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Chapter 43 - Fragmentos de Inspiração

Enquanto eu caminhava para a escola, sentia a mochila pesada e a mente ocupada com pensamentos que se recusavam a sair de uma certa pessoa. Meu olhar vagava pelas ruas iluminadas pelo sol da manhã, mas tudo o que eu conseguia pensar era na cena do dia anterior com Yuki.

Era estranho como aquele instante, tão breve e inesperado, parecia ter se fixado na minha memória como uma fotografia perfeita. Não importava o quanto eu tentasse desviar o foco, a lembrança insistia em voltar, clara e nítida.

A proximidade entre nós, o jeito como nossos olhares se cruzaram, como se o tempo tivesse parado por um segundo… e aquele sorriso que ela me deu quando se despediu...

Meus lábios se curvaram em um sorriso involuntário enquanto caminhava, a memória invadindo minha mente mais uma vez, sem pedir permissão.

— Shin, o que tá rolando? — A voz de Kaori me puxou de volta dos meus pensamentos. Ela caminhava ao meu lado, enquanto Seiji e Rintarou vinham logo atrás. Seu olhar curioso estava fixo em mim, e um sorriso travesso começava a aparecer. — Tá com esse sorriso bobo na cara desde quando saímos de casa. Vai, desembucha!

— Sorriso? Ah, não é nada. Só… lembrei de uma coisa engraçada, só isso — tentei disfarçar, mas o tom hesitante claramente não convenceu ninguém.

Seiji cochichou algo para Kaori, e então, colocou o braço sobre meus ombros, com a expressão típica de quem tinha acabado de encontrar um alvo fácil.

— Eu sei bem por que ele tá sorrindo desse jeito. Isso tem nome, e começa com "Y" e termina com "uki", não é? — disse ele, esticando o "Y" de forma exagerada, enquanto Rintarou levantava uma sobrancelha, observando sem se envolver.

Kaori parou por um segundo, e então arregalou os olhos ao ouvir aquilo e, em vez de me ajudar, seu sorriso travesso ficou ainda maior.

— Então é isso... Aconteceu alguma coisa, Shin? — Ela me olhava de canto.

Meu rosto queimou instantaneamente, e o sorriso que tinha antes desapareceu tão rápido quanto veio.

— Calem a boca, por favor — rebati, desviando o olhar, mas era tarde demais.

Seiji apontou para mim, como se tivesse acabado de resolver o maior mistério do universo.

— Olha só, ele tá vermelho! É isso mesmo! Confessa, vai. O que rolou ontem? Alguma conversa especial? Ou… algo mais? — Ele se inclinou para frente, exagerando no tom de voz como sempre.

Kaori balançou a cabeça, rindo.

— Ei, não enrola! Conta logo pra gente. Ou vai deixar tudo nas mãos da imaginação do Seiji? E, confia em mim, a imaginação dele é… bem fértil.

Meu rosto parecia em chamas, e a última coisa que eu precisava era de Kaori entrando na onda de Seiji.

— Eu já disse que não aconteceu nada de mais — disse firme, mas minha voz saiu um pouco mais alta do que o normal. Eu só queria mudar o assunto o mais rápido possível.

— "Nada"? Ah, claro, claro — Seiji zombou, me cutucando com o cotovelo. — Só pra constar, Shin, "nada" geralmente não deixa as pessoas com esse tom de tomate na cara.

— Dá pra vocês pararem!? — resmunguei, virando o rosto para evitar os olhares.

Kaori piscou para Seiji, como se fizessem parte de um grupo secreto.

— Sabe o que eu acho? — Kaori começou, cruzando os braços. — Se ele tá assim, é porque alguma coisa aconteceu. Vai, Shin, poupa a gente do suspense e desembucha logo.

— Vocês dois são insuportáveis, tá muito cedo para eu ter que aturar vocês assim — suspirei, tentando acalmar o coração acelerado. — Não foi nada demais. Sério. Agora podemos falar de outra coisa, por favor?

