Quando Kael chegou, Lia já havia acabado com todos os cultivadores. Ele ficou verdadeiramente impressionado.
"Isso foi incrível!" exclamou ele.
Yan Xi também ficou impressionada. Lia era muito poderosa, mesmo que ainda não tivesse recuperado toda a sua força. Ela derrotou apenas alguns cultivadores do Núcleo Espiritual e do Reino da Condensação, mas as técnicas que utilizou e a facilidade com que as aplicou foram suficientes para demonstrar suas capacidades.
Lia deu um sorriso, satisfeita com a reação deles. Em seguida, ficou séria.
"Agora que lidamos com esses cultivadores, será apenas uma questão de tempo até que descubram nossos rastros."
"Isso ia acontecer mais cedo ou mais tarde!" respondeu Kael, sem se preocupar muito com o assunto. Quando saiu da caverna, já estava preparado para esse tipo de situação.
"Vamos ver se eles têm alguma coisa útil."
Terminando de falar, Kael começou a revistar os corpos dos cultivadores. Os homens não possuíam nada de muito valioso, o que já era esperado por ele. Conseguiram apenas algumas pedras espirituais de nível baixo e uma quantidade ainda menor de pedras espirituais de nível médio.
"Essas pessoas eram realmente pobres," disse ele, desanimado.
"Bom, você tem muitas coisas valiosas. Dificilmente algo que um cultivador do Núcleo Espiritual possua chamará sua atenção, a menos que seja o líder de um clã," respondeu Lia, com naturalidade.
Kael, herdeiro de um grande clã, tinha acesso a inúmeras riquezas. Além disso, recebeu algumas técnicas do Clã Mu, pílulas e elixires de alta qualidade fornecidos por Lia, possui a Matadora de Dragões — uma arma de alta qualidade — e a Árvore da Vida, um tesouro único. Com tantos tesouros, era difícil se sentir atraído por algo que aqueles cultivadores pudessem possuir.
"Talvez encontremos algo bom com os cultivadores do Reino da Alma Nascente do Clã Sombra Mortal," continuou Lia, com um olhar frio.
"Prefiro que deixemos esse lugar sem encontrar com eles," respondeu Kael, ciente de que isso era muito improvável.
Lia apenas sorriu e não acrescentou mais nada.
"Vamos!" disse Kael, e eles começaram a correr novamente.
Depois de um tempo correndo entre as árvores, a vegetação foi ficando mais rala, até que chegaram ao limite da floresta. Diante deles, estendia-se uma paisagem aberta e árida, parecida com o caminho que Kael havia percorrido antes de entrar na floresta.
Porém, ele não parou; afinal, precisava continuar nesse caminho se quisesse escapar do território do Clã Sombra Mortal.
Como esperado, não demorou muito para encontrarem mais cultivadores. No momento em que os avistaram, esses cultivadores começaram a correr para relatar sua presença, mas Kael e Lia foram rápidos em acabar com eles, deixando um rastro de cadáveres por onde passavam.
Contudo, as coisas estavam fadadas a piorar, pois passaram a encontrar cada vez mais cultivadores. Mesmo que a maioria fosse do Reino da Condensação, a quantidade era enorme, e eles se espalhavam em todas as direções enquanto fugiam. Mesmo com Kael e Lia utilizando os Passos do Vazio, estavam tendo dificuldade para alcançá-los. Até que, finalmente, alguns cultivadores conseguiram escapar.
"Droga! Agora eles vão nos encontrar mais rapidamente," xingou Kael.
"Talvez devêssemos encontrar outro local onde você possa construir uma matriz, para passarmos mais alguns dias escondidos," sugeriu Lia.
Kael concordou; dessa forma, os oponentes poderiam perder seus rastros novamente, como acontecera antes.
"Construir a matriz no meio do nada não será viável, pois podem acabar tropeçando em nós enquanto procuram. Temos que encontrar outra montanha ou uma caverna já existente," disse ele.
Então, eles continuaram correndo, procurando um terreno adequado para construir novas matrizes.
*
Depois de receber os relatórios, Qiang Lei correu para a região onde Kael havia sido encontrado. Ao longo do caminho, encontrou os cultivadores mortos e seguiu os rastros deixados por eles.
"Os relatórios dizem que Kael está com outra pessoa. Quem poderia estar ajudando-o nesse momento?" questionou um dos cultivadores que o acompanhava.
Qiang Lei balançou a cabeça. "Isso é bem estranho. Ninguém em sã consciência se envolveria com Kael – afinal, todos sabem que estamos atrás dele. Ajudá-lo é o mesmo que cavar a própria cova."
Todos ficaram intrigados com a situação; além disso, os relatórios informavam que a pessoa que ajudava Kael era uma mulher incrivelmente bela e extremamente poderosa. Alguém com tal cultivo não seria idiota.
"Ele some por tanto tempo e reaparece com uma mulher ajudando-o. Será que ela o encontrou, cuidou de suas feridas e acabou se apaixonando por ele?" brincou outro cultivador.
Os demais riram. O que eles não sabiam era que, embora o cultivador não estivesse completamente certo, também não estava totalmente errado – aquela mulher realmente estava apaixonada por Kael, mas ela não fazia parte do território deles nem tinha acabado de conhecê-lo. As circunstâncias eram algo que eles jamais imaginariam.
