A sala se iluminava apenas pelas grandes janelas na parede. Irradiando sobre o pintor e sua tela, nela um rosto se formava, belo, de finas curvas, o branco de seu rosto e o vermelho de seus cabelos, contrastando com o verde dos olho. Adrian sentado sobre uma cadeira de madeira, imóvel, incomodado com o pedido da Senhora sua tia, Lady Margot.
O pintor terminou mais um dos pontos de sua arte, antes de permitir ao homem de seus vinte e cinco anos descansar mais uma vez. Ele aliviou seus ombros e o traseiro sentado na cadeira desconfortável, buscando então a grande poltrona virada para a enorme janela.
A cidade de Delemont, capital do Império emergiu a sua frente, mesmo vivendo toda sua vida, não conseguia parar de observá-la, suas vielas e ruas estreitas nos anéis mais afastados do centro, até as ruas mais abertas, o distrito dos prazeres, a fortaleza dos santos e principalmente, o palácio do leão. Até mesmo o pequeno palácio que vive se comparado a casa da Família Imperial, lhe provocava vontade de olhar por horas, mas neste momento tudo seria deixado para trás, pois embarcaria em uma nova jornada.
"Senhor, deseja algo para refrescar enquanto aguarda alguns momentos?" perguntou um dos serviçais parados a porta.
"Não há necessidade já irei retomar a posição" respondeu o mestre se levantando da poltrona.
Retornando a seu assento tomou cuidado para não se sentar sobre seu colete, uma linda peça em vermelho e azul feita sobre medida, pendendo pelo ombro foi colocada uma pequena capa com o símbolo de uma coroa bordada em fios de prata sobre o tecido negro. O pintor retornou com novas tintas preparadas para continuar seu projeto. Com simples pinçeladas ele passou a colorir os olhos do jovem mestre, as cores se tornando vibrantes a cada retoque, depois se concentrou nos cabelos, estes não muito longos nem curtos, apresentavam um calor como fogo devido a sua coloração. Por fim terminou as roupas, estas complexas pelos sete botões laterais dourados, e pela presença da capa por cima, capturando o esplendor que a Casa de Bourguinon sempre presou.
O pintor por fim terminou com os arredores, reproduzindo a parede rubra e os quadros dos pais do homem, o Senhor Hector e a Senhora Melyse, e encerrou sua pintura com uma pequena assinatura na borda inferior esquerda.
"Senhor Adrian, agradeço por sua cooperação neste dia, desejo-lhe uma boa travessia para Blawitz" disse o pintor com uma reverência.
"Agradeço-lhe pelo trabalho pintor Gaspar, minha tia ficará honrada com esta representação, Pierre, leve-o até a porta da mansão e lhe paga a quantia acordada"
"É claro meu senhor" respondeu o serviçal abrindo a porta "A capitã Farn deseja conversar com o senhor"
"Irei prontamente" o mestre já trocava sua roupa por veste mais confortáveis, ainda em vermelho e azul, mas agora próprias para viagem e se necessário combate.
Embainhou seu sabre no cinto, juntamente a um punhal e partiu em direção ao pátio da mansão. O corredor era suficiente para a passagem de fileiras de soldados, todos eles contratados e pagos pela Senhora Margot, a líder da família após a morte da mãe de Adrian.
Do segundo andar da mansão era possível ver o pátio, nele alguns soldados treinavam, utilizando cotas de malha e placas peitorais, carregavam o síbolo do leão e da coroa. O vento não estava forte nem fraco, o clima apesar de ser fim de inverno começava a se assemelhar ao verão, sendo quente e úmido. A noite passada foi de fortes chuvas, assim a viagem teve de se adiada, para desgosto de Adrian, já que não desejava ficar com o pinto por mais cinco horas. Sua tia adorou pois havia encomendado a pintura do sobrinho por um caro preço, e somente aceitara que o melhor pintor de Delemont retratasse a beleza de seu sobrinho e para a mulher.
Descendo as escadas de pedra passou pelo jardim, este construído para sua mãe, mas a mulher nunca chegara a plantar uma flor sequer. Brincou durante boa parte de sua infância naqueles locais, sabia os melhores lugares para se esconder dos primos e tios, bem como aonde ir para roubar tortas e outras delícias da cozinha.
No centro do jardim, um pátio improvisado fora criado, e desde os sete anos Adrian passou a estudar a arte da esgrima e do combate, repetindo dia após dia, seja sol ou chuva, ventania ou neve, cada movimento, aprendendo a lutar contra homens maiores e mais fortes.
