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Chapter 2 - 01. Onde tudo começa

"Fevereiro de 2017"

O grande relógio no centro da cidade avisava para toda extremidade que já eram seis e meia da manhã.

Fevereiro havia chegado há alguns dias trazendo consigo uma frente fria. Um nevoeiro forte, lembranças da noite anterior chuvosa, fechava a cidade por inteira, cada canto dela. Os jornais locais adoraram ter alguma coisa para noticiar. Mesmo não sendo tão interessante como um roubo ou um assassinato, festejavam com alguns "Finalmente algo interessante nessa cidade"  eufóricos quanto erguiam seus copos com champanhe barato.

Não somente o clima teve uma queda de temperatura no segundo mês de dois mil e dezessete, alguns relacionamentos amorosos e de amizade também.

Em seis casas específicas em diferentes bairros o movimento estrepitoso era nítido para todos que passavam em frente. Acordar cedo para ir à escola durante os cinco dias da semana não é nada agradável, imagina em um sábado! Entretanto é esse o preço que se paga quando se é pego quebrando regras.

Carros com pais e mães compreensivos, apressados e indignados com o castigo dado às suas filhas dirigiam para longe do prédio de ensino médio local.

Antes de entrarem todas seis fizeram o mesmo ritual, permaneceram paradas em frente ao extenso edifício por um momento, buscando a coragem que lhes faltava para enfrentar o que estava por vir. O mesmo pensamento de socorro era dividido entre elas. Todas com o mesmo pedido de que tudo seja apenas um pesadelo, que não terão que desperdiçar uma boa parte de um sábado no colégio arrumando alguns livros empoeirados, com pessoas fora de seu círculo social, chatas e desinteressantes.

Em diferentes intervalos uma por vez adentara a biblioteca, acomodando-se na primeira cadeira vazia que avistara.

Um homem baixo com duas entradas na parte da frente de sua cabeça, conhecidas como calvície, trajando um terno lilás desabotoado que oferecia uma visão asquerosa de uma pequena parte de sua barriga de chopp, adentrara o grande salão logo após a última garota.

Simon Clark Miller, ou como exige ser chamado, Sr. Miller. Aquele apelidado carinhosamente de Millenium pelos alunos.

— Agora são exatamente sete e cinquenta da manhã! — Exclamou olhando em seu relógio de pulso duas vezes para ter certeza. — Nove horas para arrumarem todos esses livros em ordem alfabética! — Apontou para várias caixas no chão enquanto destacava a palavra Alfabética. — Não Podem dormir ou sequer abrirem a boca para falarem um A! — ordenou em tom alto e com superioridade.

— A!

A garota com um longo cabelo com uma mistura de preto intenso e pontas tingidas de cinza, soltou de forma debochada enquanto remexia sua caneta nos dedos. Essa atitude não foi bem vista pelo homem e para não aplicar mais um castigo na delinquentezinha, como a chamara em segredo, usou o autocontrole que aprendera na aula de yoga. Uma respirada calma e profunda saíra por entremeio seus lábios.

Ele lembrou-se da conversa produtiva que teve com os pais da fedelha e do acordo que fizeram para ele esquecer alguns dos castigos pendentes anotados em sua caderneta. Talvez devesse mudar de ideia e voltar a aplicar todas as consequências a Rebekah, que parece nunca aprender com seus erros. Como alguém pode gostar tanto de levar detenções?

— Estarei em minha sala. Quaisquer barbaridades cometidas aqui resultarão em expulsão, entenderam? — Avisou lançando seu temido olhar mortífero para todas.

— SIM SR. MILLER!

Gritaram em um uníssono impecável.

— Tenham um Bom dia... Ah! — Retornou erguendo o dedo indicador. — Wright! Quando seus pais retornarem de Nova York me avisa, preciso conversar com eles urgentemente! — Indagou como se fosse íntimo dos pais dela, em seguida retirou-se ajeitando a gravata.

— Ah, claro... será um prazer, Clark! — Rebekah gritou deixando escapar uma risadinha sarcástica.

Elas o observaram afastando-se e temendo a ameaça de expulsão, levantaram-se de suas carteiras. Uma parte delas fizeram isso com má vontade e a outra reviravam os olhos e soltavam curtas bufadas de insatisfação.

