Parte Única
O mundo se apagou.
Tudo ao redor—os guardas, as lâminas, o cheiro de sangue—desapareceu.
As palavras entraram fundo, como garras afiadas rasgando sua mente.
Liam piscou, e, por um momento, tudo se misturou—Helena, a tempestade, o gosto de ferro em sua boca.
Ed.
Ed a roubou dele.
Liam tremeu.
Então algo mudou.
As feridas ao longo de seu corpo se fecharam de uma vez. Um vapor grosso subiu das cicatrizes recém-formadas, como se seu próprio sangue estivesse queimando. As marcas de batalha permaneceram, traçando padrões grotescos sobre sua pele. Mas ele não sentia dor.
Ele sentia poder.
Seus músculos se expandiram, seu peito cresceu, e os ossos estalaram dentro dele, alongando-se, fortalecendo-se. As garras já enormes ficaram maiores. Os olhos brilharam em um vermelho intenso, cortando a escuridão como tochas amaldiçoadas.
E então ele rugiu.
O som foi absurdo—um estrondo selvagem que vibrou no peito de todos ao redor. Os guardas tropeçaram para trás, os cavalos, a centenas de metros, empinaram-se, aterrorizados.
Ed sentiu o rugido no osso.
E soube, naquele instante, que algo havia mudado.
Liam não era mais apenas um lobisomem.
Ele era algo além.
Ele se virou para Ed, o olhar completamente tomado pela fúria.
A fome.
A promessa de sangue.
Liam avançou.
O impacto foi brutal.
Ed mal conseguiu reagir.
Liam avançou como uma muralha viva, os músculos inchados pelo poder crescente. Cada passo que dava afundava a terra, as árvores ao redor se curvavam ao seu redor, como se até a floresta reconhecesse que ele não era mais apenas um monstro.
Ele era algo maior. Algo que não deveria existir.
Ed se moveu.
Sua espada cortando o ar, buscando os tendões de Liam. Ele era rápido. Preciso. Letal.
Mas não foi o suficiente.
Liam esquivou sem esforço, sua velocidade agora insana para seu tamanho. Quando Ed tentou recuar, o lobisomem fez o impossível—girou no próprio eixo e, com a perna, desferiu um chute brutal no peito de Ed.
O mundo girou.
Ed foi jogado como um boneco de trapo, atravessando o ar antes de colidir contra uma árvore com um estrondo ensurdecedor. O impacto tirou seu ar, e por um momento, tudo ficou embaçado.
Mas não havia tempo para dor.
Liam já estava sobre ele.
As garras desceram.
Ed rolou, escapando por um fio—mas o chão explodiu com o impacto, lascas de madeira e pedra voando como projéteis.
Rápido demais. Forte demais.
Ed se levantou em um movimento único, girando a espada na mão. Precisava pensar. Precisava de uma brecha.
Mas Liam não daria tempo.
O lobisomem veio rastejando em sua direção—uma mistura grotesca de força e agilidade. Suas garras cortavam o chão enquanto avançava, os olhos brilhando com a fome de um predador absoluto.
Ed atacou primeiro.
Seu corpo se moveu sem hesitação, espada cortando em ângulos diferentes. Ele atacou o braço, depois a lateral do pescoço, depois o estômago.
Três golpes. Três cortes precisos.
E então—
Vapor.
As feridas se fecharam imediatamente.
Ed engoliu seco. E, antes que pudesse reagir, Liam o agarrou.
O aperto aumentava.
Ed sentiu os ossos de seu braço cedendo sob a pressão absurda da mão monstruosa de Liam. Era como se um torno de ferro estivesse se fechando ao redor dele, esmagando tudo lentamente. A dor explodiu em sua mente, e ele rangeu os dentes, tentando forçar a espada para cima, na direção do pescoço do lobisomem.
Mas Liam sequer piscou.
Seus olhos não estavam ali—estavam em outro lugar. Em sua mente, na sua fome, no delírio febril que o consumia.
E então, um golpe.
Uma espada cortou o braço de Liam, abrindo um sulco profundo que imediatamente começou a se fechar com um vapor sufocante.
Wilde.
Ele surgiu como um borrão, golpeando novamente com precisão onde as articulações do monstro deveriam ser mais vulneráveis. Mas mesmo com toda sua velocidade, sua força não era suficiente.
"Solta ele, maldito!" Wilde girou a lâmina novamente, mirando o cotovelo de Liam, tentando forçar uma torção.
O lobisomem rosnou, um som que não era humano, e, em um único movimento, usou o próprio corpo para arremessar Ed como um projétil em direção a Wilde.
"Merda—!"
Wilde tentou esquivar, mas não teve tempo. Ed colidiu com toda força contra ele, e ambos foram jogados no chão, deslizando sobre a terra encharcada.
Vendo isso, Pallas e Don entram em ação.
Pallas não hesitou.
