentiu uma dor excruciante, como se seu próprio ser estivesse sendo dilacerado. A imensa energia que ele havia acumulado na espada foi liberada de uma só vez, drenando suas forças. Seus poderes, antes vastos e incontroláveis, estavam agora severamente enfraquecidos.
Quando finalmente atravessou completamente, Azrael caiu no chão, sua visão turva e seu corpo exausto. Ele tentou se levantar, mas a dor e o esgotamento eram demais. O mundo ao seu redor, ainda desconhecido, era uma mistura de cores e luzes que ele não via há milênios. Antes que pudesse processar qualquer coisa, a escuridão tomou conta dele, e Azrael desmaiou, caído em meio a uma paisagem desconhecida.
Ali, sozinho e vulnerável, o Cavaleiro da Morte estava à mercê do novo mundo que tanto desejara conhecer. Sua jornada estava apenas começando, mas, por agora, ele estava inconsciente, deixando o destino decidir seu próximo passo.