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Chapter 64 - Equilíbrio

O som do sinal ecoou pelos corredores, e as portas das salas se abriram ao mesmo tempo, despejando uma onda de alunos que se espalharam animados pelos corredores.

O clima parecia mais leve do que nos últimos dias — talvez porque, apesar das provas finais estarem cada vez mais próximas, o Festival Escolar já começava a dominar as conversas entre as turmas.

As discussões sobre as apresentações e os preparativos pareciam um alívio bem-vindo em meio à tensão acadêmica. Mas, para mim, a leveza do momento não fazia tanta diferença. Meu cérebro estava dividido em dois.

De um lado, os estudos exigiam minha atenção total. Não podia me dar ao luxo de vacilar naquele momento.

Do outro, havia meu manuscrito. Mesmo sem querer, ele sempre encontrava um jeito de voltar para minha mente, como um peso invisível que se recusava a sair do lugar. Os refinamentos sugeridos por Shihei ainda ecoavam na minha cabeça, e eu sabia que, assim que tivesse um intervalo entre os estudos, precisaria me dedicar a eles.

Quando cheguei em casa, joguei a mochila no chão e fui direto para a mesa. Meu manuscrito repousava ali desde a última vez que mexi nele, as páginas cobertas por anotações. Peguei os papéis e passei os olhos pelos comentários de Shihei, cada um carregado de um olhar crítico que enxergava muito além do que eu mesmo via na minha história.

"Essa cena é boa, mas poderia transmitir mais impacto se você segurasse o momento só mais um pouquinho."

"O protagonista toma essa decisão rápido demais. Uma hesitação antes seria mais realista, não acha?"

"Aqui está ótimo, mas poderia ser ainda melhor se adicionasse um detalhe sensorial que fizesse o leitor ser transportado para dentro da cena."

Lia cada comentário com atenção, sentindo a precisão da análise editorial. Era estranho perceber como, mesmo tendo sido eu quem escreveu essa história, Shihei conseguia enxergar camadas que eu sequer havia considerado. Ele não tentava mudar minha essência — queria realçá-la.

Soltei um suspiro longo, ajeitando minha postura na cadeira. Abri um novo documento e comecei a trabalhar nos ajustes. Algumas frases foram reescritas completamente, outras cortadas sem piedade. Pequenos detalhes adicionados aqui e ali, ajustando o ritmo de certas cenas para torná-las ainda mais fluidas.

Cada correção, cada refinamento, parecia trazer a história para mais perto da versão que ela deveria ser.

Os minutos se transformaram em horas sem que eu percebesse. Só me dei conta do tempo quando meu estômago começou a roncar, trazendo-me de volta à realidade.

Olhei para o relógio e notei que já estava na hora de encontrar o grupo de estudos na lanchonete.

— Certo. Por hoje, isso foi um bom avanço — murmurei, espreguiçando-me na cadeira enquanto passava a mão pelos olhos cansados.

Guardei o documento, organizei os papéis espalhados e peguei minha mochila. Ainda havia muito trabalho pela frente, mas, naquele momento, o foco precisava mudar para outra coisa: as provas.

Caminhei até a lanchonete, que já estava cheia de vozes e risadas quando cheguei. O som de talheres tilintando contra os pratos e o aroma de café fresco se misturavam ao ambiente acolhedor.

Assim que avistei minha mesa, uma cena completamente previsível me recebeu: Seiji e Akira estavam travando uma disputa de garfo sobre o último pedaço de bolo.

— Ei! Eu vi primeiro! — Seiji exclamou, puxando o prato para si como se estivesse protegendo um prêmio.

— Você já comeu metade do bolo, seu esfomeado! — Akira rebateu, tentando arrancar o garfo da mão dele.

Rintarou suspirou, visivelmente acostumado com esse tipo de cena, enquanto Takeshi assistia tranquilamente, mordendo um sanduíche como se fosse um espectador casual de um espetáculo diário.

Mais à frente, Mai e Kaori conversavam animadamente, mas se viraram ao me ver se aproximando.

— Tá atrasado, Shin! — Kaori exclamou, cruzando os braços com um sorriso travesso. — Pensei que você tinha nos trocado por outro compromisso de novo.

— Eu não troquei vocês, só estava ocupado com... algumas coisas — respondi, colocando minha mochila ao lado da cadeira enquanto me sentava.

— Sei… "ocupado"… — Akira comentou, estreitando os olhos de forma suspeita.

— Certo, certo, vamos focar no estudo agora. — Rintarou interveio antes que as provocações se prolongassem, já abrindo um caderno cheio de exercícios. — Seiji, Akira, parem com essa briga inútil e prestem atenção.

— Tsc. Eu venceria essa disputa fácil se fosse sério... — murmurou Seiji, largando o garfo com relutância.

— Isso não é um torneio de luta, Seiji. — Mai balançou a cabeça, rindo.

Com a mesa finalmente sob controle, pegamos os livros e cadernos, prontos para mais um dia de estudos.

