O sol chegou com sua onda de calor infernal, mas o pior é estar na estação de trem no horário de pico.

Nathan é um dos milhares de trabalhadores que infelizmente passam por essa situação diariamente, sua mente que normalmente estaria irritada com tudo nessa hora do dia estava calma como um lago.

O motivo para a calma de Nathan era simples, a obra que ele tinha lido por tanto tempo terminou ontem.

´O protagonista cumpriu suas metas, mas no fim ele não conseguiu parar a 7 calamidade.` Um final que a comunidade achou ruim, mas que vendo de forma lógica era o final correto.

´O autor realmente quebrou a escala de poder com a 7 calamidade, quero dizer o protagonista também não era balanceado, mas pelo menos a gente conseguia entender como funcionava os poderes dele!` A 7 calamidade tinha um poder tão estranho que a própria comunidade ainda não conseguia entender como funciona.

´Se eu estivesse lá.` Um pensamento que todo leitor teve por uma obra, tentando ver as mudanças que sua presença causaria na história.

Nathan ficou tão perdido em seus pensamentos que não percebeu que ficou na frente da multidão, o trem apareceu no horizonte tirando Nathan de sua mente.

O som de passos surgiu atrás dele e quando Nathan se virou para ver o que estava acontecendo viu um cabelo vermelho como sangue, antes de ser empurrado para os trilhos.

Nathan sabia que morreria se não subisse na plataforma antes do trem passar por cima dele, porém apenas uma coisa o manteve paralisado nos trilhos.

A pessoa que o empurrou nos trilhos mudou de forma para assumir a aparência dele, as pessoas ao redor nem pareciam notar o fato de Nathan cair nos trilhos ou o seus gritos de desespero e medo.

O pior era o sorriso que esse ser carregava consigo, tanto desprezo e arrogância como se matar Nathan não fosse mais do que um pedrinha no caminho dele. 

Uma grande dor tirou a atenção de Nathan no horror que acontecia a sua frente, foi nesse momento que Nathan entendeu, ele foi substituído por um ser sobrenatural.

Normalmente nesse tipo de história Nathan acordaria no corpo de outra pessoa sem ter sentido dor ou superar como se nada tivesse acontecido com ele em primeiro lugar.

Infelizmente para Nathan a realidade não era um livro bonito ou simples palavras que ele poderia ignorar.

A dor de seus ossos sendo quebrados pelo impacto do trem, os sons de seu corpo chegando cada vez mais perto da morte era algo que ninguém gostaria de experiênciar pessoalmente.

A gravidade o puxou o seu corpo grudado na frente do trem para baixo, assim seu corpo caiu sendo despedaçado pelas rodas do trem.

Nathan morreu e por um breve momento sua mente pode aproveitar o doce silêncio trazido pelo fim, apenas para uma dor que não podia ser dita em palavras assumisse o lugar.

Sua existência começou a ser apagada e não de uma forma indolor, quase tudo sobre o ser conhecido como Nathan foi apagado restando apenas duas coisas.

A história que ele estava pensando segundos antes de tudo acontecer e um ressentimento sem fim pelo seu assassino.

´...` A dor parou e finalmente esse ser pode sentir algo diferente desde que nasceu.

Ele podia sentir o sangue correndo pelo corpo sendo bombeado pelo coração, mas a mente quebrada pela dor continuava a mesma.

[Foi detectado uma viajem não autorizada pelo deuses.]

[Os deuses o julgaram como inocente.]

[Os deuses da mente reconstruíram sua mente.]

[Habilidade Adquirida: Mente Fragmentada.]

[Você foi abençoado pelo deus da mente, Arduin.]

O ser sem nome se levantou da cama e percebeu que estava em um apartamento tão sujo que ele até confundiu com um lixão.

´Pelo menos a cama está limpa.` Diferente de todo o quarto a cama era extremamente limpa e organizada.

O ser levantou da cama e sem mesmo perceber sua expressão se transformou em uma expressão de nojo.

