O mundo já não se lembrava dos tempos dourados, quando os caçadores eram louvados como heróis inquestionáveis e a luxúria pelo poder ainda não havia corrompido seus corações. Era uma geração marcada pelo brilho da justiça, onde a luz dos céus irradiava sobre a Terra com a bênção dos deuses. Nas grandes cidades e vilarejos, crianças corriam livres, seguras nas histórias gloriosas daqueles que protegiam o equilíbrio entre o humano e o monstruoso.
Naquele tempo, havia menos destruição, e o nome caçador era sinônimo de honra. Eles eram os guardiões da paz, celebrados por todos. Mas, acima de tudo, foi a era antes da queda, antes de a escuridão se arrastar pelo coração daqueles que juraram proteger o mundo.
O sol nascente iluminava a vastidão das planícies férteis, onde agricultores erguiam suas foices e martelos, começando mais um dia de trabalho sob os olhares vigilantes dos caçadores que faziam suas rondas diárias. Nas aldeias próximas, o toque suave de sinos anunciava o amanhecer de um novo dia em que os monstros eram controlados, os pactos entre homens e deuses ainda sólidos. Em um desses vilarejos, uma jovem mulher de olhos penetrantes e postura determinada caminhava pelas ruas de pedra, observando as vidas simples ao seu redor.
Isolde Vire, uma guerreira de um clã lendário, era conhecida por sua coragem e destreza. Mas ela não caminhava ali como uma heroína para se vangloriar de suas conquistas. Sua mente estava consumida pela lembrança da última batalha. O rugido de monstros, o som de espadas se chocando e o sacrifício de vidas a deixavam em silêncio, sempre refletindo sobre o peso de seu destino.
"Isolde!", chamou uma voz distante, cortando seus pensamentos. Era seu irmão de armas, Gylf, um homem veterano, marcado por cicatrizes de batalhas, cuja sabedoria ressoava como uma força invisível. Ele se aproximou dela com passos decididos, colocando uma mão pesada em seu ombro.
"Hoje não é dia de lamentação, Isolde. Não somos nós que carregamos o peso dos deuses. Lutamos, vencemos, e o ciclo continua."
Ela suspirou, olhando para o horizonte. "Mas até quando, Gylf? Até quando vamos lutar sem fim, enquanto os monstros continuam surgindo das sombras?"
Gylf riu, um som rouco e áspero. "Você tem razão. A escuridão sempre encontra um caminho. Mas é por isso que lutamos. Não pelo fim da luta, mas pela preservação do que é justo." Ele apontou para uma criança que corria ao longe, rindo alegremente com seus amigos. "Nós fazemos isso por eles."
Aquelas palavras confortaram Isolde, ainda que temporariamente. Ela sabia que sua batalha mais difícil ainda estava por vir. Ela sabia o que estava destinado a acontecer – um conflito que não seria apenas físico, mas algo muito mais profundo, Isolde ficava novamente pensativa enquanto olhava para as crianças.
"Ei..." Chamava a atenção de Gylf, que já tinha se virado pra arar a terra com sua enchada. "Hum..? O que foi?" o homem questionava.
"Será que um dia, eu poderei ter algo assim; paz...?" Sua voz estava fraca, parecia que ela não aguentava mais a sensação de ter que lutar o tempo todo, ela podia ser a mais forte de todas, mas ela ainda era uma humana, ainda quer sentir outros sentimentos e viver uma vida pacífica. "Hmm..." Gylf cravava a enchada na terra e iria até ela, ficando de frente dela e colocando suas mãos sobre os ombros da mesma.
"Claro que vai, irmã. Só que isso infelizmente seria impossível nesse tempo, tem monstros demais pra ao menos considerar a idéia, eu sei que quer isso, todos nós queremos formar uma família, Isolde. Mas ainda temos que aguentar para o tempo certo, e aliás... Tu nem encontrou ninguém ainda." Gylf riria da cara de Isolde, debochando dela não ter nenhum interesse amoroso.
"E daí? Ainda posso fazer alguém se apaixonar por mim, mas como você mesmo diz... Ainda não é a hora." Gylf riria mais um pouco enquanto voltava para o seu trabalho braçal. "Aham, sei."
Enquanto isso, nos altos salões da Ordem dos Caçadores, a elite se reunia em torno de grandes mesas de carvalho, onde mapas detalhados de territórios e relatórios de caçadas eram discutidos em vozes baixas. No centro estava Caelum Valerius, líder supremo da Ordem. Caelum era respeitado por sua habilidade incomparável de liderar com sabedoria e força. Seus olhos de um azul afiado refletiam a mente estratégica por trás de incontáveis vitórias, estava ele no seu trono. Numa sala de reunião, onde tinha uma grande mesa circular, tendo várias pessoas sentadas em seu respectivo lugar.
"Precisamos manter as fronteiras ao sul sob vigilância constante", disse Caelum em sua voz grave, analisando um gráfico do mapa de Luminaria. "Há rumores de novas hordas de monstros. E os sinais das antigas profecias estão começando a se manifestar."
Eredor, um dos comandantes, assentiu. "Há algo mais, senhor. Algumas das tribos selvagens mencionaram... uma presença diferente. Não é só a escuridão comum dos monstros."
Caelum inclinou-se para frente, seus dedos tamborilando sobre o mapa. "O que você está sugerindo?"
"Alguns dizem que... Vorgath está se movendo novamente."
As palavras caíram como uma pedra no silêncio. O nome de Vorgath, o Pai das Aberrações, não era mencionado com leviandade. Ele era uma entidade que existia além dos monstros comuns, uma força primordial de destruição, o caos personificado.
Caelum permaneceu calmo, mas a tensão em seus olhos era visível. "Se for verdade, isso significa que estamos diante de algo maior do que qualquer um de nós já enfrentou. Devemos nos preparar."
Enquanto isso, Isolde, sem o conhecimento dos caçadores, voltava para a sua aldeia que morava, era pacífica no sopé das montanhas, onde o cheiro de pão recém-assado e o som suave de crianças brincando preenchiam o ar, um homem novo haveria chegado. Ele se chama Voris, Um jovem que aparentemente era um refugiado, mas para os aldeões, ele era um viajante solitário, quieto, mas amigável, que buscava um lugar simples para se estabelecer, estava caminhando pelos os arredores e olhava algumas pessoas, dando um leve sorriso para as crianças. Ele caminhava mais para fora da vila, onde veria Isolde, que estava treinando sozinha, em uma clareira da floresta, quando ouviu passos se aproximando. Ela se virou, espada em mãos, apenas para ver um homem aparentemente comum, com uma expressão tranquila e um leve sorriso nos lábios.
"Não queria interromper. Parece que você domina bem a espada." Ali estava Voris, com um sorriso leve.
"Quem é você?" Isolde questionava, apesar dela conhecer todo mundo da aldeia, ela nunca tinha visto ele na sua vida.
"Meu nome é Voris. Sou um viajante refugiado. Estava passando pra conhecer mais a vila em que vou me hospedar por um tempo, e acabei por ver sua habilidade de longe... Impossível não notar alguém tão habilidosa." Voris ainda falava com um tom calmo, não querendo assustar ela ou algo do tipo. ela relaxaria levemente, mas ainda com o olhar firme.
"Se você veio procurar problemas, é melhor seguir seu caminho." Isolde empunhava sua espada em Voris, numa tentativa de mostrar que deveria ter uma distância entre eles.
"De jeito nenhum. Apenas um admirador da arte da espada. Eu não sou bom com elas, mas... acho fascinante assistir." Voris levantava suas mãos, numa posição de rendição.
"Admirador, é?" Ela analisaria o estranho por um momento, antes de guardar a espada." Apenas observe, então."
Nos dias seguintes, Voris passou a aparecer sempre que Isolde treinava. Ele nunca forçava conversa, apenas fazia pequenos comentários ou oferecia observações simples. Gradualmente, o muro de desconfiança que Isolde mantinha começou a enfraquecer.
Vorih em um dos dias, enquanto a observava descansar, soltava um comentário." Parece que você busca algo além da força." Isolde secaria o suor do rosto enquanto cravava a sua espada na terra "Todos têm algo pelo que lutar."
"E o que você busca?" Voris erguia uma das suas sobrancelhas, demonstrando uma curiosidade genuína.
