Na penumbra sufocante deste mundo condenado, a noite não era apenas escura; era uma escuridão opressiva que parecia devorar qualquer traço de esperança. Os passos ressoavam como trovões distantes, cada eco reverberando como o batimento de um coração maligno sob a terra árida. À medida que avançávamos pela paisagem desolada, os sons dos nossos próprios passos ecoavam sobre os passos distantes que se aproximavam sinistramente por trás.
O cheiro de cobre impregnava o ar, uma presença constante neste mundo de violência implacável. Mas este odor não era apenas uma lembrança das batalhas diárias; era o aroma pungente do meu próprio sangue, jorrando de uma ferida grotesca em meu braço, como uma boca aberta em um rosto desfigurado. Cada gota derramada era um lembrete sombrio de nossa fragilidade neste ambiente hostil e implacável.
— Maninho! Seu braço! — ela gritava, com os seus olhos arregalados de terror enquanto seus próprios passos começavam a se tornar hesitantes, quase prenunciando sua queda iminente.
— Haha... Não é nada… — murmurei, embora a dor pulsante rasgasse através de mim como fogo líquido, me fazendo preferir a morte ao invés dessa agonia incessante. No entanto, revelar minha angústia só serviria para inflamar seu desespero.
Os passos que outrora ecoavam distantes agora se aproximavam rapidamente, como uma legião de soldados marchando em uníssono, seus pés batiam contra o solo como um tambor funesto. Um presságio do perigo iminente se infiltrava no ar sufocado, e só restava uma opção: gritar.
Nossos passos aumentaram a frequência com que batiam contra o solo áspero, enquanto eu corria desengonçado por ficar com uma mão em cima do braço ferido. Ela lutava para manter o ritmo, suas pernas um pouco mais curtas do que as minhas pareciam implorar por um breve descanso.
— Não desista! — minhas palavras cortaram o ar como um chamado à ação, rompendo o véu de exaustão que envolvia seu corpo e a impelindo a acelerar ainda mais.
Nossos ouvidos captavam o som agudo do vento cortante que chicoteava nossos rostos naquela paisagem árida, competindo pelo espaço com o incessante canto dos grilos. Por entre esses sons, os passos pesados seguidos por grunhidos ameaçadores ecoavam, nos perseguindo como sombras famintas na escuridão.
— O que é aquilo!? — perguntou ela, apontando com os olhos para algo à nossa frente.
Forçando minha vista, mantendo o ritmo da corrida e cerrando as sobrancelhas, consegui vislumbrar o que um dia fora um ser vivo. Agora, era apenas mais uma carcaça vazia, perdida entre inúmeros corpos espalhados pela terra árida, vestígios de uma civilização que um dia florescera.
— Não olhe, continue em frente! — Minhas palavras foram mais um comando do que um aviso, sabendo que ela, apesar de sua juventude, já testemunhara inúmeras tragédias nesse mundo infernal.
Neste mundo desolado em que vivíamos, o direito à infância tornara-se um luxo distante para as crianças, que eram forçadas a crescer rapidamente em busca de sobrevivência. Mas que crianças? Há quanto tempo não encontrávamos outras almas jovens? Meses? Anos? A passagem do tempo parecia distorcida, uma memória esmaecida em meio à nossa luta diária pela vida.
Nosso último encontro com um ser humano vivo não fora uma lembrança reconfortante. Ao contrário, ele nos ensinou a dura verdade de que as pessoas podem ser mais cruéis do que qualquer monstro das sombras. Ele não apenas tentou nos matar, mas também buscou cometer atos abomináveis com ela. A mera lembrança desses eventos é suficiente para fazer minha cabeça latejar de indignação e desespero.
— Está chegando perto! Sinto as vibrações! — gritava ela em desespero, seus cabelos castanhos agitando-se enquanto corria.
Ela estava certa. O que nos perseguia parecia possuir o dobro de nossa velocidade; não importava o quanto acelerássemos, aquela coisa continuava a nos alcançar. As solas de meus pés, dentro dos meus tênis surrados, podiam sentir o chão tremer. O som dos passos incessantes ecoava cada vez mais próximo, uma ameaça iminente que nos envolvia com sua presença assustadora.
