Chapter 2 - Como-As-Coisas-Estão-Agora.

Deve estar se perguntando de onde diabos você veio parar, não é? - Boyd indagou quando viu Harry se apresentar a todos os situados no hospital, se voltando logo a ele.

- Eu já estive em situações estranhas antes, mas isso aqui... parece ter algo mais profundo. Não é só uma cidade presa em loop de tempo, é? Essas criaturas... eu não sei como explicar. - Harry respondeu encostando-se na parede, cruzando os braços.

- Não. Nada aqui é natural. Chegamos a chamar esse lugar de "cidade", mas, na verdade, é uma prisão. Ninguém sabe como ou por quê. Só sabemos que uma vez que você entra, não sai. - Boyd explicou. - E as pessoas que saem à noite, chamamos de "monstros", mas não sabemos o que realmente são ou de onde exatamente vêm. - Disse ele sob olhar cético de Jim, que só se manteve quieto até agora, pois o Agente Potter era claramente alguém de grande escalão no governo perante esse distintivo de uma suposta "S.H.I.E.L.D". - Só sabemos que saem à noite para matar e gostam de brincar com as vítimas, antes de devorá-las.

- Isso explica a tensão daqui. Mas aqueles talismãs... vi um na casa de Lauren quando cheguei ontem à noite. É algum tipo de proteção que criaram? - Harry indagou curioso quando vira o talismã ao lado, preso na parede.

- Sim, esses pequenos pedaços de pedra são a única coisa que nos mantém vivos. Coloque um na sua casa e eles não podem entrar. Não sabemos como ou por quê, mas funcionam. Sem eles, é só questão de tempo antes que essas coisas te peguem. - Boyd explicou, gostando de como enfim não era para alguém desesperado que ele tinha de explicar sobre esse lugar.

- Você tem ideia de onde vêm esses talismãs? Quem os fez? Quem desenhou as runas? - Tocou-o ele ao talismã, não sentindo nenhuma relação mágica, na realidade mais parecia um pedaço decorativo de pedra, ficando a dúvida se isso era realmente magico ou talvez algo tão além de sua capacidade que ele nem podia sentir vestígio algum.

- Não exatamente. Nós os encontramos em uma espécie de tumba na floresta que cerca a cidade. Alguém os deixou lá, como se soubesse do que íamos precisar. - Boyd explicou, com Harry arqueando levemente a sobrancelha, sabendo que na realidade não havia "nós", esse homem foi quem encontrou tudo enquanto o resto parecia só sentar e coçar o saco esperando alguma intervenção divina ou ação própria de tal xerife. - Mas só temos um número limitado, novos moradores significam mais bocas pra alimentar e menos talismãs pra proteger, sem contar que o número de casas na cidade é algo mínimo, dando sorte delas serem com dois andares e porões grandes.

- Quando eu os vi noite anterior, pareciam ser uma combinação de runas nórdicas e símbolos que se assemelham a algumas tribos indígenas americanas, ou pinturas rupestres mais antigas, mas as runas não se alinham nem ao Futhark Antigo, nem ao Futhark Jovem. - Harry explicou, obtendo assim a atenção geral sob si. - Eu não me aprofundei nos símbolos para ver se eles correspondem a uma tribo específica, pois claramente aquilo deveria ficar na parede e temi que mexer neles pudesse tornar a casa vulnerável e no processo, por Lauren e Meagan em risco... - Harry suspirou, aproveitando enquanto ainda não anoitecia totalmente para pegar o objeto em mãos e estudar curiosamente isso. - E também não é como se eu tivesse um conhecimento aprofundado em Runas Antigas para ser um perito no assunto. - Harry se lembrou de como isso ainda era algo a se estudar no terceiro ano em Hogwarts, no qual ele somente se matriculou ainda na matéria.

- Runas, Futhark... índios antigos, tá falando sério? - Jim foi quem interrompeu o debate de ambos. - O que!? Vai dizer que é magia agora? - Porém, ele foi ignorado, pois Harry tinha mais interesse no objeto anômalo e na única pessoa realmente capaz ali.