Isolde hesitou. Não estava acostumada a esse tipo de conversa com estranhos, mas havia algo em Voris que a deixava confortável o suficiente para responder.
"Honra. Proteção para aqueles que não podem lutar. E... liberdade." Enquanto Voris ouvia cada palavra, ele parecia satisfeito com a resposta, demonstrando um leve sorriso enquanto cruzava seus braços. "Isso realmente é umas palavras que uma verdadeira guerreira diria."
Ela olhou para ele, um pouco surpresa pela sinceridade em seu tom.
"E você, viajante? O que busca em suas jornadas?"
"Acho que... estou em busca de algo grande também. Algo... especial. Talvez eu ainda não saiba o que é." Voris parecia pensar em cada sentença que dizia com cuidado. "Talvez eu te conte em alguma outra ocasião."
Eles se encararam por alguns segundos, um silêncio que parecia mais confortável do que desconfortável. Aos poucos, Voris começava a se aproximar de Isolde, de pouco a pouco, dia após dia.
Mais alguns dias passariam, e toda a tranquilidade que eles sentiam até aquele momento era interrompido por uma chamada de emergência do grande Ordem dos Caçadores, Isolde receberia esta mensagem por um mensageiro, já que ela é uma das guerreiras mais competentes desta época
"O quê...? droga, não pensei que iria acontecer tão rápido... obrigado pelo a mensagem, agora pode ir." diria Isolde, acenando para o mensageiro indo embora com pressa, Voris ao seu lado, veria a situação e começava a suar frio.
"Como assim? este lugar também está sendo atacado...?" perguntava o homem, preocupado com a vila.
"Ainda não, eles estão na fronteira, e eu irei ajudar os caçadores a fazerem o trabalhos dele de defender as vilas que estão por perto, incluindo essa, então recomendo que tu se esconda e fica perto dos guardas que ficarão pra proteger a vila." as palavras que saíam dela eram rígidas, novamente parecia que estava falando com um simples aldeão que mal conhecia, Voris ficava angustiado com aquelas palavras.
"E deixar você ir como se não fosse nada?! tu pode muito bem morrer nessa missão!" Isolde riria, se virando para o horizonte onde ela estaria indo. "Eu não sou fraca, e eu treino todos os dias pra proteger gente como você, agora estou indo, a gente se ver." e sem mais nenhuma palavra, ela saía correndo daquele lugar, indo para o campo de batalha, Vorih não ficava feliz com aquilo, ele apenas olhava pra baixo, cerrando os dentes enquanto apertavas os punhos.
Depois de um tempo, Isolde chegava em meio a um vasto campo devastado, o solo coberto por cinzas e sangue de batalhas passadas. As montanhas ao longe se erguiam como guardiãs sombrias, e a névoa espessa carregava o odor da morte. Ela havia sido convocada pela Ordem dos Caçadores.
A horda de monstros, como Caelum havia alertado, havia crescido descontroladamente, e agora uma das cidades mais próximas estava sob cerco. Golems ancestrais, dragões, e aberrações das profundezas haviam surgido em números muito maiores do que o esperado.
Enquanto corria pelo campo, ela sentia algo estranho, como se estivesse sendo observada, mas a urgência da missão não permitia que ela se distraísse com essa sensação.
Chegando ao campo de batalha, ela parou por um breve momento, observando o caos à sua frente. Golens maciços, com pele de rocha e magma fluindo de suas articulações, avançavam em direção às defesas dos Caçadores. Dragões cuspiam fogo e raios, rasgando o céu e queimando tudo em seu caminho. As criaturas menores, ainda assim horrendas, seguiam em massa, atacando sem piedade.
Isolde respirou fundo, e com uma determinação fria, avançou.
Usando sua velocidade incomparável, ela disparou primeiro contra um dos golems. Seus pés mal tocavam o chão, e em questão de segundos, ela estava diante do colosso. Com um giro preciso de sua espada, uma lâmina encantada com poder elemental, ela desferiu um golpe horizontal. A lâmina, coberta em faíscas elétricas, rasgou a pele de pedra do golem, que soltou um grito gutural. Com um movimento fluido, ela então utilizou sua magia de vento, criando um redemoinho ao redor de si que aumentou sua velocidade e lhe deu a oportunidade de perfurar o peito do monstro, atingindo seu núcleo vital.
O golem estremeceu antes de desmoronar, suas pedras se desfazendo ao toque do chão.
Não havia tempo para descanso.
Um dragão mergulhou do céu, abrindo suas mandíbulas para soltar uma torrente de fogo. Isolde estendeu a mão e conjurou um escudo de gelo, que brilhou com uma energia gélida antes de interceptar as chamas do dragão. O fogo se estilhaçou contra a barreira, e antes que o dragão pudesse recuar, ela saltou, seu corpo disparando como uma flecha pelo ar.
Com um rugido de determinação, ela cravou sua espada na asa do dragão, rasgando a membrana. A fera se contorceu, caindo pesadamente no solo. Isolde pousou com graça ao lado do dragão caído e usou sua força sobre-humana para arrancar sua lâmina do corpo da criatura, agora inerte.
"Caelum... espero que esteja vendo isso de onde estiver," murmurou ela.
Entretanto, algo estava errado.
De repente, um grito emergiu do campo de batalha — Voris, havia sido descoberto por uma das criaturas. Apesar de seu disfarce, uma das bestas, um imenso lagarto acorrentado de três cabeças, o havia farejado. As três cabeças voltaram-se para ele ao mesmo tempo, olhos vermelhos brilhando com fúria predatória.
Voris, surpreso com aquilo, congelou momentaneamente, os olhos calculando rapidamente o próximo movimento. Ele sabia que qualquer movimento brusco, podia o matar. O monstro avançou, a boca da cabeça central cheia de dentes como lanças.
Sem hesitar, Voris recorreu a um movimento estudado. Ele sacou uma espada simples, a arma de um viajante, uma que ele carregava debaixo de seu moletom grande. Com precisão fria, ele girou o corpo para o lado, esquivando-se do ataque da cabeça central. Com um movimento rápido e calculado, ele cravou a lâmina em um ponto vulnerável, na base do pescoço da criatura.
As outras duas cabeças do lagarto avançaram em fúria. Voris não perderia a calma, desviando novamente com movimentos graciosos. Ele podia ser um simples viajante, mas ele sabia exatamente o que fazer. Ele acertaria um golpe na pata dianteira do monstro, forçando-o a perder o equilíbrio. Em seguida, cravou sua lâmina com precisão cirúrgica no ponto vital da segunda cabeça.
O lagarto soltou um grito de dor antes de finalmente colapsar no chão.
Um Caçador veterano, que havia testemunhado o combate, aproximou-se, impressionado.
"Você... como conseguiu fazer isso?" perguntou o Caçador, os olhos arregalados.
Voris, olhava para o caçador, tentando se manter calmo, forçou um sorriso humilde.
"Ah... um pouco de sorte," disse ele, casualmente, limpando o suor da testa. "Eu treinei com meu pai quando era mais jovem, aprendi alguns truques para lidar com criaturas maiores."
O Caçador assentiu, impressionado. "Treinamento ou não, você tem habilidade."
Voris riu nervosamente, tremendo um pouco, apesar de ter feito algo bem impressionante "Acho que a sorte estava do meu lado hoje."
Isolde parou, com os olhos arregalados.
"Mas o quê...?" Ela começou, observando com descrença o homem que, até onde sabia, era apenas um viajante. "Você nunca mencionou que tinha esse tipo de habilidade."
Voris, deu um passo para trás, forçando um sorriso nervoso enquanto limpava o suor da testa. "Tu não deveria estar tão surpresa, afinal...eu também treinava a arte da espada." o caçador presente ficava confuso, percebendo que Voris não era um caçador que nem ele. "Espera um momento... vocês se conhecem?" ficava mais surpreso ainda ao ver que Isolde conhecia o homem.
Isolde se aproximou, o olhar severo, suas mãos ainda segurando firmemente sua espada ensanguentada.
"Isso é uma história que vou falar depois, e você..." apontava os olhos para Vorih, parecendo bastante estressada. "Treinou com seu pai? E só agora você decide demonstrar essa... 'sorte'?" Sua voz carregava uma mistura de incredulidade e irritação. "O que diabos está fazendo aqui, afinal? E por que me seguiu?"
