Meia hora depois, Zed e Jéssica se encontraram em um porão subterrâneo. As paredes, sem pintura, pareciam rudes, mas tinham sobrevivido ao teste do tempo. O que chamou a atenção de Zed foram os sensores de movimento e câmeras.
"Parece que a sua chefe realmente leva o trabalho dela a sério," Zed não economizou nos elogios. O grupo permaneceu em silêncio enquanto caminhava para mais adentro.
"A chefe deles é uma mulher chamada Irina," Jéssica o corrigiu.
"Ah é?" Zed fingiu surpresa. Na verdade, ele já tinha suas suspeitas quando ouviu o gordo dando ordens em nome de sua 'irmã'.
"Vou falar com a chefe deles em seu nome... por favor, deixe que eu faço isso," Jéssica estava realmente preocupada com ele.
"Claro, se possível, eu não quero morrer," respondeu Zed.
"Cadê a sua arrogância de antes?" Monto não pôde deixar de sorrir com o destino de Zed. Ele até já tinha planejado como iria matar Zed.
"Se você machucar o Zed, então eu nunca mais vou ajudar vocês!" Jéssica se colocou na frente de Zed. Ela usou seu papel como curandeira como uma moeda de troca.
"Ouvi dizer que seu irmão acabou de começar a escola. Seria terrível se ele fosse atropelado no caminho para lá!" Monto disse com um sorriso malicioso.
"!!"
Jéssica sentiu sua determinação vacilar. A gangue sempre usava a sua família para fazê-la obedecer. Uma vez, ela tentou procurar ajuda da polícia, mas eles apenas lhe deram voltas. Mais tarde, ela descobriu que a gangue tinha subornado os policiais.
"Eu não estou brincando! Se você machucar o Zed, eu nunca mais vou ajudar vocês!" Jéssica declarou resolutamente. Ela sabia que era hora de contra-atacar; caso contrário, eles nunca parariam.
"Vadia, você só vai chorar quando ver o seu irmão no caixão?" Monto cerrava os dentes de raiva. Ele nunca a tinha visto tão determinada.
"E os seus amigos?" Jéssica revidou. "Você conseguiria bancar o tratamento caro dos hospitais regularmente?"
Havia enfrentamentos regulares entre gangues rivais que resultavam em baixas. Jéssica poderia ajudar a reduzir as baixas, mas e se ela se recusasse?
Droga!
Os olhos de Monto ardiam de fúria. Essa mulher nunca tinha respondido antes! Mas hoje, ela estava avisando-os das consequências?!
Zed estava surpreso com a determinação de Jéssica. Ele não achava que ela tinha o que era necessário para reagir diante da ameaça contra a família dela.
"Acho que ela sempre soube o seu valor para a gangue mas nunca falou por medo pela segurança de sua família," pensou Zed com um sorriso. "Os incidentes na academia fizeram ela perceber que ela tem que lutar pelos seus direitos; caso contrário, a intimidação nunca acabaria."
Talvez ela sempre tenha sabido disso, mas faltava a coragem para dar o primeiro passo.
"Por que diabos você está sorrindo?" Monto notou o sorriso dele.
"Você não disse que sorrir era proibido," respondeu Zed. Ele notou uma cadeira vazia e acomodou-se nela confortavelmente.
Monto queria atacar, mas Zima o deteve.
"Vamos informar a Irina primeiro," raciocinou Zima. Depois, ele ordenou que Jéssica o seguisse até o outro cômodo para que ela pudesse curar os camaradas deles.
"A menos que Irina garanta a segurança do Zed, eu não vou ajudar vocês de forma alguma!" Jéssica estava firme em sua decisão. Ela sentou-se numa cadeira oposta a Zed.
Monto e Zima controlaram a raiva e se retiraram.
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Numa sala a certa distância, Zima explicou a situação para uma mulher que parecia estar na casa dos trinta anos. Ela era agraciada com um corpo esguio e pele clara e cremosa.
"Sis, não podemos ceder à Jéssica! Caso contrário, ela vai ficar fora do nosso controle!" Monto explicou seu ponto de vista.
Irina assentiu. Se eles permitissem a Jéssica uma vitória sequer, então as exigências dela aumentariam.