Ao centro uma mulher alta e forte o aguardava, a capitã observava com atenção os demais soldados que iriam fazer a travessia pelo mar até a cidade de Blawitz, a primeira construída nas terras além-mar. Com rosto duro e experiente, uma cicatriz cortava por seu olho esquerdo, rosas tatuadas iam da lateral de seu pescoço até sua mão esquerda. Na cintura carregava uma espada longa e uma pistola.
"Está atrasado jovem mestre, terminou de acatar aos desejos de minha Senhora?" perguntou a capitã em tom escarnioso.
"Nunca terminaria, os desejos de minha tia devem ser maiores que o próprio imperador, diga-me Farn, meu primo teve a decência de aparecer?"
"Não mestre Adrian, o mestre Peter nem mesmo estava em sua cama, a Senhora deve ter colocado os homens ao seu encalce"
"Isto é problemático, ele deve estar no navio hoje, ou então o recém-eleito prefeito de Brawitz nem mesmo irá assumir seu assento, os Kallan talvez considerem isto ultraje" respondeu Adrian retirando sua espada da bainha e ficando em en garde.
"Talvez devesse procurá-lo, afinal é sangue dele e seu companheiro, o conhecesse melhor que os demais"
"Talvez, assim que terminarmos aqui, devo despedir de minha tia também, serão anos até nos revermos, se acontecer" disse Adrian em tom soturno
"A Senhora é uma mulher forte, irá estar aqui quando retornar após cinco anos"
"Espero que sim"
"Agore avançe, desejo ver se aprendeu algo do que ensinei nestes últimos treze anos, ou apenas joguei minha habilidades na sarjeta"
Adrian se posicionou com sua espada entre ele e seu oponente, assim como a capitã, se circularam por alguns instantes, estudando seu oponente a cada segundo, o silêncio o tomava, sentia a respiração pesada, suor caindo de sua testa, seus dedos apertando firme contra o punho.
Farn fez a primeira investida, avançando com rapidez e precisão, mas facilmente repelida pela espada de seu oponente, os aços cantaram, com as lâminas se detendo e se afastando. Agora foi a vez de Adrian, fintou com suas pernas, a esquerda avançando para então dar lugar a direita e uma estocada na altura do pescoço. Farn o repeliu e com um contra-ataque se aproximou para tentar sua própria estocada contra o ombro, Adrian cambaleou e com dificuldade defendeu e se afastou, recuperando sua postura.
"Vejo que aprendeu, mas ainda lhe falta algo, mas isso deve descobrir sozinho"
A capitã novamente avançou mas foi imprudente, o mestre, conhecendo aquele pátio a colocou onde desejava, o terreno irregular desequilibrou momentaneamente a capitã, a forçando a para sua investida, assim Adrian foi quem atacou, primeiro com um corte de cima para baixo, em seguida outro corte, dessa vez da direita para a esquerda e por fim uma estocada, a capitã conseguiu defender mas seus pés não mantiveram o equilíbrio, assim ela caiu.
Adrian colocou a ponta de sua espada na garganta de Farn, a mulher sentiu o frio do aço tocar em sua pele, então afastou a espada de perto. Adrian estendeu seu braço para a oponente, ela aceitando com um riso no rosto.
"Acredito que eu tenha aprendido o que faltava"
"Sim, qualquer soldado pode aprender sobre posições e maneiras de derrotar o oponente, mas eles não lutarão com dignidade, acreditar que duelos serão justos é ser um tolo"
"E tolos morrem, sim, eu aprendi mestre"
"E muito bem, bom agora tenho certeza que conseguirá sobreviver nas terras além-mar, mas não serão as espadas que o matarão, mas as tolices da corte"
"Bom, com isso ainda necessito de auxílio, mas irei arrumar um jeito"
"Espero que sim mestre Adrian, iria me magoar vê-lo retornar em um caixão"
"Não acredito muito nisso"
"Na mágoa ou no caixão?"
"Bom, espero que os dois" terminou o homem com um riso nervoso.
Adrian fez uma leve reverência antes de partir, desapontado pois Farn não se juntaria a eles na jornada, então pôs-se a retornar a sua caminhada pelo jardim. Outros soldados o fizeram reverencias atrapalhadas ao passar por eles, Adrian se sentia lisonjeado mas também não gostava de toda a cortesia oferecida. Apesar de um lorde, não se sentia como um, seja por não aderir aos costumes dos homens como as barbas vastas que estes possuem no Império.