Voris tentou manter a compostura. Ele soltou um suspiro calculado, tentando parecer mais relaxado.
"Eu... me preocupei com você," disse ele, baixando a cabeça como se estivesse constrangido. "Queria garantir que você ficasse bem. Afinal, eu também ouvi boatos sobre essa horda de monstros e... não pude simplesmente ficar parado."
Isolde cruzou os braços, seu rosto endurecendo. Ela não era tola, e algo em suas palavras não lhe parecia certo. No entanto, havia uma parte dela que, por mais irritada que estivesse, não podia ignorar a presença dele.
"Eu te disse que não precisava se preocupar comigo, seguir alguém uma missão perigosas dessas? E esconder uma habilidade dessas de todos nós?" Ela deu um passo adiante, seus olhos faiscando. "Você poderia ter sido morto. O que estava pensando?"
Voris manteria sua postura humilde, deu de ombros. "Eu pensei que poderia ser útil... mas admito que não esperava enfrentar algo tão grande. O que eu fiz foi puro reflexo, como eu disse."
Isolde balançou a cabeça, irritada, mas com uma ponta de preocupação em seu tom. "Isso não é um jogo, seja quem for que você realmente seja. Se uma dessas criaturas tivesse te pegado de surpresa, não haveria sorte que te salvasse."
Ela deu um passo mais próximo, inclinando-se para que apenas ele pudesse ouvi-la. "Se realmente estava me seguindo por preocupação, deveria ter confiado em mim para lidar com isso sozinha. Você tem sorte de estar vivo... e da próxima vez que pensar em me seguir, tenha certeza de que será capaz de lidar com o que eu enfrento."
Voris, por dentro, sorria — não de forma visível, mas internamente, satisfeito por ela ser forte suficiente para cuidar de si mesma. Ele manteve a cabeça baixa, oferecendo um aceno de desculpas.
"Eu... prometo que não vou fazer isso de novo. Só queria ajudar." Ele lançou um olhar rápido e tímido. "Foi um erro, mas eu não vou ficar parado sem fazer nada, eu irei lutar junto."
Isolde soltou um suspiro profundo, passando uma mão pelo cabelo suado. "Que seja. Mas se algo assim acontecer de novo, você vai desejar que fosse um desses monstros me enfrentando em vez de mim."
Ela deu meia-volta, pronta para continuar a batalha. Mesmo com a mente voltada para os monstros à frente, Voris ficando do lado dela empunhando a sua espada simples, ela soltava um leve sorriso quando veria aquilo.
"Hah, como tu espera enfrentar monstros com essa arma? tu vai provavelmente ter sua arma destruída em um só golpe de um monstro simples..." ela suspirava e tirava da sua outra bainha uma espada, com uma lâmina escura com as pontas azuis claros.
"Espero que agora tu consegue acompanhar os outros caçadores." ela dava um breve sorriso para ele, admirando o fato dele estar lá mesmo que ele não fosse um caçador, ela logo desaparecia da visão dele, já derrubando vários monstros menores antes de partir pra cima pra mais dragões.
"Qual é, não sou tão fraco assim...!" Voris começava a correr e destruir todos os monstros que ele via na frente, sofrendo varias arranhões pelo o corpo, mas nunca desistindo ou recuando, Isolde vendo de relance se impressionava com aquilo, ele era habilidoso até demais para alguém que aparentemente nunca tinha lutado antes. Ela pensava que talvez ele fosse um prodígio na arte da espada.
Isolde recuou alguns passos após abater mais um dragão, seu corpo fervendo de adrenalina enquanto seus olhos percorrendo o campo de batalha. Ela mal podia acreditar no que tinha visto mais cedo: Voris, ajudando ela com habilidades surpreendentemente precisas no combate.
"Voris!" ela gritou, seu tom irritado enquanto lançava um olhar rápido para ele, que estava um pouco afastado, terminando de desferir um golpe em um golem que se aproximava. "Tu realmente não para de me surpreender!"
Voris, fingindo um pouco de surpresa ao desviar de mais um ataque, usou o corpo do golem para se proteger de um projétil que vinha na direção dele. Com um sorriso disfarçado, ele encolheu os ombros, ainda mantendo a aparência de um homem comum.
"Eu não queria me gabar. eu sou um homem simples com apenas algumas habilidades gravadas na mente, mas eu nunca pensei que teria que usar isso de verdade."
Isolde franziu o cenho, claramente irritada, mas sem tempo para continuar com a conversa. "Só não morre, espero não estar pedindo muito!"
Ela cortou um draconiano que investia contra ela com um movimento rápido de sua espada, a lâmina cortando as escamas da criatura como se fossem feitas de papel. Voris se afastou de outro ataque de um troll gigante, aproveitando para usar o terreno a seu favor, empurrando uma rocha em direção à criatura, fazendo-a perder o equilíbrio momentaneamente. Ele evitava usar magia a todo custo, mantendo seu disfarce.
No entanto, a situação estava se complicando rapidamente. Um rugido aterrador ecoou pelos céus, e todos os monstros que restavam subitamente ficaram mais ferozes.
Do horizonte, uma figura massiva emergiu, e os monstros se dispersaram ao redor dela, quase como se estivessem sendo liderados por uma força invisível.
Era Hrungnir, o Jötunn das lendas nórdicas, sua presença imponente fazendo o próprio ar ao redor dele vibrar com energia. Seus olhos eram de pura raiva, e ele se aproximou lentamente, cada passo fazendo o chão tremer.
"Vocês ousam desafiar a ordem dos deuses antigos?" a voz de Hrungnir ressoou como trovões distantes. "Eu sou Hrungnir, último dos gigantes de gelo! Sua morte será rápida, mas suas almas pertencerão a mim para sempre!"
Isolde arregalou os olhos por um momento, reconhecendo a lenda viva diante dela. "Hrungnir? Pensei que Thor tivesse acabado com você..." ela murmurou para si mesma antes de gritar: "Vocês se voltaram aos antigos inimigos dos deuses?"
O gigante não perdeu tempo em conversar. Ele ergueu sua arma colossal — um martelo feito de rocha pura — e a jogou com força em direção a Isolde, que rapidamente rolou para o lado, desviando do golpe. O impacto do martelo no chão criou uma onda de choque que quase a derrubou.
Voris, tentando ajudar, correu para tentar distrair um dos dragões que ainda estava na batalha. Ele pegou uma lança caída e a jogou em direção à criatura, mirando em uma de suas asas. O golpe foi certeiro, perfurando a asa do dragão, que caiu pesadamente no chão, incapacitado de voar.
"Isso foi sorte de novo?" Isolde gritou para Voris enquanto saltava no ar, desferindo um golpe rápido e preciso com a espada dada pela a Isolde envolta em eletricidade. A lâmina cortou o ombro de Hrungnir, fazendo o gigante recuar com um grito de dor.
"Você não tem ideia!" Voris respondeu com um sorriso forçado, enquanto esquivava de outro ataque, dessa vez de um golem que o atacava com punhos de pedra. Voris usava o ambiente para se defender e, de tempos em tempos, derrubava pedras soltas ou desviava monstros, sempre com movimentos precisos, mas nada que levantasse suspeitas de magia ou habilidades sobre-humanas.
O combate contra Hrungnir continuava feroz. Isolde canalizou sua magia, sua espada brilhando com uma luz intensa enquanto ela cortava em direção ao peito do gigante. Ele tentou bloquear com seu martelo, mas o impacto da lâmina mágica de Isolde foi forte o suficiente para fazer o Jötunn cambalear.
"Seu poder... não é suficiente!" Hrungnir rugiu, batendo o pé no chão com força, fazendo o solo ao redor dele se levantar como uma onda de rocha e terra. Isolde saltou para trás, evitando a maior parte do impacto, mas foi atingida de leve por detritos, sendo jogada para o lado.
Vorih correria em direção a Isolde. "Você está bem?" Ele parecia preocupado com aquela situação.
Isolde, recuperando o fôlego, assentiu. "Estou bem, mas Hrungnir é mais forte do que eu pensava. Precisamos acabar com ele antes que a horda se reorganize."
Hrungnir, percebendo que a batalha estava se intensificando, ergueu seu martelo mais uma vez, desta vez apontando-o para o céu. Nuvens negras começaram a se formar rapidamente, e relâmpagos começaram a crepitar no céu.