Sem chegarem a uma conclusão, pararam de falar e continuaram avançando em alta velocidade.
*
Na fronteira entre os territórios do Clã Sombra Mortal e da Academia Celestial, uma grande e sangrenta batalha acontecia. Habilidades voavam para todos os lados; cultivadores flutuavam no ar ou corriam pelo chão. O som de armas se chocando e os gritos de dor ou incentivo eram incessantes. Pilhas de corpos espalhavam-se pelo chão, enquanto o sangue corria, pintando a terra de vermelho.
"Vamos, ataquem!"
"Não permitam que eles ganhem terreno!"
"Quebrem a formação do inimigo!"
"Haaaaaaaa!!!"
Nesse momento, os cultivadores da Academia Celestial demonstravam agressividade extrema, com os olhos cheios de intenção assassina e uma vontade inabalável de lutar.
"O que está acontecendo com esses caras?" Perguntou um cultivador do Clã Sombra Mortal, incrédulo.
As batalhas na fronteira ocorriam há anos, mas normalmente não eram tão intensas; geralmente, eles atacavam enquanto a Academia Celestial se defendia, de forma bastante passiva. Mas, desta vez, a Academia Celestial lançou um ataque feroz que já durava quase um mês.
"Parece que eles ficaram loucos; já houve várias baixas em ambos os lados, mas não parecem ter intenção de parar a investida," disse outro cultivador.
"O que há para se impressionar? Isso é guerra – baixas são inevitáveis. O problema é que vocês estavam muito acostumados com o modo passivo da Academia Celestial. Peçam para que os outros clãs mandem mais homens para a linha de frente; essa batalha não será como as outras," declarou um comandante com voz grave.
Com muito mais experiência que esses soldados, o comandante tinha uma visão melhor da situação e já começava a se preparar.
No acampamento da Academia Celestial, alguns cultivadores também estavam incertos sobre o que estava acontecendo.
"Por que lançamos uma investida tão forte de repente?" Questionou um deles.
"Vários dos nossos irmãos estão morrendo a todo momento," respondeu outro, com tristeza.
"Hump, vocês querem uma guerra sem baixas? Que tipo de ilusão é essa?" Bufou outro cultivador.
"Não foi isso que quis dizer; sempre tivemos baixas nas batalhas, mas nunca tantas," tentou se defender o cultivador.
"Vocês querem que fiquemos à mercê deles – sendo atacados quando querem e deixando-os ir embora sem reação? Isso é ridículo. Temos que dar um duro golpe nesses malditos para que saibam que não somos fáceis de intimidar," exclamou outro, claramente de sangue quente.
Os cultivadores que reclamavam ficaram um pouco envergonhados ao perceber que o Clã Sombra Mortal sempre atacava quando queria e recuava quando lhe convinha, enquanto a Academia Celestial, embora não recuasse, também não tomava iniciativa, deixando os inimigos cada vez mais confiantes.
"Mas ainda não sei por que mudamos nossa forma de agir de repente," comentou outro cultivador.
"Temos que manter o foco deles na fronteira o máximo possível e prestar atenção caso alguém tente fugir do território inimigo," disse uma voz repentinamente.
Todos olharam para trás e notaram um cultivador se aproximando.
"Comandante!" saudaram.
O homem assentiu enquanto se aproximava.
"Alguém fugindo do território deles? Como pode existir alguém assim?" Perguntou o cultivador de sangue quente.
"Essas foram as ordens que recebi recentemente. Por algum motivo, dois cultivadores do nosso clã estão presos no território inimigo e sendo perseguidos. Aparentemente, eles são muito importantes para ambos os lados, então temos que fazer o possível para ajudá-los a escapar," respondeu o comandante.
Os outros cultivadores ficaram chocados com a notícia.
"Como pode ser? Se alguém estiver no território inimigo e sendo perseguido, como pode escapar até aqui?" questionou alguém.
O comandante balançou a cabeça. "Não sei, só precisamos seguir as ordens; se pediram algo assim, as chances de conseguirem não são zero."
Todos ficaram intrigados, imaginando que tipo de pessoas poderiam estar passando por essa situação. Alguém franziu a testa de repente.
"Quer dizer que toda essa batalha é apenas por causa dessas duas pessoas?"
Os outros começaram a ficar descontentes, pois seus homens estavam morrendo aos montes no campo de batalha apenas para proteger duas pessoas que nem sabiam quem eram.
O comandante os olhou com uma expressão fria. "Você diz 'apenas' duas pessoas?"
Todos ficaram em silêncio, olhando para ele.
"Alguém que está sendo caçado por todo o território inimigo pode ser insignificante? É apenas uma questão de tempo até entrarmos numa guerra completa com o Clã Sombra Mortal, e quando isso acontecer, a batalha que vemos agora parecerá brincadeira de criança. Perder alguns homens para salvar alguém importante para ambos os lados vale a pena."
Todos ficaram em silêncio, e o descontentamento deu lugar à compreensão. Como o comandante disse, a Academia Celestial não faria tudo isso por alguém insignificante – havia algo muito mais importante por trás disso.
O comandante acenou ao ver que todos haviam entendido. Aqueles homens eram capitães e líderes de equipes; se não compreendessem a situação mesmo depois de tanta explicação, ele ficaria completamente desapontado.