Sua tia o esperava em seu quarto, no pavilhão mais próximo a entrada da mansão, homens guardavam seu quarto dia e noite, as trocas de guarda ocorrendo ao meio dia e a meia noite. Os guardas trajados com as cores da Casa de Bourguinon, em suas mãos espadas, junto de dois a porta, outros quatro rondavam pelo corredor do andar, observando o pátio.
Senhora Margot havia começado a ter alucinações com a própria morte, tendo visitado cartomante, passou a dobrar sua guarda e as precauções ao redor de seus aposentos, até mesmo mandando embora seus amantes, ou nem mesmo permitindo que entrassem na mansão. Adrian se aproximou da entrada do quarto, subindo as escadas e cumprimentando os guardas, estes o pediram por sua espada e punhal, relutante os entregou, era melhor do que discutir com sua tia, não gostava de conflitos com a mulher.
O quarto estava claro, com as cortinas abertas permitindo a entrada da luz do sol da manhã, sentada em uma cadeira estava Lady Margot, suas mãos sobre um tecido que tricotava, olhou de relance para o sobrinho, seus olhos verdes o fitando. Se levantou revelando ser uma mulher alta, de rosto jovem para seus quarenta e oito anos, seus cabelos cor de fogo caindo sobre os ombros em uma longa trança.
"Adrian meu belo garoto, vejo que está preparado para velejar" ela disse com um sorriso no rosto.
Adrian pode apenas sorrir de volta, afinal pouca felicidade havia visto nos últimos meses. A mulher o convidou a se sentar perto da pequena mesa. Um bule com chá de ervas estava quente sobre a mesa, assim como algumas tortas de morango com creme.
"Sente-se, deve estar faminto depois de passar a manhã com Gaspar, me diga, como está se sentindo?" perguntou com olhos brilhantes.
"Empolgado, sempre quis velejar como meu pai e nossa família, mas tenho receio tia" respondeu com hesitação.
"Não o tenha meu garoto, a viagem é tranquila, em alguns dias estará em terra firme, serão cinco anos, quando retornar estará feito, talvez com uma esposa, acredito que algumas das famílias irão também..."
"Tia, se acalme, ainda não tenho uma prometida e não estarei indo para isso" interrompeu colocando as mãos sobre as dela.
"Mas terá de arrumar uma, precisamos manter a linhagem e os deuses sabem muito bem que Peter tem desejos mais frívolos"
"Falando dele, onde se encontra meu primo" procurou saber Adrian observando as feições de Lady Margot.
A mulher apenas fechou seu rosto. Adrian sabia que o primo havia comemorado na noite anterior, provavelmente em algum bar na cidade nobre, ou no distrito da luz vermelha.
"Estamos a procura dele, Newport está a espera e sabe como o homem não gosta de esperar, vocês precisam zarpar o quanto antes"
"Tentarei procurar por ele, afinal o conheço bem, acredito que possa ter ido a residência de Lady Ambridge, ele tem certas afeições por Jeanne"
"A adorável filha dos Margrave, se não estiver lá tente pelo porto, há alguns dias ele acabou falando sobre uma taverna que encontrou com alguns dos rapazes"
"O padre afogado, conheço o lugar, e o dono, perguntarei a ele, seja como for irei encontrá-lo"
"Você realmente cresceu meu garoto" disse Lady Margot tocando no rosto, olhou para seus olhos, verdes como jóias, brilhando como chamas em seu rosto.
"Tenho de ir tia, o mar me aguarda"
"É claro, mande cartas e não deixe seu primo se afundar sozinho com os nobres, sabe bem como gostam de influenciar mentes fracas"
"Peter sabe se cuidar, estudamos com o mesmo intrutor"
"Sim, mas você aprendeu, e o jovem, bom um pouco de senso o ajudaria, adeus meu garoto e até breve"
Lady Margot o abraçou, algumas lágrimas começaram a descer, a mulher havia visto o garoto nascer e se transformar em um homem, agora o via partir e talvez não o voltaria ver, nunca se sabe o que pode acontecer nas viagens. Adrian por sua vez não desejava soltar, afinal tinha a mulher como mãe, quando a sua própria não mais pode estar presente, e agora partia para o destino que o tirou dela. Em sua mente ele perdia outra mãe, mesmo que esta ainda estivesse viva.
Uma carruagem o esperava na porta da mansão, os guardas abrindo a porta. Ordens foram dadas ao homem para levá-lo até a taverna próxima ao porto, caso Adrian não encontrasse seu primo, deveria ir até a residência Margrave.
