Era de madrugada. Eu estava na minha escrivaninha, com a lâmpada acesa, tentando encontrar ideias para a minha história. Escrever se revelava mais difícil do que eu pensava. O papel em branco parecia zombar de mim, enquanto eu rabiscava palavras que logo riscava.
Meus olhos pesavam, mas eu não podia parar.
Acabei cochilando por alguns minutos, a cabeça caindo sobre o caderno. Quando abri lentamente os olhos, o sol já estava nascendo, tingindo o céu de tons alaranjados. O cansaço me envolvia como um cobertor pesado, mas me levantei e me arrumei para mais um dia.
Na cozinha, minha mãe estava preparando o café da manhã. Quando me viu, notou minhas olheiras imediatamente.
— Você andou ficando acordado até tarde, não é? — ela comentou, uma preocupação suave na voz.
Eu apenas assenti, ainda meio atordoado.
Meu pai estava à mesa, lendo o jornal. Tentei ignorar a presença dele, mas foi difícil. Minha mãe me entregou o almoço, perguntando sobre o festival desportivo que se aproximava.
— Você quer que a gente vá? — perguntou, com Hana parecendo interessada.
Minha irmã Hana parecia ansiosa com a ideia, mas a ideia de ter minha família na plateia me enchia de vergonha por algum motivo.
— Não precisa, mãe. É só um festival escolar — respondi, olhando para a mesa.
Meu pai abaixou o jornal e olhou para mim.
— Você anda dormindo até tarde porque está escrevendo, não é? — Meu pai perguntou de repente. Sua voz era casual, mas a pergunta me pegou de surpresa.
Minha mão parou no meio do caminho ao pegar o copo de suco. Olhei para ele, hesitante, tentando decifrar o tom de suas palavras.
— Sim... — respondi, com cautela. Parte de mim esperava uma repreensão, mas outra parte — talvez mais esperançosa — queria acreditar que havia algo mais naquela pergunta.
Ele ergueu o olhar para mim e, pela primeira vez em muito tempo, havia um leve brilho em seus olhos. Um sorriso nostálgico curvou seus lábios.
— Está tudo bem. — Ele disse, sua voz mais suave do que eu esperava. — Eu também costumava escrever.
A revelação caiu sobre mim como uma pedra lançada na água, criando ondas de surpresa e curiosidade.
Meu pai... escrevendo? Ele, que sempre parecia tão... distante, havia se dedicado a algo tão criativo? Era difícil de imaginar. Mas isso me fez sentir uma espécie de conexão também.
Peguei rapidamente minha mochila, e saí de casa.
Na escola, o festival desportivo já estava para começar, transformando o campo em um turbilhão de cores e sons. O ar estava repleto de gritos e aplausos vindos das bancadas lotadas, onde os pais acenavam com bandeirinhas e os colegas torciam com entusiasmo.
Os corredores masculinos se preparavam, ajustando suas faixas de cabeça e alongando os músculos. Eu estava com Seiji e Rintarou, e outros colegas de classe, todos eles ansiosos e energizados pelo ambiente vibrante. As risadas e conversas animadas ao nosso redor criavam uma atmosfera eletrizante, menos para mim.
— A equipe vermelha vai vencer este ano! — disse Seiji animado, amarrando uma faixa vermelha na cabeça.
Aiko se aproximou, sorrindo.
— Na verdade, o time azul vai ganhar — disse ela.
— Ei, qual é gente, todos sabem que na verdade o time amarelo vai ganhar — disse Akira rindo, se aproximando deles
Seiji deu uma risada e olhou para Akira.
— Está se achando só porque ganhou de mim naquela corrida na piscina, né? — ele provocou. — Mas hoje vou te mostrar o que é velocidade de verdade!
Akira respondeu com um sorriso desafiador.
— Hoje é o dia decisivo. Vamos ver quem realmente manda!
Aiko observava os dois com um sorriso divertido, enquanto o clima de competição crescia entre eles.
— Espero que vocês tenham guardado energia, porque essa disputa vai ser épica! — disse ela, incentivando ainda mais a rivalidade amigável.
Enquanto eles estavam animados, eu estava totalmente sem energia. Um bocejo escapou antes que eu pudesse segurá-lo, chamando a atenção de Rintarou.
— Você ficou jogando até tarde de novo, Shin? — perguntou, lançando-me um olhar cético enquanto ajustava os óculos.
