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Estrela
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Essa viagem com o Artem e os outros foi divertida. Consegui conhecer novas pessoas, mais mulheres, que não odiavam minha própria existência. Pude experimentar algumas comidas maravilhosas que eram simplesmente incríveis, embora todo aquele açúcar tenha me deixado um pouco enjoada. Definitivamente não estava acostumada a tanta sobremesa, mas amei do mesmo jeito. E gostei que a Sydney, a Criztie e a Dakotah acharam que eu era uma boa pessoa. Elas pareciam querer continuar conversando para sempre, mas o Artem disse que precisávamos voltar para que elas pudessem terminar o trabalho do dia. No geral, foi perfeito, pelo menos aos meus olhos.
Não estava com fome de almoço quando voltamos para casa, então decidi apenas ir para meu quarto e ler. Não esperava que logo depois de chegar ao meu quarto haveria outra batida na porta. Quando abri a porta quase ofeguei, mas me controlei.
"Olá Estrela, posso entrar?" Artem parecia tão educado e calmo falando, mas vi os nervosismo em seus olhos. Assenti e me afastei da porta.
Não sabia o que ele queria, mas sabia que não estava aqui por algo ruim. Ainda assim, a visão dele sempre fazia meu coração acelerar e meu estômago ficar estranho, como se estivesse pulando ou girando sem parar. Não era necessariamente uma sensação ruim, na verdade parecia que eu estava animada para vê-lo. Por que eu sentiria isso?
Observei enquanto Artem entrou e fechou a porta. Ele tinha algumas caixas em suas mãos e usou o pé para fechar a porta. Depois de entrar completamente, ele me olhou com uma expressão gentil e falou novamente.
"Devemos sentar no sofá ou na mesa?" Ele estava me deixando escolher? Aquilo ainda era novidade para mim.
[Sofá] Respondi com o bloco de notas. Vi a leve tristeza em seus olhos quando teve que ler minha resposta, mas ele não disse nada sobre isso.
"Parece bom, será mais confortável de qualquer maneira." Ele sorriu e liderou o caminho até o sofá. Colocou as caixas na pequena mesa de centro (aprendi o que era com o Chay), então se sentou no sofá com um suspiro de alívio.
"Obrigado por me deixar entrar." Ele parecia feliz e genuinamente não parecia irritado comigo em nada.
[Por que eu não deixaria?] Perguntei a ele escrevendo, mas ainda o olhava confusa.
"Porque você não precisa, se simplesmente não estiver a fim ou se estiver se sentindo sobrecarregada, ou qualquer coisa. Você não é uma convidada nesta casa nem uma prisioneira. Quero que você pense nisso como seu novo lar, um lugar onde se sinta segura, protegida e à vontade. Nunca vamos te forçar a fazer algo com que não se sinta confortável."
[Sério?] Quase senti vontade de chorar, conseguia sentir a ardência das lágrimas nos meus olhos.
"Sério." Ele sorriu para mim com uma cara tão bonita que fez meu coração acelerar ainda mais do que já estava.
Havia algumas caixas diferentes que Artem tinha trazido consigo, a primeira delas era mais algumas sobremesas de mais cedo, caso eu quisesse mais, mas então havia também álbuns de fotos e livros sobre a família dele e a alcatéia em geral.
"Pensei que você gostaria de saber quem somos todos nós, num nível mais profundo." Assenti com a cabeça, indicando que de fato era uma coisa boa e que eu queria saber.
Não sabia o que estava causando a mudança em mim a acontecer tão drasticamente, mas eu estava começando a me sentir mais à vontade a cada dia que passava. Artem não era como eu esperava que fosse, Chay era incrível, Kent era uma das pessoas mais legais que eu já conheci, e agora eles tinham trazido meus primos que eu tinha tanto saudade. Como eu poderia não gostar daqui? Como eu poderia não sentir tudo o que Artem queria que eu sentisse? Por que eu estava realmente esperando que Artem viesse me ver ainda mais?
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Artem
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Estrela parecia tão feliz durante todo o dia que eu simplesmente não conseguia me ajudar. Eu queria passar mais tempo com ela. Eu queria que ela me conhecesse e a todos nós aqui na casa. Eu queria que ela soubesse de tudo, se era isso que ela também queria. Eu queria que isso fosse perfeito para todos nós.
