[Para: Querido
Sei que você tá disposto a me ajudar por algum motivo. Mas não é assim que funciona, tá ligado? Seu amigo é estilista, então tenho certeza que você sabe quanto eles cobram. Mesmo que seu amigo faça um desconto, ainda é falta de respeito pechinchar a habilidade de alguém.]
Fil enviou uma mensagem um tanto quanto extensa para Jackson quando chegou ao seu destino. Ela fez o possível para esquecer aquilo e não se deixar afetar. Mas como poderia?! Estava vivendo com um orçamento apertado. Não era como se estivesse no fundo do poço da pobreza ou que não tivesse dinheiro para pagar. Mas só de pensar em gastar uma quantia tão grande de dinheiro em algo que não 'precisava' era de partir o coração.
Ele nem sequer pediu a permissão dela.
"Sou grata por ele querer ajudar, mas não é demais?" ela murmurou para si mesma, olhando para as mensagens que enviou para Jackson, mas não recebeu resposta alguma. "Ele devia ter pelo menos…"
Fil interrompeu-se, mordendo a língua para se impedir de reclamar. Em vez disso, ela engoliu tudo o que queria dizer.
"Isso não está certo." Ela balançou a cabeça, de olhos fechados. "Ele me ajudou... muito. Se não fosse por ele, eu nem acho que teria energia para dirigir ou funcionar direito."
Ela respirou fundo e reabriu os olhos. Um sorriso sutil surgiu em seu rosto, pensando nas coisas boas que Jackson lhe ofereceu em vez das partes irritantes.
"Ele tem um jeito muito sem filtro de falar, mas... será que fez isso para me distrair?" ela ponderou, mantendo a mente clara. Ela voltou seus olhos para a tela mais uma vez, suspirando. "Ele não me deve nada, mas estou feliz que foi ele quem conheci. Não acho que ele seja tão má pessoa."
Incapaz de voltar no tempo e não enviar as mensagens que inicialmente enviou, Fil digitou no telefone.
[Para: Querido
Obrigada.]
Outra respiração superficial escapou de seus lábios, ela bloqueou o telefone e levantou o olhar para os portões do cemitério. Levou pelo menos três horas para chegar aqui. Afinal, ela não queria ir para casa e descansar. Não era isso que precisava. Assim, apesar da temperatura crescente e da dor no corpo, ela dirigiu até o único lugar que sabia que podia chorar à vontade.
Saindo do caminhão, Fil pegou as flores, frutas e até bebidas no banco de trás. Ela caminhou até a parte mais distante do gramado, parando em frente a um túmulo bem cuidado.
"Vovô," ela sussurrou, sorrindo sutil e amorosamente. "Estou aqui de novo."
Fil sentou-se devagar no gramado, colocando o buquê ao lado da sepultura. Ela começou a preparar os lanches e as bebidas que trouxe para os mortos, parando quando ouviu um sino tocar. Deslocando o olhar, ela viu a pequena capela situada dentro do cemitério.
"Eu nunca assisti a uma missa à tarde," ela disse com um sorriso, voltando os olhos para a sepultura. "Vovô, você vai ficar bravo, mas estou tendo problemas com a minha fé."
Fil colocou devagar a tigela de frutas ao lado das flores e começou a despejar um copo de bebida no copo vazio. "Se você está me vendo, então imagino o quão decepcionado você ficou com o que fiz ontem à noite." Seu sorriso estremeceu, deslizando o copo ao lado da tigela de frutas.
"Vincent... está me traindo, Vovô," ela sussurrou. "E a mulher com quem ele está me traindo é minha melhor amiga."
"Eles eram as pessoas em quem eu mais confiava." Um fino véu de lágrimas cobriu seus olhos, rindo enquanto lembrava sua dura realidade. "Pra piorar, todo mundo sabia menos eu. Não é... insano?" Ela pressionou os lábios, fungando forte, tentando com todas as suas forças não desabar em lágrimas de novo.
