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Chapter 155 - Pausas Silenciosas

— Mantenham o cerco até que a Sombra volte a tocar! — Leandro rugiu novamente, mas até ele sabia que a ordem estava se transformando em algo próximo a uma súplica.

A terceira interrupção na música pesava como uma maldição sobre as tropas de Insídia. A ausência do som fúnebre não apenas dissipava a névoa que antes permeava o campo, mas também a vantagem que haviam conquistado. Os soldados, agora sem o apoio dos mortos reanimados, voltaram a enfrentar os guerreiros inimigos em condições iguais. O equilíbrio quebrado logo voltou a revelar a dura verdade: Barueri estava melhor treinada, mais organizada e preparada para uma guerra prolongada.

Cada confronto era uma batalha desesperada. Espadas cruzavam-se em um balé mortal, mas os gritos de dor de Insídia começaram a sobrepujar os da oposição.

Ainda assim, não podiam reclamar. A presença de Nyx e seus mortos havia sido uma dádiva inesperada, transformando o curso da batalha em um instante. Mais de duzentos soldados inimigos haviam caído na investida inicial, e o sapo gigante, com seus saltos devastadores, era um furacão de destruição. Contudo, como qualquer tempestade, o impacto tinha um fim.

A música parou. 

O sapo colapsou.

A criatura desabou no centro do campo de batalha como uma muralha desmoronando, seu corpo desintegrando-se em uma massa fétida de carne e ossos. O som do impacto ressoou, seguido por um silêncio aterrorizante que parecia engolir o campo.

Aquele ser saltitante havia sido o catalisador do terror, e sua queda parecia anunciar uma nova fase da batalha. Os soldados de Insídia, especialmente Leandro, congelaram momentaneamente, processando o que havia acabado de acontecer.

"Ela está morta?"

O pensamento passou pela mente do general repetidamente enquanto absorvia o novo silêncio, mas sem tempo para hesitações, ele ajustou rapidamente as formações, ordenando que recuassem para evitar perdas desnecessárias. Para sua surpresa, percebeu que os bestiais, anteriormente consumidos por uma fúria irracional, também recuavam. Seus corpos tremiam, como se a explosão de energia anterior tivesse drenado a força daqueles que haviam sido consumidos pela insanidade.

No início da batalha, esses soldados haviam sido alvo de piadas incessantes. "Ovelhas de guerra? Só podem estar brincando!" Era o comentário mais comum entre os escamosos, que viam as criaturas como nada além de montarias inofensivas. Mas, agora, a visão das ovelhas em combate mudou completamente a percepção das tropas.

Essas montarias musculosas e ágeis moviam-se com uma graça mortal. Desviavam de ataques com precisão quase sobrenatural, e suas mordidas eram rápidas e brutais, rasgando gargantas com facilidade. Os cavaleiros, montados com destreza, controlavam o ritmo do combate em suas áreas, criando caos nas fileiras inimigas.

Para guerreiros robustos e orgulhosos, as duas dúzias de soldados não demoraram a demonstrar seu valor, e em pouco tempo, começaram a ajustar suas próprias estratégias para complementar os movimentos dos cavaleiros.

"Eles são verdadeiros predadores".

Um comentário que se tornou comum para os que as observavam de perto. Poucos sabiam que, mesmo anos depois, esse pequeno sub-batalhão ainda faria parte das histórias desta guerra.

Mas, no momento, a batalha estava longe de ser vencida.

Foi então, enquanto reorganizava as forças, que a música voltou a tocar.

Era diferente desta vez, mais fraca, quase abafada, como se a energia por trás dela estivesse se esgotando. Ainda assim, foi o suficiente para causar outra onda de caos entre os inimigos. A confusão se espalhou rapidamente, com soldados de Barueri hesitando, gritando e recuando diante do familiar terror dos mortos reanimados.

Leandro observou a cena com o cenho franzido, a mente trabalhando em alta velocidade. Não sabia se deveria dar novas ordens ou esperar, então viu Lucas, a poucos metros de distância, avançando com determinação renovada, derrubando dois inimigos de uma só vez.

O general ponderou por um instante, os gritos e o som do alaúde preenchendo seus ouvidos. Logo suspirou, aceitando sua decisão.

— De volta ao jogo — murmurou, ajustando sua postura e levantando a lança. — Novamente, comecem a esmagá-los!

