A história em que nos tornamos os três mosqueteiros.
Por: Nickname_Xd.
É de certo modo, impressionante como as coisas demoram a acontecer, ainda mais quando é algo planejado, na visão de um bebê, poderia até ser diferente, no entanto, eu não tinha mais o privilégio de ficar apenas de bobeira ou praticando coisas fúteis como reaprender a andar. Agora com os planos de Mouro, eu tive que evoluir mais do que nunca em diversos quesitos. Com a ajuda de Yagas, pude compreender mais sobre esse mundo, era até irônico eu aprender algo com ele, afinal, em sua primeira vida, o mesmo não sabia nem qual era a metade de seis, seu conhecimento provido dos livros que pegava sorrateiramente, eram compartilhados comigo em nossas reuniões diárias, indiretamente elaboradas pelas nossas próprias mães, ao menos, a ânsia delas de fofocar sobre a vida alheia serviu de alguma coisa, não?
Através dos livros de Yagas, descobri que neste mundo há seis reinos, adjunto a seis raças, sendo elas: Humanos, Elfos, Anões, Orcs, Diabretes e Homens-Feras. Notavelmente, as três últimas raças são tratadas como as mais perigosas, representando a natureza má da consciência, algo como imoralidade e brutalidade, enquanto as outras representam o contrário, devido essa dualidade, foram divididos entre "Regiões dos Homens" e "Regiões das Feras". Além disso, parece que cada raça é uma contradição à outra, um reflexo mal feito... Os humanos são uma contradição aos homens-feras, os elfos são uma contradição aos orcs e os anões são uma contradição aos diabretes.
Pelo visto, por mais que o lado dos homens fosse a representação da moralidade, isso não os proibiu de declarar guerra contra seus próprios aliados, havendo diversas guerras, a mais famosa e a última, até então, fora a ser chamada de "Espadas da Trindade ". Essa guerra teve um fim após o iniciar de outra, era necessário um inimigo em comum, nada melhor que a região das feras, essa guerra durou décadas e foi uma das mais cruéis, que cultivou ódio de todos os envolvidos. Quando recebi essas informações, achei interessante o fato dos heróis não terem participado, os livros não citam muito sobre, então presumo que os Reis deste mundo são arrogantes o suficiente para não usarem suas melhores armas, ou talvez os heróis tenham mais liberdade do que nas histórias infantis apresentavam.
Em meus tempos vagos, aproveitava do meu confinamento cruel (berço) para fortalecer meu corpo e mente através da meditação e simples movimentos que simulavam lutas, em minha vida passada, poderia ser chamado de "sombra de boxe", o ato de utilizar seu reflexo obscurecido como oponente... talvez em meu primeiro corpo, este tipo de treino seria muito mais fácil, no entanto, neste corpo atual, por mais que fosse simples os movimentos, traziam uma dificuldade tremenda, meus pés desistiam de se estabilizar, me forçando a cair constantemente de forma ridícula.
Essa rotina durou meses, até que chegou meu aniversário de um ano, era revigorante saber que faltava pouco para que eu me torna-se algo além de uma máquina de fazer cocô ambulante. De todo modo, meus pais fizeram uma festa em comemoração ao meu aniversário, minha mãe era a que mais estava empolgada para isso tudo, a mesma colocou-me uma roupa extravagante, que infelizmente, trazia coceira em todas as partes de meu corpo, não sei da onde que ela tirou essa porcaria, mas certamente era uma maldição! Após me vestir, ela saiu correndo para arrumar a casa, enquanto dizia de maneira frustrada que a visita chegaria, de fininho, Dinho se aproximava melancolicamente, o mesmo coçava o próprios bagos sem discrição, o infeliz, que assim como eu, foi subjugado as piores torturas para um guerreiro, uma roupa brega e apertada.
"Vai se acostumando, você ainda tem uma loooonga vida, garotão!"
Falou de maneira humorada, era curioso como meu pai conversava comigo como se eu já fosse adulto para compreender as coisas que ele falava, por mais que eu realmente pudesse entende-lo boa parte do tempo... Não demorou muito para que os preparativos estivessem prontos e os convidados chegassem, em minha vida passada, não era de meu feitio comemorar coisas rasas como aniversários, no entanto, sempre imaginei que apenas membros de sangue podiam ser convidados, com a chegada dos já citados, notei que não eram parentes distantes, mas sim apenas Yagas e Mouro acompanhados de seus pais, notavelmente, meus colegas seguravam o riso, enquanto seus pais me bajulavam e desejavam uma boa vida.
(Espero que sofram com o mesmo!)