Seiji deu uma gargalhada alta e ergueu as mãos, como se se rendesse.

— Beleza, beleza. Eu deixo passar… por enquanto. Mas olha, se precisar de umas dicas de mestre em romances, sabe onde me encontrar.

Kaori riu junto, mas logo mudou o tom.

— Tá bom, vou parar. Só dessa vez. Agora, falando sério: e então, como tá indo?

Suspirei, grato pela mudança de assunto, mas ainda com o rosto ardendo.

— Tá indo… meio devagar, mas tô tentando. O prazo tá começando a apertar, e isso deixa as coisas um pouco tensas.

Kaori assentiu, aparentemente satisfeita com a resposta, mas Seiji, claro, não podia deixar passar.

— Tensões de escrita ou tensões de romance? Porque, pelo jeito, você tá lidando com os dois ao mesmo tempo!

Revirei os olhos, tentando não rir da provocação.

— Eu juro pra você que eu vou te jogar no meio da rua!

Ele riu alto, enquanto Rintarou, que até então apenas observava a cena, finalmente interveio.

— Acho que ele vai dar conta — disse Rintarou, tranquilo como sempre. — O importante é que ele lembre do que quer transmitir. No final, isso é o que mais importa.

A simplicidade nas palavras dele era sempre reconfortante, e me peguei assentindo, ainda tentando ignorar os comentários de Seiji.

— É, acho que você tá certo. Vou lembrar disso — sorri levemente, sentindo a tensão diminuir um pouco enquanto continuávamos o caminho.

A conversa seguia em um tom mais descontraído enquanto nos aproximávamos dos portões da escola. O som das risadas e o fluxo constante de alunos entrando no prédio criavam uma atmosfera movimentada, mas meus pensamentos ainda estavam meio dispersos.

Instintivamente, meus olhos pousaram sobre ela.

Yuki estava junto de suas amigas, rindo suavemente enquanto gesticulava com as mãos. O jeito despreocupado dela contrastava com a tensão que parecia me acompanhar desde o dia anterior. Antes que eu percebesse, nossos olhares se cruzaram.

Foi rápido, um instante quase imperceptível, mas intenso o suficiente para fazer meu coração acelerar. Quase no mesmo momento, ambos desviamos o olhar, como se estivéssemos sincronizados em tentar ignorar o que acabara de acontecer.

Seiji, claro, não deixou nada passar. Ele soltou uma risada tão alta que fez algumas pessoas ao redor olharem.

— Ei, Kaori, você viu isso?! Até desviam o olhar ao mesmo tempo! Isso é tão clichê que parece tirado direto de um livro de romance! — provocou, com aquele tom exagerado e teatral que só ele sabia usar.

 Virei para ele, cerrando os olhos.

— Seiji, você tá falando muito alto...

Ele apenas riu ainda mais, colocando o braço em volta dos meus ombros enquanto continuávamos andando.

— Relaxa, cara. Se precisar de dicas, é só falar comigo. Posso te ensinar umas técnicas infalíveis — disse ele, piscando de forma exagerada.

Eu revirei os olhos e dei de ombros, tentando me afastar da conversa antes que ele inventasse teorias ainda mais absurdas.

As aulas passaram voando, mas meu foco não estava exatamente nos professores. Em vez disso, me pegava olhando para Yuki de vez em quando. Ela parecia completamente concentrada em suas anotações, mas, de vez em quando, parecia perceber meu olhar e desviava, tão rápido quanto eu.

Sempre que isso acontecia, uma pergunta insistente surgia em minha mente: Será que ela sentia o mesmo que eu? A lembrança do dia anterior ainda estava viva em minha memória, e era difícil não imaginar o que Yuki pensava quando nossos olhares se cruzavam.

Será que ela também se lembrava daquele momento? Ou talvez estivesse tentando esquecer?

Esses pensamentos me distraíam mais do que qualquer coisa. Era como tentar resolver um quebra-cabeça com peças que insistiam em não se encaixar. No fim, só me restava desviar o olhar e fingir que estava prestando atenção na aula, embora minha mente estivesse longe dali.

