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Chapter 8 - 8

Capítulo 8. Seshe

Com uma confiança inabalável e um passo firme, eu avanço decididamente através do vasto acampamento, sentindo um alívio silencioso por não me encontrar com Draco durante minha caminhada até a cozinha de sua matilha. Estou ciente da atmosfera viva e vibrante que emana ao meu redor, atraindo a energia dessa convivência tribal, absorvendo a essência da vida selvagem que percorre o local.

Adentro o espaço culinário, sendo recebido calorosamente pelas mulheres que dedicam seu tempo e esforços para alimentar a matilha. Meus olhos encontram uma figura familiar, uma mulher mais velha cujo rosto carrega as marcas do tempo e da sabedoria.

Com um sorriso maroto e um abraço caloroso, eu a cumprimento, perguntando: "Quem é a loba mais bonita e atraente da matilha do rabugento draco?" Ela se afasta, tentando manter uma postura rígida e impenetrável, mas seus olhos traem um sorriso, iluminados pela minha travessura. "O que você quer, Seshe?" ela responde, tentando manter uma fachada de seriedade. "Um pouco de comida para dois pra viagem, por favor", eu peço, e ela prontamente começa a empacotar o alimento.

Agora, estou em direção à tenda, meu destino final, carregando em minhas mãos a comida recém-preparada. O aroma da carne assada e do pão fresco é quase hipnótico, preenchendo meus pulmões e atiçando minha fome. A fragrância da comida é tão irresistível que aguça meus sentidos, despertando uma ansiedade crescente dentro de mim.

No entanto, ao me aproximar da tenda, um som súbito me faz parar em meus passos. É a voz dela, falando, narrando. Sua voz é suave, quase tremula, mas carrega um peso emocional inegável. A dor e a tristeza que permeiam suas palavras são palpáveis, quase tangíveis. E, em meio a essa torrente de emoções, ela fala sobre o que Draco e seus homens fizeram com ela.

A voz dela falha, engasgada por um soluço, e suas palavras se perdem. A dor, o medo, a vulnerabilidade que ela está revivendo em sua narrativa são quase insuportáveis. Ela está sozinha, desamparada. Eu espero ouvir outra voz para lhe dar conforto, mas a tenda permanece silenciosa, uma sombra de solidão.

Sinto uma movimentação dentro de mim. Minha cobra, uma extensão viva e sensível de mim mesmo, se agita, buscando, sondando, procurando sinais de perigo além dela. Mas não há nada, apenas ela. Nunca senti minha cobra tão protetora como está sendo agora com mil.

Reunindo minha coragem, entro na tenda, meus sentidos ainda alerta. Olho ao redor e, como esperado, só encontro ela, sentada em uma cama de peles, abraçada a si mesma como se tentasse encontrar algum conforto. Coloco a comida de lado e a abraço, oferecendo a ela o apoio que tanto precisa. "Não chore, linda, eu estou aqui agora. Não vou deixar ninguém te machucar de novo, você está segura agora", eu sussurro, secando suas lágrimas. "Você precisa comer um pouco para se recuperar, linda", sugiro, trazendo a comida para mais perto dela.

Ela pega o pão e as frutas, mas evita a carne. Seu olhar de repulsa para a carne me surpreende. Eu presumi que ela gostaria, considerando que ela bebe sangue. A lembrança dela bebendo do meu sangue me excita, e rapidamente puxo algo para cobrir meu colo para esconder minha ereção.

"Mil, preciso ir falar com Draco", eu digo. A simples menção do nome dele desperta medo em seus olhos. Eu gostaria de poder confortá-la, dizer que Draco não é mau, mas como posso fazer isso depois do que ele e seus homens fizeram a ela? "Eu voltarei logo, eu prometo. E você estará segura aqui", eu asseguro. Ela concorda, embora não pareça muito convencida. "Você não pode sair da tenda sem mim, ok?" Eu não quero explicar a ela que os homens a veriam como uma ameaça devido ao seu cheiro peculiar e seus olhos vermelhos como sangue. Mas ela estará segura dentro da tenda.