Depois de alguns minutos com apenas barulhos de livros sendo limpos ou de caixas sendo abertas, Aurora, a garota que saiu de casa naquela manhã determinada em acabar com sua timidez e conseguir de uma vez por todas fazer amigos, abriu a boca, dizendo rapidamente algo aleatório antes que o medo a tomasse, a deixando só na vontade de se comunicar com desconhecidos. — Oi, me chamo Aurora e vocês? — Ela timidamente perguntou tentando esconder o nervosismo que insistia em tentar fazer seu corpo tremer. Colocou uma mecha solitária de seu cabelo loiro atrás da orelha para esperar a resposta das outras.

— Amberlee McArthur! — Aurora não pôde deixar de notar o quanto ela era bonita. Seus lindos fios ondulados caiam ao redor de seu ombro de forma impecável e tudo nela parecera encaixar-se perfeitamente. — Eu sei que é diferente... Não, não sofro bullying e meus pais não registraram errado! — Respondeu às perguntas que sempre costuma ouvir antes mesmo das meninas questionaram algo, coisa que elas certamente não planejavam fazer. — Mas pode me chamar de Amber! — Ela curvou seus impecáveis lábios em um sorriso amigável.

— Eu sou Ellysson! — Disse dando uma curta acenada com a mão esquerda, fazendo com que sua pulseira de pedra solitária escorregasse até metade de seu antebraço bronzeado.

— Rebekah! — Disse sorrindo com os lábios unidos.

— April! — Ela olhou para Aurora, soltou um sorriso amigável e depois abaixou-se para pegar mais livros.

— Como o quarto mês! — Ellysson comentou e a ruiva delineou os lábios com um sorriso tímido.

— Olívia, mas prefiro muito que me chamem só de Liv! — Mordeu os lábios rosados, sorrindo logo após.

— O que aprontaram para pararem aqui? — Amberlee perguntou encostando-se na estante enquanto enrodilhava uma pequena mecha de seu cabelo ondulado no dedo indicador.

— Na verdade eu não fiz nada de absurdo, apenas dei uma risada da professora! — Aurora respondeu de forma inocente, cruzando os braços sobre o peito envergonhada. Lembrar da cena fez os pelos do seu corpo arrepiar-se; foi uma experiência horrível ser chamada atenção na frente de toda turma.

— Foi a professora Sandra? Se sim, ela é uma louca que sempre arruma um jeito de mandar todos que ela não vai com a cara para detenção, às vezes pior! — fechou os olhos balançando a cabeça. — Tenta ignorar aquela vadia! — Rebekah aconselhou. — Aliás, sou Bekah!

— Vou tentar! — Aurora disse sorrindo fraco.

— Tenta! — Ellysson disse a olhando. Virou-se para Amberlee. — Me disseram que era bom para me enturmar já que sou meio que novata na escola e na cidade... e também fui pega mexendo no celular durante a aula de saúde daquele louco que parece ter repulsa ao sexo. — indagou enquanto fazia ou tentava fazer um rabo de cavalo em seu cabelo Chanel de coloração chocolate.

— O Marcus é fora da casinha mesmo — April disse rindo. — Adoro ele!

— Eu também! — Liv proferiu.

— Seja bem vinda! — Rebekah, Aurora e Amberlee disseram juntas em uma sintonia imperfeita

— Muito obrigada! — Agradeceu sorrindo largo.

— Minha vez! — Ergueu uma mão. — Eu, uma tentativa falha de fuga e por algumas coisinhas comprometedoras em minha mochila que na realidade nem eram minhas, mas de acordo com o Millennium, eram minhas sim! — Rebekah indagou subindo vagarosamente em uma escada deslizante da biblioteca.

— Não me diz que essas coisinhas são as da regra dez da lista "Miller: obedeça ou sofra?" — Amberlee perguntou e Rebekah apenas deu de ombros.

— Então é você a culpada pela palestra de última hora de "Diga não às drogas" — Liv   comentou rindo.

— O Millennium fez uma confusão por nada. Nem era algo tão absurdo assim

Liv riu novamente e olhou para April, esperando a resposta da garota ruiva escondida atrás de suas sardas.

— Poderia dizer que estou aqui por opção própria e por que gosto de livros, no entanto estou aqui porque estava fazendo as tarefas de alguns idiotas burros do último ano! — April elevou os ombros.

— Uau! — Rebekah chocou as mãos levemente, aplaudindo. — Senhoras e Senhores! — Fez a mão de microfone, imitando a voz de um locutor. — Temos aqui a vencedora da noite!

