Gabriel aguardava para ouvir a história, sem ter ideia do que poderia se tratar, mas, vendo as expressões repugnantes de Lira, ele sentiu que devia ser algo terrível.
Não o fazendo esperar por muito tempo, Lambard começou a história.
"Apófis era um semideus que viveu na era em que era mais comum ver semideuses do que não. Ele era conhecido como alguém que não se importava com as regras morais que este mundo havia estabelecido. Ele fazia o que queria, enquanto desejasse. Até mesmo roubava mortais às vezes só para ver a expressão deles."
"É por isso que ele também é chamado o semideus mais irritante dentre os semideuses. Ainda assim, apesar de todas as suas táticas, os outros semideuses não o impediam. Eles deixavam ele fazer o que quisesse, já que suas pequenas artimanhas não estavam causando nenhum dano sério ou mortes."
"Com o tempo, a ousadia de Apófis só aumentava à medida que ele se deslocava de Cidade para Cidade para se livrar do tédio. Uma dessas cidades era a cidade de Eloran. Era uma cidade que ele nunca havia visitado antes, mas, assim que entrou na cidade, ele decidiu se estabelecer lá. Sabe por quê?"
"Ele gostou da cidade?" Gabriel arriscou um palpite.
"Não." Lambard balançou a cabeça. "É porque ele se apaixonou por uma mulher que morava na cidade... Uma mulher casada. Ele tentou conquistar a mulher, mas ela evitou suas investidas a todo momento e o rejeitou várias vezes."
"Finalmente, Apófis ficou frustrado e decidiu fazer algo realmente tolo. Ele mandou alguns homens manterem o marido da dama distraído com algumas tarefas para garantir que ele não pudesse ir para casa a noite toda. Ao mesmo tempo, ele usou sua divindade para se transformar no marido da dama e foi à casa dela. Escondendo sua verdadeira identidade, ele dormiu com a mulher..."
"Foi apenas depois de terminar que ele desfez seu disfarce e contou a verdade à mulher. Ele disse a ela que já havia possuído seu corpo e agora ela estava impura para o marido. Pediu que ela viesse com ele e deixasse essa cidade."
"Isso..." Gabriel não sabia como responder. Apófis parecia ser um cara realmente perturbado. O que ele fez não era apenas uma travessura; era maldade!
"Apófis disse à mulher que viesse à entrada da cidade ao entardecer para partir com ele, ou ele contaria para toda a cidade que a mulher dormira com ele para manchar a reputação dela. Não apenas ele fez algo vil, mas também a chantageou usando aquela informação."
"Ele esperou na entrada da cidade pela chegada da mulher, mas ela não apareceu. Após se cansar, ele voltou à casa dela para forçá-la a acompanhá-lo mas, assim que chegou à casa dela, ele a viu pendurada por uma corda. A mulher havia se matado."
"Chocado, Apófis fugiu da cidade, não percebendo que a mulher havia deixado uma carta sobre a mesa antes de morrer na qual ela escreveu tudo que havia acontecido."
"Quando o marido da mulher retornou para casa, ele viu a esposa que amava mais que sua vida... Morta. Por um bom tempo, ele ficou incrédulo antes de começar a chorar enquanto a tirava para baixo. Ele colocou o corpo dela morto na cama e perguntou por que ela faria isso, mas os mortos não podem responder."
"Dizem que o marido descobriu a carta e encontrou a verdade. Ele queria vingança contra o homem que fez aquilo, mas ele não tinha força, mas sabia que alguém que tinha..."
"Após dar a sua esposa um enterro apropriado, o homem deixou a cidade e foi para a cidade da Divindade... Uma cidade onde a maioria dos semideuses morava naquela época. E um desses semideuses era o irmão de sua falecida esposa..."
"Apófis não sabia que a mulher que ele perseguia era a irmã do Semideus Raini... Um dos semideuses mais poderosos."
"Apófis era permitido fazer o que bem entendesse porque ele tinha cuidado para não irritar os semideuses poderosos. Quanto aos sete deuses, ele nem sequer ousava estar na mesma cidade que eles. Infelizmente, desta vez sua sorte havia acabado já que ele não sabia quem era o irmão da dama que ele estava assediando."
"Esse único erro finalmente o levou às portas da morte. Os Semideuses que se recusaram a detê-lo ao longo dos anos finalmente tomaram uma atitude, pois seus atos haviam ultrapassado os limites e manchado a reputação dos semideuses."
"Apófis tentou fugir, tentou se esconder, usou todos os truques que podia para sobreviver enquanto podia, mas no final foi capturado e morto."
"Tudo o que restou de Apófis foi seu Artefato Numen... O anel que lhe foi dado por sua mãe quando ele era criança... A época que ele nunca tirou. O anel de Apófis," Lambard explicou. "Este anel é um Artefato incrível que pode ajudar você a se disfarçar e mudar sua aparência para se parecer com quem você quiser."
"Infelizmente, este anel também não está sem falhas. Você pode se disfarçar de alguém com este anel, mas seu disfarce para de funcionar sempre que a pessoa com quem você está se disfarçando chega a cem metros de você. Então, é preciso ter cuidado antes de escolher quem você quer se disfarçar."
"Há mais uma falha nele. Já que você está apenas usando a energia divina de Apófis através do anel, você só pode realizar uma transformação fraca, diferente do verdadeiro Apófis. Há pessoas no mundo que podem ver através do seu disfarce, por exemplo, os Chefes das Cinco Igrejas dos Elementos que ainda existem."
"O Decano da Academia do Elemento também pode ser capaz de ver através do seu disfarce, então, quando você usar o anel, deve fazer tudo que puder para evitá-los quando estiver disfarçado, beleza?"
Lambard já havia prometido entregar o anel de Apófis anteriormente, e ele decidiu manter sua promessa.
Ele tirou o belo anel dourado do dedo anelar esquerdo e o colocou nas mãos de Gabriel.
"Estou apenas te emprestando isso temporariamente. E é só por sete dias a partir do momento que você entrar na Capital Real. Após sete dias, o anel voltará para mim sozinho. Pense nisso como um mecanismo de segurança, caso você falhe. Eu não quero perder essa preciosa peça da história."
"Apenas sete dias?!" Lira exclamou. "Isso não é tempo suficiente! Podemos precisar de mais!"
"Sinto muito, eu não posso fazer mais. Você terá apenas sete dias após entrar na Cidade Sagrada. Você pode aceitar minha oferta ou deixá-la. Não estou te forçando. Além do mais, se você realmente conseguir, sete dias são mais do que suficientes para fazer isso. Se você não conseguir em sete dias, então as chances do seu sucesso provavelmente nunca estiveram lá em primeiro lugar."
Lambard não se abalou com os questionamentos de Lira. Ele não recuou. Uma vez que ele tomava uma decisão, estava feito.
"Sete dias devem ser o suficiente." Gabriel aceitou a oferta. Ele colocou o anel no dedo médio da mão direita, bem ao lado do anel preto no dedo anular.
O anel dourado e o anel preto em seus dedos criaram um bom contraste. Mesmo que tivesse recebido apenas cinco dias, ele teria aceitado a oferta da mesma forma, já que ele não estava indo à academia para estudar. Ele estava indo lá para roubar, e uma tentativa era tudo o que ele ia ter...