Os rebeldes ainda não estavam totalmente convencidos. Um deles, um homem com o rosto marcado pelas cicatrizes de uma vida dura, deu um passo à frente e encarou Aemon com olhos cheios de dúvida.
— De que servem suas palavras, jovem rei? — ele questionou, sua voz cheia de amargura. — Nada nunca muda. Nunca mudou. O que te faz pensar que desta vez será diferente? O que acontecerá quando você for coroado? As coisas só vão piorar para nós, não vão?
Outros rebeldes começaram a murmurar em concordância, suas expressões uma mistura de descrença e desespero. A ideia de mudança parecia tão distante para eles quanto o fim da guerra em si.
Aemon respirou fundo, sentindo o peso das expectativas deles sobre seus ombros. Ele sabia que não podia oferecer promessas vazias, nem podia alimentar ilusões de paz imediata. Ele olhou diretamente para o homem que havia falado, e então para todos os reunidos, suas palavras firmes, mas cheias de honestidade.
— Sim, as coisas vão piorar antes de melhorar. — Ele admitiu, suas palavras quase soando como uma confissão. — Minha coroação será contestada. Haverá dúvidas, dificuldades, e Volcrist enfrentará tempos difíceis. Tudo o que eu fizer agora tem consequências, e sei que muitas delas cairão sobre o povo.
Ele olhou para o chão, para os corpos espalhados ao redor, lembrando das vidas perdidas, dos sacrifícios feitos naquele campo de batalha. Quando ele levantou a cabeça novamente, seus olhos estavam cheios de determinação inabalável.
— Mas é algo que pretendo superar, não por mim, mas pelas pessoas que caíram hoje. Por aqueles que sofreram, que lutaram, que morreram acreditando em algo melhor. — Sua voz ficou mais forte, deixando claro que essas palavras vinham das profundezas de sua alma. — Este foi o auge de todas as dificuldades que enfrentamos. Mas daqui, só podemos seguir em frente. E o que eu prometo a vocês é que farei tudo o que puder para garantir que o sacrifício de hoje não seja em vão.
Os murmúrios entre os rebeldes começaram a se acalmar. As palavras de Aemon, embora não oferecessem uma solução imediata, carregavam uma verdade que ressoou profundamente com aqueles que ouviam. Sua honestidade e empatia eram raras, especialmente vindas de alguém prestes a se tornar um rei.
Lentamente, os rebeldes começaram a abaixar suas armas, seus rostos ainda refletindo dor e desconfiança, mas agora também um lampejo de esperança. Não foi uma vitória fácil, mas o silêncio que se seguiu às palavras de Aemon mostrou que ele havia alcançado a coisa mais importante: ele havia sido ouvido.
Então, aos poucos, os cidadãos de Volcrist, que se esconderam durante a batalha, começaram a sair de suas casas e abrigos. Eles estavam cautelosos, muitos com os olhos cheios de medo e incerteza, mas também movidos pela curiosidade e esperança que as palavras de Aemon haviam despertado.
O campo de batalha, antes uma cena de caos e destruição, agora estava em silêncio. E naquele silêncio, havia uma promessa. Não de paz imediata, mas de um caminho para algo melhor. Aemon sabia que as lutas estavam longe de acabar, mas pelo menos naquele momento, ele havia plantado uma semente de mudança.
Da janela do castelo, Thorne observava, com um leve sorriso nos lábios, reconhecendo a maturidade que Aemon estava começando a mostrar. O jovem rei, de fato, sabia o que fazer.
— Vamos curar os feridos, cuidar dos que ficaram... e reconstruir, — Aemon finalmente disse, sua voz ecoando pelo campo enquanto ele se virava para os outros. — Esta guerra acabou. Mas nossa jornada está apenas começando.
E com isso, ele liderou o caminho de volta, sabendo que o maior desafio ainda estava por vir.
A noite caiu sobre Volcrist, trazendo consigo um silêncio inquietante. O campo de batalha, antes cheio de caos e gritos, agora era apenas um lugar de escuridão e sombras. Os feridos foram cuidados, comida e água foram fornecidas, e entre os domínios, Fianna e Edric, ainda abalados pelos eventos, foram escoltados de volta para suas terras ao anoitecer por guardas de confiança. A tranquilidade, no entanto, estava longe de alcançar Aemon.
Ele ficou sozinho, observando da janela de seu quarto enquanto os homens trabalhavam no que restava do dia. O vento frio soprava, trazendo consigo o cheiro persistente da morte. Os corpos, espalhados e empilhados, já estavam começando a apodrecer. O sangue seco manchava a terra, criando uma cena grotesca e desolada. Aemon sentiu um peso no peito, como se cada corpo que caía fosse parte dele também.
Guerra, ele percebeu, não era glória. Era desumanidade, brutalidade. Nenhum ser, humano ou não, deveria ser submetido a tal visão de horrores. Cada vida perdida, cada corpo arrastado pela lama e sangue, era um lembrete do terrível custo de cada decisão que ele havia tomado. Aquele campo de batalha não era apenas um lugar de morte; era um espelho de sua própria alma.