A dor pulsante, que parecia ecoar através do meu ferimento, começava a afetar minha capacidade de concentração de maneira perigosa. Além das caretas de dor, minha determinação estava começando a fraquejar, refletida em meus passos vacilantes. Sério, por que eu tinha que receber aquele golpe?
Do que estou falando!? É claro que tinha que ser assim; foi para protegê-la, no final. Se eu não tivesse agido como escudo humano, agora ela seria apenas mais um cadáver inerte no chão árido.
O frio intenso dessa noite interminável, que parecia durar décadas, começava a me envolver de forma sufocante. Observava a respiração acelerada dela, formando nuvens brancas no ar gélido, enquanto suas pernas começavam a fraquejar mais uma vez. Era evidente que precisávamos parar, e rápido.
— Ali! — Apontei para um vislumbre de esperança: uma casa solitária emergindo no deserto árido. Mudamos nossos cursos em direção à habitação, buscando abrigo da escuridão impiedosa que nos perseguia.
Ao chegarmos perto da porta, fiz um esforço para abri-la, surpreso ao encontrá-la destrancada. Sem hesitação, invadimos a casa. Chamá-la de invasão parecia exagerado, considerando que o dono provavelmente já estava morto naquele instante.
— Man-
— Shhh… — Interrompi-a, puxando-a para mais perto de mim e nos abaixando juntos perto da porta. Uma janela ao lado oferecia uma visão lateral do terreno ao redor.
Os passos que nos perseguiam tornaram-se mais lentos, confusos, como se estivessem nos procurando. Estavam próximos demais para arriscar qualquer barulho.
— Ande agachada até o segundo andar — sussurrei, orientando-a com cautela.
O segundo andar era o refúgio mais seguro naquela casa desconhecida. Qualquer coisa poderiamos saltar pela janela e alcançar o telhado da varanda.
Ela me obedeceu com maestria e começou a avançar. Seus passos, por sua estatura menor, eram leves, permitindo-lhe mover-se silenciosamente pelo chão amadeirado da casa. Eu, por outro lado, não tive a mesma sorte. No momento em que dei o primeiro passo, o assoalho emitiu um ranger suave sob meu pé. Pude sentir a criatura lá fora virar a cabeça na direção do som. Mais alguns ruídos e aquilo nos encontraria.
"Passos leves, seu idiota!" praguejei interiormente, concentrando-me em tomar todo cuidado para que os próximos passos fossem como o toque de penas sobre o solo.
Ela olhou para trás em busca de alguma aprovação antes de começar a subir a escada, seus olhos amarelados encontraram os meus escuros. Com um sorriso gentil e um aceno de cabeça, transmiti a confiança e a confirmação que ela precisava. Com isso, ela continuou sua ascensão.
Seu avanço era quase imperceptível, cada toque de seus joelhos nos degraus era tão delicado que não produzia sequer um ruído. Na verdade, eram tão leves que chegavam a ser preocupantes. Optei por ignorar isso e começar minha própria subida pelas escadas.
"Uns vinte degraus... né..." constatei ao avançar agachado. Ao tocar o corrimão de madeira escura e lisa, percebi sua textura plana sob meus dedos. Agarrei-me ao corrimão e iniciei meu avanço. O primeiro passo foi como uma pena e assim me coloquei sobre o primeiro degrau. Segui assim até chegarmos à primeira curva da escada, prontos para continuar nossa jornada em direção aos cômodos superiores.
— Tudo bem? — perguntei a ela, notando que sua respiração ofegante havia diminuído agora que havíamos parado de correr. Seu olhar não estava tão perdido, e ela até conseguiu me oferecer um sorriso gentil enquanto respondia:
— Sim… — Apesar do sorriso gentil, sua expressão não conseguia esconder a preocupação ao olhar para a cachoeira de sangue que brotava de meu braço ferido.
— Não se preocupe, logo estarei melhor — Acabei me acostumando à dor. Era até triste pensar que ao lidar com ela tão constantemente, meu cérebro em uma maneira de aumentar minhas chances de sobrevivência, passou a ignorá-la. — Vamos continuar…
Nossos sussurros eram tão silenciosos que mal podíamos ouvi-los nós mesmos, garantindo que ninguém mais pudesse escutá-los. Porém, não podíamos nos dar ao luxo de perder mais tempo. Os sons externos haviam cessado, pelo menos os provenientes das criaturas que nos perseguiam, enquanto os grilos ainda entoavam sua serenata noturna interminável.