Balancei a cabeça lentamente, ainda esfregando os olhos.
— Não. Estive... escrevendo — respondi, minha voz um pouco hesitante. — Aquela história que vocês leram, lembra?
Rintarou parou por um instante, como se estivesse tentando se lembrar, antes de dar um leve suspiro. Ele colocou uma mão no meu ombro, apertando-o de leve, e seu olhar se suavizou.
— Shin, eu entendo que você quer melhorar, mas não precisa se forçar tanto assim. — Ele falou com um tom calmo, mas que carregava uma preocupação que suas palavras quase não conseguiam esconder. — É só sua primeira história. Não precisa ser perfeita.
Seiji, levantou a cabeça.
— Rintarou tem razão, cara. Dá um tempo pra você mesmo. A gente sabe que você leva a sério, mas, sei lá, dorme um pouco, pelo menos.
— Eu sei. Mas eu quero ganhar o prêmio do concurso — respondi de forma direta, deixando escapar mais do que eu planejava.
O silêncio que se seguiu foi instantâneo, como se eu tivesse acabado de largar uma bomba na mesa. Os dois pararam o que estavam fazendo e me encararam como se não tivessem ouvido direito.
— Concurso? Que concurso? — Rintarou finalmente quebrou o silêncio, sua voz baixa, mas cheia de surpresa.
Senti meu rosto esquentar e desviei o olhar.
— É... um concurso de escrita para novatos — admiti, tentando soar casual, mas minha voz parecia tremer levemente. — Achei que seria uma boa chance de testar minha história. Tenho certeza de que ela é boa o suficiente para ganhar.
A reação foi imediata. Seiji arregalou os olhos como se eu tivesse acabado de dizer que ia participar de uma competição mundial.
— Espera, espera... você se inscreveu num concurso de verdade? — Ele perguntou, se inclinando para mais perto de mim, os olhos brilhando de curiosidade. — Tipo, sério mesmo?
Assenti, mas antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, Seiji se virou para Rintarou.
— Cara, ele tá mesmo levando isso a sério! Ele nunca nos contou nada! — Disse, a voz uma mistura de surpresa e empolgação.
— E você escreveu tudo isso sozinho? — Rintarou perguntou, sua voz carregando mais admiração do que eu esperava.
— Ei, cadê a história? Deixa a gente ler de novo! Aposto que melhorou desde a última vez.
— Não, nem pensar! — protestei, balançando as mãos para afastar a ideia. — Ainda não está pronta pra ninguém ver!
— Qual é, Shin? Não seja tão tímido. — Seiji riu, se aproximando de mim com aquele brilho travesso nos olhos. — Vai, deixa a gente ler só mais um trecho! Ainda temos algum tempo antes da competição começar!
— Eu disse que não! — Insisti, tentando desviar enquanto ele começava a fazer cócegas em mim.
— Qual é! Por favorzinho! — Seiji implorou, enquanto continuava fazendo cócegas.
— Ei, para com isso! — Respondi entre risadas, enquanto tentava me afastar dele.
— Só se prometer mostrar pra gente depois! — Seiji continuava, rindo junto comigo.
Rintarou observava a cena com um leve sorriso, balançando a cabeça.
— Seiji, deixa ele em paz. Ele vai mostrar quando estiver pronto — disse, e havia algo no tom dele que parecia quase um pedido por mim.
Seiji finalmente recuou, cruzando os braços com uma expressão fingida de indignação.
— Tá bom, tá bom. Mas olha lá, hein, Shin. Se você ganhar esse concurso e a gente não tiver lido a história antes, nunca vou te perdoar!
Ri, tentando recuperar o fôlego. Apesar das provocações, senti uma pontada de alívio ao perceber que eles realmente apoiavam minha decisão, mesmo sem entender completamente.
Então, a chamada para as corredoras dos 200 metros foi anunciada. A torcida gritava em apoio. Observei a pista e meus olhos pousaram nela.
Yuki parecia tão... linda, especialmente com o seu cabelo amarrado.
— Em suas marcas... preparar... vai!
Elas começaram a correr. Ela liderava, correndo tão rápido e graciosamente que meu coração bateu mais forte. Ela conseguiu ganhar a corrida com tanta facilidade que não pude deixar de ficar admirado.
Seiji então percebeu meu olhar fixo nela.
— Se continuar olhando assim, ela vai perceber que você gosta dela — disse, rindo.