Ele correu na direção de Liam, espada banhada pela luz da lua brilhando no ar. Seus olhos estavam frios, calculando cada movimento do lobisomem, esperando o momento certo para atacar.
Liam girou a cabeça em sua direção, suas pupilas contraídas em fendas animalescas.
E então, ele avançou.
Rápido.
Destruidor.
Avassalador.
O chão explodiu sob seus pés quando ele saltou, indo direto para Pallas com as garras estendidas.
Don veio pelo lado, tentando cortar a perna do monstro para desequilibrá-lo. Mas Liam girou no ar, torcendo o corpo de uma forma antinatural, e com a perna atingiu Don no peito, lançando-o para trás como um boneco de pano.
Mas isso deu a brecha necessária.
Pallas se abaixou no último segundo, escapando das garras de Liam, e desferiu um golpe ascendente, mirando o peito do lobisomem.
A lâmina rasgou carne.
Liam rugiu, sangue negro jorrando enquanto ele cambaleava para trás.
Mas ele não caiu.
Em vez disso, ele riu.
Baixo. Gutural.
A ferida se fechou diante dos olhos deles.
Porém, carne do ferimento do antigo braço de Liam se retorcia.
Do ferimento recém-aberto, ossos estalaram, torcendo-se em direções impossíveis. Primeiramente, um braço humano surgiu do que antes era apenas um coto ensanguentado. Mas ele não permaneceu assim por muito tempo. Os pelos brotaram. Primeiro finos, quase imperceptíveis, depois grossos como as cerdas de um animal selvagem. As unhas cresceram, alongando-se até se tornarem garras curvadas e assassinas.
O vapor subiu.
A respiração de Liam era um trovão contido.
Seus olhos febris, consumidos por fúria e fome, se voltaram para os três guerreiros à sua frente.
Pallas, Don e Wilde.
Eles estavam feridos, ofegantes, sujos de lama e sangue. Mas ainda de pé.
"Isso é um pesadelo…" Wilde murmurou, segurando a espada com mais força.
"Se não matarmos ele agora, estaremos todos mortos." Don cuspiu no chão, firme, mas o suor escorria pelo seu rosto.
Pallas não disse nada.
Ele apenas se moveu.
Um passo.
E então avançou.
O duelo recomeçou.
Pallas atacou primeiro, rápido, preciso, sua espada banhada pela lua brilhando como um raio prateado enquanto visava o pescoço do lobisomem.
Liam se esquivou, dobrando o corpo de um jeito antinatural, quase como se não tivesse ossos. Seus olhos se cravaram em Pallas.
E então, ele retrucou.
Com puro poder bruto.
Um gancho ascendente.
A garra subiu cortando o ar.
Pallas saltou para trás no último segundo, mas não foi rápido o bastante. As garras rasparam contra sua armadura, e um som estridente ecoou quando o metal foi rasgado como papel.
Ele voou para trás, deslizando pela lama.
"Merda!" Don se jogou contra Liam, usando toda a força para tentar atravessar a lâmina pelo flanco da criatura.
Liam não esquivou.
Ele aceitou o golpe.
A espada cravou-se na carne dura, afundando alguns centímetros. Mas não foi o suficiente.
Liam rosnou, segurou o próprio ferimento e, com um puxão grotesco, arrancou a lâmina de Don para fora de si.
"O quê…?"
E então, contra-atacou.
Rápido demais.
Uma garra atingiu o estômago de Don com um impacto brutal, arrancando o ar de seus pulmões. Seu corpo dobrou para frente, e Liam girou o braço, usando a outra mão para agarrá-lo pela cabeça.
"DON!' Wilde correu, desesperado.
Tarde demais.
Liam jogou Don contra uma árvore. O impacto foi tão brutal que a madeira tremeu, e Don caiu de joelhos, tossindo sangue.
Agora, restavam Wilde e Pallas.
"Nós não vamos conseguir…" Wilde engoliu seco, erguendo a lâmina novamente.
Pallas não respondeu. Mas seus olhos diziam tudo.
Eles precisavam de uma chance.
Uma única chance para acabar com aquele monstro.
Mas Liam não ia permitir.
Ele rugiu.
E avançou outra vez.
William surgiu das sombras, sua lâmina riscando o ar em um arco prateado enquanto avançava para salvar Pallas. Liam já estava no meio do movimento, sua garra monstruosa se erguendo para rasgar o peito do comandante.
"Desgraça—!" Pallas rosnou, tentando girar a lâmina a tempo.
Mas era tarde.
O golpe veio como um raio. Rápido, brutal, inevitável.
William se jogou para o lado, sua espada desviando o ataque por um fio de cabelo. Mesmo assim, o impacto o fez girar no ar, seus pés deslizando pela lama encharcada. Ele se colocou entre Pallas e o monstro, cerrando os dentes.
"Se for morrer, morra lutando." ele murmurou para si mesmo, assumindo posição de guarda.
Liam não esperou. Ele nunca esperava.