Quando as aulas terminaram, fui direto para o clube. Como sempre, o ambiente estava cheio de energia, com Takumi organizando papéis, Mai explicando algo animadamente para Kaori, e Rintarou calmamente lendo algo.

Taro, claro, já estava dormindo num canto da sala, cercado por livros.

Assim que me sentei, Takumi bateu de leve na mesa, chamando nossa atenção com sua voz sempre calma, mas assertiva.

— Ei, pessoal, vocês já têm ideia do que as suas turmas vão fazer no Festival Escolar? Ainda é um pouco cedo, mas é bom já ir pensando em algo — perguntou, levantando uma sobrancelha enquanto nos olhava.

O questionamento me pegou de surpresa.

— Festival Escolar? — repeti, confuso.

O silêncio que se seguiu foi tão pesado que parecia ter congelado o tempo. Todos os olhares se voltaram para mim como se eu tivesse acabado de dizer algo absolutamente absurdo.

Kaori, que estava sentada mais atrás, ouviu minha pergunta e virou-se na cadeira, os olhos arregalados de incredulidade.

— Espera… você tá falando sério, Shin? Não sabe o que é o Festival Escolar?

Antes que eu pudesse responder, Rintarou suspirou, cruzando os braços como se já esperasse algo assim de mim.

— Claro que sabe. Ano passado, ele inventou uma desculpa para faltar e ficou em casa jogando videogame o dia inteiro. Não foi, Shin?

A lembrança veio como um soco na memória, e eu abaixei a cabeça, sentindo o calor da vergonha subir pelo meu rosto.

— Tá, tá… eu lembro agora. Mas o que exatamente a gente tem que fazer? — Tentei mudar o foco, mas Kaori, que claramente estava se divertindo com a minha confusão, não deixou barato.

— Então você preferiu ficar jogando em casa enquanto todo mundo se matava pra montar atrações incríveis? Isso explica muita coisa, Shin. — Ela apoiou o queixo nas mãos, com um sorriso provocador.

— Ei, foi só uma vez! — protestei, mas ela já estava rindo junto com Mai, que parecia tentar segurar a risada.

Takumi balançou a cabeça, voltando à questão com seu tom mais prático:

— Enfim, o Festival Escolar é quando cada turma monta uma atração ou evento. É tipo uma competição, sabe? Cada classe tenta superar as outras. Ano passado, algumas turmas fizeram coisas muito legais, como salas temáticas, peças de teatro e até uma cafeteria.

— E nós? O que a nossa turma fez? — perguntei, olhando para Rintarou.

— Fizemos uma cafeteria temática. — Rintarou explicou calmamente. — Foi bom, mas nada que tenha se destacado muito. Por isso, precisamos de algo mais forte este ano.

— Ah, entendi. Então, basicamente, estamos competindo pra ver qual sala vai ser a mais popular entre os visitantes? — Respondi, finalmente ligando os pontos.

— Exatamente. — Mai confirmou, os olhos brilhando. — E já que somos o segundo ano, tem muita expectativa em cima da gente.

Do outro lado da sala, Kaori fez questão de jogar uma provocação:

— A sua turma vai precisar de sorte pra superar o que a minha vai fazer. Estamos pensando em montar uma sala de terror com direito a atores e tudo mais!

— Sala de terror? — Takumi respondeu, franzindo a testa. — Bem clichê...

— Clichê, mas sempre funciona! — Kaori retrucou, com um sorriso desafiador.

Enquanto ouvia Kaori e Mai discutirem sobre qual turma iria de destacar mais, minha mente flutuava para os olhares rápidos trocados com Yuki mais cedo. A lembrança de sua expressão, o jeito como ela desviou o olhar ao mesmo tempo que eu, parecia algo que minha mente não queria deixar ir.

Balançando a cabeça levemente, tentei me concentrar na discussão. Mas uma parte de mim sabia que, assim como minhas palavras no concurso, aqueles momentos com Yuki começavam a ganhar um peso maior do que eu esperava.