O caminho a taverna estava livre, poucos eram aqueles a utilizarem dos meios de locomoção além de seus próprios calçados. Adrian estava vestido a parte, com um chapéu em sua cabeça. Homens e mulheres caminhavam nas ruas pavimentadas de pedras.
A construção pouco parecia agradável para membros da alta sociedade, lordes e ladys teriam rapidamente indo a locais mais pomposos. A casa feita de madeira e com uma placa que pouco mostrava seu nome. Seu interior estava vazio naquela tarde, incomum pensou Adrian enquanto olhava para as moças que atendiam no máximo três mesas.
A cozinha posta no centro da taverna, continha lenha queimando e diversos alimentos sendo preparados. Ao entrar foi prontamente recebido por uma das garotas, jovem de sorriso igual a mel e cabelos que brilhavam mesmo diante da penumbra do local. Exalava fortes cheiros de frutas e brasas, limpou rapidamente as mãos em seu avental e fez uma reverência ao jovem mestre.
"O senhor gostaria de uma mesa, temos patos com mel e batatas com ervas se deseja comer algo?" perguntou a moça com graça e suavidade.
"Boa tarde senhora, nada desejo de sua cozinha, estou aqui para lhes fazer algumas perguntas se permitido"
"É similar ao outro rapaz, poderia me responder a algumas perguntas senhor, desejo saber o motivo da baderna em meu estabelecimento noite anterior"
Uma mulher mais ao fundo perguntou, tinha o corpo roliço, talvez a mesma idade de Lady Margot, mas suas rugas estavam afloradas no rosto, seu corpo poderia dizer que produziu talvez cinco filhos.
"Senhora Targett, em nome de meu primo peço desculpas, mas desejo saber o que ocorreu noite passada"
"Claro, Lena ajude sua irmã a limpar as latrinas, eu cuido do Senhor Bourguinon"
A jovem escutou e pôs-se a sair por uma porta aos fundos. Adrian estudou a mulher a sua frente, tão alta com o jovem, de nascimento plebeu, seus braços fortes como um touro e sua língua tão afiada quanto uma navalha.
"Bom, pode-se dizer que Lorde Peter teve uma bela noite anterior, bebeu quase todo o estoque de Brandy com dois outros rapazes, um loiro e outro de nariz pontudo"
"Eu os conheço, saberia me dizer onde meu primo poderá ter ido, preciso de encontrá-lo rapidamente"
"É claro, bom os jovens se embebdaram e começaram a discutir sobre assuntos que não são de meus ouvidos, algo sobre navio e viagens, mas então os problemas começaram" Adrian prestava atençaõ a cada palavra, seus olhos fixos nos dá senhora.
"Alguns homens do porto não gostaram do que disseram"
"Quais palavras usaram se me permite" perguntou Adrian se sentando em uma das mesas próximas a porta.
"Fodedores de peixes, acredito ter sido isso, apenas escutei as primeiras cadeiras se quebrando e partindo, o senhor meu marido os mandou sair do estabelecimento, Lorde Peter puxou uma faca de pão e o homem um punhal, ouve sangue, saíram ambos feridos, foi levado a algum lugar, agora que me lembro senhor, chamou por um nome, Joan, não, Jeanne"
"Muito obrigado senhora Targett, sei exatamente onde o idiota está, obrigado pela informação"
Adrian lhe entregou uma bolsa levemente pesada com moedas de prata, de um lado o símbolo do leão, do outro um grande navio com seis velas. A mulher pôs a bolsa por dentro de sua roupa, agradecendo ao mestre e se retorno a cozinha.
"Minha tia irá necessitar de sua comida minha boa senhora, trate-a com o melhor que puder"
"Hei de fazê-lo milorde" respondeu a mulher retornando a lareira para terminar de cozinhar o almoço dos pescadores.
Adrian retornou a carruagem, seu condutor o esperando a ffrente do estabelecimento, conversava com alguém na rua, retornando sem informações sobre o primo de Adrian. Agradeceu a ajuda, lhe indicando o caminho a tomar para a mansão da Família Ambridge.
Como Lady Margot havia deduzido, o primo teria ido a casa de sua amada, o motivo, vergonha de ser visto como fraco pela mãe, ou mesmo estar bêbado demais para raciocinar algo diferente. Adrian apenas continuou a contemplar a cidade a sua frente, esperando achar o irmão com poucos ferimentos, seria problemático a morte de um prefeito antes mesmo de tomar posse de sua cidade.