- Tá, certo, Boyd... então encontrar uma árvore derrubada é o que interrompe o trajeto de todos, fazendo-os desviar do seu caminho ao ponto de chegar nessa cidade, essa é a premissa inicial de como todos aqui estão presos nessa anomalia e mesmo tentando usar veículos pelas estradas, o destino é sempre o mesmo, sempre irão retornar a cidade. - Harry disse em interrogatório após escutar tudo. - Isso tudo está mais me parecendo uma porcaria de folclore Irlandês, Escocês ou até Nórdico.

- Quê? Como assim folclore? - Boyd indagou sob a atenção dos outros nas camas do hospital, vendo como a noite enfim estava chegando, pelo clima se escurecendo lentamente cada vez mais.

Mesmo com todos os novos moradores querendo sair dali quando chegaram, foram impedidos quando Harry declarou que se alguém saísse, ele não iria interferir e salvar ninguém, muito menos se alguma das crianças tivesse sofrido algum trauma do acidente, que correr tal risco seria responsabilidade total deles.

No mínimo as pessoas contestariam isso e iriam ser céticas, porém após Jim ver a força de Harry e ainda mais seu distintivo de uma organização muito maior que meros xerifes, deu um sentido de importância a ele, fazendo-os se manterem passivos nessa situação de interrogatório que Harry sabia ser o ideal fazer para manter todos ocupados até o anoitecer e enfim verem com os próprios olhos o que ele também estava interessado no coletivo de pessoas sorridentes e macabras.

- Ah, esquece... não deve ter livros disso aqui mesmo. - Harry suspirou, com sua mente trabalhando a mil na guardiã de seu conhecimento, praguejando que nada ali batia com algo que eles já haviam lido nas bibliotecas, tendo somente suposições próximas e semelhantes, mas nunca algo concreto pela falta de informação.

- Não, por favor, continue... Se sua organização tem respostas de algo semelhante, seria interessante sabermos a conexão com o que ocorreu comigo e com todos. - Boyd citou, realmente interessado, pois enfim encontrara alguém capaz de obter respostas e não só olhar para ele como se dependesse de sua opinião para viver.

- Olha, se seguir a premissa de conhecimentos mitológicos antigos, na mitologia Irlandesa, árvores são objetos sagrados para a cultura desses povos. - Harry citou quando se aproximou da janela e viu o sol a uma fração de se pôr e ele enfim ter uma capacidade de obter respostas, porém não do povo e sim das criaturas, pois com sua filha na Maleta Engana Trouxa, agora ele podia largar mão do bom senso e enfim se soltar como vinha querendo muito fazer para explorar bem essa nova força que obteve desde o confronto em Hogwarts. - Qualquer fazendeiro Irlandês sabe o perigo ditado pelas superstições ao derrubar uma árvore antiga, como os carvalhos, freixos ou espinheiros, ou mesmo o azar de encontrar uma dessas árvores derrubadas.

- Da mesma forma que se acredita que essas árvores podem trazer boa sorte quando preservadas, elas podem trazer um terrível infortúnio quando danificadas... consideradas sagradas para as Fadas, já que podem servir como portais de entrada para o outro mundo.

- Espera aí. - Jim disse em intromissão. - Fadas, sério? - Ele indagou já perdendo a paciência com isso tudo, indo para um caminho todo errado da lógica dele.

- Vai por mim, primatas como vocês nunca entenderiam o verdadeiro perigo das Fadas... - Harry disse, já se cansando de logo um primata humano achar que ele lhe devia alguma satisfação. Como se a mente fraca deles pudesse significar algo a Harry, pois, diferente de Hogwarts ou até momentaneamente de sua filha, ele não precisava de filtro algum para se conter e se fingir de bom moço educado perto de crianças que o viam como herói, aqui ele não dava a mínima. - Mas enfim, Boyd... - Harry se voltou ao homem que mesmo escutando algo que no bom senso poderia ser uma besteira, ainda assim não contestou, pois só ele sabia o que já passou e o que já viu para vir agora querer pagar de lógico e dizer algo que seria impossível. - Sempre foi comum na Irlanda que as chamadas "Árvores das Fadas" (Fairy Trees) fossem respeitadas até mesmo por fazendeiros que temem cortá-las ou derrubá-las.

