Eltanin fechou os olhos e pressionou a testa com o polegar e o indicador. A pequena dor de cabeça, originada do cálice de prata de vinho que Eri lhe oferecera, havia piorado.
O dia todo, ele estivera pensando sobre Felis, Rei do Reino da Hidra, imaginando quando seria o próximo ataque e como ele iria proteger sua besta de ser exposta. Ele queria se divertir esta noite. Mas seus pensamentos retornavam a Felis até que… ele a viu.
Dizia-se que a Hidra gerava lobisomens com alma de demônio, seus corpos tatuados mas sem um padrão definido. Eles cresciam como uma hidra com o passar da idade, esticando-se onde pudessem. Freqüentemente, os homens eram marcados com tinta preta que se espalhava por todo o rosto.
Havia um padrão nos ataques de Felis - aconteciam uma vez a cada cem anos. Nos últimos trezentos anos, seu meio-irmão havia atacado três vezes, cada uma pior que a anterior.
Na última vez, Felis conseguiu capturar Eltanin e acorrentá-lo, usando todo método possível para provocar sua besta, para expô-la. Ele queria o controle sobre ela, pois era o avatar de Deus. Certa vez ele disse, "Sua besta é extremamente poderosa. Sucumba a mim, Eltanin, e o mundo será nosso. Você e eu somos os dois lados de uma moeda, um demônio e um deus." Ele havia colocado visões de impérios através dos reinos aos pés de Eltanin e prometeu poder infinito a ser conferido em suas pontas dos dedos. Muitos haviam caído nessa tentação, mas não Eltanin.
"Vá se foder!" Eltanin cuspiu, controlando a besta dentro de si. E depois disso, ele desencadeou sua ira com a ajuda de Rigel, que o havia rastreado. Quando voltou, as palavras de Felis ecoaram no ar. 'Voltarei por você ou pela sua companheira.'
Eltanin tinha quinhentos anos. Ele alcançara a imortalidade quando tinha trinta.
Eltanin passou esse tempo protegendo seu reino de inimigos formidáveis. Junto com seu amigo Rigel e seu General que servia como seu beta, Fafnir, eles expandiram seu alcance. As batalhas eram ferozes, mas com as astutas estratégias de Eltanin, eles sempre saíam vitoriosos. E agora, o reino de Draka era o maior de todos em Araniea.
Os outros reinos queriam ter algum tipo de conexão com ele. Como Eltanin ainda era solteiro, enviaram todas as mulheres elegíveis que tinham para casar com ele, fossem suas irmãs ou suas consortes. Recentemente, um dos reis até enviou suas irmãs gêmeas, oferecendo-lhe o par se ele assim desejasse. Eltanin se utilizou delas para prazer e depois as mandou de volta. Ambas com lágrimas nos olhos quando saíram, implorando para ele dizer-lhes o que haviam feito de errado.
Seu reino estava estável, mas segundo os Anciãos, uma grande ameaça pairava sobre ele, seu reino e Araniea. Se ele não encontrasse sua companheira logo, ele finalmente perderia tudo e pereceria. Sua besta precisava da força de uma companheira. Eles o lembraram da profecia de seu nascimento.
"Nascida das asas
Tem um presente
Alguns dizem que é uma maldição
Cabelos prateados e dourados
Como lua cheia no verso.
Encontre-a
Ou ela desaparecerá."
Eltanin desprezava os Anciãos. Sua besta era forte demais, e ele tinha confiança em si mesmo de que poderia derrotar Felis sozinho, com ou sem sua companheira. Felis, o maldito lobisomem, era prole de um rei-demônio. Não era fácil matar Felis, pois matá-lo exigia magia antiga, um poder que não podia ser encontrado em pergaminhos empoeirados ou línguas místicas. Ele precisava de alguém para traduzir para ele o livro maculado de arcana.
Mais uma vez, ele pressionou a testa e balançou a cabeça esperando sacudir a dor de cabeça, mas ela o agarrava com força, como um torno. Ele abriu os olhos para o som alto dos tambores e violinos e examinou as garotas ao seu redor. Algumas dançando, algumas exibindo seus corpos, algumas lançando olhares furtivos para ele enquanto outras fantasiavam sobre ele. Por que ele precisaria de uma esposa quando tinha tantas mulheres para escolher?
Seus olhos voltaram a procurar a garota que era o objeto de sua fantasia esta noite. Ela não estava mais em seu lugar. Um calafrio involuntário de medo o percorreu. Um que ele nunca havia sentido por nenhuma outra mulher, nem mesmo por sua mãe, que era uma deusa do mar.
Ele examinou o salão com seus olhos pesados, procurando pelo chiffon branco ou pelo cabelo loiro pálido. Ela não estava em lugar nenhum. Nem mesmo Petra estava lá. Do canto de sua visão, ele viu um clarão de branco no topo da escada. Ele se levantou, balançando violentamente sobre seus pés.
"M'lord," Eri chamou docemente enquanto corria para auxiliá-lo. "Deixe-me ajudar você." Ela pegou seu braço e enrolou em torno dos ombros dela e o olhou de forma insinuante. Por dentro, ela estava feliz que seu plano funcionou tão rápido e tão bem. Esta noite, ele seria dela. Ela gritava por dentro.
"Não me toque, porra nenhuma!" Eltanin estalou, rosnando com uma voz arrastada. Ele sacudiu o braço para longe. "E saia deste palácio antes que eu recobre meus sentidos, pois suspeito que você misturou uma droga no meu vinho."
Eri empalideceu, sua pele coberta por uma fina camada de suor frio. "N— Não, Sua Alteza. Eu não fiz isso!" Ela não esperava que ele descobrisse. Era como se ele tivesse jogado um balde de água fria em seus planos. Não, como um balde de lava quente das Montanhas Presa Negra.
"Saia," ele latiu. "É apenas por causa de seu pai que não estou te jogando nas masmorras. Esse ato poderia ter te colocado em sérios problemas." O pai de Eri, Enki, controlava o Golfo de Enki-A e era o rei de Eridanus. Um reino pequeno, mas vital para o comércio. Tinha muitos navios que pertenciam a Eltanin — tanto para comércio quanto para propósitos militares.
Depois de lançar um olhar fulminante, Eltanin fez seu caminho pelo meio da multidão, dirigindo-se furiosamente para as escadas.