John narrando...
Saio do banheiro e pego uma camiseta branca. Não me dou ao trabalho de pentear o cabelo, apenas o seco com uma toalha, deixando-o bagunçado. Fico parado por um momento, perdido em pensamentos, enquanto as lembranças de Jenni, vêm à tona. Aquele sorriso dela, aqueles olhos azuis brilhantes... A sensação de sua mão na minha, como se o mundo inteiro desaparecesse ao nosso redor. Suspiro, sacudindo a cabeça para afastar as lembranças antes de me concentrar em me vestir.
Meu celular toca, vejo o nome de Rafael piscando na tela. Com um suspiro, atendo.
— Alô, Rafael. — eu digo, esperando não ser alguma emergência.
— Oi, John! Desculpe incomodar, mas preciso de um favor. Helena, nossa nova jornalista, vai chegar às 09:00h e eu não posso buscá-la. Você poderia ir ao aeroporto por mim? Como ela vai ficar em seu prédio, é até bom que você ajuda ela a se acomodar.
— Claro, sem problemas —, respondo, já visualizando minha manhã livre desaparecendo. — Vou buscá-la.
— Ela vai estar te esperando no desembarque com uma plaquinha.
— Ok!
Desligo o telefone e me preparo para sair, visto uma jaqueta e pego a chave do carro. O tempo estava nublado. Entro no carro, ligo o motor e sigo em direção ao aeroporto.
O trânsito intenso parecia conspirar contra minha missão de buscar Helena a tempo. Em um momento de distração, quase atropelei um cachorro que correu para a rua. Graças aos céus, consegui frear a tempo. — Ufa —, murmuro para mim mesmo, tentando acalmar os nervos enquanto retomo a viagem.
Chego no desembarque do aeroporto vejo uma mulher de uma beleza estonteante, cabelos castanhos que caíam como cascata sobre os ombros, olhos verdes que brilhavam com uma luz única. Ela sem dúvida é uma das mulheres mais bonitas que eu já vi. Será que é a Helena? Me questiono. Ela levanta a plaquinha de identificação. Realmente é ela.
— Oi, Helena? — digo, minha voz sai aveludada, não sei o motivo.
— Oi, você deve ser o Jonathan, né? — disse ela enquanto abaixava a placa de identificação.
— Sim, sou eu mesmo. — ela me cumprimenta com um beijo na bochecha.
— Muito prazer, Jonathan.
— Não, apenas John, por favor. E desculpe o atraso. O trânsito estava terrível. — digo enquanto ajudo ela com suas malas.
— Sem problemas, John. O importante é que você chegou. —, ela ri.
Dirigindo de volta recebo uma ligação.
— Alô? —, falo em um tom de interrogação, pois o número era desconhecido.
— Jonathan, me chamo Alexander. Preciso que nos encontremos o mais rápido possível. Tenho informações importantes sobre as eleições.
— Estou com uma amiga, vou deixá-la em sua casa, mas podemos nos encontrar no restaurante Bistrô dos Sabores para almoçarmos. O que acha?
— Não, esse restaurante é muito movimentado. — disse ele como se tivesse preocupado com o fato de poder ser visto por alguém.
— Ok, então que local sugere?
— Vamos nos encontrar no Rincon, ele fica longe da cidade. Vou te mandar a localização no WhatsApp.
— Então combinado. — digo e desligo o celular.
Helena me olha, posso ver a curiosidade em seus olhos.
— Helena, Rafael me disse que você vai ajudar na investigação no caso das eleições. — pergunto enquanto viro a esquina do meu apartamento.
— Sim, ele me falou que está me contratando especialmente para isso. — disse ela enquanto tira o cinto de segurança.
— Essa ligação que recebi foi de um tal de Alexander, ele falou que tem informações sobre essa possível fraude nas eleições. — falo enquanto desço do carro.
— Interessante John, mas você está pensando em ir sozinho?
— Não, claro que não. O meu Opala vai comigo. — digo enquanto dou um tapa no carro.
— Isso é muito arriscado, John. — ela diz, e pega uma mala do porta malas do carro.
Vamos andando, Helena com uma mala e eu levando duas.
— Oi, John. — acenava o porteiro do prédio.
— Oi, Sr. Antônio. Essa aqui é a Helena, ela é a mais nova inquilina do prédio, ela vai ficar no 43.
— Prazer, Helena. — disse enquanto entregava a chave do apartamento.
— O prazer é meu Sr. Antônio. — disse Helena, enquanto estendia a mão para pegar a chave.
— Ufa... Aqui estamos, Helena, o apartamento está todo mobiliado. — digo e solto as malas.
— É, Rafael havia me falado. — disse, olhando o ambiente a sua volta.
— Então é isso, Helena, até amanhã no trabalho.
— Até lá, John. Ah, você vai me levar, né?