- Está parecendo muito com o Victor, ele vive medindo o caminho das árvores e, por mais estranho que seja, ainda, sim, é a primeira coisa que todos viram quando chegaram. - Boyd disse ao se lembrar de como o morador mais antigo daqui sempre era fissurado em seu modo estranho de agir. - As árvores, os corvos e a sensação interna de que algo perigoso estava ao redor.

- Peter Pan! - O rapaz drogado que sofreu um acidente disse de forma engraçada quando se levantou e se aproximou de Harry. - Você sabe... você tem olhos de um verde esquisito. Tipo, esquisito bom. Alguma coisa mágica aí, hein?

- Hein? Você... você é algum tipo de Elfo ou algo assim? - Ele ri, quase delirando. - Não, espera, isso é sério. Vocês estão falando de árvores mágicas e... isso tá fazendo sentido agora! Eu tô entendendo. - Jade ri de novo, claramente não entendendo nada, enquanto os outros o ignoraram.

- Tá bom, doidão... agora volta pra cama. - Harry riu quando tocou no peito dele e empurrou sem o menor esforço, arrastando-o levemente sob euforia do cara.

- Podem pensar na besteira que for... mas são vocês que tiveram seus destinos traçados por uma árvore que interrompeu o caminho de vocês, prendendo-os nessa anomalia de cidade repleta de criaturas macabras que tornaram cada um daqui uma presa. - Harry citou o óbvio quando enfim anoiteceu, ou pelo menos estava a poucos minutos de ocorrer totalmente.

Jim ao lado de Tabitha, olhava constantemente para Ethan ainda abalado com o acidente e como Julie disse que seu irmão estava machucado, porém, que em momento algum encontraram ferimentos ou algum rasgo na calça que indicasse isso, fazendo a garota dizer com convicção que viu ele ferido, mas que mais parecia delirante nisso, pois nenhuma prova tinha ali, quase como se magica tivesse o curado se fossem seguir a lógica de sua filha.

- Isso é loucura. - Jim murmura, interrompendo a explicação de Harry. - Você espera que a gente acredite que estamos presos aqui por causa de mitologias e árvores mágicas? Boyd, isso tudo não faz sentido com você dizendo estarmos presos e esse cara falando essas coisas como se fosse uma enciclopédia ambulante de contos de fada.

- Eu só quero tirar minha família daqui. Não vou esperar que um mágico de Oz nos guie.

- Ninguém está segurando você, mas eu vi o que tinha nessa cidade ontem à noite... apenas uma... e pode saber, vocês não teriam chances. - Harry deu pouco caso ao pai preocupado, que mais estava interrompendo a linha de raciocínio dele com quem realmente tinha alguma opinião própria desse lugar. - Segundo o mito, jamais poderia contestar que o povo Fae, chamado de Fadas (Fairies), podia interferir e desviar o destino dos humanos.

- Em inglês, as palavras Fairy (Fada) e Destino (Fate) têm a mesma raiz, do latim Fatum. - Harry citou tudo que se lembrava da mitologia relacionado ao que obteve da biblioteca de Vlád. - Isso porque as diferentes espécies de Fadas sempre estiveram atreladas à ideia do caos do destino... as árvores têm um papel especial nisso. Estão presentes desde as Fadas (Fates) mais conhecidas dos antigos mitos Nórdicos, as Nornas que guiam o destino de humanos e deuses nas raízes da poderosa árvore dos mundos, a Yggdrasil, até as árvores das fadas (Fairy Trees) Irlandesas e Escocesas que poderiam mudar o rumo do destino dos humanos ao seu redor... e até os transportar para o outro mundo.

- Mas no fim, não importa, xerife, ao que aparenta, nem você, muito menos eu, temos respostas verídicas de que porra de lugar é esse. - O hospital estava imerso em um silêncio tenso quando, a cada palavra dita, Harry parecia ficar mais eufórico ou animado, com apenas os sons das lâmpadas piscando estranhamente.