— Não foi tão legal quando o Millennium me interrogou como uma criminosa! — Disse para Rebekah, rindo.

— Agora eu! — Liv fingiu fazer um ritual de iniciação. — eu arrebentei com aquela nojenta da Hully! — disse imaginando a cena e deixando escapar algumas risadas abafadas.

— Meu namorado tem o vídeo! — Rebekah riu apontando para Liv. — Acredito que é você lá socando ela

— Aquela garota é um porre! — April disse revirando os olhos.

— Sim! — Rebekah concordou. — Quando a Nurys bateu nela ano passado eu cheguei a sentir um fiozinho de pena, mas ela não presta.

— Ela parece legal — Aurora disse folheando um livro.

— As aparências enganam, meu amor! — Wright deixou claro sua falta de afeto pela garota.

— Você realizou o meu sonho, eu te amo! — Amberlee foi de encontro com Liv para poder agradecer com um abraço.

Hully era uma das amigas insuportáveis da sua arqui-inimiga. Ter o privilégio de agradecer pessoalmente a responsável por ter quebrado a cara da vagabunda era como encontrar sua ídola.

— Violência gera Violência! — Com o tom de voz quase inexistente, Aurora disse.

— Não amiga, o bullying gera violência! Cansei de ser escorraçada por aquela cadela. — Apertou os lábios erguendo uma das sobrancelhas.

— Fez o certo e eu apoio você! — Amberlee abraçou mais uma vez a garota.

April virou-se para Amberlee e perguntou o motivo dela.

— Ah! O meu foi o mais injusto! — Bufou revirando os olhos com indignação. — Estou aqui porque disse que estava doente para faltar a escola e ir acampar para conseguir ser a primeira a comprar a nova coleção da Ophelia, mas me viram no shopping... Cá estou eu! — Choramingou como uma criança.

— Isso que é injustiça hein! — Rebekah indagou de forma sarcástica arqueando as sobrancelhas.

Às horas estavam voando e as seis garotas estavam tão entretidas conversando que perderam um pouco a noção do tempo e nem se deram o trabalho de verificar os minutos que se iam, depois do almoço elas simplesmente esqueceram o mundo lá fora. A arrumação dos livros tornou-se mais divertida, mudando seus conceitos de quando chegaram.

— Vocês podem me passar seus contatos? — Ellysson perguntou colocando a mão em sua bolsa, retirando uma caneta e uma agenda de sua cor preferida, dourado. Além da detenção também teve seu celular apreendido pelo professor que prometera devolver apenas na segunda.

— Em que ano você pensa que está? — Amber brincou e Ellysson riu.

— Falta só meia hora para sairmos! — April avisou olhando o relógio sobre a porta.

— Nossa! Passou tão rápido, né? — Liv falou em tom surpreso, no momento seguinte ergueu as mãos para cima e soltou uma aleluia.

— Nem diga! — April balançou levemente a cabeça, concordando.

Depois de nove horas seguidas no interior daquela sala enorme com cheiro de coisa nova misturado com poeira, o castigo finalmente havia chegado ao fim.

— O que vão fazer hoje à noite? — Amberlee perguntou colocando a mão no bolso traseiro de sua calça jeans mom.

— Não vou fazer nada! — Levantou os ombros.

— Bate aqui Aurora! — Ellysson disse rindo.

— Eu irei assistir novamente o documentário sobre a história desta cidade para a aula do Levy, não estou conseguindo... Hãm... — April ajeitou os óculos envergonhada. Os olhares em cima dela fizeram suas bochechas enrubescer.

— Agora a noite nada de especial... — Liv falou sem entusiasmo.

— Estava planejando ir para festa de um amigo do meu namorado, mas ainda não sei se vale a pena. Estou cansadona — Rebekah proferiu erguendo levemente os ombros.

Depois de ouvir os planos de cada uma, Amber voltou a falar. — Então, vai rolar uma festinha na casa do meu melhor amigo, que com certeza é a mesma que Rebekah vai. Para as demais sem vida social... Estão a fim de ir? — Perguntou.

— Eu quero! — Disseram juntas, percebendo, olharam-se gargalhando.

— Já que é assim, eu decidir ir também e se quiserem podemos ir juntas da minha casa. Meus pais foram viajar hoje, estar livre! — Rebekah propôs despreocupada.

Todas concordaram que o local de encontro seria na casa dela. Rebekah passou o endereço por mensagens e anotou na agenda de Ellys, em seguida cada uma pegou caminhos distintos