A sensação do chão grudando no pé, o ar fedido por não ter ventilação, o chão coberto por caixas de papelão e sacolas cheias de cinzas fizeram o ser correr para a porta do quarto.

O ar fora do quarto era tão mais fresco que ele não pode deixar de respirar profundamente por alguns segundos.

´Eu realmente estou vivo!` Um sorriso significativo surgiu em seu rosto, para esse ser o simples ato de respirar era algo a se comemorar.

Olhando em volta era óbvio para ele que esse lugar deveria ser a sala de estar, mas não tinha um único movel nesse lugar, era uma sala completamente vazia.

A cozinha por outro lado era equipada até demais, um fogão de última geração, uma geladeira gigantesca e todos os utensílios de cozinha eram tão limpos que refletiam a luz.

´... Que sensação estranha.`

A mente do ser demorou para perceber por estar muito feliz com a ideia de viver uma vida, mas no momento que essa felicidade diminui sua mente começou a trabalhar juntando todas as informações que ele tinha visto para formar uma hipótese de quem ele possui o corpo.

Ele abriu a porta da geladeira para confirmar suas suspeitas.

´Como esperado.` A geladeira estava cheia de marmitas, todas as marmitas estavam com um papel dizendo as calorias da comida.

´... Por que entre todo o elenco tem que ser o rival do protagonista.` Ele não pode deixar de soltar um suspiro cansado ao imaginar o trabalho que essa mudança traria.

Chiba Hotaru, conhecido como o marcado pelas chamas nesse mundo e como o rival do protagonista na terra. 

[Marca] é um poder especial que quase ninguém tem, você tem que nascer com uma [Marca] para poder a utilizar.

A [Marca] de Hotaru no começo apenas o permite conjurar e controlar o fogo da forma que quiser, mas no futuro evolui para se tornar em algo que poderia o transformar em um exército de um homem só.

´Era dito que ele era bonito, mas como isso fica na vida real?` Seu interesse acendeu como um incêndio florestal, rápido e sem ninguém que poderia o parar.

"Hehehe... uma visão que ninguém viu ou verá na vida." Um leve sorriso cobriu seu rosto ao pensar que somente ele poderia ver os rostos dos personagens da obra.

A porta do banheiro foi aberta com tanta força que bateu na parede causando um barulho estrondoso que ecoou pelo apartamento, mas para Hotaru isso não importavam, enquanto ele corria para o espelho do banheiro.

´Eu realmente sou Hotaru!` Um felicidade tão forte tomou Hotaru que mesmo que tentasse ele não conseguiu parar o sorriso gigantesco de cobrir o seu rosto.

O sorriso acabou revelando os dentes brancos e afiados que esse corpo possui.

A esclera do olho era escuro como tinta, a íris azul, pupila branca e a pele desse corpo sendo um tom cinza escuro era a maior prova que ele realmente não estava mais na terra.

Pelo que ele lembrava na terra não tinha ninguém com esse tom de pele exótico.

Cabelos vermelhos amarrados em uma trança de 1 metro e os chifres negros que saiam da testa só entregavam ainda mais o fato de ele não estar no corpo de um humano.

Ele era agora parte da raça Dema ou como eles são normalmente referidos pelo resto do mundo: Demônios.

´... Cabelos vermelhos ...`

O sorriso de Hotaru desapareceu quando a imagem no espelho assumiu a forma de seu assassino.

"..." Foi um breve momento, mas era o suficiente para trazer toda aquela dor e ódio que ele tentou esconder pensando em sua nova vida.

"MALDITO!!" O punho se encontrou com o frio vidro do espelho, o rachando e quebrando em centenas de pedaços.

Infelizmente para Hotaru aquele soco não resolveu o rancor acumulado de toda a dor que a morte trouze e vazio deixado por não lembrar que ele um dia foi.

Todo aquele sofrimento para que o assassino esteja aproveitando da vida que era dele em primeiro lugar?

Não, Hotaru vai o fazer lembrar o motivo pelo o qual o ditado "Cortar o mal pela raiz." existe em primeiro lugar, nem que seja a última coisa que ele faça.