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Chapter 3 - 3

Capítulo 3. Mil

A floresta estava mergulhada em uma escuridão tão profunda e opressiva que parecia um manto pesado, asfixiante, envolvendo-me em um abraço frio e indesejado. As sombras dançavam em uma dança macabra, o silêncio ensurdecedor apenas interrompido pelo som dos meus passos desesperados e pela respiração ofegante. A única luz vinha da lua, um fio prateado e distante, seu brilho fraco mal conseguindo penetrar a cobertura de folhas da floresta, iluminando o caminho sinuoso à minha frente com uma luz fantasmagórica.

A terra sob meus pés estava macia e úmida, coberta de folhas caídas que abafavam o som dos meus passos. O cheiro pungente de musgo e a umidade da noite impregnava o ar misturado com cheiro de enxofre, e eu podia sentir o gosto do medo na minha boca. Os Rotadores, criaturas que habitavam os cantos mais escuros dos pesadelos, estavam em meu encalço, suas presenças sinistras se aproximando cada vez mais, como uma sombra gélida que se estendia sobre minha alma.

Meu coração batia em um ritmo frenético, cada pulsação um lembrete do terror que me impulsionava para frente. De repente, um vulto imenso e ameaçador surgiu à minha frente. Era um rotador, maior e mais feroz do que os outros, seus olhos brilhando com uma luz malévola que parecia emanar das profundezas do inferno. Ele bloqueou meu caminho, e eu podia sentir a energia maligna que vibrava dele, fazendo o ar ao meu redor parecer mais frio e pesado.

Sem hesitar, ergui meu arco, sentindo a energia do meu sangue pulsar em minhas veias, um calor ardente que contrastava com o frio da noite. "Pela vida que ainda corre em mim, caia!" gritei, minha voz rasgando o silêncio da floresta como um trovão. Liberei uma flecha que brilhava com uma luz vermelha intensa, cortando o ar com um sibilo mortal que anunciava a chegada da morte.

A flecha acertou o Rotador em cheio, e ele se desintegrou em uma nuvem de cinzas. Partículas brilhantes se dissiparam na escuridão, como estrelas que haviam perdido seu lugar no céu. Porém, não havia tempo para comemorar; outros se aproximavam, atraídos pelo barulho da luta.

Recitei outro encantamento, minhas palavras um sussurro feroz na noite, uma promessa de proteção de um perigo iminente. "Sangue que me protege, seja minha armadura!" Uma aura carmesim me envolveu, formando um escudo luminoso que repelia os ataques dos Rotadores.

Eles vieram em ondas, garras afiadas e dentes pontiagudos buscando minha carne, olhos brilhando com fome e malícia. Movia-me com uma graça desesperada, cada golpe do meu arco um balé mortal, cada movimento uma dança com a morte. "Não hoje, malditos!" eu gritei, lançando minha voz contra a escuridão, um desafio para as criaturas que buscavam minha vida. Cada flecha encontrava seu alvo, cada impacto uma sinfonia de destruição.

A luta parecia interminável, cada Rotador que caía sendo substituído por outro, como sombras se multiplicando na escuridão. Mas eu não podia desistir. Com cada gota de sangue que eu sacrificava, sentia minha força diminuir, mas minha determinação só aumentava, um fogo indomável que ardia dentro de mim, alimentado pelo desejo de sobreviver e pela esperança de ver o amanhecer mais uma vez.

Com a respiração ofegante e o olhar determinado, segurava firmemente meu arco, minha mão trêmula de exaustão. As flechas que preparava não eram comuns; eram forjadas a partir do meu próprio sangue. Cada flecha era um sacrifício, uma parte da minha essência dada em troca de poder. Com um movimento fluido e preciso, puxava a corda do arco, e ao liberar, uma flecha de sangue se materializava, brilhando com uma luz rubra e vibrante.

Sussurrava um encantamento, e a flecha disparava em direção aos Rotadores, sua trajetória marcada por um rastro luminoso. Ao atingir um Rotador, a flecha de sangue explodia em uma cascata de energia, despedaçando a criatura em uma chuva de cinzas. A luta era intensa, e a cada flecha lançada, uma onda de exaustão me atingia trovando minha visão.

A sensação que me invade é avassaladora e inescapável, uma sensação de calor abrasador que percorre minhas veias como um rio incandescente, uma consequência de ter utilizado demasiado sangue nos feitiços que lancei. Este calor, intensificando-se com cada movimento desesperado que faço, cada passo apressado que dou em direção a um potencial refúgio, serve como um lembrete constante da ameaça que se aproxima inexoravelmente e da minha crescente falta de energia para mais feitiços.

Os rotadores, figuras imponentes e ameaçadoras, estão por todo o lado, suas presenças sinistras saturando o ar, um sinal luminoso de que meu fim pode estar próximo. Eles se movem através da floresta densa e obscura, o som de sua aproximação ressoando de maneira perturbadora, ecoando por entre a vegetação exuberante, enchendo o ambiente com uma melodia de terror que instiga o medo em meu coração.

Sinto meu coração batendo acelerado, cada batida um gongo retumbante amplificando o terror que sinto, cada pulsação aumentando o ritmo frenético da minha corrida desesperada. Posso sentir as batidas em meus ouvidos, um som ensurdecedor, quase como um tambor de guerra, que parece estar em sincronia com o ritmo ameaçador dos rotadores.