— Tá falando sério? — perguntei, tocando o rosto, tentando mudar minha expressão.
Fiquei envergonhado e saí dali, dizendo que ia cuidar dos equipamentos para a próxima modalidade.
Enquanto arrumava a corda para o cabo de guerra, ouvi Kazuki conversando com Yuki.
— Me compra uma bebida se o time azul ganhar — disse ele.
— Hã? Sem chance — respondeu Yuki, sorrindo.
— Pode ser uma água então.
— Você está bem confiante de que vai ganhar, Kazuki — disse ela, rindo.
— É claro, não tem como eu perder essa corrida — respondeu ele
— Então, se o seu time ganhar, eu compro um suco para você — disse ela, aceitando a aposta com um sorriso.
Eu observei a cena de longe, sentindo uma pontada de inveja e tristeza. Por que eu não conseguia falar com Yuki com a mesma facilidade que Kazuki? Parecia que, para ele, tudo era tão natural. Eles riam juntos, compartilhando momentos que eu só podia imaginar.
Cada sorriso de Yuki para Kazuki era como uma agulha perfurando minha autoconfiança.
Meus pensamentos começaram a girar. "O que há de errado comigo?" perguntei-me. "Por que minhas palavras sempre parecem se enrolar e me trair quando tento falar com ela?"
Lembrei-me de todas as vezes que tentei iniciar uma conversa e falhei miseravelmente. Minhas mãos suavam, minha garganta secava e tudo o que eu conseguia fazer era gaguejar na frente dela.
Eu era realmente um idiota.
Eu também queria ser parte daquele mundo, compartilhar risadas e conversas despreocupadas com ela, mas, ao invés disso, me via preso em um ciclo de insegurança e silêncio.
Antigamente, os jogos eram a minha fuga, mas naquele momento, a escrita era o único lugar onde eu podia expressar meus pensamentos e sentimentos sem medo de julgamento.
Porém, no mundo real, diante de Yuki, eu era apenas alguém tímido e desajeitado.
Eles continuavam conversando, e eu voltei a focar na corda, tentando afastar os pensamentos negativos. Sabia que Kazuki era um cara legal, mas a inveja ainda queimava em meu peito, misturada com um sentimento de inadequação que eu não conseguia superar.
Sentia-me sozinho, mesmo cercado por amigos, e aquela cena só tornava tudo mais evidente.
Voltei para junto de Seiji, Rintarou e a turma, cabisbaixo
O cabo de guerra começou. Estava acirrado, com gritos de "Vamos, puxem com mais força!" de um lado e "Não vamos perder!" do outro. O time vermelho acabou ganhando. Seiji fez uma careta para Aiko, que ficou nervosa.
Era então chegado a hora dos 200 metros masculinos. Fiquei nervoso. Eu nem queria competir, mas fui meio que forçado a me inscrever, eu tinha que participar em pelo menos uma atividade do festival.
— Sua vez chegou, Shin — disse Rintarou.
— Infelizmente, sim. Vou indo.
— Tente não tropeçar, Shin! — disse Seiji, rindo.
Enquanto caminhava até as posições dos corredores, lembrei-me da vez no fundamental em que tropecei no meu cadarço e caí, na frente de todos, durante a corrida de 100 metros. Foi uma memória vergonhosa que, por algum motivo, nunca consegui esquecer.
Chegando na marca, vi que Kazuki estava ao meu lado. Decidi levar a sério. Queria ganhar na frente dos meus amigos, colegas de classe e principalmente na frente da Yuki. Meu coração batia acelerado, como se quisesse sair do peito. Senti uma mistura de ansiedade e determinação.
— Em suas marcas... preparar... vai!
Todos começaram a correr. O chão tremia sob os meus pés enquanto eu me lançava para frente, tentando acompanhar o ritmo de Kazuki. A torcida vibrava ao nosso redor, mas o som parecia distante. Tudo o que eu conseguia ouvir era o som da minha própria respiração e os batimentos rápidos do meu coração.
Kazuki saiu na frente, suas pernas se movendo com uma precisão quase mecânica. Eu lutava para manter a velocidade, sentindo os músculos das pernas queimarem a cada passo. Olhei rapidamente para o lado e vi Seiji e Rintarou me apoiando com gritos encorajadores, mas a distância entre mim e Kazuki só aumentava.
