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Chapter 31 - Decepcionado

Quatro dias passaram desde a conversa entre Fábio e Maximus com Miguel sobre seu futuro.

No terceiro dia, Maximus partiu de casa para resolver os problemas causados pelo bloqueio na Cidade de Pahvia e colocar seus investimentos comerciais nos eixos.

Fora a viagem de seu avô, não houve grandes acontecimentos. As aulas de pintura e música continuaram como de costume, e Elena ainda vigiava Miguel como um falcão.

Ela chegou a fazer uma de suas escapadas no meio da madrugada.

Apesar de Miguel conseguir acompanhá-la com seu Sentido Divino, seus encontros ocorreram por meio de cifras e troca de cartas criptografadas. Por isso, ele não teve muito progresso na investigação sobre os supostos cultivadores neste Mundo Inferior.

Pelo que Miguel sabia, apesar de o termo "cultivador" ser usado aqui de forma semelhante ao Reino Superior, a noção do que é realmente um cultivador parecia muito diferente.

Agora, consciente da presença de pessoas que conheciam a verdade sobre o Qi existente entre o Céu e a Terra, Miguel começou a suspeitar ainda mais da forma como o Império Skyla era organizado.

O simples ato de usar o sangue de Animais para tentar despertar habilidades e talentos novos era algo completamente anormal. Além disso, a maneira desorganizada com que a Imperatriz conduzia seu reinado parecia mais suspeita a cada momento.

Os nobres viviam em disputas constantes, casamentos consanguíneos eram comuns, e todos estavam presos neste continente, agindo sem restrições e se matando como animais enjaulados, ignorantes sobre um caminho melhor.

Ao mesmo tempo, dentro de uma das cidades mais importantes para o comércio do norte do continente, cultivadores pareciam existir e ser regulados por juramentos que os impedia de revelar a verdade.

Sua mãe não parecia ter conhecimento sobre cultivo, apesar de ser filha de uma cultivadora.

E por que seu avô só agora estava começando a dar seus primeiros passos como cultivador?

Tudo isso era muito suspeito, mas Miguel não tinha pressa em desvendar todos os mistérios dessa trama. Ele não tinha muitas preocupações além de corrigir alguns arrependimentos de sua vida passada.

Descobrir os segredos deste pequeno continente seria apenas um bônus.

O importante era que Miguel havia sido informado sobre as aulas. Como não seria possível contratar um tutor particular, ele seria matriculado em uma academia responsável por ensinar os filhos dos comerciantes.

"Eu sei o que esses velhos estão tramando", pensou Miguel, enquanto olhava pela janela da carruagem que seguia em direção ao leste da cidade. "Espero, ao menos, que as aulas de combate sejam tão surpreendentes quanto as de pintura e música que tive com Fábio."

Sentindo uma vibração no seu Sentido Divino, Miguel mal podia acreditar que Elena ainda o estava vigiando.

Ele realmente reconhecia a dedicação daquela mulher.

"Jovem mestre, está preocupado com suas novas aulas?" perguntou Sarah, que o acompanhava na carruagem.

"Um pouco...", respondeu Miguel.

"Não precisa ficar ansioso. Aposto que alguém inteligente como você vai se sair bem e fazer amigos rapidinho. Logo, logo vai estar conquistando o coração das jovens senhoritas de toda Pahvia."

"Hahaha!" Miguel soltou uma risada tímida antes de responder: "Obrigado pelas palavras gentis, mas nunca fui muito bom em socializar. Vou passar vergonha. Só espero não acabar com a reputação do meu avô."

Enquanto Miguel e Sarah conversavam, e Elena os seguia sorrateiramente, o tempo passou, e eles chegaram à academia fundada pelos comerciantes de Pahvia.

Centro de Ensino Superior.

O nome era um tanto brega, e as aulas envolviam história, matemática e combate.

Entre todas as opções, a única que realmente interessava a Miguel era o combate.

Pensando racionalmente, Miguel já planejava a melhor forma de passar despercebido todos os dias e aprender no seu canto. No entanto, havia um detalhe importante que ele não havia considerado.

No momento em que desceu da carruagem, acompanhado de Sarah, e parou diante da porta da academia, todos os transeuntes e alunos voltaram seus olhares para ele.

Roupas luxuosas, pele clara e cabelos dourados vibrantes — obviamente, essas eram as características de um descendente dos Eklere.

Um nobre estava bem na frente deles. Uma pessoa com sangue divino divide o mesmo ambiente que pessoas de casta inferior. Nem os filhos bastardos dos nobres frequentavam lugares de tão baixo nível.

Parece que, no plano apressado para fazer Miguel interagir com pessoas de sua própria idade, Fábio e Maximus haviam ignorado um detalhe importante.

A lacuna entre as classes sociais.

Quem seria louco o bastante para se aproximar de um nobre e arriscar ofender os donos das terras que cercavam a cidade? Quem ousaria colocar sua família em risco de destruição?

Miguel e Sarah caminharam desconfortavelmente sob o escrutínio de várias pessoas. Os murmúrios da multidão incomodavam Sarah, mas Miguel podia ouvir cada palavra.

Muitos estavam curiosos sobre como um nobre fora parar na mesma instituição que eles. Para o Centro de Ensino Superior, era um grande prestígio, mas para Miguel, era uma enorme vergonha.

