"Você chegou," uma voz gelada a recebeu.
Lina fixou seus olhos em seu Primeiro Tio, o atual Presidente da Empresa Yang, William Yang. Ele estava sentado em sua grande cadeira de couro, perfeitamente centralizada no escritório.
William parecia um grande rei observando seu povo com uma expressão pensativa. Suas sobrancelhas estavam sempre franzidas como se seu humor se estragasse no segundo em que abria os olhos.
"Evidentemente," Lina respondeu secamente.
Seus lábios se contraíram com a resposta desrespeitosa. Lina se parecia com seu pai e William estava acostumado com seu comportamento. Como avô e neta podiam ser tão parecidos?
"Você está ciente do que fez?" William perguntou, sentando-se rigidamente em sua cadeira, mas suas mãos estavam soltas, organizando peças de xadrez.
Quando Lina permaneceu na porta, William levantou uma sobrancelha. Ela estava esperando que ele a convidasse para sentar?
Pestinha.
Lina lhe deu um sorriso. Ele estava certo em suas suposições.
Segurando um suspiro irritado, William indicou a cadeira com o queixo.
"Sente-se," disse William.
"Pensei que nunca iria pedir, Tio," Lina refletiu.
Lina caminhou confiante, seus saltos baixos ecoando no chão de porcelana. Ela se jogou na cadeira, cruzou as pernas e se recostou, sua atenção no tabuleiro de xadrez.
Este escritório, com seu design minimalista e atmosfera antiga, não a intimidava. Enquanto muitos funcionários tremeriam onde ela estava, Lina estava relaxada. Este era o seu domínio. Este era o lugar onde ela cresceu. O lugar onde passou a maior parte de sua infância.
E seu Tio sabia disso, pois era ele quem frequentemente a trazia aqui.
"Tomei uma decisão por você," William começou, sua voz baixando como se fosse revelar uma grande verdade para ela.
"Obrigada por pedir minha opinião," Lina respondeu secamente.
Lina notou que seu Tio estava jogando xadrez sozinho, uma tática dele para mostrar aos oponentes como ele era inteligente. Era difícil jogar contra si mesmo, muito menos tentar não ser parcial.
"Sua opinião?" William zombou.
Às vezes, Lina desejava não ter nascido uma Yang. Assim, seu futuro não seria escrito em pedra. Seu futuro como uma peça de garantia para algum acordo entre famílias. Ela viveria uma vida normal onde seu futuro seria desenhado por ela. Uma vida normal onde cada decisão seria tomada por ela, e não por um terceiro.
É tão difícil consultar Lina sobre o futuro dela?
"Quando você causa tanto estrago, sua opinião é difícil de considerar," William disse. Seus lábios estavam tensos com um sorriso desapontado.
Lina estava acostumada com as diferentes faces de seu Tio. Às vezes, ele era caloroso e fazia piadas. Às vezes ele era frio como uma pedra. O último geralmente ocorria no escritório.
A maioria dos herdeiros Yang eram criados com um lema: emoções são um luxo que só a família pode se dar ao luxo. Os herdeiros Yang eram ensinados a serem distantes de pessoas fora da família, pois tudo poderia ser transformado em uma fraqueza.
"Os encontros às cegas eram forçados. Suponho que você também tenha tido sua cota deles?" Lina afirmou.
"Não transfira a culpa para os outros. Isso é infantil, Lina," William declarou. "De qualquer forma, é tarde demais para levar isso em consideração."
William moveu a Rainha para frente. Justo quando ele estava prestes a fazer outro movimento, Lina esticou a mão e capturou a Rainha com um cavalo, surpreendendo-o.
William levantou a cabeça para olhá-la com espanto e então fez seu movimento.
"Você já sabia que eu não tinha escolha," disse Lina. "Não estou transferindo a culpa, estou explicando as coisas para você."
"Lina—"
"Mãe ligou para você divulgar aquelas fotos de Everett e eu. E você a ouviu em vez de me consultar. Por quê?" Lina exigiu.
Lina se esforçava para manter sua voz estável. Ela também tentava não se irritar, embora fosse bastante difícil. Quanto mais irritada ficava, mais rápido derramava lágrimas de suas emoções intensas. Ela gostaria de poder mudar esse traço, mas ele afetava muitas pessoas.
"Lina—"
"Já disse antes e vou dizer novamente, não quero nada com essa empresa," disse Lina, movendo o mesmo cavalo que capturou a Rainha no tabuleiro.
"Eu sei o que você está fazendo, Tio. Eu conheço seu motivo."
Xeque.
William pausou, olhando para o tabuleiro em descrença. Ele tinha montado tudo isso sozinho com diferentes táticas em mente, mas ela conseguia ver além de tudo isso?
William era o Presidente da Empresa Yang. Ele estava nessa posição há mais de vinte anos. Treinado desde o nascimento para assumir a empresa de seu pai, ele não temia nada. Não havia ninguém mais assustador que Lawrence Yang, cujo temperamento ardente levava a filhos obedientes.
Mesmo assim, William nunca tinha sido interrompido tanto quanto quando Lina falava. Ela comandava a sala com sua presença, suas palavras sempre apaixonadas, porém calculadas o suficiente para exigir a atenção de todos.
"E qual é o meu motivo?" William perguntou, só para entrar na brincadeira dela.
William moveu um peão na frente do Rei. O único peão restante no tabuleiro.
Essa sobrinha dele. Lina deve achar que é muito esperta. E ela era, William reconhecia isso. Infelizmente, ela sempre ultrapassava limites. Um dia, seria um penhasco que ela ultrapassaria. Quando esse dia chegasse, ela aprenderia as consequências de suas ações.
"Você quer que o público se acostume a me ver," Lina disse friamente. "Você não tem filhos, filhas, nem herdeiros em perspectiva. Você odeia o Segundo Tio e preferiria morrer a dar a empresa ao meu bondoso pai."
A expressão indiferente de William ameaçou se desfazer. Certo, então ela não era apenas inteligente. Ela era uma maldita gênia. E ela sabia disso.
"Você não favorece nenhum outro sobrinho ou sobrinha, pois você vê isso como injustiça. Mas o Avô supostamente me favorece, e isso é o suficiente para você me fazer a herdeira da Empresa Yang," Lina respondeu secamente, finalmente movendo sua Rainha no tabuleiro.
Xeque-mate.
William ficou sem palavras. Então, lembrou-se que xadrez era apenas um hobby e que Lina joga esse jogo desde que nasceu. Ela jogava no colo de seu avô, observando-o derrotar seu filho em cada partida.
"Parece que você realmente não quer ser a primeira e única Presidente da Empresa Yang, que pena," William disse, observando seus olhos tremeluzirem com suas palavras. "Não se preocupe, vou te dar essa liberdade que você tanto queria."
William alcançou sua gaveta e puxou um contrato, deslizando-o na direção de Lina. Ele observou sua expressão arrogante derreter em horror.
"Será o maior casamento político do século," William disse. "Você foi emboscada de todos os lados. Para se salvar, os preços das ações em queda, a reputação da sua família, SUA reputação, você se casará."
Lina pegou o contrato tremendo.
"Com quem?" Lina sibilou, sua voz como a morte gélida.
"Everett Leclare. A vítima."