Então, em meio à escuridão opressiva da floresta, meus olhos captam a visão de uma salvação improvável: uma abertura no chão. Sem um momento de hesitação, corro em direção a ela, a esperança renovada inflamando minha determinação e me dando forças para continuar. À minha volta, a floresta parece ganhar vida, seus sons se intensificando em um crescendo ensurdecedor, refletindo a proximidade dos demônios rotadores. Com um último esforço, atiro-me na abertura, o impacto da queda enviando uma onda de dor pelo meu corpo, mas ao mesmo tempo, proporcionando um alívio temporário da ameaça iminente.

Os rotadores arranham freneticamente a entrada da abertura, suas garras afiadas rasgando a terra numa tentativa desesperada de alcançar-me. Mas a abertura é pequena demais para eles, e eu estou a salvo por enquanto. Rapidamente, pego a lanterna da minha bolsa e a luz revela uma visão que me faz suspirar de pavor: uma cobra gigante, enrolada e ferida, ocupando quase todo o espaço do buraco.

Os olhos da cobra encontram os meus, e há uma inteligência quase humana neles, um brilho assustador que me faz engolir em seco. "Eu não vou te machucar se você não tentar me machucar primeiro," digo, minha voz trêmula enquanto me sento, sentindo cada músculo do meu corpo doer.

Ainda sentindo a onda de calor que inunda meu corpo, tiro meu moletom. Olho para a cobra gigante, analisando a extensão de seus ferimentos. "Mil, ele está muito ferido," Bel murmura ao meu lado, iluminando a cobra com a lanterna. Ela tem razão; talvez ele não tenha me atacado porque estava ferido demais para se mover.

Os ferimentos da cobra são graves, escamas rasgadas e sangue manchando sua pele brilhante. "Faça um acordo com ele, Mil," Bel sugere em um tom suave, mas firme.

"Que tipo de acordo vou fazer com uma cobra moribunda?" pergunto, confusa. A ideia parece absurda, mas Bel parece séria.

"Cure-o em troca de sangue para que você se recupere rápido. Sem sangue vai demorar dias até que você consiga se movimentar novamente até que seu corpo se reabasteça por conta própria," ela responde, e eu sei que ela está certa. Preciso de sangue para repor o que perdi, mas beber o sangue de uma cobra? Isso é demais.

"Não vou beber de uma cobra," digo, me afastando da criatura. O pensamento é repugnante, mas Bel parece inabalável.

"Mendigos não escolhem," Bel retruca com um tom que não admite argumentos.

Mesmo se eu quisesse, não tenho forças para mais nenhum feitiço; estou esgotada. "Tome o sangue dele primeiro e depois o cure," Bel insiste, sua voz tão firme quanto antes.

Com relutância, me aproximo da cobra. "Vou tomar um pouco do seu sangue e em troca vou curar você, ok?" digo, esperando sua reação. A cobra não se move, e eu tomo isso como um consentimento. O sangue é surpreendentemente doce, carregado de magia, e sinto minha energia retornar quase instantaneamente. eu já tinha feito o mesmo acordo com humanos, mas nunca o sangue me fez sentir como o sangue da cobra me faz me sentir poxa mas sangue e tenho que reprimir um gemido. Me afasto, me sentindo revigorada, melhor do que em dias.

Com cuidado, começo a usar um feitiço de sangue para curar os ferimentos da cobra. Antes de tudo, é necessário entrar em um estado de concentração total. Fechei os olhos e respirei fundo, sentindo a energia do sangue ao meu redor. A magia do sangue é intensa e perigosa; um passo em falso pode ser fatal.

Com a palma da mão aberta sobre o ferimento da cobra, recitei o encantamento, permitindo que minha energia fluísse para a criatura. As palavras do feitiço são sussurradas com respeito e precisão, cada sílaba vibrando com poder.

À medida que as palavras deixavam meus lábios, o sangue da cobra começou a brilhar levemente, um sinal de que a magia estava tomando forma. O sangue, agora imbuído com minha energia, começou a se mover, tecendo através das escamas danificadas, reparando tecidos e músculos.

O processo de cura é lento e meticuloso. A magia do sangue não é uma solução rápida; ela repara o corpo de dentro para fora, garantindo que a cura seja completa e duradoura. Pude sentir a cobra relaxando sob o toque da magia, seus ferimentos se fechando suavemente.

Após alguns minutos, o brilho diminuiu e o feitiço foi concluído. A cobra, agora com seus ferimentos curados, respirava com mais facilidade. Levantei-me, sentindo um cansaço profundo, mas satisfeita por ter ajudado uma criatura em necessidade.

Após o ritual mágico de sangue, a cobra entrou em um sono tranquilo. Suas escamas, um mosaico de verde e azul, cintilavam sob o brilho tênue da lanterna, evidenciando a conclusão bem-sucedida da cura

"Você tem que sair daqui antes que ele acorde," Bel adverte, sua voz cheia de preocupação.

Assenti em concordância. A cobra, agora livre de ferimentos, poderia acordar a qualquer momento, e eu poderia me tornar seu jantar.

Curei-me graças ao sangue da cobra e, com o feitiço de sangue como minha camuflagem, estava pronta para escapar deste confinamento com segurança. Ainda sentia uma leve dor no corpo - uma dor tolerável, mero vestígio da batalha anterior. Meu sangue, entretanto,

vibrava em minhas veias com uma energia nova e revigorante. O sangue da cobra provouse uma fonte de poder surpreendente.