De repente, soltando uma risada baixa como se somente ele escutasse algo que o animasse, quase descontraído ao olhar para trás, que só tinha uma parede, mas que ele parecia ver ou notar algo além.

Todos pararam e olharam para ele, confusos.

- Tá rindo do quê? Algum feitiço engraçado que só você entende? - Jim indagou, cansado de como esse agente Potter em nada parecia coerente em alguma agência do governo.

- Você não faz nem ideia. - Harry riu em pura ironia sarcástica, que não mentiu e nem precisava, pois seu tom de voz era suficiente para irritar o homem.

Erguendo os braços e começando a se alongar, seus movimentos serviam para estalos ocorrerem em seu corpo, como se ele não se alongasse há um bom tempo, feito um atleta se preparando para uma corrida.

- É hora do Yoga!? - Jade disse altamente, sob riso de Harry, quando ele enfim parara seus movimentos.

Dobrando a manga da camisa branca, mostrando mais das luvas marrons que ele usava.

Boyd estreitou os olhos, percebendo o foco nos movimentos de Harry e logo olhando para fora quando escutou algo, notando realmente o que esse rapaz estava pensando em fazer.

Antes que pudesse perguntar, Harry virou-se para o grupo com um brilho intenso nos olhos esmeralda.

- Olhem lá fora. - Ele se aproximou da janela e a cena que viram fez o sangue de cada um gelar.

Figuras humanas começavam a sair das sombras das árvores, suas posturas estranhamente rígidas e seus movimentos metódicos demais para parecerem naturais, onde mesmo parecendo humanos, o instinto de cada um ali alertava sobre perigo e o olhar no rosto dessas pessoas, não era de alguém lúcido, parecia faltar humanidade e emoção comum em todos.

Sob a luz fraca, um sorriso podia ser visto em seus rostos enquanto caminhavam pelas ruas vazias, tornando a cena macabra, pois alguém sorrindo fixamente dessa forma com aqueles olhares sem emoção em meio à noite era claramente algo suspeito.

- Estão começando. É isso que acontece quando anoitece. - Boyd disse à família Matthews e aos rapazes que causaram um acidente.

- É isso que chamam de monstros, certo? - Harry cruzou os braços, avaliando a situação e, como eram vários, não conseguiu encontrar a velha que viu ontem. - Pois bem, não vamos descobrir nada ficando presos aqui.

- Não! Isso não é um jogo. - Boyd deu um passo à frente, colocando a mão no ombro de Harry. - Eles não são humanos. Você não vai voltar vivo quando aquelas garras crescerem e eles devorarem seu pescoço.

Harry apenas sorriu de lado, como se estivesse ouvindo algo longe demais para ser compreendido por qualquer outra pessoa e sua atenção não estava próxima.

Ele estendeu o braço para Boyd, removendo sua mão com uma gentileza que desmentia a força por trás do gesto, pois claramente, mesmo tentando toda força, o braço do agente Potter nem se mexera perante a tentativa falha do xerife impedir esse absurdo.

Sem dizer mais nada, ele virou-se e caminhou calmamente em direção à porta. Boyd tentou segui-lo, mas hesitou quando Harry olhou para trás e seus olhos reluziram em puro esmeralda, algo totalmente antinatural que não deveria ser possível nos olhos de alguém brilhar tanto.

Do lado de fora, Harry fechou rapidamente a porta para manter todos seguros com esses Talismãs, parou na rua pouco abaixo e olhou para as criaturas que se viravam, seus sorrisos direcionados para ele sem nem ser afetados, como se estivessem petrificados dessa maneira em suas faces.

Vendo a criatura mais próxima nessa aparência de uma enfermeira dos anos 50. Seus olhos estavam fixos, não no disfarce humano, mas no que estava por trás, na identidade anômala que só ele era capaz de ver como desde a infância via monstros para todo lado que mais ninguém era capaz de ver, vendo na face dela a real aparência que tinha, os dentes afiados na boca aberta em um padrão grotesco, os olhos prateados sem vida e as garras crescendo nos dedos longos, como se por mais que ela se ocultasse com essa forma humana, ainda ele era capaz de ver uma ilusão obscura tremeluzindo quase como quando ele se tornava um obscurial.

