Lambard sentou-se em seu trono e fechou os olhos. Por um momento, reinou apenas o silêncio, já que ninguém falava. Até as batidas do coração das pessoas podiam ser ouvidas no silêncio.
Após um longo tempo, o homem velho rompeu seu silêncio enquanto abriu os olhos, que agora aparentavam ser muito profundos. Era como se seus olhos estivessem preenchidos por séculos de sabedoria.
"Este mundo nosso, é algo que ninguém realmente entende. Não são muitas pessoas que conhecem a verdadeira história deste mundo ou como ele passou a existir. As pessoas sequer sabem por que temos os Magos e de onde eles tiram seus poderes? Quem criou os Grimórios? Quem fez os Cajados Ancestrais? Como eles alcançaram isso? De onde o primeiro mago tirou seus poderes?"
"O que as pessoas não compreendem, elas começam a presumir. Começam a acreditar que foram os Deuses que deram esses poderes aos humanos, selecionando-os como seus guerreiros. Acreditam que o primeiro mago ganhou suas habilidades porque foi escolhido pelos Deuses. E que o primeiro Elemento a ser despertado é conhecido como Elemento de Origem."
"A maioria das pessoas pensa que o primeiro Elemento que foi despertado por alguém foi o Elemento da Luz. É por isso que eles acham que a luz é o Elemento de Origem, mas a maioria das pessoas está errada."
"Elas estão erradas sobre tudo, não apenas sobre o Elemento de Origem. Estão erradas sobre a Origem dessas habilidades. Estão erradas sobre como os primeiros Magos obtiveram suas habilidades. Estão erradas sobre milhares de coisas. Mesmo as pessoas mais instruídas estão erradas sobre tais coisas." Enquanto Lambard falava, continuava girando seu anel no dedo como se estivesse brincando com ele.
"Sobre o que exatamente elas estão erradas?" Gabriel perguntou. "E como você sabe de tudo isso se até as pessoas mais conhecedoras não sabem?!"
"Eu vou responder todas as suas perguntas. Mas primeiro, seu chá chegou, parece." O homem jovem olhou por cima do ombro de Gabriel.
Gabriel olhou para trás, apenas para se surpreender. Outra pessoa tinha aparecido atrás dele sem fazer barulho. Era a mesma criada que os tinha trazido até esse lugar inicialmente.
A criada estava carregando duas xícaras cheias de chá em sua bandeja.
Ao ver Lira pegar uma xícara, Gabriel sentiu que deveria pegar a xícara também como cortesia, mas ele não o fez. Não importava quem essa pessoa fosse, ele não podia crer que esse chá não podia estar envenenado.
"Desculpe, mas estou satisfeito. Pode dar ao Mestre Lambard," Gabriel disse à jovem criada atrás dele.
"Você é realmente cuidadoso, pelo visto." Lambard sorriu. "Não se preocupe. Não há veneno no chá."
"Me desculpe, mas eu parei de confiar nas palavras das pessoas por enquanto. Além do mais, eu não acho que quero beber nada no momento," Gabriel respondeu calmamente.
"Bem, certamente é uma boa característica desconfiar daqueles ao seu redor. Nunca se sabe quem pode traí-lo se você não for cuidadoso. E quando você percebe, já é tarde demais. Mas ainda assim, não vá longe demais em suas suspeitas. Não afaste seus verdadeiros apoiadores por causa delas," Lambard afirmou calmamente antes de pegar a xícara que não fora tomada por Gabriel.
Ele tomou um gole bem diante dos olhos do jovem. "O chá está delicioso como sempre. Obrigado, Maria."
A mulher sorriu em resposta. "Fico feliz que tenha gostado, Mestre."
A criada esperou que todos terminassem o chá antes de sair, levando as xícaras vazias e dando a privacidade que queriam.
"Ah, onde eu estava? Ah, sim. Não afaste as pessoas; você deve manter algumas por perto. Porque o Elemento que você tem? Ele vai atrair muitos problemas para você."
"Aqueles que não sabem o que esse símbolo significa vão confundi-lo com o Elemento da Escuridão. Isso é problemático de fato, mas não tão problemático quanto vai ser quando os que verdadeiramente sabem sobre a verdade do seu Elemento descobrirem sobre sua existência. Você vai precisar de toda ajuda possível naquele momento, então é isso."
Lambard não falou muito sobre as ações de Gabriel e sua falta de confiança. De fato, ele não se importava, já que era uma boa característica quando usada com moderação. Ainda assim, ele não esqueceu de transmitir um pouco de conhecimento ao jovem, falando por experiência própria.
Gabriel entendeu o que o homem estava tentando insinuar. Ele estava tentando dizer que o caminho à frente era perigoso e que ele não podia caminhar sozinho nesse caminho, já que havia o risco de se perder no processo.
"Esta Marca de Karyk, o que é? Você pode me responder isso primeiro?" Gabriel perguntou, voltando ao assunto. "Você estava falando sobre isso."
"Certo. A Marca de Karyk..." Lambard endireitou as costas.
"Para conhecer a marca de Karyk, é necessário saber como as habilidades usadas pelos magos se originaram. Como eles adquiriram essas habilidades? De onde elas vieram? E não, por mais que as pessoas gostem de afirmar, essas habilidades não vieram dos Deuses."
O homem começou a explicar com um tom solene.
"Milhões de anos atrás, não existiam Magos neste mundo. Havia apenas humanos que povoavam este mundo. Não havia magia neste mundo. No entanto, mesmo que as pessoas aqui não tivessem magia, elas possuíam algo completamente diferente. Eles tinham o que costumavam chamar de Ciência..."
"Agora, talvez você não entenda o que significa Ciência. Nem eu entendo completamente, mas era algo realmente milagroso. A civilização daquela época não podia usar magia, mas mesmo assim era muito avançada para o seu tempo."
"Eles conseguiram construir edifícios altos, coisas que podiam transportá-los de um lugar para outro sem que tivessem que caminhar. Eles também fizeram algo que podia voar no ar para levá-los a terras distantes," o homem explicou.
"Isso não é apenas magia? É impossível voar sem magia. Será que possível que essas pessoas usavam a palavra ciência para o que conhecemos como magia? Eu não acho que haja outra maneira de voar," Gabriel perguntou.
"Não. Você está enganado. Inicialmente, eu também pensava o que você pensa agora, mas logo descobri que estava errado. Ciência não era magia. Era algo muito mais complexo. A ciência podia tornar possíveis muitas coisas que podemos fazer com a ajuda da magia."
"Eles criaram armas que podiam destruir cidades sem usar magia. Eles podiam voar e mais. Como eu disse antes, essa civilização era mais avançada. Se eu pudesse voltar no tempo para viver naquela linha do tempo, eu faria isso num piscar de olhos."
O homem soltou um profundo suspiro de decepção. "Infelizmente, nunca poderei ver essa gloriosa civilização."
Gabriel maravilhou-se com a história que ouviu. Lira parecia mais calma como se ela tivesse ouvido essa história muitas vezes antes.
"Por que a Ciência não existe mais? Como as pessoas ganharam magia? Como terminou essa Antiga Civilização?"
"Ganância e ódio... Essas duas coisas podem destruir até os mais prósperos dos Impérios. Não foi diferente para aquele povo," o homem velho respondeu.