"Eu invocarei a tempestade dos deuses!" Ele gritou, e um raio desceu diretamente em seu martelo, imbuindo a arma com uma energia imensa.
Isolde, vendo o perigo iminente, concentrou toda a sua magia em sua espada. O ar ao redor dela começou a vibrar com energia elétrica, fogo e gelo se misturando em torno da lâmina.
Ela avançou, sua velocidade quase invisível. Hrungnir desceu seu martelo com toda a força, o golpe reverberando como um trovão. Mas Isolde foi mais rápida. Ela desviou para o lado no último segundo e, com um grito de guerra, cravou sua espada diretamente no coração do gigante.
O impacto fez o corpo de Hrungnir estremecer. Sua magia foi desfeita e o martelo caiu de sua mão. Ele soltou um último rugido de dor antes de cair de joelhos, o corpo gigante colapsando no chão com um estrondo ensurdecedor.
A horda, vendo seu líder derrotado, começou a recuar, desorganizada e sem direção.
Voris aproximou-se, ofegante. "Eu... eu nem sei como você conseguiu fazer isso," ele disse, impressionado, fingindo ignorância sobre o que acabara de presenciar.
Isolde limpou o suor da testa, ainda de olho nas criaturas em fuga. "Pra um simples viajante, você com certeza lutou melhor que muito caçador novato, Voris."
Ele sorriu de lado, dando de ombros. "Foi tudo graças a você, acho que eu realmente me esforcei pra proteger alguém que eu me importo."
Ela o olhou de lado, soltando um sorriso enquanto corava um pouco "Da próxima vez, me avisa que tu pode fazer essas coisas, achei que tu realmente não podia fazer nada." Voris entregava a espada que ela tinha dado à ele. "Suponho que isto seja seu." Ele dava um sorriso enquanto Isolde olhava para a espada, pensando um pouco.
"Pode ficar, eu raramente uso esta, considere como presente meu por ter me ajudado a derrotar estes monstros" Ela dava um sorriso para ele, onde o mesmo retribuía.
Com aquilo tendo se resolvido, o sol estava se pondo sobre a grandiosa fortaleza da Ordem dos Caçadores, suas torres lançando longas sombras sobre o pátio. Bandeiras com os brasões dos caçadores tremulavam ao vento, e as ruas próximas estavam cheias de aplausos e comemorações. No centro do pátio, uma grande plataforma havia sido erguida, adornada com tapeçarias e tochas acesas, dando ao local um ar solene e imponente.
Isolde caminhava ao lado de Voris, que a acompanhava de maneira reservada. Pensando em coisas sobre a batalha, mas seu foco estava em outro lugar — a cerimônia de premiação que aconteceria logo. A horda que enfrentaram havia sido imensa, e muitos caçadores se feriram ou perderam suas vidas. Isolde estava sendo convocada como a principal heroína da batalha, tendo enfrentado e derrotado o temível Hrungnir.
"Nunca pensei que estaríamos em um lugar como este," Voris disse, olhando ao redor. Ele parecia genuinamente impressionado, observando as decorações, os caçadores de elite que andavam pelas passagens e a grandiosidade do evento.
Isolde, por outro lado, mantinha-se quieta, refletindo sobre a batalha e o fato de Vorih ter a seguido. "Você realmente não deveria ter me seguido. Já falamos sobre isso." Havia uma mistura de irritação e preocupação em sua voz.
Voris abriu um sorriso leve, ainda tentando amenizar a situação. "Eu não podia deixar você ir sozinha, Isolde. Alguém precisava garantir que você tivesse ajuda, mesmo que mínima."
Ela balançou a cabeça, tentando conter um sorriso. "Você e essa sua 'sorte'."
Quando chegaram ao centro do pátio, eles foram recebidos por olhares respeitosos de outros caçadores. Caelum Valerius, o líder da Ordem dos Caçadores, já estava no palco, seu porte altivo e imponente. Vestido em uma armadura ornamentada com detalhes dourados e o símbolo de um leão em chamas no peito, Caelum exalava autoridade. Seus olhos varreram a multidão até pousarem em Isolde e Voris, e ele fez um leve aceno de reconhecimento.
A cerimônia começou com o soar de tambores, e Caelum deu alguns passos à frente, sua voz firme ecoando por todo o pátio. "Estamos aqui para honrar aqueles que enfrentaram o inimaginável e se ergueram vitoriosos." Ele fez uma pausa, deixando o peso de suas palavras assentar sobre a multidão. "A horda que avançou sobre nossos territórios foi a maior já vista em décadas. No entanto, graças à coragem e à força dos nossos caçadores, o inimigo foi derrotado."
As palmas ecoaram pela plateia, e Caelum levantou a mão, silenciando-os rapidamente. "Entre nós, há aqueles cujos feitos foram excepcionais, cujas ações salvaram inúmeras vidas. E hoje, nós os honramos."
Os primeiros nomes foram chamados — caçadores que haviam se destacado no campo de batalha, recebendo medalhas de reconhecimento e aplausos da multidão. Voris, embora não fosse um membro oficial da Ordem, observava em silêncio, respeitoso e com uma expressão neutra.
Então, chegou o momento mais aguardado.
"Isolde Vire, por sua bravura ao enfrentar o Jötunn Hrungnir, por sua destreza em batalha e por ter liderado tantos à vitória, você será honrada como heroína da batalha da horda."
O nome de Isolde ressoou pelo pátio, seguido por uma explosão de aplausos. Ela caminhou até o centro do palco, onde Caelum a aguardava com uma espada cerimonial em mãos, símbolo de sua conquista.
Enquanto ela subia, Voris olhou para ela com admiração genuína. Ele sabia o quão poderosa e destemida ela era, mas ver o reconhecimento público reforçava a magnitude de seus feitos.
"Você merece isso..." Voris sussurrou para si mesmo, mantendo-se em meio à multidão enquanto a observava.
Quando Isolde chegou ao centro, Caelum ergueu a espada cerimonial e, com um sorriso raro, falou para ela, mas sua voz ecoou para que todos pudessem ouvir. "Você demonstrou ser uma verdadeira caçadora, alguém cujo nome será lembrado entre os grandes. Este é um símbolo de nossa gratidão e respeito." Ele ofereceu a espada a Isolde, que a aceitou com uma reverência respeitosa.
Enquanto o público aplaudia novamente, Caelum se aproximou um pouco mais, abaixando o tom para que apenas Isolde ouvisse. "Você sempre superou as expectativas. Continue assim, e você terá um lugar ainda maior na história."
Isolde acenou levemente com a cabeça, mas antes que ela pudesse responder, uma explosão de vozes na multidão chamou sua atenção. Alguém tinha se aproximado do palco — um jovem caçador, ofegante, com um olhar de urgência.
"Senhor Caelum!" o jovem gritou, interrompendo a cerimônia. "Notícias da fronteira! Uma nova horda está se formando... e é ainda maior do que a anterior!"
O murmúrio ansioso correu pela multidão enquanto Caelum apertava os lábios, claramente descontente com a notícia. Ele olhou de relance para Isolde, que estava pronta para agir novamente.
"Este não é o fim da luta," ele murmurou, mais para si mesmo do que para qualquer outra pessoa. Então, virando-se para a multidão, ele falou em voz alta: "Preparam-se! Temos um novo desafio à nossa porta. Todos os caçadores devem estar prontos para partir ao amanhecer."
A multidão começou a se dispersar, preparando-se para o que estava por vir. Enquanto isso, Isolde olhou para Voris, que ainda a observava de longe, sabendo que mais batalhas os aguardavam.
Numa noite tranquila após dias exaustivos de batalha. As estrelas brilhavam sobre a floresta densa, e o crepitar da fogueira era o único som que preenchia a escuridão ao redor. Isolde estava sentada ao lado da chama, afiando sua espada, seus pensamentos vagando entre as lutas recentes e o que viria a seguir. Voris estava do outro lado da fogueira, observando as chamas com uma expressão distante, como se refletisse sobre algo muito além do momento presente, segurando a espada que tinha ganhado pela Isolde.
O silêncio entre eles durou por algum tempo, até que Voris finalmente falou, sua voz baixa e cheia de curiosidade.
