Chapter 40 - Raiva

Os mercenários não duraram tanto; graças a isso, os olhos de Chuva se arregalaram ao ver a diferença gritante entre seu pai e tio, que haviam sido treinados desde jovens, e os mercenários comuns que não tinham tamanha preparação. Foi como um momento de revelação para ele, percebendo que o abismo em habilidade e experiência era imenso.

Ele sempre soube que seu pai e tio eram lutadores formidáveis, mas não foi até esse momento, em meio ao caos e perigo, que Chuva realmente compreendeu a extensão de suas habilidades. Os mercenários, embora corajosos, pareciam amadores em comparação. Seus movimentos não tinham a finesse e precisão, seus ataques careciam da eficiência calculada que seu pai e tio possuíam.

A mente de Chuva acelerou enquanto ele processava essa nova compreensão. Ele compreendeu que seu pai e tio haviam dedicado suas vidas ao combate, refinando incansavelmente suas técnicas e aprimorando seus reflexos. Seu treinamento os impulsionou a um nível muito além da média dos lutadores.

"Suponho que fui ingênuo por imaginar que ficaria super forte fisicamente com apenas alguns anos de treinamento e sem experiência de combate," Chuva pensou.

"Chuva, use isto," Roan disse ao passar três cajados para seu filho. "Eles reagem à sua mana e se consomem para liberar magia do fogo sem qualquer necessidade de foco ou encantamento. Normalmente não deixamos crianças usar isso, pois pode atrapalhar o crescimento delas, mas não temos tempo para nos preocupar com isso."

Os cajados variavam em comprimento, alguns chegando até o ombro do utilizador enquanto outros eram mais compactos, cabendo confortavelmente em uma mão. Eles foram feitos para proporcionar equilíbrio e manobrabilidade, permitindo ao usuário canalizar sua energia mágica com precisão.

No núcleo de cada cajado, encaixado em um soquete especialmente projetado, havia três cristais hipnotizantes: um vermelho, um azul e um verde. Esses cristais emitiam um brilho suave, lançando uma luz tenra sobre a área ao redor. Seus tons vibrantes cativavam o olhar, brilhando com uma energia interna que insinuava suas propriedades místicas.

"Precisamos... procurar por Lorence, e então poderemos deixar a cidade; outros podem cuidar da retirada por nós," Hugo disse enquanto gemia de dor, mostrando um rosto pálido.

"Sua ferida está se abrindo mais quanto mais você luta," Roan disse e então se perguntou o que deveria fazer. "Não somos bons em magia de cura, e Chuva é muito jovem para aprender isso."

"Leo provavelmente os atingiu primeiro," Hugo balançou a cabeça. "É perda de tempo procurar por eles agora."

Chuva presenciou um padrão perturbador emergir. Os inimigos, astutos e estratégicos, pareciam possuir conhecimento de seus alvos, selecionando cuidadosamente suas vítimas para maximizar o impacto e perturbar o equilíbrio de poder.

Entre seus principais alvos estavam as casas que detinham indivíduos que poderiam representar uma ameaça significativa à causa deles. Casas como a da família de Roan, capitães e curandeiros, foram marcados para destruição, sua própria existência vista como um empecilho para as ambições do inimigo.

A família de Roan, com sua linhagem nobre e lealdade inabalável, representava um farol de resistência contra as trevas que avançavam. Sua influência e conexões podiam reunir aliados, inspirar esperança e potencialmente mudar o rumo da batalha. Os inimigos buscavam extinguir essa luz, para incutir medo nos corações daqueles que ousassem se opor a eles.

"Precisamos dividir nossas forças em três," Roan declarou. "Um grupo vai defender o portão, outro vai defender as pessoas que vão escapar, e nós vamos procurar por Lorence e suas filhas."

"Parece ser nossa única opção," Hugo disse e então concordou com a cabeça.

"Chuva... cuide da sua mãe e irmãs por mim, tudo bem?" Roan disse. "Estou pedindo muito de você, mas tenho certeza que você fará bem."

"Tá bom," Chuva disse.

Chuva não gostava da ideia de deixar seu pai na cidade quando algo capaz de disparar uma bola de fogo tão maciça estava por aí, mas ele não tinha muita escolha. Roan era um guarda e um soldado; ele tinha que lutar e proteger aqueles que podia agora que sua família estava em segurança relativa.

O grupo se dividiu em três; Chuva, sua mãe e suas irmãs cruzaram os portões apenas para ver alguns campos escuros à frente. A área escura, desprovida do brilho quente da civilização, parecia existir em um crepúsculo perpétuo. Sombras se agarravam a cada superfície, sussurrando segredos que dançavam à beira da percepção. O ar tornou-se espesso com uma quietude enigmática, quebrada apenas pelo leve farfalhar de criaturas invisíveis e o uivo distante do vento.

A ausência de luz pintava uma tela de ambiguidade, onde formas se fundiam na escuridão e distâncias se tornavam ilusórias. As poucas fontes de iluminação, tochas fracas ou lanternas tênues, cintilavam com um desafio quase desesperado, mal perfurando a escuridão onipresente. O grupo se abrigou em um pequeno bosque à frente... parecia que os inimigos não trouxeram muitos para o ataque... ou não podiam sem se tornar muito fáceis de detectar.

"Mamãe, onde está o Papai?" Dana perguntou. "Estou com fome."

"Ele foi procurar por alguns amigos; ele voltará logo," Leiah disse enquanto acariciava a mente de Dana.

Uma mistura de emoções surgiu dentro de Chuva, avassaladoras e conflitantes. A dor o atingiu como uma onda de maré, lamentando a perda de um lugar que ele uma vez chamou de lar. A raiva fervilhava por baixo da superfície, alimentando sua determinação de confrontar as forças responsáveis por reduzir sua cidade a cinzas. Ele sentia um profundo senso de injustiça, questionando por que as chamas da guerra tinham que devorar a tranquilidade e paz que ele valorizava.

No seu peito, um nó de impotência se apertou. O peso do deslocamento pressionou sobre ele, lembrando-o das inúmeras vidas arrancadas pela maré impiedosa de conflito. O sentimento de perda e deslocamento cortou fundo, deixando-o se sentindo à deriva em um mundo de morte e destruição.

"Filhos da puta..." Chuva pensou.