Enquanto corria, sentia o vento contra o rosto e o som dos gritos da torcida ao longe, como um eco distante. Estava tão focado em alcançar Kazuki que tudo ao redor parecia desfocado. Foi então que um corredor do time amarelo passou por mim, a velocidade dele me deixando para trás como se eu estivesse parado. Um nó de frustração se formou no meu estômago, mas não havia tempo para pensar nisso.
Foi quando senti algo errado. Meu pé escorregou levemente, e, antes que pudesse entender o que estava acontecendo, meu corpo foi projetado para frente. Meu cadarço… estava desamarrado.
O mundo pareceu desacelerar, e eu só conseguia pensar: "De novo não... essa vergonha outra vez não..."
O chão se aproximava rapidamente. Tentei me equilibrar, mas era tarde demais. O impacto foi duro, meus braços e joelhos rasparam contra o chão, e uma dor aguda percorreu meu corpo. A poeira se levantou ao meu redor, como se o universo quisesse destacar ainda mais o momento humilhante. Por um instante, o som das vozes na torcida parecia distante, abafado, quase inexistente.
Mas a adrenalina tomou conta. Mesmo com o joelho latejando e as palmas das mãos queimando, levantei-me rapidamente. O calor da vergonha era mais forte do que a dor. "Levanta, Shin. Vai em frente." Essas palavras ecoavam na minha mente como um mantra.
Ignorei tudo e todos, foquei apenas no movimento das minhas pernas, forçando meu corpo a continuar correndo. A torcida, antes um borrão confuso, agora parecia me puxar de volta para a realidade. Eu podia ouvir, entre os gritos indistintos, as vozes de Seiji e Rintarou. Elas cortavam a multidão como um farol de apoio em meio à confusão.
Finalmente, Kazuki cruzou a linha de chegada em primeiro lugar, seguido de perto pelo corredor do time amarelo. Apesar de tudo, eu consegui alcançar o terceiro lugar. Meu peito queimava pela falta de ar, minhas pernas tremiam, e cada músculo do meu corpo implorava por descanso. Mas, por dentro, algo maior me pesava: um misto de alívio e derrota.
Enquanto tentava recuperar o fôlego, meus olhos instintivamente buscaram Yuki. Ela estava na lateral, junto de outros colegas de turma. Eu não sabia o que esperava ver — talvez um olhar de apoio ou uma expressão de preocupação. Em vez disso, vi Kazuki apontando para ela, um sorriso no rosto, o tipo de gesto casual que fazia tudo ao redor deles parecer insignificante. A reação foi imediata: um burburinho começou entre os colegas que estavam próximos, especulando se eles estavam namorando.
Aquela cena foi como um soco. Não sabia exatamente o que eu estava sentindo, mas meu peito parecia apertado de uma forma que a corrida nunca causaria. E então, como se não bastasse, a memória da minha queda veio à tona, trazendo consigo uma onda avassaladora de vergonha.
Sem olhar para ninguém, comecei a caminhar em direção à enfermaria. Mantive os olhos fixos no chão, evitando os olhares ao redor. Cada passo parecia pesar mais do que o anterior, como se eu estivesse arrastando junto minha própria decepção.
Enquanto me afastava, ouvi passos atrás de mim. Rintarou e Seiji me seguiram, como sempre. Eles não eram do tipo que deixavam alguém enfrentar algo sozinho, e naquele momento, eu me sentia imensamente grato por isso.
— Ei, Shin. Não esquenta com isso. — Rintarou disse, a voz calma, mas firme, enquanto se aproximava de mim. Ele me deu um leve soco no ombro, o tipo de gesto que carregava mais significado do que qualquer palavra. — Você foi incrível lá fora. De verdade.
Seiji, como era de se esperar, tinha uma abordagem completamente diferente. Ele soltou uma gargalhada e deu um tapinha nas minhas costas, que quase me fez perder o equilíbrio.
— É, cara, todo mundo tropeça de vez em quando. Literalmente! — Ele piscou um olho para mim, um sorriso travesso no rosto. — Mas olha só, você ainda conseguiu o terceiro lugar! Não é qualquer um que cai e ainda sobe no pódio, sabia?
Eu não consegui evitar um pequeno sorriso. Era impossível não me sentir um pouco melhor com eles por perto. Eles tinham um jeito único de transformar até os piores momentos em algo suportável.
— Valeu, pessoal — murmurei, minha voz baixa, mas sincera.