"O que é ser um caçador para você, Isolde?" ele perguntou, sem tirar os olhos do fogo. A pergunta parecia simples, mas o tom de sua voz carregava algo mais profundo.
Isolde ergueu os olhos, surpresa pela pergunta. Ela fez uma pausa, considerando a resposta antes de falar. "Ser um caçador é... defender aqueles que não podem se defender. É estar na linha de frente, enfrentando o mal e o caos para garantir que o mundo continue a girar. Ser um caçador é ter responsabilidade. O peso da proteção está em nossas mãos."
Voris balançou a cabeça levemente, ainda olhando para as chamas. "Mas e quando essa responsabilidade se torna um fardo? Quando o que começou como proteção se transforma em outra coisa... poder, fama, glória?"
Isolde franziu a testa. "Você está sugerindo que ser um caçador é algo egoísta?"
Voris soltou um riso baixo, quase imperceptível. "Não estou dizendo isso. Mas... pense bem. A humanidade precisa dos caçadores, isso é um fato. Mas o que acontece quando caçar se torna mais sobre o caçador do que sobre os protegidos? Você já não viu isso acontecer?"
Ela ficou em silêncio por um momento, refletindo sobre as palavras dele. Havia de fato alguns caçadores que se deixaram levar parcialmente pela fama, pelo poder.
"É verdade que alguns se perdem," Isolde admitiu. "Mas isso não significa que todos os caçadores sejam assim. Muitos ainda têm um senso de dever."
Voris finalmente ergueu o olhar para ela, seus olhos sombrios e introspectivos. "Mas e se, eventualmente, todos forem consumidos por esse caminho? O poder corrompe. A glória cega. E a humanidade, que tanto depende dos caçadores, será a primeira a sofrer as consequências."
Isolde o olhou diretamente nos olhos, tentando entender o ponto de vista dele. "Você fala como se soubesse o futuro, Voris. Como se tivesse certeza de que é inevitável."
"Não é o futuro que eu conheço, Isolde," ele respondeu, o tom mais grave. "É a natureza humana. Os caçadores, eventualmente, perderão seu propósito original. Eles se tornarão... algo diferente. O desejo de proteger será substituído por algo mais sombrio. E então, quem protegerá a humanidade dos próprios caçadores?"
As palavras de Voris pairaram no ar, e Isolde sentiu um calafrio percorrer sua espinha.
Ela conhecia bem as tentações que vinham com o poder, mas sempre acreditou que era possível resistir a elas, que havia aqueles que mantinham o verdadeiro propósito. Mas, ouvindo Voris, ela começou a questionar se isso realmente seria suficiente no longo prazo.
"Você parece muito certo disso," ela disse, sua voz mais suave agora. "Mas você não é um caçador. Você nunca experimentou o que é carregar essa responsabilidade. Então, como pode saber?"
Voris deu de ombros, seu olhar se suavizando um pouco. "Talvez eu não saiba de fato. Mas é por isso que nunca me tornei um caçador. Eu sempre pensei que, se me entregasse a esse caminho, perderia quem eu realmente sou. Eu me tornaria algo que não quero ser."
Isolde arqueou uma sobrancelha. "E o que você quer ser, então?"
Voris ficou em silêncio por um momento, como se refletisse sobre uma resposta que não era tão simples. "Eu quero ser... humano. No verdadeiro sentido da palavra. Saber que, mesmo com todas as minhas falhas, eu ainda posso fazer o que é certo, sem me deixar levar pelas armadilhas que o poder traz. A humanidade precisa de caçadores, sim, mas também precisa de algo mais. Algo que lembre a todos nós do que significa ser humano de verdade, sem máscaras, sem títulos."
Isolde ponderou sobre isso, sua mão parando de afiar a lâmina. "Você acredita que os caçadores, eventualmente, perderão esse senso de humanidade?"
Voris assentiu levemente. "Sim. Porque o poder sempre corrompe. Não importa o quão puro você comece. E quando se está no topo, é fácil esquecer o que você estava tentando proteger em primeiro lugar."
Ela ficou em silêncio, as palavras dele ecoando em sua mente. Voris tinha uma visão do mundo e dos caçadores que ela nunca havia considerado de maneira tão profunda.
Ele via a humanidade com um pessimismo que era desconcertante, mas ao mesmo tempo, havia uma certa verdade em suas palavras que não podia ser ignorada.
"Talvez," Isolde disse finalmente. "Mas se há caçadores que caem para a escuridão, então cabe a nós, os que permanecem verdadeiros, lutar contra isso. Assim como lutamos contra os monstros lá fora."
Voris sorriu suavemente, mas havia uma tristeza em seu olhar. "Eu espero que esteja certa, Isolde. De verdade."
A conversa ficou mais leve depois disso, mas o peso das palavras de Voris permaneceu com Isolde. Ela sabia que ele não era apenas um homem comum, e havia muito mais em seu passado e em suas convicções do que ele deixava transparecer. O fogo continuava a crepitar, e a noite avançava lentamente, com ambos perdidos em pensamentos silenciosos, cada um refletindo sobre o futuro incerto e sobre os perigos que não estavam apenas nos monstros, mas na própria natureza humana.
Nos dias que se seguiram, Isolde e Voris enfrentaram muitas batalhas juntos, e com cada confronto, a proximidade entre eles crescia, se tornando algo mais profundo do que apenas companheiros de combate. Atravessaram florestas densas, desertos áridos e montanhas gélidas, caçando as ameaças que surgiam, sempre lado a lado.
Durante uma caçada a um dragão ancião, uma criatura cujas escamas eram duras como aço e cujo fogo derretia o solo, Isolde e Voris lutaram como uma dupla imbatível. Isolde com sua força devastadora, cortando as escamas com sua espada, e Voris com seus movimentos ágeis e uma precisão surpreendente, sempre a protegendo quando o dragão tentava se aproximar demais. Em um momento crítico da batalha, o dragão ergueu-se sobre eles, suas garras prontas para desferir um golpe mortal. Sem hesitar, Voris empurrou Isolde para o lado, recebendo de raspão o golpe destinado a ela.
Isolde, alarmada, se virou rapidamente para ele. "Você está louco?!" gritou, o som da batalha ecoando ao seu redor.
Voris, com um sorriso leve no rosto, ergueu-se, ignorando a dor. "Eu disse que não sou um caçador, mas isso não significa que não sei proteger."
Eles riram juntos, mesmo em meio ao caos, sentindo uma cumplicidade cada vez mais forte. Ela confiava nele, de uma maneira que nunca confiara em outro caçador antes. Voris sabia como ler seus movimentos, como complementar suas ações em batalha sem precisar de palavras.
Quando o dragão finalmente caiu, ambos estavam exaustos, mas vivos. Sentados no topo de uma montanha rochosa, observando o horizonte enquanto o sol se punha, Voris rompeu o silêncio, ainda recuperando o fôlego.
"Você sempre foi assim, Isolde? Sempre com essa intensidade no olhar... esse desejo de proteger?"
Ela o encarou, surpresa pela pergunta, mas havia uma tranquilidade naquele momento que a fazia se abrir. "Desde pequena. Sempre soube que o mundo precisava de pessoas que lutassem por ele. Vi a destruição, a dor... e sempre soube que, se eu pudesse, faria o possível para impedir isso."
Voris a observava atentamente. "E nunca pensou em... simplesmente parar? Não carregar esse peso sozinha?"
Ela sorriu, olhando para o horizonte. "Acho que nunca me dei esse luxo. Mas, agora, com você ao meu lado... a carga parece um pouco mais leve."
Ele sorriu em resposta, mas havia algo mais em seu olhar, algo que Isolde começava a perceber com mais clareza. Voris não era apenas um aliado. Ele estava sempre ali, cuidando dela de maneiras que iam além do que se esperava. Ele era a calmaria depois da tempestade. E, nos momentos de tranquilidade, quando a adrenalina das batalhas diminuía, ela percebia que algo mais profundo os conectava.
Certa vez, enquanto estavam em uma missão menos perigosa, os dois decidiram parar perto de um lago cristalino. Isolde lavava as mãos na água fria, enquanto Voris se sentava próximo, observando-a com uma expressão serena. Era raro que tivessem esses momentos de paz.
"Você sempre tão séria," Voris comentou, brincando. "Devia se permitir relaxar mais."