Não demorou muito para chegar a porta da Mansão Ambridge, essa diferente de sua própria residência, é espledidamente aberta e vasta, com um enorme jardim repleto de grama verde recém cortada. Serviçais andando de um lado para o outro, carregando baldes de água para regar os mais de mil vasos com flores das mais diversas cores. Lavanda, rosas, girassóis e tantas outras impregnavam o olhar com suas vibrantes cores. Adrian pode vislumbrar e sentir paz por um momento.
A sua frente o enorme casarão branco se mostrava imponente, cem janelas para abrigar a luz do dia e a escuridão da noite. Uma enorme varanda se abria no andar superior, sentada uma mulher observava seus serviçais com um parassol e refrescos a mesa. Tomou um delicado gole enquanto observava o jovem que se aproximava, no momento em que as cores da camisa finalmente entraram em sua visão ela se levantou e chamou por seu marido.
As portas se abriram revelando um casal, o homem trajado com roupas finas de cor púrpura, a mulher com um elegante vestido em um azul profundo como safíras, ambos o contemplaram e alegremente o reverenciaram.
"É um prazer recebê-lo Lorde Adrian" disse o homem cortês.
"O prazer é meu Lorde Carlton, Lady Amelie" Adrian fez uma longa mesura retirando o chapéu de seus cabelos e pondo em seu peito.
"Venha, deve estar a procura de seu primo, enviamos um mensageiro mas deve ter se perdido, as ruas até a casa de Lady Margot estão complicadas estes dias, por favor entre" convidou Lady Amelie com um sorriso vibrante.
Adrian ao observar o interior da enorme residência teve um pensamento em sua mente, 'Extravagante'. As paredes todas de pedras brancas, limpas e polidas regularmente, tapeçarias e cabeças de cervos pairavam sobre sua cabeça, o observando, as escadas de madeira brilhavam e cada candelabro com velas eram feitos em ouro e prata.
"Nos acompanhe até a sala, Peter está com nossa adorável Jeanne, eles devem descer em instantes, dever estar faminto, Reginald, nos traga refrescos e algo para comermos" ordenou Lorde Ambridge com gestos rápidos.
Às pressas Reginald retornou com o desejado, uma pequena foi posta próxima a poltronas vermelhas trazidas do Norte. Adrian se sentiu desconfortável ao se sentar, o amolfadado leve demais para seu gosto.
"Então como está a senhora sua tia, não a vejo mais no círculo das mulheres" indagou Lady Ambridge.
"Está melhorando, ainda não suporta a morte de seu terceiro marido, diz que foi envenenado, mas acredito que foi bom para ela, se livrar do bastardo, desculpe, perdão pelo linguajar"
"Não há com o que desculpar, todos sabiam que Salester não servia para a mulher, Amelie mesmo tentou avisar muitas vezes, mas simplesmente não a escutou"
"Ela é cabeça dura as vezes, mas sempre fez o certo para mim e meu primo"
"É claro meu garoto, ela o tem como segundo filho, desde o naufrágio, perdão não queria ter falado do assunto" se desculpou Lady Amelie cobrindo sua boca ao comer um pedaço de pão amanteigado.
"Não há problema, era apenas um jovem de três anos, não lembro muito deles, nem mesmo dos acontecimentos" mentiu Adrian, se lembrava vividamente do dia.
Mesmo que novo na época, recordava por completo do dia, de como as velas se quebraram contra as fortes ondas da maré, o som do sino da cidade de Delemont quando a notícia foi dada. Todos os Lordes compareceram ao funeral e o enterro na residência. O próprio imperador, o homem que nunca se ajoelhava perante ninguém o fez para o garoto, pedindo desculpas e perdão, pois foi ele o homem que ordenou a missão ao senhor seu pai, e por ele agora ambos eram apenas ossos embaixo da terra.
Adrian teve dificuldade para segurar uma lágrima que desejava descer de seus olhos. Segurou seu choro com um gole no doce vinho gelado que lhe fora servido. Então a porta para a sala se abriu, o jovem se pôs de pé ao ver seu primo caminhando para a sala, ao seu lado uma donzela, masi jovem que ele, de cabelos que só poderiam ser descritos por poetas e um rosto de derreter até mesmo metal.
"Lady Jeanne, é um prazer" disse Adrian com uma mesura.