Alguns já se gabavam de frequentar a mesma sala que alguém com sangue divino. Outros diziam que Miguel era uma fraude, manchando a dignidade dos nobres, e que por isso não podia mais circular entre seus semelhantes.

Em poucos segundos, dezenas de boatos surgiram, e Miguel sabia que seus dias de paz e estudo estavam condenados à extinção.

Na entrada da academia, o diretor e todo o corpo docente apareceram para receber Miguel.

"Saudações, jovem mestre! Obrigado por nos agraciar com vossa presença ilustre!", ressoavam em coro.

O diretor, um homem baixinho e gordo de maneira alarmante, deu um passo à frente e disse: "Ficamos honrados quando Maximus nos contou que seu ilustre neto desejava aprender conosco. Espero que nossas instalações estejam à altura de vossa nobreza."

Ele então começou a apresentar cada instrutor, professor e funcionário da academia, e todos se apressaram em bajular Miguel, sem lhe dar chance de responder.

"Este é George, nosso instrutor de combate", disse o diretor, apontando para o único homem usando armadura. "E ali temos Sofia, especialista na história do nosso grande Império Skyla e na ascensão da Imperatriz."

As apresentações continuaram por algum tempo, e para cada pessoa convocada, Miguel era recebido com mais bajulação.

"Ouvimos falar do seu talento avassalador..."

"O jovem mestre possui a beleza e graça de um deus..."

"Definitivamente abençoado com o sangue dos deuses."

E assim continuaram, até que o desconforto de Miguel finalmente foi notado pelo diretor, que interrompeu a chuva de elogios.

"Hahaha! A graça do jovem mestre é tamanha que acabei me esquecendo da etiqueta básica. Meu nome é Raimundo Ramos, e, se surgir qualquer problema ou alguém que não saiba seu lugar ou incomodá-lo, não hesite em solicitar uma audiência comigo. Eu pessoalmente cuidarei do assunto."

Enxotando os funcionários de volta aos seus deveres, Raimundo começou a guiar Miguel pelas salas e campos de treino, mostrando cada canto de sua instituição.

De certo ponto de vista, Miguel não parecia um novo aluno, mas o proprietário da escola que estava inspecionando o local.

O tempo que deveria ser gasto aprendendo foi desperdiçado por um homem desesperado em entrar nas boas graças do neto de um duque.

Depois de duas horas, Miguel foi enviado de volta para casa, carregando livros sobre os assuntos que seriam abordados, junto com um cronograma das aulas futuras.

Para piorar a situação, 80% do cronograma estava preenchido com aulas teóricas — matemática, história e outros assuntos nos quais Miguel tinha zero interesse, tudo aprovado por seu avô.

Parece que, apesar de apoiá-lo em suas aventuras e interesse por fortalecimento, Maximus e Fábio estavam mais preocupados com a parte social e não levavam tão a sério sua vontade de aprender a lutar.

Até os mercadores queriam que seus descendentes soubessem o mínimo de defesa pessoal. Afinal, as estradas eram perigosas, e mesmo os guardas poderiam falhar. Saber que seus filhos e netos não seriam facilmente subjugados era reconfortante.

Mas Maximus e Fábio não pareciam se preocupar muito. Para eles, nem o bandido mais corajoso ousaria colocar as mãos no filho de um nobre.

De volta para casa, Miguel passou o caminho inteiro focado nos livros que recebeu do diretor antes de sair, e por isso Sarah permaneceu em silêncio, respeitando seu estado de espírito.

Ao verificar o conteúdo dos livros, percebeu que todos eram sobre conhecimentos básicos.

Matemática financeira, cálculo de porcentagens — exatamente o tipo de coisa que um comerciante valorizaria. Havia um pouco de literatura e aulas de escrita, mas o foco estava na confecção de contratos e em como evitar ou criar armadilhas legais.

Quanto aos livros de história, pareciam mais com romances ficcionais, narrando as "grandes aventuras" de diferentes linhagens nobres ao longo dos séculos.

Por fim, o que mais havia despertado expectativas em Miguel foi também o que mais o decepcionou. As gloriosas artes de combate deste Mundo Inferior eram, na verdade, piores do que ele esperava.

Mesmo sendo um completo amador quando o assunto era espada, lança ou qualquer outro armamento, Miguel já havia vivido o suficiente e aprendido o bastante para reconhecer lixo quando o via.

E o que estava em suas mãos agora era, sem dúvida, o mais puro lixo.

As técnicas de combate, descritas em cada página, formavam uma série de movimentos intrincados e belos, mas que mais pareciam uma ofensa ao Dao da Espada. Seria mais justo chamar essa palhaçada de "arte da dança" do que "arte da espada".

Em suas memórias, havia milhares de técnicas e habilidades de espada, lança, arco, chicote e centenas de outras armas diferentes. O problema era o mesmo que ele enfrentava com pintura, música, caligrafia ou xadrez.

Era fácil decorar a informação contida nos livros, mas quase impossível transformá-la em verdadeiro conhecimento sem um professor ou instrutor adequado.

Com uma expressão empolgada, Miguel fingiu mergulhar nos livros que receberá, parecendo um aluno dedicado. No entanto, seus verdadeiros pensamentos estavam a milhas de distância de suas ações.

"Se eu soubesse que seria uma perda de tempo tão grande, não teria me dado ao trabalho de pedir essas aulas", pensou ele, disfarçando seu desapontamento. "Agora, será estranho desistir logo depois de ter insistido nisso."