Ela riu, levantando os olhos para ele. "E você? Quando é que você vai parar de me seguir por todos os cantos?"
Voris fingiu ponderar, cruzando os braços. "Difícil dizer. Talvez quando você parar de se meter em confusões."
Isolde atirou um pouco de água nele, rindo. "Acho que vai demorar um bom tempo, então."
Eles riram juntos, e por um breve momento, o peso do mundo parecia distante. Sentados à beira do lago, com o som da natureza ao redor, Isolde sentiu uma conexão com Voris que ia além de qualquer amizade. Havia algo mais ali, algo que ela estava começando a entender.
"Você é diferente, Voris." ela disse, quebrando o silêncio de forma repentina.
Ele ergueu uma sobrancelha, curioso. "Diferente como?"
Ela hesitou por um momento, mas decidiu continuar. "Você sempre me surpreende. Como hoje, no campo de batalha. Eu nunca soube que você tinha tanta... habilidade. Você sempre se faz de despreocupado, mas na hora da verdade, você sempre está lá."
Ele deu de ombros, seu habitual sorriso brincando nos lábios. "Acho que eu sou bom em me manter nas sombras. Não gosto muito de ser o centro das atenções."
Ela olhou diretamente para ele, seus olhos intensos. "Mas eu notei. Sempre notei."
O silêncio que seguiu foi carregado de algo não dito, algo que ambos sabiam que estava crescendo entre eles, mas que ainda não havia sido completamente reconhecido.
Em outra batalha feroz, desta vez contra uma Quimera, uma criatura mitológica com a cabeça de leão, corpo de cabra e cauda de serpente, eles lutaram lado a lado novamente.
A Quimera rugia com força, o leão lançando chamas enquanto a cauda de serpente tentava envenená-los. Isolde, sempre no ataque, usava sua magia de vento para desviar das investidas da fera, enquanto Voris usava sua inteligência para encontrar brechas nos ataques da besta.
Em um momento crítico, a Quimera lançou uma chama poderosa na direção de Isolde, mas Voris, mais uma vez, estava lá. Ele saltou, rolando pelo chão, e ergueu seu escudo improvisado para desviar parte do ataque. A força do impacto o derrubou, mas ele rapidamente se levantou, sem hesitar.
Isolde, surpreendida e preocupada, gritou: "Por que você sempre se joga na frente, seu idiota?"
Voris apenas sorriu, com um olhar travesso. "Porque eu prometi proteger você, não foi?"
Eles lutaram juntos até derrubarem a Quimera, cada golpe coordenado, cada feitiço sincronizado, como se fossem um só corpo em batalha. Quando a criatura finalmente caiu, eles se encostaram um no outro, ofegantes, mas vitoriosos.
E foi nesse momento, enquanto respiravam fundo e se recuperavam, que Isolde percebeu o quanto Voris significava para ela. Não era apenas um companheiro de batalha. Ele era mais. Ele era alguém com quem ela compartilhava cada momento, cada vitória e cada fracasso. E, lentamente, ela começou a se permitir sentir o que já estava ali há algum tempo.
No mesmo dia, a noite, depois de uma vitória particularmente difícil, eles estavam sentados novamente à beira de uma fogueira. Isolde olhou para Voris, o calor da chama refletido em seus olhos, e falou suavemente:
"Você sempre esteve ao meu lado, Voris. E agora, não sei se conseguiria continuar sem você."
Ele a encarou, seus olhos mais suaves do que nunca. "Eu sempre estarei aqui, Isolde. Não importa o que aconteça."
"Você é um bobo, não dá para fazer nada e tu faz o contrário, algum dia desses tu ainda vai morrer." Voris riria mais um pouco, erguendo um dos seus olhos sobre ela "por acaso você está preocupado comigo, Isolde?" Isolde corava um pouco, desviando o olhar "Claro que estou! você é uma responsabilidade que tenho que sempre carregar!" eles passariam mais tempo sorrindo.
Alguns dias após a batalha contra a Quimera, Isolde e Voris decidiram acampar em uma clareira tranquila, longe das constantes missões e confrontos. A noite estava clara, com a lua cheia brilhando no céu, iluminando a paisagem ao redor. O ar estava calmo, e pela primeira vez em muito tempo, eles não precisavam se preocupar com monstros ou perigos iminentes.
Sentados à beira da fogueira, o silêncio entre eles era confortável. Voris, com os olhos fixos nas chamas dançantes, parecia pensativo. Isolde, ao seu lado, sentia uma leveza no peito, algo que ela não experimentava há tempos. O peso de ser uma guerreira sempre a deixava alerta, mas ali, com Voris, ela se permitia relaxar.
Ela quebrou o silêncio, sua voz suave. "Voris... o que você acha que teria acontecido se não nos tivéssemos conhecido?"
Ele sorriu, virando-se para ela.
"Provavelmente teria me metido em encrenca sem você para me salvar o tempo todo."
Ela deu uma risada curta, o som preenchendo a clareira. "Talvez. Mas acho que seria o contrário. Você tem me protegido mais do que admite."
Voris inclinou a cabeça, o brilho das chamas refletindo em seus olhos. "A verdade é que... você me deu um propósito. Algo para seguir. Antes de te conhecer, eu vagava sem rumo. Agora... bom, eu sei onde devo estar."
Houve um momento de silêncio, enquanto eles se olhavam nos olhos, a conexão entre eles crescendo. Isolde sabia que o que sentia por Voris não era apenas gratidão. Era algo muito mais profundo, algo que ela não poderia ignorar mais.
"Voris..." ela começou, hesitante. "Você... você significa muito para mim. Mais do que eu consigo expressar."
Ele a observava com intensidade, percebendo a sinceridade em suas palavras. Sem dizer nada, ele se aproximou lentamente. Isolde sentiu seu coração acelerar, e, quando estavam a poucos centímetros de distância, ela não resistiu. Em um movimento suave, seus lábios se encontraram em um beijo.
Foi um momento simples, mas carregado de todas as emoções que ambos haviam reprimido por tanto tempo. O calor do beijo os envolveu, como se tudo ao redor desaparecesse. Quando se separaram, Isolde abriu os olhos lentamente, e um sorriso genuíno surgiu em seus lábios.
"Eu acho... que isso estava esperando para acontecer há muito tempo," disse ela, rindo suavemente.
Voris a puxou para mais perto, encostando sua testa na dela. "Sim... e eu estava esperando o momento certo."
Eles passaram aquela noite juntos, conversando, rindo e compartilhando histórias. Era como se o peso do mundo tivesse sido retirado de seus ombros. Durante as semanas seguintes, os dois estavam inseparáveis, lutando juntos, mas também aproveitando os momentos de tranquilidade.
Meses se passaram desde o beijo à beira da fogueira, e a relação entre Isolde e Vorih havia evoluído profundamente.
Eles não eram mais apenas guerreiros lutando lado a lado; agora, eram parceiros em todos os sentidos. Em um desses dias de calmaria, Isolde começou a se sentir diferente. Ela logo descobriu o motivo: estava grávida.
A notícia trouxe um turbilhão de emoções. Voris ficou surpreso, mas um sorriso sincero e calmo iluminou seu rosto quando Isolde lhe contou. "Então... vamos ter uma criança," ele disse, com uma mistura de espanto e felicidade.
"Sim," Isolde respondeu, segurando as mãos dele. "Eu... nunca imaginei que isso pudesse acontecer. Mas aqui estamos."
Com a gravidez, Isolde tomou a difícil decisão de se afastar das batalhas. Ela sabia que, para o bem de seu filho, precisava de um tempo para se cuidar e, para isso, decidiu retornar à casa de sua infância, onde seu irmão, Gylf vivia.
Quando chegaram à antiga casa de Isolde, que ficava em uma área tranquila, cercada por colinas verdes e florestas densas, seu irmão Gylf os recebeu com uma expressão de pura surpresa.
"Você... está grávida?" ele perguntou, boquiaberto, enquanto olhava para o ventre de Isolde, agora levemente arredondado.
Ela sorriu, acenando. "Sim, irmão. Acredite se quiser."
Gylf, que sempre a conheceu como a feroz guerreira que enfrentava monstros sem hesitação, não pôde esconder o choque, mas logo depois, um sorriso sincero surgiu em seu rosto. "Nunca pensei que veria o dia em que Isolde baixaria a espada... mas estou feliz por você."