O silêncio de seus pensamentos foi quebrado pela porta se abrindo abruptamente. Cerys entrou na sala, sem cerimônia. A luz fraca iluminou seu rosto com uma expressão mais séria do que Aemon já tinha visto antes.
— Aemon, — ela começou, sua voz mais firme do que o normal. — Thorne convocou um conselho. Ele solicitou sua presença imediatamente.
Aemon, surpreso ao vê-la ali, virou-se lentamente, olhando-a por um momento. Uma expressão irônica surgiu em seu rosto, e ele não conseguiu evitar fazer uma piada diante da situação inesperada.
— Um conselho? E uma traidora como você agora me chama para ele? — Ele disse com um leve escárnio no tom, olhando-a com um olhar provocador.
Cerys, no entanto, permaneceu séria , suas palavras tinham um peso que Aemon rapidamente reconheceu.
— Foi uma ordem de Thorne — ela respondeu friamente, cruzando os braços e mantendo o olhar firme. — Não estou aqui por escolha, mas o que quer que ele tenha a dizer, é importante.
Aemon percebeu que a tensão ainda não havia sido totalmente resolvida, nem entre eles nem nos corredores do poder. Aquela guerra pode ter acabado, mas outras batalhas, políticas e emocionais, estavam apenas começando. Ele lançou um último olhar para o campo de mortos lá fora e soltou um suspiro cansado antes de seguir Cerys.
— Muito bem — ele murmurou, passando por ela. — Vamos ver o que Thorne quer agora.
Enquanto caminhavam em direção ao conselho, o peso da responsabilidade e o futuro incerto pareciam acompanhar cada passo que Aemon dava.
Enquanto Aemon caminhava pelos longos corredores de pedra ao lado de Cerys, o som de seus passos ecoava suavemente pelo castelo silencioso. O peso da conversa que ele sabia que viria o perturbava , e o silêncio entre os dois era quase sufocante. Depois de alguns momentos, Aemon quebrou o silêncio, sua voz mais profunda e reflexiva do que o normal.
— Cerys, por que tudo isso? — perguntou ele, sem desviar o olhar enquanto caminhavam. — Toda essa revolta, traição, mortes… Qual foi o motivo?
Cerys permaneceu quieta por um momento, seus olhos fixos no chão à frente, como se estivesse considerando sua resposta. Quando ela finalmente falou, sua voz estava calma, mas cheia de uma verdade amarga.
— Medo — ela disse simplesmente, sem hesitação.
Aemon franziu a testa, esperando que ela elaborasse. E ela o fez.
— O medo move corações mais do que o ódio, Aemon, — Cerys continuou, com um olhar distante. — Medo do que poderia acontecer com Cedric no comando. Ele sempre foi imprevisível, movido por uma ambição cega e pela ideia de que tudo pode ser conquistado pela força. Eu não era o único que sentia isso. Muitos temiam o que Volcrist se tornaria sob seu governo.
Aemon permaneceu em silêncio, refletindo sobre as palavras dela. Ele sempre soube que havia tensões no reino, mas agora ele começou a entender a profundidade do ressentimento. O medo, mais do que qualquer outra coisa, havia semeado as sementes dessa rebelião. Era uma emoção insidiosa, difícil de combater, pois nem sempre era racional, mas ainda assim, devastadora.
Eles caminharam por mais alguns corredores em silêncio até chegarem à câmara do conselho. Quando finalmente chegaram às portas, Aemon deu a Cerys um último olhar, agora entendendo um pouco mais sobre o que havia motivado suas ações — e as de tantos outros.
Sem dizer mais nada, ele abriu as portas e entrou na sala do conselho, pronto para a próxima batalha, dessa vez política.
Aemon entrou na sala com passos firmes, seguido de perto por Cerys. A atmosfera era pesada , o silêncio enchia cada canto como se as próprias paredes do castelo aguardassem algo. Sentados à mesa estavam Seraphine, Cedric e Thorne, todos quietos, seus rostos marcados por fadiga e preocupação . Era evidente que eles estavam esperando por ele e Cerys.
Os dois sentaram-se sem dizer uma palavra, e o silêncio permaneceu por alguns momentos até que Thorne, com uma expressão grave, finalmente falou:
— Precisamos conversar sobre algumas coisas — ele começou, sua voz ecoando pela sala como o som de madeira sendo cortada. — Mas o que é urgente deve vir primeiro .
Ele fez uma pausa, observando cada rosto na mesa antes de continuar. Estava claro que o peso da responsabilidade pairava sobre ele como uma âncora. O que estava por vir não seria fácil, nem para Aemon nem para qualquer um dos presentes.
— A situação em Volcrist está longe de ser resolvida — Thorne continuou, inclinando-se ligeiramente sobre a mesa. — A revolta foi reprimida, mas o ressentimento permanece. E agora, com Dravenmoor morto e Cerys aqui entre nós... decisões devem ser tomadas .