Foi então que ele a viu.

A mulher idosa da noite passada, emergindo de trás de um rapaz de sorriso sinistro.

Seu corpo parecia humano à primeira vista, mas seus movimentos eram erráticos, cada passo pesado e lento, como se ela estivesse lutando contra uma força invisível, visando manter seus movimentos lentos e não agindo realmente como um animal predador que abate sua presa rapidamente. Seus olhos, vazios e brilhantes, fixaram-se em Harry, um sorriso distorcido se formando em seus lábios rachados.

- Não se garante no um contra um. - Harry citou, em ironia, perante todos os monstros espalhados em volta, onde até parecia que eles estavam somente caminhando, mas era notável a atenção de cada criatura presa a ele.

Sem aviso, a velha avançou. As mãos, que agora se transformavam em garras monstruosas em uma velocidade sinistra de impulso que ela teve, cortaram o ar em direção ao rosto de Harry.

Ele desviou por puro reflexo e sensação de perigo, rolando para o lado e passando uma rasteira na enfermeira dos anos 50, só agora notando como foi por pouco, já que as garras rasgaram sua camisa, deixando três marcas finas no chão de pedra onde ele estava segundos antes.

- "Rápida demais para a idade." - Harry pensou, enquanto girava em um movimento fluido de esquiva, por parte de mais uma investida da velha, vendo agora como realmente era essa a velocidade natural dos monstros, que eles caminhavam lentamente por pura vontade e graça de causar terror a seus alvos, brincando com as esperanças de fuga deles, escondendo o real perigo que eram.

Não hesitando, ele reuniu sua força e desferiu uma bicuda violenta no tórax da criatura.

O impacto foi brutal, com som de ossos se trincando, sendo arremessada horrivelmente enquanto rolava pelo solo e ia direto para uma velha caixa de madeira abandonada. A caixa se desfez em pedaços com o impacto e a criatura caiu no chão em um amontoado de membros torcidos e contorcidos.

- "Definitivamente anômalo..." - Ele seguiu em direção à caixa despedaçada e examinou o cadáver. A carne da criatura parecia humana, mas algo na textura e no cheiro estava errado, como se estivesse morta há décadas.

O tórax da velha, onde o chute de Harry havia causado impacto com uma quantidade máxima de força, estava destruído. As costelas expostas formavam uma cavidade grotesca, mas o mais perturbador era o interior. Não havia sangue, músculos ou órgãos funcionais - apenas um tecido ressecado e enrugado, como se estivesse morto há décadas.

Qualquer outra criatura viva teria caído e permanecido no chão, mas ela estava ali, imóvel e com olhos fixos nele, ainda viva.

Harry deu um passo para frente, analisando cada detalhe. A falta de fluidez no movimento, a ausência de respiração e até o silêncio do entorno que as criaturas não se moviam, apenas assistiam.

- Sem circulação sanguínea... sem sinais vitais ou órgãos funcionais... talvez até sem alma se o olhar inexpressivo significar algo. - Ele murmurou, registrando mentalmente suas observações para futuramente catalogar isso corretamente.

Ao voltar sua atenção às outras criaturas, ele percebeu que todas o observavam de maneira estranha. Algumas pareciam prontas para avançar.

- Força física extrema. Medição aproximada de impacto em 1 tonelada, baseada na força do golpe inicial da noite passada e golpe atual desviado.

- Resistência sobrenatural: A ausência de receptores de dor a torna praticamente imparável, continuando ativa mesmo após danos fatais.

- Comunicação anômala. Rugidos graves utilizados entre membros da mesma espécie, provavelmente para coordenação ou alerta.

- Estado fisiológico com grau desconhecido de imortalidade. Semcirculação sanguínea, órgãos ressecados como cadáveres, possivelmente vinculados a uma forma anômala de reanimação, seja objeto, entidade ou maldição.