O tempo passou entre cálculos, anotações e rabiscos. Takeshi soltava um resmungo a cada nova questão de matemática, enquanto Seiji fingia que estava prestando atenção, mas, na verdade, rabiscava algo no canto do caderno – aparentemente, um desenho muito detalhado de um robô segurando uma espada.

Em determinado momento, uma questão particularmente complicada apareceu, e a mesa inteira fez uma pausa coletiva. O silêncio que se seguiu foi quase palpável, enquanto todos encaravam o problema como se ele fosse algum tipo de código indecifrável.

— Essa questão nem faz sentido! Eu desisto! — Seiji exclamou, jogando o lápis sobre a mesa e se recostando na cadeira, derrotado.

— Sim, não tô vendo como se resolve essa... — murmurou Takeshi, se inclinando na cadeira.

Rintarou analisou a situação e, após alguns segundos, seu olhar pousou em mim.

— Shin, quer tentar?

Pisquei algumas vezes. Mais uma vez, a questão me parecia estranhamente familiar. Claro, não era exatamente a mesma, mas a estrutura lembrava muito uma questão que Yuki havia me ensinado na biblioteca.

Respirei fundo, peguei o lápis e comecei a escrever no caderno, reproduzindo os passos que ela havia explicado para mim com tanta paciência.

— Prestem bem atenção. Vocês só precisam… — comecei, focado nos cálculos.

Os outros se inclinaram para observar, acompanhando meus movimentos conforme eu detalhava o raciocínio, passo a passo. Quando terminei e levantei os olhos, fui recebido por expressões de puro espanto.

— Uau… isso fez muito sentido. — Mai disse, impressionada.

— Tá, quem é você e o que fez com o Shin?! — Kaori exclamou exageradamente, apertando os olhos como se estivesse diante de algum impostor.

— É sério, Shin, você andou comendo alguma coisa diferente? Tá parecendo um gênio de repente! — Akira perguntou, colocando as mãos sobre a mesa, enquanto se inclinava em minha direção.

Cocei a cabeça, desviando o olhar.

— Ah, eu só tive uma boa ajuda...

No mesmo instante, o grupo trocou olhares cúmplices. Tossi discretamente e voltei a focar no caderno.

— Certo, certo, vamos para a próxima questão. Ainda temos muitas matérias para revisar, né?

Mesmo assim, pude sentir os olhares curiosos e maliciosos sobre mim.

Depois de mais algumas horas de matemática, Rintarou finalmente decretou uma pausa. Seiji e Akira comemoraram como se tivessem sidos libertados de uma prisão injusta.

— Finalmente! Eu tava quase virando estatística com tanta matemática! — Seiji exclamou, jogando a cabeça para trás, exausto.

— Se esse estudo durasse mais um minuto, eu teria que processar vocês por danos psicológicos. — Akira completou, cruzando os braços como se tivesse passado por uma provação inumana.

— Já tá bom por hoje, né? — Takeshi suspirou, fechando seu caderno como se encerrasse um capítulo trágico de sua vida.

— Agora merecemos um descanso antes da próxima sessão de tortura... — Kaori brincou, pegando seu copo de suco e tomando um longo gole.

— Próxima!? Achei que já tínhamos acabado... — Takeshi murmurou, arrancando risadas de todos na mesa.

Enquanto os outros começavam a relaxar e a conversar sobre o Festival Escolar e possíveis ideias para o evento, minha mente começou a vagar novamente. O alívio da pausa não foi o suficiente para afastar a outra preocupação que rondava meus pensamentos.

O refinamento do meu manuscrito. Os ajustes que ainda precisavam ser feitos. As sugestões de Shihei que aguardavam minha revisão.

Peguei o celular e abri nossa conversa. Sua última mensagem, que havíamos trocado recentemente, ainda brilhava na tela, como um lembrete silencioso da minha responsabilidade:

"Não se esqueça de enviar o novo manuscrito nessa próxima semana!"

Respirei fundo. Precisava encontrar tempo para fazer os refinamentos o mais rápido possível. Se deixasse para depois das provas, provavelmente não teria o prazo necessário para entregar um trabalho bem-polido.

Meu olhar permaneceu fixo na tela por alguns instantes até que uma voz suave me tirou do transe.

— Em que tá pensando, Shin?

Levantei a cabeça e encontrei Mai me observando, seu olhar curioso, mas gentil. Guardei o celular no bolso, forçando um pequeno sorriso.

— Ah, nada demais. Só algumas coisas que ainda preciso fazer depois das provas.

Ela inclinou levemente a cabeça, mas não insistiu. Em vez disso, sorriu de leve.

— Bem, vamos focar no agora primeiro. Você tá se saindo bem nos estudos, então continue assim.

Seu tom era encorajador, como se soubesse que minha mente estava sobrecarregada.

— Sim… obrigado.

Olhei ao redor, observando meus amigos rindo e conversando, despreocupados por um breve momento. Mesmo com as provas finais batendo na porta, momentos como esse faziam tudo parecer mais leve.

E, de alguma forma, eu estava conseguindo manter o equilíbrio.

Provas, refinamento, amizades, sonhos. O caminho ainda era longo, mas, felizmente, eu não estava sozinho.