Após um beijo casto em sua bochecha, eu deixo a tenda, rindo internamente da ironia da situação. Eu normalmente não trato mulheres com tanta delicadeza. Sou conhecido por minha sedução rápida e minhas conquistas fáceis. Mas com ela, é diferente. Quando eu acordei e percebi que minhas mãos estavam vagando por seu corpo e meu pênis estava pressionado contra ela, percebi que ela era virgem, não apenas virgem, mas pura e totalmente inocente. Ela nem entendeu o que meu toque fez com ela.

Entro na tenda de Draco, ignorando a traição em seu olhar. Ele não entende por que eu estou protegendo a garota. Mas eu tenho assuntos mais urgentes para discutir com ele. Se Draco não fosse tão obstinado, perceberia que proteger a garota poderia ser benéfico para ele também. Mas para isso, ele teria que abrir sua mente e ouvir.

A atmosfera na tenda de Draco é densa, pesada e pulsante com uma tensão quase palpável. Ela é carregada de expectativa, frustração e um sentimento de incerteza que permeia o ar como um perfume amargo. No centro dessa turbulência está Draco, o líder inquestionável da matilha. Ele está sentado, imóvel como uma estátua, seu olhar fixo e desafiador, atingindo qualquer um que ouse desviar o olhar. Draco é um homem imponente, um retrato vivo de força e determinação. Seu corpo é todo músculos e poder, uma presença assustadora que inspira respeito e medo em partes iguais. No entanto, por baixo desse exterior duro, há uma amargura que parece corroer sua alma, uma ferida que não cicatriza. Seus olhos, cinzentos como aço polido, brilham com uma intensidade ardente, me estudam de maneira implacável, procurando alguma explicação para o meu comportamento recente.

Com um suspiro interno, eu me aproximo, meus passos firmes e decididos. Mantenho o meu olhar fixo no dele, minha postura confiante e reta. Não posso me dar ao luxo de parecer fraco ou indeciso, não aqui, não agora. Engulo em seco e, com uma voz clara e audível, começo a falar. "Draco", digo, "precisamos conversar". Ele franze o cenho, obviamente descontente com a minha interrupção, mas acena para que eu continue. Com um gesto brusco de sua mão, ele dispensa seus homens que saem da tenda, deixando-nos a sós.

"Você sabe por que estou protegendo a garota, não é só porque ela salvou minha vida", começo, minha voz tentando manter a calma e a estabilidade, apesar do nervosismo que sinto. "Ela é diferente, Draco. Ela não é como as outras criaturas que escaparam do inferno. Não tenho certeza se ela realmente veio de lá". Draco ri, um riso duro e frio que ecoa pela tenda, um som que me faz tremer por dentro. "Diferente? Ela é um demônio, Seshe. Uma aberração. É simples assim". Balanço a cabeça, reprimindo a vontade de revidar. "Ela não é um demônio, Draco. Ela é só... diferente".

"Você está sendo enganado, Seshe", ele diz, sua voz mais baixa e perigosa que o habitual. "Ela é uma ameaça para todos nós. Você está colocando a matilha em perigo por causa de uma... garota". Sinto a raiva subindo dentro de mim, um fogo ardente que ameaça consumir meu controle, mas me esforço para mantê-la sob controle. "Não, Draco. A única ameaça aqui é a sua teimosia e a sua falta de compreensão. Mil pode nos ajudar. Ela pode ser a chave para a nossa sobrevivência".

Draco parece considerar minhas palavras por um momento, seu olhar pesado em mim. Mas então ele balança a cabeça e se levanta, sua figura dominando a tenda. "Eu não vou arriscar a segurança da minha matilha por causa de suas fantasias, Seshe", ele diz, sua voz saturada de desdém. "Se você quiser proteger a garota, faça isso longe daqui. Ela não é bem-vinda na minha matilha".

Eu sinto um aperto no peito, uma dor aguda e súbita que me faz cerrar os dentes. Mas não deixo que Draco veja o meu desapontamento. "Então é isso, Draco. Você está me expulsando". Draco acena com a cabeça, um olhar de indiferença em seu rosto. "Faça o que achar melhor, Seshe. Mas lembre-se: você está escolhendo uma estranha em vez de seu amigo". Eu o encaro, minha voz baixa, mas firme. "Draco, ela pode salvar seu irmão,

ela me curou quando fui infectado a caminho daqui". Draco me olha, incrédulo, enquanto eu me preparo para defender minha decisão até o fim.