"Lorde Adrian, veio em busca de seu primo presumo, pode ver que estpa são e salvo" disse apertando os braços ao redor dos de Peter.
"Adrian, você parece bem?"
"Bom, Lady Margot estava preocupada e vejo que não houve razão pois está aqui, mas temos um dever a cumprir meu caro primo e desejo que me acompanhe"
"Ah sim, a partida é hoje certo milorde, e o senhor o irá acompanhá-lo em Blawitz?" perguntou Jeanne.
"Sim, bom, acharam uma boa ideia promover um lorde a comandante das tropas, então irei com ele"
"Mas são notícias esplêndidas, ter uma posição no exército como seu pai o fez, tenho certeza que terá a mesma astúcia e inteligência" elogiou Lorde Ambridge se levantando.
"Nunca houve um líder melhor do que ele disso tenho certeza"
"Eu agradeço a hospitalidade Milorde e Milady, Lady Jeanne, mas creio que temos de partir"
"É claro iremos acompanhá-los até o porto"
"Sim, meu coração não irá suportar um mês distante de meu amado Peter"
"Perdão um mês?" indagou Adrian surpreso.
"Mas é claro, iremos nos juntar a corte em Balwitz após o nosso novo prefeito se instalar" respondeu Lorde Ambridge apontado para Peter.
"Por mais que eu não desejasse isso, mas Jeanne e papai sempre conseguem o que desejam" a voz veio do corredor, Adrian se virou para fitá-la.
Lady Marianne Ambridge, irmã mais velha de Jeanne, com cabelos negros e uma beleza exótica. Trajava uma roupa de cvalgada e cheirava a estrume, havia feno em suas botas e suor descendo de seu rosto.
Adrian fez uma mesura ela, andava de forma pouco graciosa mas havia beleza nela, retirou as luvas revelando mãos macias não dignas de trabalho, o jovem as tocou e lhes deu um beijo.
"Deveria estar feliz em ir para Blawitz, mal posso esperar por pisar naquele palácio que construíram" imaginou Jeanne.
"Bom, gostaria de permanecer aqui, mas como a irmã mais velha devo acompanhá-la, será um prazer ver ambos na cidade"
"Também gostaria, agora realmente temos de ir, obrigado pelos pães e pelo vinho e bom, nos vemos no novo mundo senhores" terminou Adrian tomando seu primo pelos braços e saindo da residência, Peter resmungando com ele enquanto seguiam caminho.
"O que pensou em fazer ontem a noite caro primo?" perguntou Adrian o parando em frente a entrada.
"Bom, primeiro desejei festejar, afinal diferente de você, gosto de despedidas"
"Você realmente é um idiota, poderia despedir dentro da residência, agora se envolveu em uma briga, machucou seu braço, dormiu ao lado de alguém que nem mesmo é sua prometida e está atrasado para ir ao novo mundo, onde se tudo ocorrer como planejado será prefeito por pelo menos cinco anos, e talvez por mais." Adrian estava nervoso e irritado em suas palavras, seu primo apenas o escutou com um sorriso em seu rosto.
"E você meu primo, conseguiu resolver todas as pendências, assim como um recém nomeado comandante deve fazer, deixe-me com meus afazeres. E sobre Jeanne, eu irei me casar com ela, minha mãe já está bem afeituosa em relação a ideia. Quem sabe, talvez devesse se casar com Lady Marianne, vi a forma como a cumprimentou, mas quem iria gostar de uma donzela que anda a cavalo e aprende esgrima"
"Cuidado com a sua língua" advertiu Adrian apontando para o primo.
"Ou o que, vai me bater, vá em frente, o faça"
"Senhores, temos apenas um único pedido" disse Lorde Ambridge impedindo que ambos os jovens se confrontassem com mais ferocidade.
"Poderiam permitir que nossa filhas os acompanhassem, Jeanne deseja ver Lorde Peter zarpar, e Lady Marianne deve acompanhá-la"
"Não que eu gostaria, mas é dever certo irmãzinha" resmungou Marianne descendo as escadas com seu traje de montaria.
"Só diz isso porque não tem um amado como meu Peter"
Adrian observou ambas as donzelas se aproximarem, com apenas um gesto de sua reverência agradeçou e concordou com o pedido de Lorde Ambridge. Duas carruagens foram preparadas fora do estabelecimento, os condutores vestidos com os trajes dos Ambridge e suas cores. As carruagens de madeira estavam adornadas com rubys e maçanetas de ouro, seu interior era estofado de forma confortável, deixando Adrian confortável.
