A morte era dolorosa por um momento, mas ter um bebê era uma tortura que durava anos, senão décadas. Cuidar de uma criança enquanto perde todo o sono não era algo que ele queria experimentar.
Ele acreditava que a vida se transforma num inferno depois de ter um filho, pois o pai tem que fazer da criança o centro do seu mundo. Um pai não pode mais dar prioridade aos seus próprios sonhos, já que todo o foco foi reservado para o "pacotinho de alegria". Ele nunca conseguia entender por que os pais sacrificavam e sofriam tanto em prol dos seus filhos.
Talvez viver a vida de um órfão — apesar de ter pais — o tornasse difícil de entender como uma relação entre pai e filho funcionava. Enquanto ele odiava seus próprios pais pelo que fizeram, nunca deixou que seu ódio se transformasse em preconceito.
Caso contrário, ele não teria sido tocado pelas ações daquela mulher na favela. Ela distribuía comida entre os filhos enquanto dormia de estômago vazio.
Quando ele ajudou a mulher e viu o olhar de alegria no rosto dela, ele se sentiu feliz.
Ele pode até ser fascinado pelo amor que um pai pode ter por seu filho, mas isso não significava que ele queria experimentar o amor de se tornar um pai. O único amor que ele realmente queria era o amor entre as coxas de uma mulher.
É pelo menos o que ele pensava...
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Zed enxugou suas lágrimas e recuperou a compostura.
"Podemos retomar o café da manhã se suas lágrimas de alegria pararam?" Felicidade perguntou, com uma voz fria. Sua expressão mostrava quanto ela estava descontente com o comportamento do Zed.
"Sim," Zed respondeu com um sorriso forçado.
Eles retomaram o café da manhã, mas outros estudantes ainda estavam focados na tela da TV. A âncora feminina e Erone não haviam parado a discussão sobre o "últimas notícias".
"Senhor Kiba derrubou Jack com um único tapa," Erone tinha a expressão de um devoto enquanto continuava, "Eu espero que esse tapa tenha aberto os olhos de Jack para que ele não se meta mais entre um pai e uma criança."
"Eu espero o mesmo, mas tenho medo que já não seja mais possível," a âncora feminina afirmou amargamente.
"O que você quer dizer?" Erone perguntou.
"Nossas fontes relataram que o pai do Jack, Hank, teve uma briga com Kiba ontem," a âncora feminina respondeu.
"Senhor Kiba e Hank tinham uma relação profissional há anos, mas agora está rompida?" Erone tinha uma expressão de choque no rosto.
"Pelo que nossas fontes reuniram, Kiba e Hank tiveram uma feia briga. Ao que tudo indica, Kiba falou para Hank que Agatha deveria ficar com ele já que ela estava grávida do filho dele," a âncora feminina explicou.
Zed estava bebendo um copo de suco, mas sua atenção ainda estava nas notícias. Ele não conseguia acreditar até que ponto a mídia estava mentindo.
A briga entre ele e Hank foi por um motivo totalmente diferente, e a mídia deveria ter conhecimento disso. E ainda assim, eles manipularam os fatos a seu próprio favor.
"Felicidade, eu tenho algumas ligações para fazer," Zed se desculpou da mesa.
"Claro, mas não se esqueça que temos aula de história às 9 da manhã e um treino de combate às 10 da manhã," Felicidade o lembrou sobre o horário das aulas. Haviam cerca de quinze minutos antes das aulas começarem.
"Eu me juntarei a você na aula," Zed tranquilizou-a antes de partir.
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Ele caminhou até o espaço de estacionamento do campus da academia. Os sensores do seu aerobarco detectaram sua presença, e a porta se abriu automaticamente.
Zed sentou-se no assento do motorista, após o que se transformou em Kiba. O design do aerobarco e sua gestão feita pela Claudia garantiram que seu segredo ficasse seguro.
"Claudia, ligue para Agatha," Kiba comandou.
[[Entendido]]
Um minuto depois, uma tela virtual apareceu à sua frente enquanto a videochamada começava.
"Agatha," Kiba disse devagar. Ele podia ver pela transmissão do vídeo que ela estava exausta.
"Kiba, por que você ligou?" Agatha perguntou.
Ela podia muito bem adivinhar o motivo da ligação, mas mesmo assim, ela realmente não queria falar sobre isso. Nos últimos vinte minutos, a vida dela havia se tornado um inferno com todas as ligações da mídia, seus amigos e familiares.
"Eu liguei para me desculpar," Kiba respondeu. Seus olhos e voz estavam cheios de culpa.
Agatha foi muito boa para ele, mas ele arruinou a vida dela. Ontem, quando ele contou a ela sobre seu passado, ela o abraçou para dizer que ele não estava mais sozinho. Aquele gesto foi algo que tocou o coração dele.
Mesmo antes do caso e do evento de ontem, ele a conhecia muito bem. Ela fez apenas coisas boas por ele, então como ele não poderia se sentir culpado por prejudicá-la?
"Você não precisa se desculpar," Agatha continuou com um suspiro, "No fim das contas, foi minha decisão ter um caso com você. Eu não tenho direito de te culpar por algo que fiz por minha própria vontade, muito menos te pedir desculpas."
"Você já sabe que o falatório da mídia não foi por causa do caso. Foi por causa do ato estúpido que eu fiz ontem," Kiba disse.
