A Vila do Ferreiro era um lugar com uma arquitetura diferente de tudo o que Klaus Park já tinha visto em sua vida.
Cada construção tinha ornamentos detalhados e símbolos, que se assemelhavam a hieróglifos do Egito Antigo, os quais não são incomuns de se encontrar. No entanto, esses desenhos incomuns eram mais geométricos, como algumas linhas retas, não ilustrações reais, e eram tão frequentes que pareciam formar algum tipo de linguagem.
Enquanto Kaizen seguia Therkara, ela explicou que esses símbolos não eram nada menos que runas, um tipo de linguagem herdada de anões de um dos ramos da árvore genealógica da família Ironstone. Fazia tanto tempo desde que Kaizen tinha visto Runas Nórdicas que ele havia completamente esquecido de sua existência, mas agora ele conseguia lembrar que runas eram elementos artísticos frequentes em muitos jogos.
De qualquer forma, a estética atual da Vila dos Ferreiros apenas intensificava a questão interna do Kaizen sobre onde estavam os outros ferreiros.
"Therkara, como era, digo… viver aqui?" Klaus perguntou e então pulou para a próxima pedra no caminho.
A senhora ferreira era alta e robusta. Seus cabelos castanhos balançavam bastante a cada salto, o que não a impedia de ser muito mais rápida ao caminhar pelo terreno do que Kaizen. Então, ela estava alguns metros à frente, mas parou para responder à pergunta de seu companheiro de missão.
"Era muito divertido! Éramos pouco mais de cinquenta pessoas em toda a vila, se não me engano, mas tínhamos festas que fariam inveja aos festivais das grandes cidades! Não faltava comida e bebida. Afinal, pessoas de todos os cantos do mundo vinham a essa caverna em busca de nós. Não havia nem um único ferreiro neste reino com mãos tão habilidosas e talentosas quanto as nossas." Ela respondeu, olhando para as ruínas ao seu redor com um sorriso fechado estampado em seu rosto.
Kaizen quase a alcançou enquanto ela respondia. "É? Vocês eram tão bons assim?"
"Não tenha dúvida! Não te contei antes, mas meu pai era um famoso mestre ferreiro que até os nobres mais famosos vinham à nossa porta comprar armas dele! Ele... Ele foi o melhor ferreiro que já vi com meus próprios olhos." O rosto animado de Therkara finalmente murchou ao fim de sua frase.
"Seu pai está morto? Não precisamos falar sobre isso se você não quiser."
Inicialmente, Therkara titubeou para responder; no entanto, ela respondeu após alguns segundos. "Ele contraiu uma doença que criou bolhas pretas em sua pele e morreu algumas semanas depois. Como minha mãe morreu quando eu nasci, fiquei por alguns dias me sentindo sozinha, sem nem conseguir tocar um martelo."
Therkara Pedraferro se lembrou daqueles dias de luto com grande amargura e vergonha. Ela sabia que seu pai não era o único com aquela doença na vila, e que os doentes precisavam de cuidados adequados, especialmente de pessoas experientes como ela. Ainda assim, ela escolheu se trancar em casa por um longo período, talvez por medo, culpa ou até remorso. Mas quando finalmente saiu, ela foi direto para a forja de seu pai, a Forja Medular, onde o melhor ferreiro trabalhava e as melhores armas deste reino eram forjadas.
"Quando finalmente criei coragem de sair de casa, decidi que, em honra ao meu pai, eu faria a espada mais fina que este mundo já viu, uma espada cuja lâmina de metal seria mais afiada que o obsidiano mais puro." Ela continuou.
"E o que aconteceu depois disso? Você conseguiu criar tal arma?"
"Se consegui, eu também não sei. A última coisa de que me lembro é de martelar sem parar numa barra de aço, e depois disso, escuridão." Therkara explicou, cruzando os braços novamente.
As linhas da mulher-mercadora provaram para o Kaizen que havia uma trama profunda nessa missão e também que não era uma missão do tipo que se deveria apenas cumprir o objetivo principal sem se importar com o resto. Se a missão fosse muito mais complexa do que Kaizen esperava, isso também poderia significar que as possíveis recompensas, informadas na proposta da missão, não estavam relacionadas a uma única recompensa final que ele ganharia aleatoriamente ao completar a missão, como inicialmente Kaizen pensava, mas ao invés disso, que ele poderia encontrar essas recompensas ou não, dependendo dos caminhos que escolhesse na missão.
"Ei, Therkara. O que você acha de investigarmos alguns dos outros prédios também? Podemos não encontrar pessoas; no entanto, podemos encontrar pistas do porquê tudo mudou tanto." Kaizen propôs antes de prosseguir pelo caminho de pedra dessa colossal caverna.
Therkara Pedraferro levantou as sobrancelhas, surpresa com a ideia do garoto, e acenou com a cabeça. "É uma ótima ideia. Vamos fazer isso."
"Certo. Você vai checar aquele lugar, e eu vou olhar por aqui. Não hesite em gritar por mim se ouvir ou ver algo diferente." Ele disse com um sorriso maldito.
O NPC reagiu bem à sua provocação, sorriu também, ergueu o braço direito e flexionou o mesmo. "Não subestime a força de um ferreiro!"
Therkara então seguiu para a direita, em direção a um prédio com colunas grossas na frente e um teto triangular. Enquanto isso, Klaus seguiu para a esquerda, de olho em uma construção mais distante que parecia um aglomerado de casas devido à quase uma dúzia de portas e janelas de madeira.
Por sorte para Kaizen, desde o momento em que chegou a essa região mais residencial da colossal caverna, ele não precisou mais se equilibrar em caminhos de pedra, já que o chão estava livre de estalactites.
Olhando ao redor, Kaizen notou que essas casas embutidas na parede rochosa foram feitas assim, brotadas, justamente para aproveitar a rigidez e firmeza da região, porque ao menos cinco minutos de caminhada para trás, havia locais de mineração. Nessa região das casas, nem sequer havia um indício disso, indicando que era seguro dizer que não havia risco de inundações ou deslizamentos de terra.
Este aglomerado de casas ficava um pouco mais alto em comparação com o resto da caverna, e dessa altura, Kaizen podia ver quão vasto e assustador era todo o lugar. Ainda assim, mesmo estando lá em cima, Klaus não conseguia nem saber onde ficava a Forja Medular mencionada por Therkara, o que provavelmente significava que esse lugar ficava na região onde a vasta caverna se estreitava em uma ravina.
De qualquer forma, Kaizen sabia que seu objetivo no momento não era encontrar a Forja Medular ainda. Ele realmente queria ver as informações sobre o que havia acontecido naquela vila e, para isso, ele tinha que investigar.
Diante da parede de pedra lotada de portas e janelas apodrecendo, os olhos atentos de Kaizen rapidamente se fixaram numa placa que estava na única casa com porta.
"Residência da Família Ironstone." Kaizen leu em voz alta para si mesmo enquanto colocava as mãos nas maçanetas da porta dupla e finalmente as girava, abrindo a porta.
...
Editado por: DrHitsuji
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