A alegria da chegada de Lyra foi interrompida por um tremor sutil que percorreu a terra. O ar ficou denso, carregado de uma energia estranha que fez os cabelos de Razael se arrepiarem. Ashley, sempre atenta aos detalhes, percebeu a mudança na atmosfera e seus olhos se estreitaram em alerta.
— O que foi isso? — perguntou Lyra, sua voz agora carregada de apreensão.
— Não sei, mas não é bom — respondeu Ashley, seus sentidos em alerta máximo.
Razael, ainda atordoado pela adrenalina da batalha, sentiu um aperto no peito. A sensação estranha que o invadiu era familiar, uma lembrança vaga de algo terrível que ele havia esquecido.
— Eu… eu não sei, mas sinto algo ruim. Uma sensação de… perigo — disse Razael, sua voz tremendo levemente.
A floresta ao redor se tornou estranhamente silenciosa. As aves que antes cantavam alegremente pararam de repente, como se tivessem sentido a mesma ameaça. Uma névoa densa começou a se formar, envolvendo as árvores em um véu opaco que obscurecia a visão.
— Temos que sair daqui — disse Ashley, sua voz firme, apesar do medo que sentia.
Ela agarrou a mão de Lyra e puxou-a para trás, enquanto Razael, ainda atordoado, as seguia. A névoa se intensificava, engolfando-os em um mar branco e gélido.
— Para onde vamos? — perguntou Lyra, sua voz quase inaudível no meio da névoa.
— Para a cidade flutuante. É o lugar mais seguro agora — respondeu Ashley, guiando-as através da floresta.
A névoa parecia ter vida própria, envolvendo-os em um abraço frio e úmido. O cheiro de terra úmida e musgo se misturava a um odor nauseante que causava náuseas. A cada passo, a sensação de perigo aumentava, como se algo invisível os observasse.
— Raze, você está bem? — perguntou Lyra, preocupada com o amigo.
Razael, ainda lutando contra a sensação de déjà vu, conseguiu acenar com a cabeça. As lembranças vagas que o assolavam se intensificavam, como pedaços de um sonho horrível que ele tentava desesperadamente esquecer.
— Eu… eu não sei. Algo me diz que essa névoa… ela guarda um segredo. Um segredo terrível — disse Razael, sua voz trêmula.
A névoa se intensificou, obscurecendo completamente a visão. O som de seus passos se tornou o único som audível, ecoando no silêncio opressivo da floresta. De repente, um rugido assustador ecoou através da névoa, seguido por um estrondo que fez a terra tremer.
— O que foi isso? — exclamou Lyra, seu corpo tremendo de medo.
Ashley apertou a mão de Lyra com força, seus olhos fixos na névoa, procurando a fonte do som.
— Não sei, mas temos que correr — disse Ashley, puxando Lyra e Razael para frente.
Eles correram cegamente através da névoa, o medo os impulsionando para frente. A sensação de perigo era avassaladora, e a névoa parecia se alimentar do medo deles, tornando-se mais densa e opressiva a cada passo.
De repente, a névoa se dissipou, revelando uma clareira assustadoramente familiar. No centro da clareira, uma figura imponente se erguia, envolta em uma aura sombria. Seus olhos brilhavam com uma luz vermelha, e sua boca se curvava em um sorriso cruel.
— Bem-vindos de volta, meus queridos. Eu os esperava — disse a figura, sua voz profunda e ameaçadora.
Razael, Lyra e Ashley se congelaram, seus corpos tomados pelo terror. A figura era um ser de pura escuridão, uma personificação do medo e da destruição.
— Quem… quem é você? — perguntou Lyra, sua voz tremendo.
— Eu sou aquele que você esqueceu. Eu sou aquele que você teme. Eu sou a sombra do seu passado — respondeu a figura, sua voz ecoando pela clareira.
Razael, finalmente reconhecendo a figura, sentiu um frio gelar sua espinha. Era o ser que ele havia jurado esquecer, o ser que havia assombrado seus sonhos por anos. Era o ser que havia destruído sua vida.
— Não… não pode ser — murmurou Razael, seus olhos arregalados de horror.