Levei os doces restantes para o quarto dela, para que ela pudesse ter mais, se quisesse, antes que a horda faminta de demônios chamados nossos amigos e família pudessem devorá-los. Também levei álbuns de fotos e registros que diziam respeito à minha família e à alcatéia. Eu ia garantir que ela não estivesse confusa ou questionando nada. Eu ia ser, literalmente, um livro aberto com ela.
Passamos as próximas horas conversando sobre como era a vida na alcatéia ao crescer e minha infância.
"Esta aqui é uma foto minha e dos meus amigos mais próximos quando eu tinha sete anos. Esse sou eu." Apontei para o mais alto dos garotos do grupo. "Esse é o Morgan, o Toby, o Kent e o Lenny."
[Onde está o Lenny agora?] Eu sabia que ela iria querer saber disso, todos os meus amigos ainda estavam comigo exceto ele. [Vocês pararam de ser amigos?] Ela acrescentou à nota.
"Não, nunca paramos de ser amigos, e não houve um dia se quer que eu não pensasse nele desde que eu tinha oito anos." O olhar dela me disse que ela podia ver a dor e o sofrimento nos meus olhos.
Eu podia dizer que ela queria perguntar sobre o Lenny, sobre o que tinha acontecido, mas ela não perguntou. Eu sentia que ela não queria parecer invasiva. Bem, se ela queria saber, eu contaria para ela.
"Lenny era um Ômega. Quando completou seis anos seus pais e o resto de sua família descobriram sua posição. Depois disso eles não o amaram ou cuidaram dele mais. Mas o pior de todos era o tio dele."
[Como o meu?] Ela pareceu já encontrar sua conexão com o garotinho que havia sido perdido há tanto tempo.
"Sim, como o seu. Seu tio o odiava, ele e qualquer um como ele. Ele suportou espancamentos, fome, prisão. Lenny era apenas um garotinho, mas era meu melhor amigo. Nossas famílias eram próximas, e passávamos muito tempo juntos quando éramos crianças. O problema era que sua família acreditava nessas tolices de que lobos fracos eram inúteis. Minha família nunca foi assim, minha família acreditava que força era relativa e poderia sempre ser mudada. Sem treinamento você poderia ficar mais fraco, com treino você poderia sempre ficar mais forte." Senti as emoções que eu tinha reprimido por quinze anos começarem a surgir novamente.
Estava sentindo a raiva, a fúria, a tristeza, a depressão. Tudo o que eu tinha escondido por muito tempo estava transbordando de mim.
"Lenny era deixado sair cada vez menos ao longo do ano desde que fez sete até ele ter oito anos. Ele vinha nos ver quando podia, mas nunca era frequente. Mas um dia ele simplesmente parou de nos visitar. Eu nunca mais o vi." Sentia as lágrimas começarem então.
Estrela me olhou com olhos compassivos. Eu podia ver as lágrimas empáticas se formando em seus olhos.
"O tio de Lenny era um dos piores homens que eu conheci, até o seu tio, é claro. Lenny nunca teve a chance na vida, ele nasceu na família errada. Foi Lenny que me inspirou a assumir o comando da alcatéia, foi quando descobri o que tinha acontecido com ele que fiz aquela promessa a mim mesmo. Foi também então que eu me transformei pela primeira vez. Eu era a pessoa mais jovem a se transformar na nossa alcatéia. E tudo que eu podia pensar naquele dia era que eu queria matar o tio do Lenny, eu queria matar o homem que tinha roubado a vida de uma criança inocente. Eu soube desde aquele dia que nunca pararia, nunca mudaria de ideia, e não me importava quem se colocasse no meu caminho. Eu ia assumir o controle da alcatéia, e ia libertar todos os Ômegas que eu pudesse."
Estrela parecia ter alcançado seu limite. As lágrimas que ela vinha lutando para segurar finalmente transbordaram de seus olhos. Ela estava chorando e era tudo minha culpa.
Mas no segundo seguinte, antes que eu pudesse me desculpar, ela envolveu seus braços em volta de mim. Nós estávamos sentados lado a lado no sofá, não muito próximos, mas ainda assim perto o suficiente para que nossos joelhos ocasionalmente se esbarrassem enquanto olhávamos as fotos. Mas ela apenas se inclinou e passou os braços em volta do meu pescoço.
Ela me puxou para baixo, para perto dela, pousando minha cabeça em seu ombro. Quando suas mãos começaram a esfregar calmamente minhas costas, eu soube o que ela estava fazendo. Ela estava me confortando. Ela estava tentando me fazer sentir melhor, acalmar meu coração partido. E naquele momento meu amor por ela só cresceu.