Harry não pôde evitar um sorriso enquanto percebia o comportamento das criaturas perante ele, entrando em um estado de autoestudo e desatenção do mundo ao seu redor, como se fosse fascinante o que ele via nelas e não agia feito a presa que deveria ser.

Mesmo em maior número, elas hesitaram e, se o olhar do Potter perante cada uma delas, murmurando a aparência de cada uma e parando direto em um sorridente macabro, foi que todos perceberam que ele descobriu quem era o líder dessa "matilha".

Era uma criatura mais alta, com traços humanoides que lembravam um jovem vestido com trajes dos anos 60, mas deformados pela presença obscura tremeluzindo em seu rosco que apresentava sua verdadeira face.

Os olhos brilhando com algo que parecia curiosidade, fascínio e... inteligência.

- E aí, sorriso... - Harry disse, a voz carregada de provocação. - Você, por acaso, não teria a bondade de me explicar que tipo de imortalidade anômala é essa de vocês, não é?

O silêncio que seguiu foi quebrado apenas pela face, garras e braços das criaturas, enfim se transformando de forma grotesca, todas elas reagindo a algo que ele não deveria saber ou teorizar, mas ele fez e, pelo visto, se aproximou de algo que ninguém nunca se aproximou.

Mantendo o olhar fixo no que parecia ser o líder. A tensão era quase tangível, mas o sorriso no rosto de Harry apenas crescia, uma diferença clara do que era um sorriso humano para o de uma criatura desprovida de alma ou bondade.

O silêncio quebrado por um rugido baixo e anômalo - um som grave e reverberante, como um eco em um túnel - obtendo novamente a atenção do Potter, que via a velha se levantar, mesmo com sua caixa torácica destruída, parecendo ser uma comunicação rudimentar, pois cada criatura soltou consecutivamente um coro de rugidos.

Uma vez era um acaso, como noite passada, a velha recuou ao ser desafiada.

Duas vezes era um padrão e estava claro que todas elas chegaram a um consenso.

Mesmo com o tórax destruído, ela permanecia de pé, os olhos fixos em Harry e o rosnado bestial que cada um à sua volta soltava feito uma fera prestes a atacar.

Era evidente que ele havia abalado a dinâmica daquele lugar. Eles, que sempre foram os predadores absolutos, agora eram forçados a lidar com algo que não compreendiam e que claramente não demonstrara medo como todos têm estado acostumados. Mesmo rodeado e em desvantagem, esse homem ainda estava frente a frente com seu líder, sem mostrar receio algum.

Harry passou a língua nos lábios, seu sorriso predatório ampliando-se.

O hospital inteiro assistia à cena atônito, paralisados e observando a cena surreal através das janelas, incapazes de desviar o olhar.

- Ele... ele vai enfrentá-los sozinho? - Kenny murmurou para Boyd, quando enfim colocara o pai para dormir e descobrira que um dos novos moradores foi tirar satisfação com os monstros.

Boyd não respondeu. Ele estava tão em choque quanto os outros, a família Matthews em silêncio aterrador perante as criaturas grotescas que rodeavam o Agente Potter, sem maneiras razoáveis de contestar o sobrenatural apresentado a eles por uma vidraça de distância.

Jade estava assistindo tudo de maneira eufórica pelo efeito de drogas ainda presente em seu organismo, somente sendo contido por Tobey, que assistia tudo da maca, sem reação alguma, enquanto via um homem gordo e grotesco, vestido com roupas de mecânico, avançando a uma velocidade surreal para alguém ser capaz, na realidade até um carro não alcançaria isso.

[ ... ]

Harry não hesitou quando girou seu corpo no último instante de tomar uma apunhalada, desviando por centímetros das mãos monstruosas que tentaram finalizá-lo. E repetindo o ato anterior, desferiu um chute que conectou diretamente com o peito do mecânico macabro. O impacto foi ensurdecedor, como se um estrondoso impacto fosse desferido, o som de costelas se partindo ecoando na noite igual à velha teve sua caixa torácica destruída.