"Não estou tentando justificar minhas ações. Foi errado em todos os aspectos. Mas... o que eu supostamente deveria fazer?" ela murmurou, agarrando o peito tão forte quanto podia. "Dói tanto. Sinto que vou morrer."
Todas as coisas que tentou esquecer com a ajuda de Jackson voltaram para ela como um tsunami. Suas lágrimas, embora contidas, sua respiração começou a se restringir. Pensar na teia de mentiras e esquemas em que estava presa trouxe uma dor inimaginável, ela se sentia morrer.
Era estranho e era a primeira vez que sentia isso.
"O que faço?" ela sussurrou, com a respiração entrecortada. "Eu o amei, só a ele, como uma louca, eu o amei. Ainda assim... por quê... o que há de errado comigo? Eu não sou o suficiente? Meu amor foi insuficiente?"
Descobrir sobre a traição de seu noivo foi doloroso, mas as perguntas em sua mente eram ainda mais aterrorizantes. Em vez de culpar Vincent, seus primeiros pensamentos foram, o que ela fez para que ele procurasse outra pessoa? Era patético. E talvez, a maior força motriz para o motivo pelo qual ela dormiu com um estranho.
Para dar a ele um motivo para traí-la.
Assim era como ela o amava. Não importa como ela disfarçasse seu raciocínio sob a pretensão de vingança, no fundo da sua mente, ela sabia que não era só isso. Se ela estragasse tudo, então teria uma explicação para o porquê de Vincent terminar com ela.
Era uma maneira de proteger seu coração. Bastante estranho e complicado, mas era assim que era. Como ela mencionou, ela amava Vincent, só ele, como uma louca.
"Mas então…" ela riu através dos dentes cerrados. "Enquanto eu estava perdendo a cabeça, todos eles... não tinham consciência e ainda assim me chamavam descaradamente de amiga, me fazendo de idiota. Estou errada em não querer ser mais uma trouxa, hmm?"
Fil fungou forte, socando o peito com toda a força que podia. "Você pode não concordar comigo, Vovô. Mas eu decidi. Não posso mais ser a mesma Fil. Não posso mais ser a menininha que você sempre dizia para ser perdoadora e forte."
"Agora, só posso ser forte." Ela balançou a cabeça, um sorriso forçado substituiu a amargura em seu rosto. "Eu não vou deixar eles se safarem ilesos. Se eu vou para o inferno, então que eu os arraste todos comigo."
Ela enxugou as lágrimas, respirando fundo, olhos ardendo em determinação.
*****
Enquanto isso...
[De: Luaflor
Obrigada.]
Jackson riu assim que viu a última mensagem que Fil lhe enviou. Em contraste com as mensagens anteriores, essa soava como se ela de repente tivesse se recompuesto.
"Ahhh... você tá sorrindo."
De repente, uma voz ao lado soou no ouvido do Jackson. Virando a cabeça, seus olhos pousaram na outra fileira da primeira classe.
"Deixa eu adivinhar," o homem com um semblante brincalhão que combinava com seu cabelo louro de seda esfregou o queixo. "É a Tia de ontem à noite!"
Jackson deu um sorriso maroto. "Aquela Tia da noite passada... você sabe o que sou para ela?"
"Seu deus masculino?"
"Sua amante."
O homem loiro quase vomitou sangue ao ouvir isso, quase se engasgando com isso. Ele ouviu certo? Jackson, uma amante? Caramba! Ela ainda estava viva?
"Vamos acabar com essa viagem logo," disse Jackson. "Estarei voando de volta para cá mais tarde."
"Hã? Por quê? Não enterrou o corpo dela?"
"Eu disse que encontraria com ela amanhã."
O homem loiro piscou várias vezes, esfregando os olhos para ter certeza de que estava vendo direito. Mas mesmo depois disso, ainda estava lá. O sorriso suave no rosto de Jackson e seus olhos carinhosos enquanto ele relia as mensagens de Fil.
"Que tipo... de veneno é ela?"