— Sim, verdade, saímos daqui às 06:30h.
— Então tá, obrigada. — me abraça se despedindo.
Após me despedir de Helena, entro no meu apartamento. O cheiro do perfume de Helena ficou impregnado em minha roupa, nossa, que mulher cheirosa.
Abro a geladeira e pego um iogurte de coco, depois um pão de queijo que estava dentro do armário, sento na mesa e começo a comer o pão de queijo com iogurte. Me lembro de Jenni.
***
Flashback...
— Ah, vai me dizer que nunca comeu pão de queijo com iogurte de coco?
— Claro que não Jenni, quem além de você no mundo come isso? É impossível que essa combinação seja boa. — digo determinado a não comer aquilo.
— Vai John, só come. — disse enquanto colocava o pão de queijo molhando com iogurte em minha boca.
— Não, é impossível que isso seja bom, é impo... — minha voz falha.
— Hum... E então o que achou? — diz com um risinho nos lábios, um riso de quem já sabe a resposta.
— Jenni, isso é... maravilhoso! Como eu vivi esse tempo todo sem saber disso? — digo surpreso e maravilhado de como aquilo era bom.
— Te falei que era bom.
***
Olho no relógio e já são 10:55h, preciso me apressar para chegar no restaurante Rincon antes das 12:00h. Pego a chave do Opala e saio correndo. Helena me vê passando pelo corredor, desço as escadas, dou um passo em falso, quase caio, mas dá tudo certo, entro no meu Opala, ligo os motores e saio cantando pneu. Perdi a noção do tempo.
Dirijo até o restante Rincon, pego um atalho que conheço para sair da cidade. Eu estava ansioso sobre as informações que Alexander falou que tinha sobre as eleições. Eu tinha várias peças, mas nenhuma se encaixava. Será que agora tudo vai começar a se encaixar?
***
Helena narrando...
Desde sempre, me esforcei para ser a melhor filha que meus pais poderiam desejar. Desde pequena, aprendi a valorizar a família acima de tudo. Cresci sendo a única criança em casa, sem irmãos para compartilhar brincadeiras. Ser filha única tem suas vantagens, claro, mas também tem seus momentos de solidão. Quando não se tem irmãos para compartilhar as preocupações e responsabilidades, o peso parece ser maior.
Minha relação com meus pais sempre foi harmoniosa. Eles sempre estiveram lá por mim, me apoiando e aconselhando. Nunca fui de causar problemas, nunca fui a filha rebelde que dá dor de cabeça aos pais. Nunca gostei de me arriscar.
Mas, aqui estou eu, diante da necessidade de recomeçar em uma cidade nova, em um lugar desconhecido. Morar sozinha é um desafio que não queria enfrentar agora, mas é uma oportunidade para crescer, para me descobrir além das expectativas que sempre foram colocadas sobre mim.
A vida era confortável, era segura, era... comum. Mas agora, diante da chance de avançar profissionalmente no renomado Pulso Jornalístico, sinto uma mistura de medo e empolgação. É hora de me reinventar, de seguir em frente e descobrir do que realmente sou capaz.
Quando cheguei a São Paulo, meu coração se encheu de excitação. Eu segurava uma plaquinha de identificação no desembarque, meu braço se casou de ficar com a placa levantada, Jonathan se atrasou uns 30 minutos para chegar, quando levantei a plaquinha de identificação novamente um homem se aproximou, me perguntei. Será que é o Jonathan? Ele estava usando uma jaqueta preta, uma camisa branca e calça preta. Seu cabelo parecia não ter sido penteado, como se tivesse sido apenas secado com uma toalha. Eu só conseguia pensar: Nossa, que homem bonito! Ele é alto, charmoso e muito atraente, realmente muito atraente.
Ele murmura suas primeiras palavras para mim com tom interrogativo — "Oi, Helena?" — Jonathan me ajudou com as malas, colocamos no porta mala de seu carro, que por sinal é um carro antigo, ele parece gostar bastante do carro. Ele me falou da ligação que recebeu enquanto estávamos indo em direção ao meu mais novo lar. Fiquei preocupada de ele ir sozinho, mas ele me falou que seu companheiro seria seu Opala, o que não minimizou nenhum pouco minha preocupação.
Quando abro a porta do apartamento pela primeira vez, sou recebida pelo eco vazio das paredes brancas e pelo cheiro de tinta fresca. Coloco minha mala no chão e olho ao redor, absorvendo a sensação de ser uma estranha em um novo lugar. Este é o meu recomeço, pensei com determinação, mesmo que meu coração ainda estivesse repleto de saudade pelos lugares e pessoas que deixei para trás.
Enquanto desfaço minhas malas, meu olhar é atraído pela janela, que oferece uma vista da cidade movimentada lá fora. Sempre me disseram que São Paulo é a cidade das oportunidades. Mas para mim, neste momento, era apenas um labirinto de ruas desconhecidas e rostos estranhos.
