"O quê? Onde estou? Eu... morri? Naty, é você?" Meus pensamentos estavam confusos enquanto tentava recobrar a consciência. A dor que sentia era avassaladora, mas algo em mim continuava lutando para se manter consciente. Lentamente, as memórias começaram a retornar e, ao abrir os olhos, vi Gabriel, meu vizinho, olhando para mim com uma expressão de tédio."Ei, como ainda estou vivo?" perguntei, ainda atordoado.Gabriel deu de ombros, um sorrisinho irônico surgindo em seu rosto. "Você se regenerou," respondeu com um tom casual, como se aquilo fosse a coisa mais normal do mundo.Eu fiquei assustado com a resposta. "Ei, como você sabe a minha língua?" perguntei, meio incrédulo.Ele riu alto, zombando da minha confusão. "Hahahaha, como assim? Você ficou falando em português o tempo todo! E, além disso, eu sou brasileiro também, pô!" Ele parecia se divertir com minha surpresa."Você também é brasileiro?" perguntei, ainda tentando processar as coisas. Mas ao mesmo tempo, comecei a me questionar internamente. Como eu resisti àqueles golpes esmagadores? O que estava acontecendo comigo? E essa história de regeneração? Eu precisava de respostas.Decidi quebrar o gelo com uma pergunta mais leve. "Ei, vizinho, de qual estado você é?"Gabriel sorriu, tomando um gole de corote que ele havia tirado sabe-se lá de onde. "Sou de Minas," respondeu, casualmente."Rio," respondi, e os dois começamos a rir, o som ecoando pelo apartamento destruído. "Hahahahaha."Gabriel, ainda rindo, me lançou um olhar amigável. "Não precisa dessas formalidades, me chama só de Gabriel.""Tá, vizinho… quero dizer, Gabriel," respondi com um sorriso. Mas enquanto a adrenalina começava a baixar, percebi que minhas roupas estavam completamente rasgadas, o tecido pendurado em farrapos pelo meu corpo. Gabriel notou isso também."Parece que precisamos de roupas novas," sugeriu Gabriel, olhando para suas próprias roupas, que também estavam em péssimo estado. "Vamos dar uma olhada por aqui."Começamos a vasculhar o apartamento em busca de algo que pudéssemos usar. A maioria das coisas estava destruída, mas encontramos uma antiga arca no canto do quarto. Dentro, havia roupas de couro e alguns óculos de proteção que pareciam ter saído direto dos anos 1900."Isso aqui vai ter que servir," disse Gabriel, enquanto vestíamos as roupas improvisadas. O couro era pesado, mas oferecia alguma proteção, o que poderia ser útil no meio desse caos.Com as roupas vestidas e os óculos protegendo nossos rostos, estávamos prontos para o que viesse a seguir. Gabriel olhou para mim com uma expressão séria, mas havia um brilho de determinação em seus olhos."Agora somos uma equipe. Vamos sair em busca de redenção, pela sociedade… e por nós mesmos," disse Gabriel, e eu assenti, sentindo uma nova onda de determinação crescer dentro de mim.Essa era a nossa nova realidade. E juntos, nós íamos enfrentar o que quer que o mundo jogasse em nosso caminho."Qualquer desafio, mas... por que tem zumbis atrás de mim?" Eu gritei enquanto corríamos pelas ruas desertas de Nova York, tentando escapar das criaturas que agora dominavam a cidade."Estamos perto!" Gabriel gritou de volta. "Vira à direita na próxima rua e conseguimos escapar!"Segui suas instruções, sentindo meu coração bater acelerado no peito. Conseguimos despistar os zumbis, mas a sensação de perigo iminente não me deixava. Gabriel olhou em volta, avaliando nossa situação. "Precisamos de um carro ou uma moto para não nos arriscarmos tanto," ele sugeriu.Eu, ainda ofegante, pensei rápido. "Acho que conseguimos um carro aqui perto," sugeri.Gabriel balançou a cabeça. "Um carro comum não é bom para longas distâncias.""Upgrade?" perguntei, meio em tom de brincadeira."Não, ainda não