Nos meses que se seguiram, Isolde e Voris viveram momentos de tranquilidade na casa de Gylf. As batalhas e o caos ficaram para trás, ao menos por um tempo. Durante as manhãs, eles caminhavam pelas colinas, admirando as paisagens, enquanto Voris brincava sobre os nomes que poderiam dar ao bebê. Isolde, embora sentisse falta da adrenalina das lutas, sabia que aquele era um período precioso, um momento de paz que ambos precisavam antes que o mundo os chamasse novamente.
Certa tarde, enquanto o sol se punha, os dois estavam sentados à sombra de uma grande árvore, observando o horizonte.
Vorih quebrou o silêncio. "Acho que nunca imaginei que minha vida tomaria esse rumo. Mas aqui estou, com você... e com um filho a caminho."
Isolde sorriu, descansando a cabeça no ombro dele. "Nem eu. Mas não poderia imaginar de outra forma agora."
Eles ficaram ali, juntos, enquanto a noite caía, sabendo que o futuro traria novos desafios. Mas, por enquanto, estavam onde precisavam estar: um ao lado do outro, esperando pela chegada do novo membro da família, construindo algo que nenhum dos dois poderia prever, mas que ambos sabiam ser mais importante do que qualquer batalha que já haviam enfrentado.
Na Ordem dos Caçadores, rumores sobre a ausência de Vorgath, o temido Pai das Aberrações, circulavam há meses. Os caçadores mais experientes sentiam um silêncio incomum no ar, algo que deixava até os guerreiros mais destemidos inquietos.
Entre eles, Caelum Valerius, líder da Ordem, estava profundamente perturbado. Ele tinha investigado incansavelmente o paradeiro de Vorgath, mas todos os rastros do monstro haviam desaparecido. Isso não fazia sentido.
Sentado em sua sala de guerra, Caelum olhava para os mapas e relatórios. A cada dia, sua preocupação aumentava. A última grande movimentação de Vorgath havia sido devastadora, e agora o monstro estava completamente fora de vista. Algo terrível estava para acontecer, ele podia sentir. Não era normal um ser tão poderoso simplesmente sumir.
"Ele está tramando algo...", murmurou Caelum, rangendo os dentes. "Não podemos esperar por mais tempo."
O líder da Ordem não suportava mais essa incerteza. Ele convocou todos os caçadores mais experientes e começou a organizar uma busca intensa. Mesmo sem pistas concretas, Caelum sabia que não podia deixar o mundo despreparado para o retorno de Vorgath.
Enquanto isso, em uma casa tranquila longe da guerra e das preocupações, Isolde estava em meio ao trabalho de parto.
Era um parto difícil, muito mais desafiador do que ela esperava. Mesmo sendo uma guerreira lendária, o processo de trazer uma nova vida ao mundo exigia todas as suas forças. Voris, ao seu lado, permanecia com uma expressão de preocupação constante, mas não a deixava por um momento sequer.
A noite estava fria, mas dentro da casa o ambiente era tenso e silencioso. O irmão de Isolde, Gylf, aguardava nervosamente do lado de fora, ansioso para saber se tudo correria bem.
O tempo parecia passar lentamente.
Após horas de agonia, um choro ecoou pela casa. O bebê havia nascido. As lágrimas de dor e esforço de Isolde deram lugar a lágrimas de alívio e alegria. Voris, exausto emocionalmente, aproximou-se com cuidado. Seus olhos se iluminaram ao ver o pequeno bebê nos braços de Isolde.
Ela, ainda ofegante, sorriu enquanto olhava para o filho, que chorava vigorosamente, enchendo o ambiente com o som da vida.
Voris, com as mãos um pouco trêmulas, aproximou-se ainda mais e olhou para o pequeno rosto do bebê. Os dois se entreolharam, sem precisar dizer nada. A conexão entre eles naquele momento era absoluta.
"Ele é perfeito..." sussurrou Isolde, enquanto segurava a pequena mão de seu filho.
Voris assentiu, os olhos marejados de emoção. "Sim... ele é."
Por um momento, houve apenas silêncio. Ambos estavam perdidos na grandiosidade do momento. Finalmente, Voris olhou para o filho e disse com uma voz suave, mas firme:
"Seu nome será Kieran Solis."
Isolde sorriu, apertando a mão dele. "É um nome forte... digno de um grande guerreiro."
Ambos sabiam que aquele menino estava destinado a algo grande, embora ainda não pudessem imaginar a magnitude do que o futuro reservava para ele. Kieran Solis havia nascido em um mundo repleto de monstros, caos e desafios, mas naquele momento, no calor do lar, ele era apenas um bebê, cercado pelo amor de seus pais.
O tempo havia passado, e Voris, que antes parecia uma figura gentil e amorosa, começou a mudar. Seus gestos, antes cuidadosos, agora se tornavam bruscos. Ele se irritava facilmente, sua voz começava a perder o calor e a doçura de antes. Isolde notava essas mudanças, preocupada, mas não conseguia compreender o que estava acontecendo. Em cada interação, ela percebia que algo sombrio tomava conta dele, mas, por amor, tentava ignorar.
Até que, numa noite fria e sem lua, a verdadeira face de Voris foi revelada.
No auge de sua fúria, ele destruiu a casa em que viviam. As paredes ruíram, e o ambiente ficou coberto de destroços. Isolde, ainda segurando o pequeno Kieran, encarava incrédula a cena devastadora, com lágrimas nos olhos. Seu coração estava partido. A pessoa que ela amava não era quem dizia ser.
"Voris..." murmurou ela, tentando processar a revelação. "O que você está fazendo?"
Ele riu, uma risada fria e cruel, completamente diferente do homem que ela conhecia. "Eu nunca fui Voris," ele disse, sua voz ecoando como um trovão. "Eu sou Vorgath, o Pai das Aberrações. Tudo isso... toda essa vida... foi uma encenação. Apenas uma maneira de trazer Kieran ao mundo."
Isolde ficou paralisada por um momento, sua mente incapaz de aceitar o que acabava de ouvir. "Não... isso não pode ser verdade..." Ela tentou negar, segurando Kieran ainda mais apertado, seu coração partido em um milhão de pedaços.
"Todo esse tempo... você estava me manipulando?" A voz dela tremia de tristeza e raiva. "Eu te amei, confiei em você! E você estava apenas me usando para criar seu sucessor?"
Os olhos de Vorgath brilharam com um desprezo cruel. "Era o plano desde o início, Isolde. Você foi escolhida por sua força, sua bravura. Mas no final, seu único propósito era trazer Kieran ao mundo. Ele é o que realmente importa."
Enquanto as lágrimas escorriam pelo rosto de Isolde, Caelum, que monitorava a área há algum tempo, finalmente percebeu o que estava acontecendo. Ele e seus caçadores estavam investigando o desaparecimento de Vorgath há meses, e agora, tudo fazia sentido. Sem perder tempo, ele reuniu os guerreiros restantes e correu em direção à vila.
A chegada de Caelum foi seguida por uma luta feroz. Ele e seus caçadores enfrentaram Vorgath com tudo que tinham, mas era inútil. Cada golpe, cada feitiço lançado, era bloqueado com uma facilidade assustadora.
Caelum lutava com todo seu poder, mas logo percebeu que estavam diante de uma força que superava tudo o que já haviam enfrentado. Um a um, os caçadores tombaram. Mesmo os mais poderosos foram facilmente derrotados.
Caelum, exausto e coberto de sangue, estava em uma posição quase mortal, seus aliados mortos ao redor, e o próprio olho perfurado em combate. Ele mal conseguia se manter de pé, sua respiração entrecortada pela dor. Vorgath o observava, indiferente, enquanto se aproximava de Isolde e de Kieran.
"Dê-me o menino," exigiu Vorgath, com um tom gélido. "Ele é meu filho. Está destinado a ser mais do que qualquer humano poderia sonhar."
Isolde, com lágrimas escorrendo, se recusou. "Nunca! Você... você não vai tomar Kieran de mim!" Sua raiva queimava como um fogo dentro dela. O amor por seu filho e a traição de Vorgath despertaram todo o seu potencial oculto.
Ela reuniu forças que nunca soube que possuía, liberando um poder devastador.