"Esse moleque vai morrer!" Irina tomou sua decisão. Ela tinha de mostrar para Jéssica que ela não tinha direito nenhum de barganha, matando o garoto. Ela tinha certeza de que Jéssica não teria escolha a não ser seguir a gangue, a menos que ela quisesse que os membros de sua família morressem.
"Deixe-me ver o moleque que ousou machucar o meu irmão!"
Irina se dirigiu à sala onde Zed e Jéssica estavam sentados.
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Jéssica percebeu Irina enquanto Zed estava distraído, já que estava sentado na direção oposta.
"Jéssica, você tem muita coragem para exigir a segurança de um homem que machucou o meu irmão!" Irina trovejou.
"Irina, você está enganada. Monto atacou ele primeiro!" Jéssica explicou.
"Cala a boca!" Irina lançou um olhar ameaçador.
Ela então caminhou em direção à cadeira onde Zed estava sentado. Ela realmente queria ver que tipo de homem tinha influenciado Jéssica.
"Sis, mate ele!"
Monto riu por trás.
"Vou morrer?"
Zed virou-se e viu uma mulher caminhando em sua direção. Ele achou que ela era bastante atraente, o que o fez sentir-se triste, pois tinha planejado matar todos ali.
"Sim! Você vai se arrepender de cada decisão que tomou!" Monto não conseguiu conter sua excitação. "Sis, mate ele devagar!"
Então Monto notou algo estranho. Sua irmã congelou no lugar como uma estátua.
"Sis?"
O rosto de Irina ficou pálido. Seu corpo inteiro suava muito, como se ela tivesse visto um fantasma.
"Você é o Zed!" Irina murmurou em descrença.
"Eu sou," Zed assentiu com a cabeça. "E você deve ser a Irina. Eu gostaria de dizer que é um prazer conhecê-la, mas honestamente, não é."
Irina sentiu seu couro cabeludo formigar. Rapidamente, ela virou-se e, sem qualquer aviso, deu um tapa no irmão. O tapa foi tão forte que fez Monto rolar no ar por algum tempo antes de cair no chão.
"O quê?!"
Todo mundo na sala ficou chocado. Ela não tinha vindo para punir o Zed, e sim o próprio irmão?
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Zed também ficou surpreso com as ações dela, mas então pensou em algo.
Lá fora, o aerobarco estava no modo furtivo, com suas armas laser apontadas para áreas vitais do prédio. Claudia tinha hackeado as câmeras de vigilância, então ela conseguia observar tudo lá dentro. A reviravolta súbita a surpreendeu.
[[Finalmente, uma pessoa inteligente em meio a um grupo de idiotas.]] Claudia colocou as armas em espera e continuou monitorando a situação.
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Irina acertou um chute em Zima. "Argh!" Zima gritou enquanto batia na parede e cuspia sangue misturado com dois dentes.
"O que tá acontecendo?!" Jéssica estava chocada com a reviravolta dos acontecimentos. Por que Irina estava batendo nos seus subordinados?
Os outros na sala estavam horrorizados.
Que diabos está acontecendo aqui!?
Irina virou-se em direção à Jéssica e disse, "Eu puni meu irmão e meu subordinado, então espero que não haja mágoas entre nós. Além disso, espero que você possa continuar nos ajudando."
"?!" Jéssica tinha dificuldade em acreditar nas palavras que saíam da boca de Irina.
A poderosíssima líder do grupo estava realmente falando assim?!
"Mana, o que você está fazendo?" Monto perguntou irritado.
"Cala a boca, idiota!" Irina fez um gesto ameaçador.
"Jéssica não vai te ajudar," Zed falou de repente.
"Z-Zed, por favor, entenda que o acordo é bom para ela também! Nós estamos pagando-a, então ela também não sai no prejuízo!" Irina tentou argumentar.
"Pagamento?!" Jéssica se assustou.
Quando é que ela tinha sido paga por ajudar a gangue!?
Vendo a expressão surpresa de Jéssica, Irina entendeu que era o pior cenário possível. Mais uma vez, ela levantou a mão e deu um tapa no irmão.
