Nos tempos em que Kowalsk servia no quartel, ele era mais que capacitado para ensinar o devido lugar aos arrogantes recrutas que ainda não conheciam sua fama.
— Ah! Então quer dizer que o sargento Dugger costuma executar as pessoas que vêm negociar com ele.
E olhando arrogantemente para Kowalsk, vociferou:
— E o que exatamente um lixo velho como você teria para negociar comigo?
— Se você não soltar minha amiga e não me soltar em 10 minutos, avise o Coronel Cleaner que a porcentagem de seus homens vai cair consideravelmente, e depois o que sobrar vai se tornar alimento para os dragões da região.
— Você está me ameaçando, velho? Saiba que agora você é meu prisioneiro e faço de você o que eu quiser. E quanto aos dragões, essa será sua última preocupação. Essa é uma promessa que faço para você.
E com uma cabeçada bem forte, Kowalsk arremessou um soldado que bateu no Sargento Dugger, que estava à sua frente, com tanta força que o mesmo caiu assustado.
Os demais subordinados saíram apressadamente da cela, arrastando o sargento Dugger e trancando-a, deixando Kowalsk sozinho.
— Não faça promessas que você não pode cumprir, Sargento Dugger. Você nem sequer é uma ameaça para mim, mas vou cuidar de você com bastante carinho se não me soltar logo.
— Então acha que eu não sou uma ameaça para você, velho? Vamos ver se você resiste a granadas e a tiros. Vamos descobrir o quanto você é forte e resistente.
Ameaçou o militar, bufando de raiva.
— Tudo bem, Sargento. Faça isso, mas faça com eficiência porque se você não fizer eficientemente, eu vou acabar com você e com sua moral. Toda vez que você olhar para mim, você vai tremer tanto que vai se ajoelhar e implorar por sua vida. Está me escutando?
Sargento Dugger sentiu-se pressionado com o olhar de Kowalsk e, mesmo que ele estivesse vendo aquele cara atrás das grades, ele sentia que de alguma forma aquele velho louco poderia cumprir suas ameaças.
E foi correndo informar para o Coronel Cleaner o que estava acontecendo, obviamente ocultando os detalhes da abordagem indevida na base da agressão e excesso de violência.
O Coronel Cleaner, desconfiado das atitudes do Sargento Dugger e percebendo um certo medo em sua voz, ainda o avisou:
— Sargento Dugger, por que você não me conta essa história exatamente como aconteceu, assim poderemos evitar futuros infortúnios?
Mas sem querer alterar sua história com medo de entrar em contradição, o Sargento Dugger simplesmente disse:
— Coronel Cleaner, não há outra versão. Aconteceu exatamente da maneira que eu lhe disse.
— Está bem, Sargento Dugger. Vou acreditar em você. Já estou a caminho para ver esse prisioneiro encrenqueiro.
Minutos depois, o Coronel Cleaner não só aparecia como reconhecia o prisioneiro.
— Kowalsk — disse o Coronel em um tom grave, sua voz ecoando no corredor gelado.
— É bom vê-lo, apesar das circunstâncias sombrias que nos trouxeram até aqui.
— Coronel Cleaner, precisamos de sua ajuda. Trouxemos informações vitais que podem mudar o curso dessa guerra.
O Coronel ergueu uma sobrancelha, seu semblante carrancudo revelando uma mescla de curiosidade e desconfiança.
— Informações? E o que me garante que não são apenas promessas vazias, como tantas outras que ouvi antes?
— Coronel Cleaner — continuou Kowalsk com voz firme, enfrentando o olhar cansado do líder da base. — "Chegamos com informações cruciais. Precisamos unir forças se quisermos ter alguma chance contra os dragões."
O Coronel Cleaner ergueu o olhar, seu semblante endurecido pela desolação que o cercava.
— Informações? Já ouvi promessas vazias antes, Kowalsk. Não sei se consigo confiar novamente.
Antes que Kowalsk pudesse responder, um desafio inesperado ecoou pelo corredor gelado.
— Se não confia em mim, Coronel, prove que ainda é capaz de liderar esta base!
A ousadia de Kowalsk cortou o ar gelado. O Coronel, surpreso pela audácia do soldado, aceitou o desafio com um aceno grave de cabeça.
— Kowalsk, conhecido por sua determinação e respeito militar, antigamente havia desenvolvido um vínculo amigável com o Coronel.
Contudo, o Coronel, sendo confrontado dessa maneira, poderia não ver com bons olhos aquele desafio. E o resultado, para que serviria?
Se o Coronel Cleaner ganhasse aquele combate, nada mudaria, apenas reforçaria a sua imagem de invencível.
No entanto, se Kowalsk ganhasse, poderia gerar um impasse sobre a liderança da base.
Coronel Cleaner manteve-se em silêncio, observando Kowalsk de cima a baixo como se estivesse procurando uma fraqueza.
E manteve-se assim por alguns minutos.
Kowalsk, conhecido por sua determinação e respeito pela hierarquia militar, encarava o Coronel com uma mistura de respeito e preocupação. Sabia que o tempo para decisões difíceis havia chegado.
E apesar de parecer, essa decisão não era fácil. Aquilo não era acerto de contas, nem tão pouco uma brincadeira para ver quem era o mais forte, mas sim uma demonstração de força e liderança para o ganhador, e fraqueza e inferioridade para o perdedor.
O Coronel Cleaner era forte, rápido e conhecedor de inúmeras táticas de guerra, assim como vários truques num combate a curta distância, mas à sua frente, ele sabia que não era uma pessoa comum.
Aquele era Kowalsk, o sibilo do deserto, um soldado que se especializou de tal forma que, se um batalhão de homens fosse buscá-lo em qualquer lugar, mas tivesse a infelicidade de deixá-lo com uma arma de fogo na mão, por mais fraca que fosse, seria praticamente impossível capturá-lo vivo.
Há muito tempo que o Coronel Cleaner ouvia falar sobre suas façanhas e desejava fortemente encontrá-lo para lhe propor um desafio em combate, mas isso, obviamente, antes do despertar dos dragões.
— Eu estou libertando você dessa prisão, mas por favor, mantenha-se comportado como se ainda fosse um prisioneiro do exército.
— Não se preocupe, Coronel Cleaner, eu não pretendo fazer nenhuma besteira.
E vendo o Sargento Dugger, que parecia estar se escondendo atrás de seus soldados, Kowalsk disse:
— Afinal de contas, o único que tem atitudes incompatíveis com a patente que ostenta é o Sargento Dugger. Que não só me agrediu, mas mantém...
E antes que Kowalsk terminasse a frase, um dos homens sob as ordens do Sargento Dugger o acertou com uma coronhada na cabeça.
— Coronel Cleaner, me perdoe a falta de modos, mas eu não posso aceitar que um sujeito chegue aqui, fale o que quiser e ainda insulte o senhor com um desafio, coisa do Velho Oeste. E depois vem me insultar, dizendo que eu fiz algo contra ele. Desculpe-me por lhe dizer isso, Coronel Cleaner, mas nos tempos passados, o senhor nunca agiu assim, de forma tão passiva. O senhor é o homem que nos inspirou, nos ensinou e que nos tornou fortes. Tão forte que nós não fomos derrotados pelos dragões que nos cercam até hoje. Tão forte que nos ensinou a não nos render diante de um inimigo mais poderoso. Antes fez com que nossos instintos se tornassem mais afiados e nós fôssemos os soldados mais capazes deste país. E agora a gente abaixa a cabeça, ouve ameaças e todo tipo de provocações que esse tal Kowalsk diz? Eu lhe pergunto, Coronel, que tipo de soldados somos nós?