A noite estava calma , quinze anos passaram-se muito rápido. A cidade mudara muito pouco. Passava das 10:00h da noite . Não havia mais ninguém na rua . Ninguém a esperava . Começou a caminhar apressadamente , pois o mundo havia mudado , como vinha de cidade grande temia ser assaltada. As malas estavam muito pesadas . Se apressasse o passo talvez chegaria logo a sua casa. Estava muito ansiosa para rever as irmãs. Deviam ter crescido muito. Ao mesmo tempo pensava : Como entraria novamente naquela casa ? A saudade de sua mãe começava a apertar o peito.
Não teria o seu abraço caloroso e nem poderia mais pentear os seus cabelos . Estava agora com 30 anos , saira de casa para estudar fora com 15 anos . Era tratada como princesa na casa de seus tios padrinhos. Estava formada em administração e trabalhava na empresa do tio. O pai parecia ter esquecido dela, poucas vezes telefonava e quase não tinha notícias dele.
- Papai esqueceu que eu chegaria? Pensava Kayla.
De repente , um carro preto , marca de pessoas de boa condição financeira para à sua frente . Kayla levantou o rosto para olhar se não era o seu pai. O condutor saiu e ela pode perceber a sua beleza ímpar. Tratava-se de um homem alto, cabelos lisos castanhos , olhos da cor de mel , cor parda e muito bem vestido . O mesmo fez questão de interrogá-la :
- O que uma senhorita faz uma hora dessas na rua ? Vejo que chega de viagem e a vossa mala parece um tanto pesada . Falou o homem .
- Meu nome é Kayla , muito prazer ! Não tenho tempo para falar com estranhos ... Estou com pressa !
- Calma , senhorita ! Ninguém deixa Carlos Eduardo falando sozinho! Indagou ele segurando-a pelo braço, impedindo-lhe o próximo passo.
- Olha aqui meu Senhor ! Não sei quem és, também não quero saber . Tenho raiva de quem sabe e não poderei perder meu tempo com você! Falou Kayla , soltando o seu braço com um leve soco .
Kayla pegou as malas e saiu em disparada . Mas , antes que desse o segundo passo ele a segurou novamente .
- Imagina , se eu deixarei uma senhorita andar sozinha em uma hora dessas. Onde você mora? Quem são os seus pais? Vejo que não mora por essas bandas a tempo! Falou ele com voz um pouco mais mansa.
- Moro aqui perto. Quer dizer, morei há 15 anos. Meu pai é muito conhecido .... chama-se Adalberto Limontes . Falo . Kayla
Como se pegasse um susto , ou choque . Ele parou por um momento , mudou o semblante e indagou com muita ira:
- Você? Filha daquele crápula, maldito! Maldita seja você também!
- Olha aqui, meu Senhor! Não sei o que tens contra o meu pai . Mas , não admito que venha insultar-me! Motivos que até desconheço.
- Não me chame de senhor ! Pois o único Senhor está no céu! Só tenho 35 anos . Acho que não estou tão velho assim. Disse ele com ironia.
Fez-se um silêncio momentâneo. Quando de repente , uma parati verde para próximo a ambos. O homem era gordo, na idade de uns 65 anos .
- Filha! Como está bela! Falou o homem tirando-lhe o lenço que cobria os cabelos dela .
Nesse momento, Edu, como era chamado pelos amigos, pode observar ainda mais aquela recém- chegada . Kayla era alta, corpo bonito, os cabelos eram da cor de mel , lisos e ondulados nas pontas. Os olhos eram meio puxados e esverdeados .Tinha completado recentemente 30 anos , mas aparentava 25.
- O que está fazendo aqui? Indagou Adalberto com muita fúria na voz e no olhar.
- Quis apenas ajudá- la , como ajudaria qualquer pessoa que precise. Não sabia que era sua filha . Embora , depois de alguma conversa , tenha percebido a estupidez puxada ao pai! Falou Edu sarcasticamente.