"Era uma família..." Enquanto avançávamos, observei os quadros pendurados na parede ao longo da escadaria. Eram fotos de uma família, algumas mostrando uma mulher solitária e outras com ela acompanhada por um homem e duas crianças.
Subimos mais alguns degraus, ela raramente olhava para trás, seguindo minhas orientações com precisão. Enquanto isso, eu não podia deixar de olhar, e pude notar o rastro de sangue que eu deixava por onde passava. O líquido rubro escapava das feridas em meu braço, escorrendo pelas paredes de carne até alcançar as pontas dos meus dedos, onde então caía, gota a gota.
— Maninho… — sussurrou ela, ao chegar no topo.
Olhei, e vi apenas a cabeça dela, pois o resto do corpo estava por trás da parede. Fiquei curioso, e acelerei o passo, mas ainda sim, leve, tentando o máximo de silêncio possível.
Ao alcançar o topo, deparei-me com um corredor curto, ladeado por quatro portas, duas de cada lado. Todas fechadas, e havia algumas lâmpadas no alto, mas apagadas, não era como se tivéssemos energia também.
— Não abra nenhuma porta — sussurrei para ela. Abrir qualquer uma delas poderia ser o presságio de nossa ruína, considerando que poderiam ranger e alertar nossa presença.
Avancei até a primeira porta à minha esquerda, ainda agachado, estendi a mão em direção à maçaneta. Ao tocar no metal gelado, uma sensação de arrepio percorreu minha espinha. Com cuidado, forcei a maçaneta para baixo, sentindo a resistência inicial da porta.
Iniciei o empurrão com delicadeza, movendo-a milímetro por milímetro. A qualquer sinal de ruído, estava pronto para congelar no mesmo instante.
Meu coração disparava, incerto do que poderíamos encontrar dentro daquela sala escura. Ela permanecia atrás de mim, claramente nervosa. Ao empurrar a porta com cautela, consegui espreitar o interior pela fresta.
— Me passe a lanterna — solicitei, embora estivéssemos sempre mergulhados na escuridão da noite neste mundo, a luz da lua muitas vezes nos proporcionava uma visão razoável ao ar livre. Mas dentro de casas onde a luz lunar não penetrava, a escuridão era total.
Ela retirou a mochila rosa das costas e a colocou à sua frente. Agarrando o zíper, decorado com um pequeno ursinho, ela o puxou, abrindo a bolsa. Com a mão dentro, procurou por algum tempo antes de finalmente retirar algo.
— Aqui, tomara que tenha pilhas aí dentro... — Ela me entregou a lanterna, mas eu sabia que ela estava certa sobre as pilhas. As nossas estavam quase todas esgotadas, e se acabassem completamente, perderíamos nossa única e mínima fonte de energia.
Concordei com um balançar de cabeça e peguei a lanterna de sua mão. A apontei para o interior escuro, e cliquei no botão, ligando-a. De imediato ao bater da luz contra o breu, pude notar que se tratava de um quarto de criança. A chamei com um gesto e, juntos, adentramos o cômodo.
— Vou procurar na cômoda, fique ali — indiquei um canto, e ela seguiu naquela direção. Optei por não sugerir que se sentasse na cama, pois poderia ranger e alertar nossa presença.
Com isso em mente, mantive a lanterna baixa, para evitar que qualquer luz escapasse para fora do quarto. Me aproximei da cômoda, ao lado da cama de solteiro. Acima dela, repousava um abajur e alguns brinquedos infantis. Ao abrir a gaveta, deparei-me com diversos outros brinquedos, cadernos, cartas e vários outros objetos.
"Tudo pode ser útil." Retirei minha mochila preta das costas e a coloquei no chão à minha frente. Abri-a e comecei a depositar os itens dentro. Quando terminei, fechei a mochila e, agachado, me aproximei da garota.
Passei diante do guarda-roupa que ocupava a mesma parede da porta e observei meu ferimento. Precisava controlar aquele sangramento antes que piorasse; se inflamasse, poderia ser minha sentença de morte.