"Você embolsou o dinheiro que era o pagamento dela!?"
Irina desejou que o irmão estivesse morto. Em qualquer relação, era necessário ter um pouco de boa vontade, mesmo que a base fosse construída no medo.
"Mana, eu achei que era um desperdício pagar ela---"
"Então você embolsou o dinheiro!!" Irina acertou outro tapa em seu rosto.
"Você pode punir seu irmão depois," Zed saiu da cadeira e disse, "Primeiro, pague à Jéssica o que você deve junto com os juros. Depois faça uma confissão digital absolvendo-a de qualquer culpa por toda ajuda que ela lhe deu."
Jéssica ficou surpresa com as exigências dele. Não só estava exigindo dinheiro, mas também uma confissão digital. Uma confissão que poderia ajudar a provar a inocência de Jéssica se alguém verificasse seu passado e encontrasse ligações criminais.
"Ok."
Irina concordou relutantemente. Ela saiu para um quarto adjacente para preparar o acordo.
Zed notou o estado lastimável de Monto, mas ele podia julgar muito bem o tipo de ódio e malícia que Monto tinha por ele e por Jéssica.
Ele se virou para uma das câmeras e murmurou, "Tem insetos demais aqui."
Lá fora, através das câmeras, Claudia leu o movimento labial de seu mestre.
[[Entendido, senhor.]]
A base do aerobarco se abriu, e uma pequena vespa mecânica saiu. A vespa bateu suas asas e entrou no porão, não detectada pelos sensores de movimento.
Monto não conseguia entender o comportamento da irmã hoje.
Por que ela estava sendo tão gentil com esse bastardo e aquela vadia?
Ele tocou o rosto para sentir as bochechas inchadas e o sangue escorrendo pelos lábios. De repente, por trás, sentiu algo picando seu pescoço. Ele se virou e viu uma vespa se afastando rapidamente.
"Droga, até os insetos estão me picando hoje!" Monto xingou alto.
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Dez minutos depois, Zed e Jéssica deixaram o prédio. Havia uma mala na mão de Jéssica, mas ela não se atrevia a acreditar no conteúdo lá dentro.
Acabou tudo assim mesmo!? Foi fácil demais! Não houve nem derramamento de sangue!
"Agora eu estou livre..." Jéssica murmurou.
"Está," Zed concordou. "Você pode se concentrar nos seus estudos sem ter que se preocupar com nada."
"Obrigada---deixa pra lá. Não vou mais te agradecer daqui pra frente!" Jéssica deu um sorriso raro.
"Assim é melhor," Zed concordou e depois disse, "Entregue a confissão digital para a Felicidade para que ela possa encerrar as pontas soltas com a ajuda do pai dela. Se você a tivesse contado antes, ela teria resolvido a situação rapidinho."
"Eu sei."
Jéssica sabia que eles eram seus amigos, então não havia nada de errado em aceitar a ajuda deles.
A uma certa distância deles, o aerobarco vermelho os aguardava.
"Está tarde, então vamos," Zed falou para ela. Rapidamente, eles entraram e deixaram o local.
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"Zed, posso te perguntar uma coisa?" A voz de Jéssica estava baixa.
"Claro," a atenção de Zed estava na estrada à frente.
"Você conhece a Irina?"
Jéssica fez a pergunta que a incomodava. Ela achou que definitivamente havia uma conexão; senão, por que Irina se comportaria daquela maneira?
"Não. Foi a primeira vez que a encontrei," Zed respondeu.
"O quê!?" Jéssica ficou chocada.
"Eu não tenho motivo para mentir."
"Eu não quis dizer que você estava mentindo," Jéssica se desculpou, "Você é talvez membro de alguma máfia ou grupo do governo?"
"...Não. Sua imaginação é bem fértil, embora."
"Então por que ela agiria dessa maneira depois de te ver?" Jéssica já não sentia mais nenhum constrangimento em falar com ele.
"Eu não sei, mas tenho um palpite se estiver interessada," Zed respondeu.
"Por favor, diga," Jéssica pediu.
"Irina é uma profissional no que faz!" Zed respondeu com um sorriso.
"O que isso quer dizer?!"