Adalberto deu de ombros , pegou as malas e levou ao carro. Kayla , porém olhava para Edu com uma admiração que não conhecia. Talvez fosse a sua beleza ímpar, ou a semelhança com o ator do filme Matrix. Pensou então:
- Se é inimigo do meu pai , então não é boa pessoa! Mas , será o porquê de tanto ódio? Vi claramente nos olhos de ambos uma chama de fúria!
Entraram no carro e foram para casa. Edu os olhou até sumirem na próxima esquina. Kayla estava angustiada . Apertava-lhe o peito . Sua mãe não estaria a sua espera . Morrera antes dela viajar para estudar fora. Jamais conseguiria entender , como uma mulher tão cheia de vida morrera como uma vela que se apaga . Na época, não havia exames para comprovar . Talvez morrera do coração. Uma lágrima descia do seu rosto . Observou que o carro parou . Não era mais a casa que conhecera . Fizeram várias modificações. O jardim , o qual era a paixão de sua mãe , também estava diferente . As rosas vermelhas não estavam mais ali. "Como era gostoso pegar uma flor e colocar em seus cabelos". Que falta fazia a sua querida mãe! Os móveis foram todos trocados . Agora, da cor marfim .
- Vejam filhas! Essa é a irmã de vocês!
Kerly e Kenia abraçaram a irmã. Elas tinham cabelos pretos , eram lisos . Não pareciam com Kayla .
- Estou morrendo de fome ! O que temos para jantar?
- Uma comida muito especial , filé com salada e arroz! Falou Bia , a governanta da casa.
Jailton , um dos empregados da casa levou as malas para o quarto. Aproveitando a oportunidade para conversar um pouco. Ele era simpático.
- Você é a filha mais velha do senhor Adalberto?
Kayla acenou com a cabeça, observando a estrutura daquele corredor que antes não existia. Após alguns minutos calada, falou:
- Como você se chama ? Indagou Kayla
- Jailton, muito prazer . Estou as suas ordens!
- Quem sou eu para dar-lhe ordens?! Por favor , não me chame de senhora , mas pelo nome !
- Tudo bem , Kayla ! Aqui é o seu quarto . Se precisar é só chamar. Exclamou Jailton com um longo sorriso no rosto.
Jailton era alto, magro , cabelos bem cortados e lisos . Um belo rapaz ! Muito simpático . Kayla apertou-lhe a mão em um gesto de agradecimento. O quarto era pequeno, porém muito confortável. Os móveis eram brancos , cor preferida de sua mãe. Uma chuva de recordações inundou o seu pensamento. Como se os anos tivessem voltado . Após o banho , vestiu um leve vestido cinza , abaixo do joelho e desceu para jantar. Suas irmãs estavam maravilhadas com a sua beleza . Kerly lembrou-se da mãe, estavam muito parecidas . Kenia observou o jeito de andar , era como se visse a mãe naquele momento e os olhos encheram-se de lágrimas.
O choque maior foi para Ravena , a nova esposa de Adalberto. Era uma senhora de 45 anos, cabelos curtos , pintados de loiro perolado . O maior exemplo de falsidade.
- Kayla , essa é a sua madrasta Ravena ! Falou Adalberto do outro lado da mesa.
Ravena estendeu-lhe a mão dizendo que estava feliz por sua presença naquela casa. Kayla agradeceu secamente e fez o seu prato, a fome era grande. Enquanto jantava, Kayla foi submetida a muitos interrogatórios:
- O que faz da vida? Nunca casou ! Com 30 anos por aqui não arranja mais marido. Falou Adalberto sorrindo.
- Casamento não é tudo na vida! Me formei em administração, trabalho na empresa do meu tio. Tirei umas férias e logo voltarei. Fico mais na contabilidade.
- Hum! Pois aproveite as férias ! Aqui não tem muito pra onde ir ! Jailton sairá com você para conhecer lugares .... falou o pai de Kayla.
- Não sabia que tinha casado. Meu tio nunca falou nada.
- Sua mãe não voltava mais. Precisava de uma companheira para cuidar das meninas ... falou ele apertando a mão da esposa.