O corpo do gordo voou para trás como uma bala de canhão, derrubando três criaturas no processo e colidindo com uma árvore perto de uma piscina vazia. A colisão foi tão forte que a casca da árvore se despedaçou em pedaços, despencando o resto.

No entanto, ele não ficou no chão. Lentamente e com movimentos antinaturais, levantou-se novamente, o tórax amassado, mas funcional, mostrando uma clara resistência maior do que a velha macabra.

- Por que seria tão fácil, né? - Harry murmurou em sarcasmo ácido. - Logo a primeira é capaz de empatar com minha força, imagina o boss final.

Antes que pudesse se preparar, as outras criaturas começaram a se mover. Primeiro em pares, quando viram duas vezes seus semelhantes serem arremessados longe, depois em um fluxo constante, quando Harry mudou de tática e passou a ficar na defensiva, buscando estudar qualquer padrão de movimento que investiam contra ele.

Cada golpe brutal, cada apunhalada fatal que com certeza fincaria em seu coração, dos quais as criaturas devorariam na frente dele. Ele desviava de garras que cortavam o ar com força letal, respondendo com socos e chutes que enviavam seus oponentes voando, nessa tática que ele achou de usar o próprio corpo das criaturas para desestabilizar a formação desconexa das outras.

A cada contato, ele sentia a estranheza dessas coisas - sem calor, sem fluxo de vida. Eram como cascas mortas, movidas por uma força que ele ainda não compreendia, tendo apenas a leve presença de não estarem totalmente mortas, mas sim algo proposital e amaldiçoado nelas, como se fossem humanos no passado, humanos comuns com base em seus trajes e não criaturas lutadoras e capazes de domínio marcial, algo que serviu muito bem para Harry ao se prostrar de frente a elas com seu estilo de luta.

Um golpe especialmente forte de um homem alto e magro o empurrou para trás, mas Harry usou o movimento a seu favor, girando e esmagando o joelho no abdômen dessa criatura com chapéu de cowboy.

A criatura caiu, mas outra tomou seu lugar imediatamente, uma mulher de sorriso sinistro que Harry se sentiu compelido a pular, pois a face dela era macabra demais para o gosto dele.

- "Porra de terror do caralho." - Harry praguejou mentalmente, onde ao olhar para trás e ver um caminho livre, logo ele se impulsionou e saiu correndo a uma velocidade tremenda.

As criaturas que Boyd no hospital já estranhava ao dar esses saltos longos e ameaçadores, logo se surpreendeu ainda mais quando saíram correndo velozmente atrás do Agente Potter, quebrando qualquer senso de segurança que ele sentia ao pensar que as criaturas não corriam, já que sempre só andavam lentamente quando caçavam os moradores.

- Agora já era. - Boyd suspirou em derrota, quando pela terceira vez escutaram um rugido, junto ao som de choques altos de golpes sendo desferidos em meio à floresta. - Como eu lhes disse, estamos presos aqui, pois todas as noites essas criaturas saem de suas tocas e perseguem qualquer um que estiver lá fora, induzindo quem estiver dentro das casas a abrir as portas ou janelas.

- Pensem no que vão querer fazer, mas isso é algo que todos passamos e poderia ter sido muito pior se não tivéssemos o agente Potter para resgatar sua família do Motorhome, pois seria nós contra os monstros lá fora... Boa noite! - Saiu assim, pensativo e com os punhos cerrados nessa sensação de invalidez por não conseguir manter alguém tão capaz ali dentro com eles.

E com isso dou fim ao segundo capítulo do quarto livro da Changed Prophecy.

Espero que estejam gostando, e não se esqueçam daquele apoio fera na seção de comentários. XD

 

 

-- Objetos Apresentados --

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Distintivo Falso que Harry Transfigurou (S.H.I.E.L.D):

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Talismã de Proteção:

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-- Personagens Apresentados --

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Harry James Potter:

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Enfermeira Anos 60 (Criatura):

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Velha Macabra (Criatura):

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Sorriso (Criatura):

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Mecânico (Criatura):

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Cowboy (Criatura):

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Mulher Sorriso Bizarro (Criatura):

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