Seraphine permaneceu em silêncio, seu olhar fixo em Aemon. Cedric, sentado ao lado dela, parecia agitado, seus dedos batendo levemente na mesa como se estivesse prestes a falar, mas escolheu se conter. Aemon respirou fundo, sentindo o peso da responsabilidade agora repousando sobre seus ombros. Ele sabia que cada decisão, cada movimento daquele ponto em diante, seria crucial para o futuro de Volcrist e seu povo. Erguendo os olhos para os outros na mesa, sua voz ecoou firmemente na sala:
— As decisões que tomarei, e as forças que se levantarão contra mim e Volcrist, não serão poucas. Eu sei disso. Mas é algo que planejo enfrentar até o fim. Não vou recuar .
Antes que ele pudesse continuar, Cedric, que estava se remexendo na cadeira , não conseguiu mais conter a frustração fervendo dentro dele. Seu rosto ficou vermelho de raiva, e ele se levantou abruptamente, batendo as mãos na mesa.
— Eu sou o rei! — ele gritou, sua voz cortando o ar como um raio. — Este é o meu reino! Eu é que deveria estar lidando com isso, não você! .
O silêncio na sala se quebrou com sua explosão, e todos os olhos se voltaram para Cedric. Seraphine, ao lado dele, colocou a mão em seu braço em uma tentativa de acalmá-lo, mas ele a empurrou impacientemente. Thorne permaneceu em silêncio, observando a cena com uma expressão calculista, enquanto Cerys observava com um leve sorriso, como se estivesse esperando essa reação.
Cedric continuou, sua raiva transbordando :
— Desde o começo, você vem tomando decisões como se esse trono já fosse seu! E agora você quer enfrentar as forças que se levantam contra Volcrist? Mas e eu? Onde isso me deixa? Você está tentando tomar meu lugar, Aemon? .
O olhar de Aemon permaneceu firme, embora suas palavras ainda não tivessem surgido. Thorne, observando os dois, pareceu pesar se deveria ou não intervir. Cerys, incapaz de se conter, levantou-se da cadeira. Seu rosto, antes calmo e calculista, agora estava cheio de fúria que brilhava em seus olhos. Ela deu um passo à frente ligeiramente, sua voz firme e pingando desdém:
— Se você permanecer no trono, Cedric, os subdomínios de Volcrist não ficarão em silêncio. Não mais. Eles se revoltarão novamente, e dessa vez, será ainda mais sangrento .
Cedric, consumido pelo orgulho , levantou o queixo em desafio. As palavras dela pareceram alimentar ainda mais sua raiva, agora direcionada diretamente a Cerys.
— Que venham, então! Que os subdomínios se levantem contra mim, como fizeram antes. Todos serão massacrados, assim como foram agora. Traidores recebem o que merecem . — Ele fez uma pausa, encarando Cerys com olhos frios e desdenhosos. — E por que essa mulher está sentada nesta mesa? Por que ela não está pendurada em uma corda, como deveria ?
O silêncio na sala tornou-se opressivo. O ódio de Cedric era claro , sua incapacidade de ver além de seu próprio orgulho, ainda mais clara. Aemon observou a cena se desenrolar em silêncio, as palavras de Cerys ainda ecoando em sua mente. Thorne franziu a testa, mas permaneceu quieto, seus olhos pesando o impacto da conversa. Seraphine olhou para Cedric com uma mistura de preocupação e frustração, tentando compreender a profundidade do caos em que estavam enredados.
Cerys, no entanto, não vacilou. Sua raiva tornou-se fria e controlada mais uma vez. Ela deu um passo à frente, encarando Cedric com resolução inabalável.
— Você não entende, Cedric. Este é o fim da sua ilusão de poder. Se continuar assim, você e Volcrist serão destruídos. Não pelo inimigo, mas por aqueles que você governa.
Thorne, the man who had always been the pillar of wisdom and patience in that hall, could no longer contain his anger. His hand trembled slightly on the table as his words came out in a deep, furious tone.
— You should never have been king, Cedric! — he growled, his voice echoing through the chamber. — It was never your father's wish for you to take the throne. You are greedy, arrogant, and above all, a man who cannot be trusted! Volcrist is on the brink of collapse because of you!.
Thorne's words thundered through the council room, shattering the tense silence that had hung between them. Cedric, feeling the weight of the accusation, stood abruptly, his face flushed with rage and disbelief.
— How dare you speak to me like that?! I am the king! — he shouted, his voice trembling with anger. — It was my father's will that made me heir, and I am the one carrying this kingdom on my shoulders! I am the only one who can hold it together. You're all blinded by your own weaknesses! I did what was necessary!.
Cedric slammed his fist on the table, his eyes gleaming with wounded pride. The atmosphere in the room became suffocating. Aemon watched the outburst with a dark gaze, while Cerys maintained a cold smile at the corner of her lips, savoring Cedric's crumbling pride.
Seraphine, however, sensing the situation spiraling out of control, intervened with a firm yet cautious voice:
— Enough! — she said, her tone cutting through the tension like a blade. — This is not the time for petty accusations and useless quarrels! We are on the edge of the abyss, and all you can do is fight amongst yourselves? If we continue like this, there will be no kingdom left to save. We need unity, not more distrust..
Silence fell over the council once again, Seraphine's words echoing as everyone finally seemed to grasp the gravity of the moment.