"Tem dois comig-" Nem tive tempo de passar a call, antes de morrer para as costas... Novamente. Essa era o quê? A quarta vez? Já tinha perdido a conta...
Saber o número só serviria para me deixar puto. Ainda mais do que já estava.
[Você perdeu: 7×3]
Era humilhante demais perder assim...
"Parabéns, tenho que dizer. Vocês jogaram e jogaram muito mesmo... Jogaram tanto que parecia que tava 1×4 em vez de um 4×4 de tão fácil que tava..."
Frustrado com a situação, falei meus pensamentos em voz alta na call, mas ninguém respondeu. Era pra escutar mesmo, eles sabiam que os caras eram fracos, mas ainda tremeram por causa do dinheiro envolvido na partida. Era frustrante demais jogar com esses filhos da puta...
"Sério, como vocês conseguem surpreender tanto a cada partida? Que sabe, é tanta habilidade que tô ralando" Saí da call sem pensar duas vezes. Já não tinha mais paciência pra essa merda.
Mas deixando isso de lado, olhei para o chat, antes de falar:
"Então é isso, rapaziada, tô vazando..." Parei por um momento ao ver a reação do chat, não esperando por isso.
[Uau...]
[Joker: Tá mudado, hein, patrão? 😮💨😮💨]
[Lívia: Entrou pra igreja, foi?]
[Quem é esse?🤔]
[Cris: Eita glória, a terapia tá fazendo efeito 🙏🙏.]
Mensagens como essas não paravam de subir, principalmente dos adms, aparentemente surpresos com meu comportamento. Afinal, se fosse há algum tempo, eu estaria xingando a família inteira daqueles filhos da puta... E teria quebrado mais um teclado, e provavelmente o monitor... Novamente.
Um sorriso escapou antes de eu dizer:
"Hã, viu? Tô mudado"
Logo em seguida, olhei o relógio. Já eram duas da manhã, acho que posso ficar mais um pouco... Mas só de lembrar o quanto perdi ontem, mudei de ideia. Era de doer o coração... E não queria repetir a dose tão cedo, afinal, mesmo com o patrocínio, eu ainda jogava com meu próprio dinheiro.
Se fosse pra ganhar, que seja tudo.
"Ah, foda-se, sem cassino hoje" Falei para o desagrado do chat.
[Sério?]
[King: Tá com medo de quebrar a banca de novo, né?]
[Ah, esperei até agora e nada de cassino? 🥹🥹 Queria ver ele se fodendo de novo 🤡🤡...]
[Bia do Alex: Sem rage e sem cassino? O que você fez com meu streamer favorito, seu impostor?]
Vendo aqueles comentários, muitos dos quais bani imediatamente, não pude deixar de suspirar incrédulo, me jogando na cadeira. Era muito hater, principalmente os adms, novamente...
"Vocês são muito filhos da puta mesmo. Desejando o mal ao próximo assim..." Dizendo isso, fechei a live sem nem me despedir do meu público, eles que se fodam... E eu que sou o tóxico depois.
Resmungando um pouco, olhei minha conta bancária antes de desligar o computador. Estava perto e seguramente chegando aos 700 mil.
Mais três meses e eu teria meu primeiro milhão. Isso trouxe um sorriso ao meu rosto, enquanto tirava a camisa e apagava as luzes, indo direto para a cama, apesar de estar com um pouco de fome. Afinal, cinco horas de live não eram pra qualquer um.
Não demorou muito para eu adormecer...
Ou era o que teria acontecido se não tivesse ninguém na minha cama. Suspirando, falei com a pessoa idêntica a mim, se não fosse por seu corpo feminino.
"O que você está fazendo aqui?"
"Não posso?" A garota falou sem tirar o olhar do celular, mas pude ver sua sobrancelha levantada, como se eu estivesse perguntando o óbvio.
"Pode. Mas essa hora, Ariella? Vá logo pro seu quarto" Mesmo que eu dissesse isso, sabia que era inútil ao escutar sua resposta... Novamente.
"Não"
Ela realmente aparecia nos momentos mais aleatórios possíveis, com se dividir o mesmo rosto não fosse o bastante...
E eu estava cansado demais pra insistir também, então ignorei, antes de continuar, o que iria fazer, sem se importar com sua existência, igual fazia todos os dias.
E assim adormeci ao seu lado.
.
.
.
Era estranho...
Me senti estranha, olhando as costas mal iluminadas de Alex pela luz do celular. Ele estava mudando... E eu não sabia se era pra melhor ou pior.
Distância.
E eu não gostava disso nem um pouco, parecia que a distância entre nós havia aumentando em vez de diminuir. Cada vez mais eu deixava de entendê-lo, nos últimos meses.
As explosões não aconteciam mais.
Seu quarto, antes caótico, não existia mais.
A impulsividade de antes não estava mais lá.
Ele havia mudado e continuaria a mudar. Talvez ele só tenha amadurecido...
O pensamento me deixava triste e feliz ao mesmo tempo. Queria me aproximar mais e mais do meu irmão.
Era errado, mas...
Colocando a mão em suas costas firmes, senti seu calor ao mesmo tempo que tive um pensamento aleatório ao olhar seu corpo...
A academia realmente lhe fez bem...
Observei por mais um tempo, antes de adormecer ao seu lado, sentindo seu calor...
Mas infelizmente não pude sentir seu calor por muito tempo. Acordei em meio à madrugada ao sentir ele se afastando do meu abraço...
Fiquei assustada com seu distanciamento, então chamei por seu nome...
"Alex..." Eu esperava que ele respondesse, mas fui completamente ignorada ou foi o que achei, até me levantar e iluminar o quarto com a lanterna do celular.
Lá estava ele, imóvel, sentado contra a cabeceira da cama e com um olhar fixo à frente. Vi sua brincadeira, nervosismo e... medo em seu olhar!
Por um momento, achei que fosse mais uma de suas brincadeiras. Talvez ele não tivesse mudado tanto assim, mas mudei rapidamente de ideia, quando ele se mexeu.
Seus músculos, antes tensos, relaxaram.
Seu olhar mudou, não havia mais medo, brincadeira ou nervosismo... Só dor.
Uma dor aparentemente insuportável quando ele começou a se debater na cama, me assustando. Ainda mais quando ele caiu no chão e começou a bater a cabeça, misturando sangue e suor no piso!
Aquilo me assustou profundamente, tentei alcançá-lo e parar aquela loucura, mas algo me impediu! Assisti imóvel seu sofrimento, sem poder fazer nada.
Nem minha boca se mexia.
Eu queria ajudá-lo, parar seu sofrimento, mas fui forçada a assistir até que ele perdesse a consciência. Fazendo o silêncio ser minha única companhia ao lado de uma misteriosa tela azul brilhando com interferência que apareceu logo em seguida quando fiquei imóvel.
E provavelmente a causa do sofrimento dele... Não, essa era a causa do sofrimento dele. Tive certeza quando experimentei o mesmo que ele, dor.
Foi simplesmente insuportável, quando a tela que dizia: "Bem-vinda: Iniciando sincronização" se transformou em uma bolinha do tamanho da minha unha e entrou na minha testa!
Me debati, gritei de dor, mas minha voz não parecia sair, então, fiz o mesmo que Alex, perdendo a consciência ao seu lado!