44 Dias Depois do Colapso
Mortos. Estavam todos mortos.
O vento soprava forte, levantando nuvens de cinzas que dançavam no ar como fantasmas. O silêncio era sepulcral, interrompido apenas pelo ruído ocasional dos meus pés esmagando esqueletos secos e o grasnar dos corvos.
Sempre os corvos.
Alguns os interpretam como um sinal místico de mau presságio, aqueles que trazem a morte, o azar.
Eu os chamaria de mensageiros.
Me lembro de vê-los voar sobre minha cabeça, me guiando até um banquete de carne selvagem. De quando espantavam os cervos, os tirando de seu esconderijo para que eu pudesse dar o tiro perfeito. Me lembro de como se agruparam nos portões do acampamento e depois fugiram para o sul, para longe. Mas não sem antes me observarem.
Tentaram me avisar.
Fui estúpido demais para compreender.
Meu peito subia e descia, minha respiração desregulada devido a máscara insuportavelmente apertada que criava uma barreira entre mim e o ar contaminado.
Não estava contaminado.
Duvido que alguma bactéria sequer tenha sobrevivido a isso.
Bactéria? Assim que deveria chamar a doença que estava matando a humanidade?
Nomenclaturas nunca foram o meu forte, mas frequentei aulas de biologia o suficiente para saber que nenhum organismo sobreviveria a tamanha devastação.
E depois de um tempo, comecei a perceber que os outros sabiam tão pouco quanto eu. Como surgiu o vírus? Como se transmite?
Os cientistas, médicos ou qualquer outro estudioso que poderia nos trazer a resposta, ou está morto, ou escondido em alguma base ultra-secreta do governo. Você sabe, pessoas não descartáveis. Eles são a esperança, se é que exista alguma.
Conforme caminhava por entre os escombros do que um dia foi um abrigo populoso, meus pensamentos vagavam em um lugar distante.
Por que ainda estava aqui? Já tinha conseguido o que queria, ou melhor, quase tudo.
Mary me pediu para que viesse até aqui. Me disse que queria algo para se lembrar. Mas a verdade é que ela ainda não acredita, precisa de uma prova, algo que a faça entender que não tem mais volta. E eu levaria até ela.
Exceto as flores que me pediu. Tudo em um raio de pelo menos 15 quilômetros estava destruído, e não poderia me dar ao luxo de longas caminhadas. Não com os Marcadores à solta. Não quando minha munição estava no fim.
Teria que se contentar com os biscoitos de chocolate que achei soterrados em uma vendinha destruída. Pareciam um pouco amassados, mas ainda eram seus favoritos. Esse é um bom começo.