As tropas obedeceram, seguindo as ordens com disciplina. Os escamosos avançaram para reforçar as laterais, enquanto os cavaleiros de ovelha se moviam com agilidade, atacando os inimigos em pontos estratégicos. Corrompidos diversos entravam em qualquer lacuna visível, cercando o inimigo, e os bestiais descontrolados traziam o caos para as fileiras de Barueri. 

A estratégia começou a mostrar resultados rapidamente. Mais uma centena de soldados de Barueri tombou, enquanto as perdas de Insídia foram mínimas, não passando de um décimo do número total de inimigos abatidos.

"A música durou menos do que antes…"

Foi impossível ignorar a segunda parada da música. O general escamoso não conseguia afastar o pensamento de que Nyx pudesse estar se aproximando de seu limite, ou que, dessa vez, realmente estivesse morta. Contudo, decidiu confiar nela, assim como os outros pareciam fazer, e não recuou o exército

E não foi em vão. A melodia voltou a ecoar após poucos minutos, mais uma vez espalhando pavor.

"Deve ser exaustivo manter os mortos…"

O pensamento passou pela mente de Leandro enquanto sua lança atravessava o estômago de dois soldados simultaneamente, o som da carne rasgada sendo abafado pelo clangor das armas ao seu redor. Sabia que precisavam aproveitar ao máximo enquanto Nyx continuasse tocando.

— Repassem as ordens! O foco deve ser totalmente na defesa sempre que a música parar! Pressionem com força máxima somente ao ouvirem o som!

Era uma estratégia viável, mas dependia inteiramente de quanto tempo a barda conseguiria continuar e, como esperado, a terceira vez que a melodia retornou foi ainda mais breve.

"Teremos que aproveitar o máximo que pudermos. Se durar só mais algumas vezes, já teremos o domínio completo do..."

Antes que pudesse terminar o pensamento, uma série de gritos à sua esquerda interrompeu sua linha de raciocínio. Ele virou a cabeça rapidamente e viu, para sua frustração, um grupo de soldados de Barueri rompendo o cerco que havia sido mantido a duras penas.

— Não! — gritou, enquanto disparava em direção à brecha.

Não podia deixar que tudo desmoronasse naquele momento crucial. Enquanto avançava, sua mente já calculava o que seria necessário para conter o avanço inimigo, mesmo que precisasse arriscar sua própria vida no processo. Foi durante tal investida que seus olhos captaram a grotesca cena.

— Mas que merda é essa…

Seis soldados estavam presos ao chão, uma única flecha os atravessando em um ângulo impossível. Vinha do topo de suas cabeças e saía por seus peitos, cravando-os no solo em uma posição horrenda, como se tivessem sido pregados à terra. O sangue escorria lentamente pelos orifícios da perfuração, tingindo o chão em um vermelho-escuro, enquanto os rostos congelados de horror pareciam olhar para o vazio.

Leandro rapidamente entrou em guarda, recuando com um salto. Antes mesmo de processar o horror que presenciava, ouviu um som cortante e viu, pelo canto do olho, o soldado ao seu lado cair, vítima do mesmo destino cruel.

— Merda…

Sem pestanejar, olhou para cima. Lá no alto, a dezenas de metros, dois pontos metálicos se moviam com uma precisão calculada. Era quase impossível acompanhá-los perfeitamente em meio à confusão, mas o brilho refletindo no sol denunciava o que eram.

"Arqueiros… e muito bons…"

Seu pensamento foi interrompido quando sentiu uma presença atrás de si. Com um movimento instintivo, sua cauda varreu o chão, derrubando um guerreiro que se aproximava furtivamente. Sem perder o ritmo, girou sua lança em um arco amplo e perfurou o pescoço do inimigo, que caiu com um gorgolejar seco.

— Soldados, se movam a todo instante! Tentem fechar novamente o cerco e fiquem atentos ao céu! — rosnou, a voz carregada de urgência.

Ele sabia que explicar a situação seria inútil, apenas traria um medo desnecessário, sendo que a prioridade era manter a formação e minimizar as baixas. Viu novos pontos negros surgindo ao longe no céu, e com uma expressão resoluta, começou a correr na direção de onde parecia vir o ataque.

Então, algo o atingiu.

***

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