Jeanne obrigou seu pai a permitir ir junto a Peter, sua irmã disse que era besteira, a jovem não deveria ir ao lado de um homem que não é seu marido. Seu pai no entanto permitiu, vendo a possibilidade de unir as casas, e também ordenou a Marianne acompanhar Adrian durante travessia até o porto de Delemont.
Marianne entrou na carruagem com suas botas ainda sujas de lama, fazendo uma grande bagunça no interior. Também trouxe um cheiro de estrume e suor, mas não pareceu incomodar Adrian, afinal não se importava com tais aromas, sendo ele mesmo um soldado imperial.
"Acredito tudo ser um grande espetáculo sem o devido sentido" disse Marianne mais alto do que pretendia.
"O que exatamente?"
"Perdão milorde, não deveria ter proferido meus pensamentos em voz alta"
"Por favor, continue, não é necessário segurar sua língua, afinal não há ninguém para nos ouvir" convenceu Adrian fitando a jovem atentamente.
"Bom, para começar a chegada de Lorde Peter em nossa residência, de forma abrupta e no meio da noite, desejava mandá-lo para a casa de sua mãe, mas minha tola irmã convenceu meu pai ao contrário, sempre foi a queridinha"
"Teria me poupado trabalho milady, e como meu primo acabou por ter uma sutura em seu ferimento"
"Fiz os remendos, aprendi com meu pai, sempre quis um filho e quando não teve me ensinou suas artes, já com Jeanne a tratou como uma princesa, lhe dando vestidos e ademais, mas não devia estar reclamando em seus ouvidos"
"Por favor, continue"
"Bem, Lorde Peter tinha um grande rasgo em seu braço, não era profundo felizmente ou estaria morto neste momento, mas sangrava e estava fedendo a bebida" disse Marianne olhando atentamente seu ouvinte com um pequeno sorriso aberto.
"Bom, o senhor meu pai decidiu por deixá-lo passar a noite, pela manhã enviou um mensageiro mas parece que nunca chegou a vocês ou se chegou o senhor já tinha partido a sua busca. Minha mãe permitiu que Lorde Peter dormisse sobre nosso teto, minha tola irmã quis dormir ao seu lado, felizmente meu pai teve consciência em negá-la, afinal poderiam ter se tornados homem e mulher, ela está apaixonada nele, falando todos os dias em como é bonito e valente, acredito que seja um tolo...." ela hesitou por um tempo em sua última fala antes de novamente se desculpar, Adrian apenas ignorou o fato.
"Ele é mesmo um tolo, e minha tia parece ser afeiçoada a Lady Jeanne, acredito que se casarão no momento em que estiverem em Blawitz"
"Outra tolice, meu pai não deveria deixá-la ir conosco, é a mais nova e deve aprender a etiqueta na corte imperial, não em terras que mal sabemos se estão bem guarniçadas" a jovem moça estava descontente, era perceptível no modo em que mordia seus lábios e balançava incessantemente sua cabeça.
"Devo concordar, afinal milady há um motivo para estarmos indo com dez mil soldados como escolta"
"Tantos milorde?" se impressionou Lady Marianne ao saber o número, acreditava que as terras eram mais seguras, em parte são, mas nada podia-se dizer além das regiões próximas a Blawitz e Forte Nigear.
"Por ordem de Vossa Majestade Imperial, tenho um aliado em forte Nigear, um capitão com o qual servi nas expedições ao norte, um Duncan Trenton, não o vejo há dois anos, será bom rever o canalha"
"E claro, o senhor irá comandar as tropas?"
"Sim, bom não desejaria fazer, afinal gostaria de permanecer aqui com minha tia, mas temo que o dever e a honra me chamam para outro lugar"
"E o que pode me dizer sobre as Terras além-mar?" perguntou Marianne demonstrando curiosidade pela primeira vez.
"Bom, dizem ser uma grande cidade, não maior e bela como Delemont, mas tem seus charmes, ouvi relatórios sobre suas construções e o povo que a hiabita ser amigável com estranhos, ela está próxima a chamada floresta negra, e após ela fica os campos, uma grande planície repleta de cores, segundo os relatórios é claro, mas desejo ver por mim mesmo"
"Milorde, acredito que julguei a viagem de forma errônea, será bom ter um rosto familiar em meio a todos os tolos, talvez me leve para estes campos"
"Será um prazer senhora, bom, parece que aqui termina nossa jornada por agora" disse Adrian ao avistar a enorme embarcação a sua frente.