Enquanto organizo minhas roupas no armário, minha mente começa a vagar para trás, para o dia do meu embarque. Flashbacks inundam minha mente, como se um filme estivesse sendo rebobinado.
***
Flashback...
— Eu vou sentir tanto sua falta, mãe. — digo a abraçando.
— Eu também vou sentir sua falta, meu amor. Mas sei que você está seguindo seu caminho, e isso me enche de orgulho. — diz minha mãe com a voz embargada.
— Você está fazendo a coisa certa, filha. Vai lá e faça acontecer. — disse me pai, colocando a mão no meu ombro.
Sentindo o nó na garganta digo. — Eu vou tentar, pai. Prometo.
Minha mãe segurando minhas mãos. — Não se esqueça de nos ligar quando chegar, certo? E mande notícias sempre que puder.
Com um sorriso trêmulo. — Eu prometo, mãe. Eu amo vocês.
Meu pai, enxugando as lágrimas. — Nós também te amamos, filha.
***
Ligo para meus pais e conto todos os detalhes da viagem. Ligo também para minha amiga Carol e falo sobre o John e como ele era gato. Ela fica super animada e diz que mal pode esperar para me visitar. Ela diz que vai entrar de férias no próximo mês. Me disperso e desligo o celular.
Deixei para trás a sensação de segurança e o conforto do lar, embarcando em uma jornada incerta em busca de uma nova vida. Com um último olhar ao redor do apartamento vazio, faço uma promessa a mim mesma: não importa o que aconteça, vou me adaptar, vou prosperar. São Paulo pode ser um labirinto, mas estou pronta para encontrar meu caminho através dele.
John narrando...
Meu coração está acelerado. Finalmente chego no restaurante Rincon que o Alexander, falou para nos encontrarmos. O sino da porta toca ao se abrir, ecoando no espaço, um homem que estava de boné e óculos escuros vira sua atenção para mim. Uma escolha peculiar para alguém que pretende se ocultar. É como se estivesse gritando: "Eu não quero ser visto". Vou em direção à mesa que ele está e me sento.
— Alexander? — falo, minha voz soando incerta enquanto pego o cardápio que repousa sobre a mesa.
— Exatamente, Jonathan! — ele responde, confirmando sua identidade. Rapidamente, tiro o celular do bolso e coloco sobre a mesa. Chamo a garçonete.
— Uma lasanha, por favor. —, peço, decidido.
— Algo para beber, senhor? — ela pergunta.
— Uma água com gás, por gentileza.
Enquanto aguardamos, outra garçonete traz o prato de Alexander.
Esperando minha comida chegar, observo Alexander cuidadosamente. Seu semblante parece tenso, como se estivesse carregando o peso do mundo em seus ombros. Decido quebrar o gelo e iniciar a conversa. Ativo o gravador do celular que está sobre a mesa.
— Então, Alexander, o que você tem a me dizer sobre as eleições? — pergunto, tentando manter um tom casual.
Ele tira os óculos e olha ao redor, como se estivesse verificando se há alguém ouvindo nossa conversa, antes de responder.
— Jonathan, o que tenho a dizer é sério e potencialmente perigoso. Essa fraude eleitoral vai muito além do que as pessoas imaginam. Estamos lidando com figuras poderosas e influentes, capazes de tudo para manter o controle.
Sua voz é baixa e carregada de gravidade, deixando claro que não estamos lidando com algo trivial. Sinto um arrepio percorrer minha espinha, mas decido continuar.
— Estou disposto a ajudar no que for preciso para expor a verdade. Mas precisamos de evidências concretas para corroborar suas alegações. O que você tem para nós? — questiono, mantendo o foco em seu olhar.
Alexander suspira, parecendo pesar suas palavras antes de responder.
— Tenho documentos, gravações e informações confidenciais que podem provar a extensão dessa fraude. Mas não posso entregá-los facilmente. Precisamos ser cautelosos e planejar cada passo com cuidado.
A garçonete traz minha lasanha e a água com gás que pedi. Agradeço e espero ela se afastar antes de voltar minha atenção para Alexander.
— Vamos precisar de mais do que apenas palavras para provar essas acusações. Precisamos de evidências tangíveis e um plano sólido para expor essa fraude de forma segura e eficaz. Sugiro que nos encontremos novamente para discutir os próximos passos com mais detalhes. O que acha? — proponho, mantendo a voz calma e controlada.
Alexander concorda, e terminamos nossa refeição em silêncio. Enquanto nos despedimos, uma sensação de estarmos sendo observados me domina. Olho ao redor, entro no meu carro, prendo o cinto e ligo o motor do Opala, que ronca em resposta. Dirijo em direção a meu apartamento, com a mente cheia de pensamentos inquietantes.