é suficiente," Gabriel respondeu, analisando as opções ao nosso redor."Upgrade 3?" continuei, tentando aliviar a tensão.Gabriel parou e olhou para mim incrédulo. "Caraca, um Camaro? Mesmo trabalhando a vida toda, eu nunca conseguiria comprar um!"Não podia negar, era um carro dos sonhos, e em tempos como esse, qualquer coisa que pudesse nos dar vantagem era bem-vinda. Entramos no carro, e Gabriel ligou o motor. O som potente do motor roncou, ecoando nas ruas desertas. Liguei o rádio, e uma música energética começou a tocar enquanto saímos em disparada para a próxima cidade.Enquanto dirigíamos, vi algo que chamou minha atenção: um grupo de sobreviventes se movendo em direção ao sul. Entre eles, uma mulher de aparência serena, com olhos e cabelos castanhos que brilhavam sob o sol poente, como se tivesse saído de um sonho.Gabriel percebeu meu olhar prolongado. "Tá dando uma olhada demais aí, hein?!" ele zombou."Eu? Quem é o protagonista aqui?" brinquei, tentando disfarçar meu interesse.Gabriel riu. "Protagonista? Você tá chapando? Fumou crack?"Rimos, mas o momento de descontração foi interrompido quando quase bati o carro em um poste. Gabriel agarrou o volante no último segundo. "Cuidado, cara! Tá vendo o que acontece quando você não presta atenção?"Eu ainda estava abalado pela visão daquela mulher, mas algo chamou minha atenção de repente. "Espera aqui, Gabriel, eu já volto!" gritei, saindo do carro correndo. Vi algo que nunca imaginei encontrar novamente em um mundo destruído: um PS4 novinho em folha, ainda na prateleira de uma loja abandonada.Gabriel me olhou, surpreso. "Moleque estranho, correndo atrás de um videogame..."Eu sabia que era um luxo desnecessário, mas naquele momento, parecia uma âncora para minha sanidade. Entrei na loja e, enquanto pegava o PS4, ouvi o som de passos arrastados. Olhei em volta e, para meu azar, dois zumbis apareceram – um homem e uma mulher, ambos com músculos tonificados como se tivessem sido atletas antes de se tornarem monstros.Eles avançaram para me morder, mas seus dentes se chocaram contra minha pele metálica, incapazes de penetrar. "Será que eu sou feito de metal agora?" pensei, espantado. Eles continuaram tentando, escalando o teto e me cercando, mas eu reagi por puro instinto. Meti um soco em um dos zumbis, arrancando sua cabeça com um golpe só. Dei um chute no outro, completando o movimento.Mas a luta estava longe de acabar. O zumbi que eu havia enfrentado antes no meu apartamento apareceu novamente, sua presença imponente preenchendo a loja. Eu tentei esquivar, mas ele estava focado no PS4 em minhas mãos. Quando ele atacou, eu me joguei na frente para proteger meu prêmio.E então, algo estranho aconteceu. Um poder desconhecido começou a fluir dentro de mim, como uma onda de energia incontrolável. Dei um soco no zumbi com toda a força que tinha, o impacto foi como o de um canhão, deixando-o em um estado crítico.Respirei fundo, surpreso com a minha própria força, e voltei correndo para o carro. Gabriel estava do lado de fora, tirando os óculos que usava, olhando para mim enquanto eu me aproximava."Esses óculos me deixam feio," ele murmurou, jogando-os de lado."Pelo menos mantenha os seus óculos no rosto," brinquei enquanto entrava no carro. "Estamos prontos para ir?""Sim, e obrigado por não se matar naquela loja," respondeu Gabriel com um meio sorriso. "Achei um abrigo aqui perto. Vamos para lá e ver o que nos aguarda."Enquanto dirigíamos para o abrigo, me perguntei o que mais estava reservado para nós neste novo mundo. Com Gabriel ao meu lado e um novo poder que ainda não entendia, estava preparado para enfrentar qualquer desafio.E, de alguma forma, sabia que nossa história estava apenas começando.