Eles ficaram em silêncio por um instante, respeitando o espaço que eu precisava, mas sua presença era reconfortante. Com isso, continuei meu caminho até a enfermaria, onde poderia pelo menos cuidar do estrago nos meus joelhos.
A porta rangeu levemente ao abrir, e o ambiente fresco da sala foi como um alívio imediato para o calor do campo. Caminhei até uma cadeira, pronto para desinfetar o ferimento e colocar um curativo.
Mas, antes que pudesse fazer qualquer coisa, notei que não estava sozinho. Aiko estava ali também.
Ela olhou para mim por um momento, pensativa, e então seu rosto se iluminou.
— Oh! Shin, certo? — perguntou ela, confirmando o meu nome.
— Ah, isso — respondi, meio surpreso que ela lembrasse.
— O que você veio fazer aqui? — perguntou ela
— Vim desinfetar e colocar um curativo — expliquei, mostrando o machucado.
Aiko sorriu gentilmente.
— Deixe-me ajudar com isso.
Sentei-me e deixei que ela cuidasse do meu ferimento. Enquanto ela me tratava, um silêncio confortável se instalou. Aiko era habilidosa e cuidadosa, o que me fez sentir um pouco menos constrangido com a situação.
No meio do silêncio, ela finalmente quebrou o gelo.
— Vi o que aconteceu na pista de corrida — disse ela, suavemente.
Fiquei com vergonha e virei a cabeça, tentando evitar seu olhar.
— Não se preocupe. Eu mesma já caí muitas vezes. Cair não é motivo de vergonha, mas não levantar e desistir é que é.
Aquelas palavras me pegaram de surpresa. Aiko continuou, enquanto terminava de desinfetar o ferimento e aplicava o curativo.
— O que eu vi foi alguém que, mesmo após cair, teve a coragem de se levantar e continuar. Isso é algo para se orgulhar, Shin.
Ela terminou de tratar o meu joelho e sorriu para mim.
— Não pense que foi uma vergonha. Pelo contrário, foi uma demonstração de força. — disse ela, enquanto mostrava um grande sorriso no rosto.
Fiquei em silêncio por um momento, absorvendo suas palavras. Elas eram mais profundas do que eu esperava, e me fizeram sentir um pouco melhor sobre o que aconteceu.
— Obrigado, Aiko — disse, finalmente, levantando-me.
— De nada. E lembre-se, sempre que precisar, estou por aqui.
Nos despedimos, e saí da enfermaria com os passos mais lentos do que o normal. As palavras de Aiko ainda ecoavam na minha mente, suaves, mas carregadas de algo que eu não conseguia explicar.
A área do refeitório improvisado para o festival estava movimentada, cheia de vozes altas, risadas e sons de talheres ecoando pelo espaço aberto. Famílias inteiras estavam sentadas juntas, conversando e compartilhando comidas feitas em casa ou compradas no local. Era o típico caos alegre que parecia dar vida ao festival esportivo.
Mas, diferente de todos, eu estava sozinho. Tinha pedido para minha família não vir ao evento, achando que seria mais fácil não ter ninguém assistindo. Agora, enquanto me sentava em um canto mais afastado, com a marmita cuidadosamente preparada por minha mãe em mãos, essa decisão parecia um pouco amarga.
Enquanto procurava um lugar para sentar, avistei Yuki à distância. Ela estava parada, olhando ao redor com uma expressão nervosa, segurando algo na mão. Não consegui ver o que era, e ela o apertava contra o peito, como se contivesse algo importante. O que poderia ser tão importante para deixá-la assim?
Quase instintivamente, dei alguns passos em sua direção, mas hesitei. A curiosidade lutava contra minha timidez. "Devo perguntar o que está acontecendo? Não, e se ela me achar intrometido?" pensei.
Ela olhou em minha direção por um breve momento, e senti um frio na barriga. Yuki parecia querer algo, mas estava tão perdida em seus pensamentos que não me viu. O mistério do objeto, que ela segurava, e seu comportamento inquieto me corroeram por dentro, enchendo minha mente de perguntas sem resposta.
"O que será que a está preocupando tanto?" pensei, sentindo a curiosidade me corroer ainda mais. Esse mistério, combinado com a tensão do festival, me acompanhou pelo resto do dia, criando uma expectativa inquieta para o que viria a seguir. Mal sabia eu que aquela pergunta me levaria a descobertas inesperadas.