Dirigi-me ao guarda-roupa e abri suas portas. Encontrei diversas roupas, mas eram todas pequenas demais. Droga. Seria uma bênção trocar nossas roupas; estávamos parecendo dois gambás errantes. Se as criaturas não nos encontrassem pelo som, certamente seria pelo cheiro…
Mas isso não importava no momento. Peguei um punhado de roupas e me sentei ao lado dela, encostado na parede.
— O que você vai fazer? — perguntou ela, com um olhar curioso.
— Vou improvisar uma tala ou algo parecido, Samantha. — Comecei a rasgar as roupas. O barulho produzido era mínimo, o que já me preocupava. Após rasgar algumas peças, guardei os pedaços na mochila — Você consegue amarrar isso no meu braço?
— Posso tentar, maninho — respondeu ela, pegando um pedaço de pano. Ao sentir o toque gelado do tecido em minha carne ferida, uma onda de dor percorreu meu corpo.
— Aperte bem... — Sabia que a próxima etapa seria a mais dolorosa, e eu precisaria me manter o mais silencioso possível.
Ela assentiu e, ao fazer um pequeno nó, puxou as duas pontas do pano, pressionando-o contra minha pele ferida. O som resultante era semelhante ao de uma esponja sendo espremida, acompanhado pelos jatos de sangue que voavam, assustando-a, mas ela não podia parar.
Minha vontade era gritar de dor; a intensidade era tão avassaladora que minha consciência quase desfaleceu, mas eu me mantive firme. Tentei conter as lágrimas, mas foi em vão; meus olhos se encheram de lágrimas.
A dor deu uma pausa, indicando que ela havia parado de pressionar, percebi que minhas mãos tremiam. Gotas de suor escorriam pela minha testa, e meu corpo estava exausto. No entanto, senti um calor reconfortante envolvendo minhas mãos; era o toque suave de Samantha. Era reconfortante e me motivava a continuar lutando pela sobrevivência, não apenas por mim, mas também por ela, que me oferecia o apoio necessário.
— Precisamos comer... — A fome começava a se manifestar, especialmente após vários dias sem nos alimentarmos, e as corridas incessantes apenas agravavam a situação.
— A cozinha deve estar lá embaixo... — sugeriu ela. Embora pudéssemos descer, o medo de fazer qualquer barulho nos desencorajava.
— Vamos fazer o seguinte, eu-
— O que foi is-
— Shhh! — Toquei seus lábios com meu dedo, indicando que ela fizesse silêncio. Algo se movia no andar inferior.
Diferentemente de nós, que nos esforçávamos ao máximo para não fazer um único ruído, aquele ser parecia não se importar. Seus passos ressoavam com estridência pelo ambiente, fazendo as tábuas do assoalho gemerem e a casa inteira tremer a cada passada. Ele parecia confuso, vagando de um lado para o outro lá embaixo; eu podia deduzir isso pelos sons erráticos de seus passos, cada vez em um lugar diferente.
— Parou...? — Sussurrei, notando que os sons dos passos haviam cessado, como se o ambiente lá embaixo estivesse vazio.
De repente, ouvimos um "creak, creak" vindo das escadas! Ele parecia ainda estar procurando, então ficamos atentos ao seu faro...
"O sangue!" A trilha sangrenta deixada por meu braço levava até onde estávamos.
— Lucyan, maninho... Ele vai nos encontrar? — Ela parecia apavorada, seus olhos gradualmente se arregalavam de temor.
— Não sei... — Sinceridade era tudo o que eu podia oferecer naquele momento. Eu poderia tentar ocultar parte da verdade e fornecer-lhe um pouco de confiança, mas como, se nem mesmo eu a possuía? — Se esconda embaixo da cama.
A janela da varanda ficava no quarto do outro lado do corredor. Se decidíssemos sair desse lugar onde estávamos, seríamos facilmente pegos. Por isso, dei a ordem para que ela se escondesse no único lugar minimamente seguro: embaixo da cama. Ela obedeceu prontamente, desaparecendo rapidamente sob o móvel.
"Se eu tivesse uma arma..." Fazia tanto tempo que eu não via uma arma, mas se tivesse uma naquele momento, poderia oferecer a proteção que ela necessitava.