Quando Jack informou a ele que Agatha estava grávida, Kiba falou coisas como, "Ninguém me disse que eu ia ser pai," "Você tem certeza de que o filho não é meu?" "Lembro da Agatha me dizendo que eu alcancei um ponto que nenhum homem jamais alcançou!"
Kiba se divertiu bastante com as reações de Jack, mas agora ele sabia que suas ações também custaram a Agatha. Ele não se arrependia do que fez a Jack, mas se arrependia de prejudicar Agatha.
"Eu sei, mas você também não precisa se desculpar por isso já que você já se desculpou ontem," Agatha disse, pensando na conversa que teve com ele na sacada.
"Agatha, se houver qualquer coisa que eu possa fazer, por favor me diga... qualquer coisa que você quiser!" Kiba falou sério.
Ele sabia que as notícias da mídia de hoje resultariam num estigma para Agatha para sempre. Talvez até o filho dela sofresse por causa disso.
Sempre haveria pessoas na sociedade que abririam feridas antigas para seu próprio prazer. Os homens raramente são escrutinados por ter um caso, mas para as mulheres é diferente.
Agatha podia dizer pela expressão e voz dele o quanto ele se sentia culpado. Ela sabia sobre a vida que ele viveu e os sonhos que ele procurou.
"Se eu precisar de ajuda, eu vou te pedir," Agatha forçou um sorriso.
A situação atual tornava impossível para ela sorrir, mas ela sabia que tinha que tentar. Ela já estava sofrendo e não queria vê-lo sofrer por causa dela. Não havia necessidade de mais sofredores neste mundo.
"Obrigado. Eu tenho uma ligação urgente para fazer, então, por favor, me desculpe," Kiba terminou a videochamada.
Ele podia imaginar o quão difícil tinha sido para ela atender sua ligação e falar com ele de forma gentil. Prolongar a conversa só teria tornado as coisas mais difíceis para Agatha, então ele decidiu terminar.
Ele sentou com os olhos fechados enquanto contemplava Agatha e as notícias a seu respeito. Após alguns minutos, ele abriu os olhos.
"Eu não gosto de ser usado, muito menos quando prejudica alguém que me importo!" Os olhos de Kiba se tornaram frios. Foi a primeira vez na sua vida que ele sentiu verdadeira culpa.
"Claudia, encontre-me os detalhes das notícias---"
[[Eu já reuni os detalhes. Só esperando você pedir.]] Claudia não deixou Kiba completar suas palavras.
"Você realmente me conhece bem," Kiba sorriu. Ele tinha certeza que ela havia descoberto os detalhes assim que as notícias saíram.
[[É meu dever, senhor. De qualquer forma, aqui está o que você precisa saber: Notícias SBC é propriedade de Daniel Enfield. Pela informação elementar que eu hackeei do servidor das Notícias SBC, é evidente que Daniel foi o principal culpado pelo seu problema hoje.]]
"Ele é casado?" Kiba perguntou.
[[Sim. Ele é casado com a Sarah e ela é muito gostosa.]]
A tela virtual piscou com imagens da Sarah.
"Bom," Com um sorriso, ele continuou, "Agora ligue para esse Daniel."
Um minuto depois, a videoconferência começou com a tela virtual servindo de interface.
Daniel tinha um sorriso no rosto enquanto dava o primeiro passo na conversa, "Eu me sinto honrado por um grande homem como você ter me ligado."
"Já te disseram que sua cara parece uma merda?" Kiba perguntou com uma voz descompromissada.
O sorriso no rosto de Daniel se endureceu. Ele tinha ouvido que Kiba era alguém que se vingaria diante da menor ofensa, mas ele não estava preocupado.
Em última análise, o poder de um único mutante não poderia concorrer com uma organização. A não ser que fossem mutantes de categoria Divina como aqueles do governo, das nove famílias aristocráticas, ou do misterioso patrimônio.
Daniel estava confiante de que Kiba não era tão forte pelas informações que havia reunido. Ele acreditava que Kiba estava entre os três mutantes mais fortes da cidade baseado em atividades recentes, por isso, ele era poderoso, mas não o suficiente para erradicar as Notícias SBC.
Enquanto ele sabia que Kiba ficaria ofendido pelas notícias, ele nunca pensou que Kiba usaria um insulto desde o início.
"Kiba, eu sei que você pode estar bravo por causa das notícias, mas por favor saiba que não tive nenhum envolvimento com isso. Eu não gerencio as atividades diárias do meu canal," Daniel tentou ser paciente.
Ele não mostrou sua raiva porque sabia que a raiva torna um homem vulnerável.
"Claro, você não teve nenhuma mão nisso," Kiba fez um gesto com a mão como se fosse algo óbvio, "Na verdade, minha ligação é por um motivo totalmente diferente."
"Um motivo diferente?"
"Sim. E não é sobre sua cara parecer merda. Tenho certeza que você ouve isso o tempo todo, então eu não preciso te ligar para isso."
"Me diga o que você quer," Daniel disse enquanto tentava controlar a raiva que fervia dentro dele.
"Eu não quero nada. Só queria te dizer para se preparar," Kiba respondeu.
"Preparar para o quê?" Daniel perguntou.
"Para ser corno."