Com um rugido gutural, avançou contra William com uma explosão de velocidade inumana. Suas patas enormes afundaram na terra, lançando lama para todos os lados. O cheiro de sangue e ferro estava impregnado no ar. Seus olhos brilhavam como brasas, focados no novo alvo.
William girou sua lâmina, tentando aparar o ataque, mas Liam não era algo que se aparava. Ele era algo que destruía.
O lobisomem se abaixou de repente, como um predador se preparando para matar. Então, com um salto, girou no ar e esmagou seu pé gigantesco contra o peito de William.
O impacto foi brutal.
William foi lançado como um boneco, seu corpo colidindo contra uma árvore com um estalo seco. Ele tentou se levantar, tossindo sangue, mas sua visão girava.
Pallas se ergueu, tentando mais uma investida—mas Liam já estava sobre ele.
A garra do monstro rasgou o ombro de Pallas, atravessando armadura e carne como papel.
Ele gritou.
Liam ergueu Pallas do chão como se não pesasse nada, sua garra se cravando cada vez mais fundo. Ele rosnou, seu focinho se retorcendo em algo que poderia ser um sorriso cruel.
E então, sem aviso, lançou Pallas para o outro lado da clareira. O comandante voou pelo ar, batendo contra uma pilha de destroços com um baque ensurdecedor.
Don tentou atacar pelas costas, sua lâmina indo direto para a espinha do monstro.
Mas Liam já sabia.
Ele girou no último instante, desviando do golpe e agarrando Don pelo braço.
O estalo do osso quebrando ecoou pela noite.
Don urrou de dor quando Liam o arremessou contra o chão com força suficiente para rachá-lo. Sua visão se encheu de estrelas.
Wilde atacou em seguida.
Uma sequência de golpes velozes, precisos, desesperados.
Nada passou
Liam avançou, seus passos afundando na lama, seu peito subindo e descendo em uma respiração animalesca e frenética. Ele não corria mais. Não precisava correr.
Ed estava ali.
E ele ia matá-lo.
Wilde cambaleou à frente, ofegante, sua lâmina tremendo em sua mão suja de sangue. Ele não tinha chance, e sabia disso. Mas recuar não era uma opção.
"Você!" Sua voz saiu entrecortada, forçada.
"Não mate ele!"
O lobisomem não respondeu.
Seus olhos vermelhos brilharam na escuridão.
E então, sem aviso, ele se moveu.
Foi rápido demais.
Wilde nem viu quando Liam desapareceu. Apenas sentiu algo frio rasgar seu abdômen.
A garra monstruosa perfurou
A garra monstruosa perfurou carne, músculo e ossos como se fossem papel molhado.
Wilde congelou.
Por um momento, não sentiu nada. Apenas o ar noturno entrando em seus pulmões, o cheiro da terra úmida e a respiração pesada da criatura diante dele.
Então veio a dor.
A garra de Liam rasgou sua barriga de um lado ao outro, os dedos grotescos atravessando sua espinha. O som foi abafado, molhado, um estalo e um rasgo simultâneos. Os olhos de Wilde se arregalaram enquanto seu corpo inteiro convulsionava.
O lobisomem o ergueu do chão com um puxão bruto, sua mão monstruosa enterrada até o pulso dentro da cavidade abdominal. Sangue quente jorrou, escorrendo pelos pelos escuros da criatura em torrentes pulsantes.
O cheiro ferroso se intensificou, denso e nauseante. O corpo de Wilde estremeceu espasmodicamente, sua boca se abrindo e fechando como se quisesse dizer algo—mas tudo o que saiu foi um arroto sufocado de sangue.
Liam observou aquilo com uma curiosidade animalesca, os olhos brilhando na penumbra. Ele moveu os dedos dentro da carne, sentindo os órgãos se revirarem em sua garra, sentindo o calor da vida ainda presente dentro daquele corpo frágil.
E então, ele apertou.
Houve um estalo grotesco, e Wilde engasgou com um som úmido. Seus olhos reviraram quando a garra se fechou ao redor de algo vital—algo que não deveria ser tocado, muito menos esmagado.
Liam sorriu.
E rasgou Wilde ao meio.
A pele, os músculos e os ossos se dividiram como carne crua sendo despedaçada por um açougueiro impiedoso. A espinha quebrou com um estalo abafado, os intestinos deslizaram para fora como cobras escorregadias, e o que restava das costelas se abriu em um arco grotesco.
A chuva lavou parte do sangue, mas não rápido o suficiente. A terra absorveu os pedaços que caíram pesadamente no chão.
William gritou.
Não foi um grito de batalha, nem de raiva.
Foi puro horror.
Seu corpo inteiro tremeu enquanto assistia ao amigo ser reduzido a uma pilha de carne irreconhecível. Seus dedos apertaram a espada com tanta força que os nós dos dedos ficaram brancos, mas suas pernas se recusavam a se mover.
Liam jogou os restos de Wilde no chão como se fossem lixo e ergueu os olhos para Ed.
Seu próximo alvo.