— Sim, eu voltei. E desta vez, eu não vou deixá-los escapar — disse a figura, seus olhos vermelhos brilhando com uma fúria implacável.
A batalha que se seguiu foi uma luta desesperada pela sobrevivência. Ashley, com sua habilidade com a espada, lutou com bravura, mas a força da figura era sobre-humana. Lyra, com sua magia de cura, tentava proteger seus amigos, mas seus poderes eram insuficientes contra a escuridão que emanava do ser.
Razael, ainda atordoado pela revelação, lutou contra a sensação de impotência que o consumia. Ele sabia que tinha que fazer algo, que tinha que proteger seus amigos, mas a sombra do passado o oprimia, impedindo-o de agir.
— Raze, você tem que lutar! Você tem que se lembrar! — gritou Lyra, sua voz cheia de desespero.
As palavras de Lyra despertaram algo dentro de Razael. Ele se lembrou dos ensinamentos de seu mestre, da promessa que havia feito a si mesmo. Ele se lembrou do poder que possuía, do poder que poderia usar para enfrentar a escuridão.
Com um grito de raiva, Razael concentrou toda sua energia mágica, lançando um feitiço de fogo poderoso em direção à figura. As chamas se espalharam pela clareira, envolvendo a figura em um mar de calor e luz.
— Você não vai me destruir! — gritou a figura, sua voz cheia de fúria.
A batalha continuou, cada um lutando com todas as suas forças. A clareira se tornou um campo de batalha, a magia e a escuridão se entrelaçando em uma dança mortal.
Mas a sombra do passado era forte. Ela se alimentava do medo de Razael, da culpa que ele carregava. A cada ataque, a figura se tornava mais poderosa, sua aura de escuridão se expandindo como uma mancha de tinta.
Razael, sentindo sua energia se esgotar, sabia que precisava de algo mais. Ele precisava de algo que pudesse superar a escuridão, algo que pudesse quebrar o ciclo de medo e culpa.
Ele fechou os olhos, concentrando-se em sua memória mais profunda. Ele se lembrou de uma promessa que havia feito a si mesmo, uma promessa de que nunca mais deixaria a escuridão vencer.
Com um grito de coragem, Razael invocou um poder que ele nunca havia usado antes. Ele canalizou toda a sua energia, toda a sua dor, toda a sua raiva, e a transformou em uma explosão de luz pura.
A luz brilhou com uma intensidade cegante, banindo a escuridão e incinerando a figura. A clareira ficou em silêncio, a névoa desapareceu, e o ar voltou a ser fresco e puro.
A visão de Razael começou a falhar. O chão abaixo dele parecia girar, e sua visão ficou turva. O esforço de usar um poder tão intenso havia drenado suas forças. Ele se viu caindo no chão, sem conseguir manter a consciência.
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Despertar
Razael despertou com um sobressalto, sua respiração ofegante e o corpo suado. Ele estava deitado no chão da floresta, com o rosto contra a terra fria. O som da chuva batendo no solo e o aroma da terra úmida preencheram seus sentidos. O sol estava se pondo, lançando um brilho fraco através das copas das árvores.
Lyra e Ashley estavam ao seu lado, seus rostos preocupados e alarmados. A névoa havia desaparecido, e a clareira estava agora tranquila, sem sinais da figura sombria que Razael havia enfrentado.
— Raze, você finalmente acordou! — exclamou Lyra, a voz carregada de alívio.
— Você estava desmaiado — explicou Ashley, ajudando Razael a se sentar. — O que aconteceu? Você parecia tão aflito.
Razael, ainda atordoado, olhou ao redor, tentando se situar. A clareira estava intacta, a névoa e a figura sombria eram agora apenas uma memória vaga e perturbadora.
— Eu… eu não sei. Eu estava lutando contra algo, uma sombra do passado... — murmurou Razael, sua voz fraca. — Foi tão real... tão aterrorizante.
Lyra colocou uma mão reconfortante no ombro de Razael, enquanto Ashley examinava o entorno com um olhar atento.
— Vamos nos assegurar de que estamos seguros e depois você pode nos contar tudo — disse Lyra. — Mas, por agora, precisamos sair deste lugar e buscar abrigo.
Razael assentiu, tentando se recompor