Por fim, a reunião se dispersou, e enquanto arrumávamos os papéis e nos despedíamos, minha mente já começava a projetar o resto do dia.

O clube era sempre um refúgio, mas naquele momento meu foco precisava se dividir entre o trabalho e, quem sabe, algum espaço para organizar os pensamentos sobre a história para o concurso.

À tarde, fui trabalhar na biblioteca. O som suave das páginas sendo viradas e o leve tilintar de passos ecoando no ambiente eram um alívio bem-vindo. A calmaria do lugar parecia uma pausa necessária depois do ritmo acelerado da escola.

Mas, claro, Arata, com seu humor afiado de sempre, não demorou a notar que minha mente estava a mil.

— Ei, Shin. Tá com uma cara de quem viu um fantasma. Tudo bem aí? — Arata perguntou, apoiando-se no balcão com um sorriso curioso.

Levantei o olhar, tentando esconder o peso dos pensamentos.

— Ah, só pensando no concurso… e em outras coisas — admiti, meio relutante, enquanto arrumava alguns livros na prateleira.

Ele ergueu uma sobrancelha, o rosto se iluminando com aquele típico sorriso provocador.

— Outras coisas? Hmm… deixa eu adivinhar. É uma garota?

O comentário me pegou tão de surpresa que quase derrubei um dos livros.

— O quê?! Como você sabe disso?! — A reação saiu antes mesmo de eu conseguir me controlar, e Arata gargalhou, claramente satisfeito.

— Ah, garoto. Não subestime minha intuição — disse ele, dando uma piscadela. — Vai, conta logo. Você tá com essa cara desde que chegou.

— Não tem nada pra contar — murmurei, desviando o olhar.

— Claro que tem. A gente só fica com esse tipo de expressão quando tá pensando em alguém específico. É óbvio.

Suspirei, percebendo que insistir em negar só faria ele continuar.

— Tá, tá… tem alguém, mas não é como você tá pensando.

Arata cruzou os braços, claramente cético, mas ainda com o mesmo sorriso.

— Sei… e por que você tá tão preocupado, então?

— Não é só isso. É o concurso também. O prazo tá apertando, e parece que cada vez que eu sento pra escrever, a pressão só aumenta — confessei, tentando mudar o foco da conversa.

Arata ficou em silêncio por um momento, mas o sorriso provocador deu lugar a um olhar mais sério e ponderado.

— Eu já te disse isso, Shin, mas às vezes a gente complica demais as coisas. Tenta parar de pensar no que as pessoas vão achar e, em vez disso, escreve como se estivesse falando com um amigo. Algo simples, que vem de dentro. Isso sempre funciona melhor.

Eu o encarei, surpreso pela mudança repentina de tom, e assenti, sentindo um pouco da tensão aliviar.

— Acho que nunca tinha pensado dessa forma… Valeu, Arata.

— Sempre à disposição, mestre das palavras — respondeu ele, com um sorriso exagerado, antes de voltar ao trabalho.

De volta em casa, sentei-me diante do computador, as anotações do clube espalhadas sobre a mesa. As palavras de Arata, Rintarou e dos outros ecoavam em minha mente, como pequenos lembretes para não deixar a pressão me consumir.

Peguei as anotações e comecei a revisar os trechos que já tinha escrito, ajustando as frases e imaginando como poderiam fluir melhor. Respirei fundo, sentindo a familiaridade do processo voltar. Era um trabalho lento, mas a cada linha reescrita, uma parte da história parecia tomar forma de maneira mais clara.

Olhei para as notas finais e rabisquei algumas novas ideias no caderno ao lado. A pressão ainda estava lá, como uma sombra, mas agora parecia menos sufocante.

E enquanto digitava, uma nova ideia surgiu, conectando-se de forma inesperada ao que eu já tinha escrito. Um sorriso escapou involuntariamente. Talvez ainda houvesse muito trabalho pela frente, mas aquele momento… era um começo.