Com um grito de dor e fúria, Isolde ativou sua habilidade final, realizando um salto dimensional. O tempo parecia parar enquanto ela e Vorgath desapareciam da dimensão atual, entrando em uma realidade paralela, onde a luta continuaria. Mas mesmo naquela dimensão, Vorgath a seguia com sua velocidade aterradora, tão rápido quanto ela.
A batalha entre eles era colossal. Cada golpe trocado ressoava como trovões. Vorgath, agora em sua forma verdadeira, lançava ataques com uma força esmagadora, enquanto Isolde, usando toda sua velocidade e magia, lutava com uma fúria alimentada pelo amor por Kieran.
Ela estava em seu limite. Suas energias diminuíam a cada golpe. Sabendo que o fim estava próximo, Isolde concentrou o restante de sua força em um último movimento. Com uma explosão de energia, sua espada se partiu em milhares de fragmentos, cada um afiado o suficiente para cortar a própria realidade. Os fragmentos foram lançados em direção a Vorgath, cortando-o profundamente.
Ele recuou, surpreso. O golpe havia sido inesperado, e pela primeira vez em milênios, ele sentiu a dor real. Mesmo assim, ele riu. "Impressionante, Isolde... você é, de fato, uma guerreira formidável. Se as circunstâncias fossem diferentes, você teria sido uma líder digna."
Isolde, exausta e sem forças, caiu de joelhos, mal conseguindo manter-se consciente. Sua respiração estava fraca, mas ela sorriu, sabendo que havia feito tudo ao seu alcance para proteger Kieran.
"Desculpa Kieran, não consegui te proteger, se eu pelo menos soubesse quem ele era antes... Você é fraco Vorgath, tu nunca ia entender o que um humano pode fazer..." Isolde olhava pra cima, com um grande sorriso em seu rosto, o sangue que estava em sua testa percorria pelo seu rosto até quase ficar completamente vermelho.
Vorgath, em um raro momento de respeito, decidiu não regenerar o corte que ela havia feito, deixando que a cicatriz permanecesse.
"Realmente, nunca irei entender o que vocês sentem, e eu sinceramente não podia ligar menos, você é forte e por isso...esse será o meu tributo a você... a mulher que conseguiu me cicatrizar."
Então, em um único movimento fluido, ele a matou, com um golpe rápido e digno de sua força a decapitando, as últimas visões que passava na Isolde eram de uma família feliz, que foi rapidamente se apagando enquanto sua cabeça girava até bater o chão.
Segurando o pequeno Kieran em seus braços, Vorgath teletransportou-se para longe, deixando o campo de batalha para trás. Ele apareceu em uma vila distante e silenciosa, onde um casal de guerreiros, Henry e Cecília, vivia. Batendo suavemente na porta, ele deixou o bebê à sua porta com uma carta forjada, supostamente escrita por Isolde. Quando o casal abriu a porta, encontraram Kieran, um bebê inocente, enrolado em um cobertor, com a carta de sua mãe supostamente o entregando aos cuidados deles.
Sem questionar, emocionados pela carta, Henry e Cecília decidiram adotar Kieran como seu próprio filho, sem saber a verdade sombria que envolvia seu passado.
Gylf depois de voltar de uma outra vila em busca de mais ingredientes para a janta, ele se deparava com aquela cena horrível, vários corpos espalhados pelo o chão, e só tinha Caelum tremendo no chão, tentando se levantar, ele corria até ele e gritava.
"O que aconteceu?! Onde está Minha irmã e o Vorih??" Caelum fraco, apenas olhava para a direção onde estava o corpo de Isolde, que tinha sido decapitada por Vorgath, Gylf olhava para o corpo e ficava quieto, incrédulo pelo o que estava testemunhando, ele lentamente iria até ela e caíria de joelhos, soltando lágrimas silenciosas até soltar um grito com todas as suas forças.
"AHHHHHHHHHHHH!!!"
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Gylf Vire, o irmão mais velho de Isolde, ficou devastado pela morte de sua irmã. Quando soube da verdade — que Vorgath havia se infiltrado e manipulado Isolde por anos, apenas para tirar vantagem de seu poder e criar um filho com ela — sua dor se transformou em uma fúria incandescente. Gylf, um guerreiro lendário, sempre se considerou o protetor da família, e a sensação de falha corroía sua alma. Ele não conseguia aceitar que sua irmã havia sido morta, nem que Vorgath, o maior monstro de todos, o havia enganado tão cruelmente.
Com raiva contida e uma expressão sombria, ele começou sua própria cruzada. Gylf procurava qualquer vestígio de Vorgath, indo até os cantos mais escuros do mundo. A cada vilarejo, a cada monstro derrotado, ele deixava um rastro de destruição. Sua busca não era apenas por vingança, mas por redenção própria, acreditando que havia falhado como irmão. Ele se tornava cada vez mais implacável, incapaz de encontrar paz. Com o tempo, seus olhos, antes cheios de sabedoria, eram consumidos por uma chama perigosa.
Ele, no entanto, não lutava apenas contra Vorgath. A raiva que consumia seu coração foi voltada para todos ao seu redor. Gylf ficou amargurado, isolando-se de antigos amigos e aliados, cada vez mais distante daquilo que o tornava humano. Para ele, o mundo agora era feito apenas de inimigos — monstros ou humanos. Ele estava cego pela dor, e sua busca pela vingança ameaçava destruir até mesmo as últimas memórias que tinha de Isolde.
Enquanto isso...
Caelum Valerius, um dos maiores caçadores da Ordem, havia sofrido um golpe devastador tanto físico quanto emocional. Após sua luta humilhante contra Vorgath, ele perdeu um olho e viu seus aliados serem massacrados. Sua falha como líder o corroía, e, embora ele se recuperasse fisicamente ao lado de sua esposa, o fardo do fracasso o acompanhava a cada momento.
Caelum ficou obcecado com a derrota, revisando cada detalhe da batalha em sua mente. Ele não conseguia aceitar que havia sido impotente, mesmo com todo o seu poder e habilidades. Agora, com um único olho e uma cicatriz que desfigurava parte de seu rosto, ele sentia-se menos do que o caçador lendário que costumava ser. Sua esposa, sempre ao seu lado, tentava confortá-lo, mas Caelum não conseguia escapar do sentimento de inadequação e da vergonha.
Com o tempo, sua raiva tornou-se insuportável. Ele começou a descontar sua frustração em todos ao seu redor, especialmente nos novos recrutas da Ordem dos Caçadores. Em vez de ser um mentor sábio, como era antes, Caelum tornou-se frio e impiedoso. Ele desdenhava de qualquer demonstração de fraqueza e se tornou amargamente crítico de tudo o que via. Os caçadores mais jovens sentiam o peso de sua amargura, e muitos deles começaram a temê-lo mais do que respeitá-lo, onde acabavam por mudar as atitudes deles, o contaminando com aquela raiva.
Os antigos amigos de Caelum tentaram intervir, mas foram afastados. Sua esposa via a deterioração do homem que uma vez foi nobre e heroico, mas sabia que ele precisava lutar suas próprias batalhas internas. No entanto, a ausência de Vorgath, o monstro que parecia ter desaparecido sem deixar rastros, era como um veneno que se espalhava pela mente de Caelum. O simples fato de não poder enfrentá-lo de novo o mantinha em um estado constante de frustração e ódio.
Enquanto Gylf perseguia Vorgath em uma busca obsessiva, e Caelum lutava para lidar com a vergonha de sua derrota, o mundo continuava a sentir as reverberações da batalha que havia devastado tantos. Kieran, o filho de Vorgath e Isolde, foi deixado aos cuidados de Henry e Cecília, sem saber o legado sombrio que carregava.
No horizonte, Vorgath ainda aguardava. Sua manipulação havia sido um sucesso, e ele sabia que, um dia, Kieran teria de enfrentar a verdade sobre sua origem. Vorgath observava de longe, permitindo que os humanos lidassem com sua dor, enquanto aguardava pacientemente o momento certo para voltar.
Os Dias Dourados acabaram, e tudo o que restou foi um mundo corrompido pela dor, pelas escolhas sombrias e pelo poder esmagador que Vorgath havia espalhado por onde passou. O futuro era incerto, e todos sabiam que, no final, a batalha mais importante ainda estava por vir.