A embarcação ancorada, vasta e imensa, com três andares e duzentos remos, sua popa feita em madeira e pintada em branco e dourado. Sua proa com dentadas de aço, pintadas de preto e com o rosto de um dragão. As velas, três ao todo, continham as coroas douradas da Casa Bourguinon, presas em mastros longos e grossos de madeira que brilhava depois de passado verniz.
O convés se apresentada repleto de soldados, vestidos com roupas leves de cores vermelho e azul, portando espadas em seus cintos e mosquetes em suas mãos. Alguns ainda tinham pistolas em suas costas, presas em um coldre de couro. Um homem roliço, de rosto arredondado e com um grosso bigode, esperava impaciente ordenando aos homens.
Diversos caixotes e barris eram transportados para os andares inferiores da embarcação, no leme um homem começava a preparar para zarparem. Adrian contemplou a grande embarcação, denominada Melyse, a embarcação de seu pai em homenagem a mãe. Destruida e reconstruída pelo melhores homens que o Imperador poderia fornecer, treze anos foram gastos para que novamente pudesse zarpar, e agora era dele.
"Impressionante não?" disse Lady Marianne se pondo ao seu lado.
"Sim ela é" Adrian respondeu com brilho em seu olhar.
"Lhe desejo uma viagem tranquila milorde"
"A senhora também até nosso próximo encontro"
"Aguardarei ansiosamente por ele" terminou Marianne com uma última reverência e retornou a carruagem, Adrian a observou, a jovem retornando o olhar e um pequeno sorriso.
O jovem então finalmente subiu na embarcação, um sentimento surgiu em suas pernas, sentido fraquejar ao pisar na madeira do convés. Lembrou de quando o viu pela última vez, Lorde Hector, trajado como o filho agora está, com um grande chapéu sobre os cabelos negros do homem, os soldados se curvando a ele. Agora se curvavam ao novo senhor seu primo, novo demais para suportar os afazeres de comandar uma cidade.
"Está atrasado, já deveríamos estar em alto mar neste momento, lhe disse para estar presente quando o sino do meio-dia tocasse, bom as três já bateram e só agora se apresenta" disse a voz por trás do bigode, o homem se aproximando com uma pequena revêrencia.
"Não se preocupe senhor, estamos aqui, agora onde está minha cabine, desejo descansar durante a partida" falou Lorde Peter sendo escoltado por dois soldados de mantos azuis com coroas douradas.
"Então este é o pentelho" proferiu o roliço.
"Sim Newport, meu primo, prefeito de Blawitz e provável marido de Lady Jeanne Ambridge"
"O que aconteceu para o atraso?"
"Deseja mesmo saber"
"Não, não desejo. Enfim, as demais embarcações estão há algumas horas a nossa frente, devemos chegar ao forte em uma quinzena, depois mais dois dias de marcha até Blawitz" disse Newport a seu comandante, planos efetuados pelos dois desde que a viagem fora ordenada.
"Iremos nos encontrar com Duncan, e ele se juntará ao exército, iremos deixar duzentos homens em Ngear para proteção e o rosto ficará próximo a floresta negra, no entorno da cidade"
"Sim, exército expedicionário nos chamaram, acredito sermos mais uma tropa de execução"
"Bom, o império tem suas maneiras. Diga-me a verdade, o que espera do novo mundo" indagou Adrian observando o rosto do companheiro.
"Bebidas, mulheres, confusões, talvez guerra."
"Temo também, afinal somos invasores"
"Sim, mas não é a guerra externa que irá nos derrotar se chegar a tal, temos poucos homens em comparação, mas somos ardilosos e possuimos fogo. Não, o que temo mais do que tudo é a guerra interna, um jovem de dezesseis anos comandando uma cidade, com leões a observar e tantos desejando um pedaço da carne, facilmente pode ser manipulado, e o império olha para esse jovem como um teste"
"Obrigado amigo, pela sinceridade, também acredito nisso, que bom que tenho você e Duncan para confiar"
"Não o vejo desde os conflitos no Norte, quando você era um rapaz ainda, será bom revê-lo, mas temo que antigas feridas sejam abertas"
"A feiticeira, bom, se vier a tal, peço que se lembram do juramento feito a mim"
"Nunca me esqueceria, o fizemos com nosso sangue"
"Também acho meu amigo, agora vamos zarpar, estamos atrasados demais"
"Sim, meu comandante" proferiu Newport com uma longa mesura assim como os demais soldados próximos.