Pensei ao encarar aqueles dois com meus olhos enfurecidos. A festa foi longa, eu já teria imaginado essa situação, então economizei energia desde manhã para que eu não fosse afetado pelo sono, meu corpo era meu inimigo, então ao compreende-lo, pude sobressair contra as adversadides de um bebê! Enquanto eu me sentia orgulhoso com aquela "vitória", minha mãe me pegou e me sentou em uma cadeira, todos estavam em minha frente, cantavam em sincronia uma música, talvez fosse algum rito de passagem, ou alguma melodia que representasse "meus parabéns", era de certo modo, simples, de vez em quando Aurora batia em Dinho pela sua falta de sincronia com os demais convidados, aquilo forçou meu corpo a soltar um sorriso, a alegria de todos era contagiante, essa felicidade que senti era uma que nunca presenciei em minha vida passada, então a sensação de ter uma família era parecido com isso? Mouro e Yagas olhavam para mim, suas expressões demonstram os mesmos pensamentos que o meu, com abaixar de nossas cabeças em concordância, decidimos que apenas por aquele momento, deixaríamos nossas experiências passadas de lado e ríriamos como verdadeiros bebês, esboçando a alegria que nunca tivemos antes.
Passou-se uma semana após aquilo, já tinha sido decidido que hoje seria o grande dia, notavelmente eu estava ansioso, nos encontramos no lugar de sempre, graças às fofocas de nossas mães, ficamos no campo esverdeado enquanto elas conversavam e riam sem parar.
"Demorou!"
Resmungou Mouro soltando um suspiro logo em seguida, antes que eu pudesse responder a altura, Yagas deu um tapa em sua nuca.
"EU QUE CHEGUEI PRIMERIO, ZÉ RUELA!"
Gritou Yagas expondo sua indignação... Após uma discussão entre os dois, decidi cortar aquela briga.
"Ô, ô! Vão parando! Não viemos para brigar..."
Era até irônico eu dizer isso, já que tecnicamente falando, viemos por causa de uma força além (mães), mesmo assim, minha fala serviu de alguma coisa para aqueles dois bocós. Mouro cruzou suas pernas e pediu que fizéssemos o mesmo. Ao fazermos, pediu também que juntassemos nossas mãos, no fim, nossos corpos formaram um triângulo defeituoso.
"Certo, agora fechem os olhos e se concentrem para sentir algo dentro de seus corpos... Respirem fundo e relaxam."
Proferiu tais palavras fechando os olhos, fizemos o mesmo. Fiquei preocupado que Aurora notasse aquilo, seus olhos afiados sempre percebem quando algo irá acontecer comigo... tentei esvaziar minha mente, essas preocupações não ajudariam muito no momento.
Aquela meditação em conjunto parecia durar horas, durante a concentração, pude "enxergar" dentro de minha mente diversas sequências de esferas que formavam desenhos, no entanto, não havia formosura e nem mesmo sentido, os pontos não criavam algo organizado iguais a trilhas, como já citado uma vez por Mouro.
Meu subconsciente se concentrou tanto nestes desenhos que em algum momento, esqueci que uma vez existi, me tornando um só com os pontos desorganizados.
"Ugh!"
Resmungou meu corpo que constantemente se contorcia devida a assimilação com as luzes, minha mente sentia tudo, meus ossos pareciam se desconectar um do outro, meus tendões relaxam ao extremo, tornando meus músculos fracos e leves a ponto de serem levados com o vento. Aquela sensação era estranha, porém... magnífica.
Uma parte do meu subconsciente ainda podia escutar os arredores de meu corpo, era notável os gritos de Aurora, por mais que eu quisesse abrir meus olhos, tanto Mouro, quanto Yagas diziam que eu não podia abrir, e nem mesmo ousar em tentar.
Não demorou para que eu sentisse que meu corpo estivera a ser tomado por algo, envolvido em algo parecido com um quente cobertor que logo aqueceria meu coração e membros. Mouro murmurava algo, meus ouvidos não deixavam escutar suas palavras, eles apenas queriam apreciar minha evolução, ou era o que eu imaginava.
As sensações maravilhosas em que eu me encontrava não durou muito, meus olhos inconscientemente se abrem, com a quebra da irrealidade, pude voltar ao meu normal, olhei aos meus arredores e notei a vasta destruição, estávamos em uma imensa cratera, apenas eu, Mouro e Yagas que me encaravam assustados.
Acima da cratera, estava Aurora e as outras mães, que desesperadas tentavam descer para ver como estávamos, seus olhos de medo e preocupação me trazem espanto, meu corpo ainda se sentia leve como uma pena, o calor ainda percorria meu âmbito, olhei para meus braços e notei que estavam emanando algo estranho, as luzes saíam constantemente de cada parte do meu corpo, formando estrelas que me envolviam.
Era diferente com Yagas e Mouro, apenas seus olhos brilhavam de maneira cintilante, uma parte de mim sussurrava que aquilo era a mana em sua forma mais pura.
(Então o plano deu certo, hein?)
Pensei comigo mesmo, as coisas pareciam tão lentas, pelo visto a mana se desenvolveu de forma anormal em meu corpo, não só as sensações, mas como a própria percepção foi alterada, eu podia notar cada coisa que havia em minha volta, cada micróbio, inseto ou ser vivo, naquele momento, nada fugia de minha visão.