"Eu preciso distrair aquilo!" Os brinquedos que peguei incluíam muitos personagens e alguns carrinhos, entre eles um carrinho de controle remoto. Rapidamente, elaborei um plano.
Abri a mochila com agilidade e peguei o carrinho amarelo junto com seu controle. Ao abrir o compartimento de pilhas do controle remoto, encontrei-as lá, aparentemente funcionais. Em seguida, abri o compartimento do carrinho, mas não havia nada lá dentro.
Frustrado, quase joguei o carrinho no chão. Porém, ao virar a cabeça rapidamente, avistei de relance a lanterna apagada. Foi nesse momento que decidi arriscar tudo. Abri o compartimento de pilhas da lanterna, retirei-as e as coloquei no carrinho amarelo. E, para minha surpresa, funcionou.
Com isso, engatinhei até a porta e abri uma pequena fresta, posicionando o carrinho e movendo-o pelo controle até o fim do corredor. O barulho que ele fez parecia atrair a atenção daquela criatura. Com cuidado, fechei a porta.
— Venha... — Sussurrei para ela, fazendo gestos para se aproximar.
Ela se aproximou, e então cliquei no botão que acionava os sons do carrinho, como buzinas e outros. O barulho era alto, e imediatamente nossos corpos começaram a vibrar. Os passos lá fora ficaram mais audíveis, e os urros estremeceram nossas espinhas.
— Vou abrir esta porta e atravessar até a outra. Quando eu chamar, você corre sem olhar para trás, está bem?
Ela relutou, mas aceitou. Não tínhamos outra opção. Com o carrinho ainda emitindo sons, abri a porta e atravessei o corredor até a próxima porta, sem olhar para os lados. Ver aquela criatura só iria me distrair, mas ela parecia bastante entretida com o carrinho e não nos atacava. Cheguei à outra porta e a abri sem dificuldades.
Com gestos, a fiz vir em minha direção, seguindo as orientações sem hesitar. Ela adentrou o cômodo sem olhar para trás, e por um momento, pareceu que tudo ia correr bem.
"Agora só eu en-" Os sons foram cessando devagar, até que finalmente pararam por completo. As pilhas, já fracas, haviam se esgotado por completo, e o silêncio tomou o local. Não podia perder tempo. Comecei a me mover com cuidado para evitar fazer barulho, mas...
Rannn...
Um ranger leve na porta. Senti uma onda de tensão percorrer meu corpo enquanto aquele som ecoava pelo corredor, indicando que algo estava se aproximando. Sem pensar duas vezes, pulei para dentro do cômodo e fechei a porta com um baque surdo.
— A janela! — gritei, apontando na direção do único raio de esperança, já não importava gritar; nosso perseguidor já havia nos encontrado.
Ela correu em direção à nossa única chance de sobrevivência, enquanto eu usava meu corpo como peso na porta. No entanto, logo senti os baques violentos que vinham do lado de fora. A porta era martelada como se estivessem usando uma marreta, e os sons eram ensurdecedores. Meu corpo era constantemente jogado para frente, apesar de me esforçar para me manter firme. Os urros e berros da criatura eram terríveis, ecoando em minha mente como um eco incessante.
— Maninho! — Ela me olhava desesperada, tentando com todas as suas forças abrir a janela. — Não está abrindo!
— Droga! — Maldição! Olhei para a porta, que continuava a ser castigada impiedosamente. Sem opções, corri em direção a Samantha. — Dá licença, e não olhe para a porta!
Ela balançou a cabeça, juntando as mãos à frente dos peitos, como se estivesse orando.
Forcei a janela, mas ela não se moveu nem um centímetro. De repente, os baques cessaram. Não era um bom sinal, como ficou provado em seguida.
Com um último baque poderoso, a porta voou aberta, e sua quina acertou um ponto da janela, quebrando-a. Por pouco não fomos atingidos, mas ela caiu ao nosso lado, tombando com um estrondo.
Samantha correu e envolveu seus braços em volta de mim, observando a entrada junto comigo. De lá, duas mãos enormes, com dedos pontiagudos e tão escuros quanto a noite, surgiram, puxando o corpo que emergia da escuridão.
— Desculpa por não te proteger… — Nossas vidas pareciam que iriam se encerrar ali, e nada podíamo