```
Já faziam três dias desde a reencarnação e Ático ainda estava em negação. Tudo lhe parecia incrédulo.
"Talvez o Budismo tenha mesmo um fundo de verdade." Ático ponderou. Ele nunca tinha sido realmente uma pessoa religiosa. Sempre pensou que só houvesse o esquecimento após a morte.
A abordagem de Ático em questões espirituais sempre foi baseada na lógica. Ele se considerava um cético, confiando apenas em evidências empíricas; o que estava provado era verdade.
Embora sua mãe na Terra insistisse em ir à igreja todo domingo, Ático permaneceu desapegado das crenças religiosas.
Contudo, enquanto lutava com as consequências de sua experiência inexplicável, ele se encontrou em um cruzamento onde as linhas da racionalidade se confundiam com as estranhas forças em jogo.
'Já se passaram três dias. Acho que é hora de aceitar minha situação.' Ele pensou consigo mesmo.
Sua realização veio acompanhada de um leve toque na bochecha de uma mulher loira.
"Buá-uá," Ático respondeu, esperando que isso desencorajasse mais atenção. No entanto, isso só parecia torná-lo mais adorável para eles, enquanto continuavam a puxar suas bochechas rechonchudas.
'Eles não desistem, né?," Ático observou, sentindo-se ligeiramente irritado com a atenção. Ele preferiria um tempo tranquilo para pensar e planejar sua situação atual.
No meio de da conversa, Ático fez suas primeiras impressões das pessoas ao redor.
'Minha mãe, aparentemente,' ele divagou. 'Anastácia. Parece feliz... Eu acho,' ele notou enquanto olhava para uma mulher loira.
"Olha, Arya, ele pegou meu dedo!" ela exclamou radiante.
"Sim, minha senhora." Arya respondeu, dando a Ático um sorriso caloroso. Ela era a Lâminacordeiro de Anastácia, sua guarda-costas.
"Aqui, Ático! Pegue o dedo da mamãe." Anastácia insistiu.
'Ela é bonita.' Ático deu um pequeno sorriso e esticou a mão para pegar seu dedo.
"Isso! Assim mesmo," Anastácia guinchou, empolgada em sentir ele segurando seu dedo novamente.
'Caramba, isso cansa.' Ático se perguntou por que sentia tanto cansaço sem ter feito mais do que dormir desde que acordou.
'Suponho que é assim que um bebê se sente. Não é à toa que tudo o que fazem é cocô, comer e dormir,' ele refletiu.
'Estou feliz que pelo menos estão falando inglês,' ele acrescentou com um senso de alívio. 'Não precisarei aprender um idioma do zero. Não consigo pensar em nada pior.'
"Minha senhora, parece que o jovem mestre está cansado," Arya notou os olhos de Ático se fechando.
"É, você está certa, Arya," respondeu Anastácia, desapontada ao perceber que precisava deixá-lo em paz. Ela cobriu Ático com um cobertor quente e o deixou aproveitar seu sono.
'Agora estou a sós com meus pensamentos,' Ático percebeu, com sentimentos ambíguos.
Ático não podia deixar de relembrar sua morte prematura e o subsequente renascimento.
A questão permanecia sobre por que ele havia sido assassinado.
Ele lembrou as últimas palavras do homem, "Divirta-nos," ecoaram em sua mente, deixando-o confuso.
'Divertir ele!? Vá para um maldito circo se quer entretenimento!' ele pensou amargamente.
Quanto mais irritado ficava, mais exausto se sentia, e percebeu que seu frágil novo corpo não conseguia conter as emoções de sua vida passada.
Ele respirou fundo para recuperar a calma.
'Aceite sua situação e mantenha a cabeça fria. Uma mente clara enxerga tudo.' Ele se encorajou.
Respirando fundo calmamente, ele retomou o quebra-cabeça que tinha pela frente. 'Por que fui reencarnado? O que é mesmo esse lugar? Um parquinho?"
Embora confiante, a lógica o impedia de pensar que era tão excepcional a ponto de ser escolhido para reencarnação.
'Eventualmente eu vou descobrir. Por ora, porém, há apenas um caminho a seguir—viver,' ele se resolveu.
Tristeza invadiu seu coração ao se lembrar de sua mãe terrena. 'Espero que a mamãe fique bem,' ele suspirou, enquanto a preocupação surgia novamente.
'Não importa quanto tempo leve, eu juro que farei você se arrepender disso,' Ático estava determinado a caçar seu assassino a qualquer custo.
Ele era impulsionado por um forte sentimento de vingança, pois não pouparia ninguém que o tivesse condenado a esse destino.
Embora Kira, sua namorada, tivesse despedaçado seu coração, Ático não era alguém que deixava a traição moldar suas futuras interações ou determinar como avançaria na vida.
Ele sempre viveu por uma regra: olho por olho. Depois do que fez com ela, o assunto estava basicamente esquecido.
'Por ora, esta é minha nova realidade e darei o melhor de mim,' Ático declarou, determinado a descobrir. 'Vou garantir que ele não viva o bastante para se arrepender disso.' ele acrescentou.
Enquanto o sono o dominava, seus pensamentos se distorciam, pequenas janelas de memórias do que foi e do que poderia ser.
***
Os primeiros dias de Ático foram bem monótonos. Ele estava preso no modo bebê, apenas comendo, dormindo e, bem, fazendo cocô. E para completar, Anastácia observava cada movimento seu como um falcão. Ele mal conseguia ter um descanso.
'Essa teria sido a vida, se não fosse essa mulher esquisita' ele pensou.
"Vem aqui, meu pequeno Át!" a voz animada de Anastácia o chamava.
Em um quarto elegante cheio de brinquedos e almofadas, Ático estava à mercê das tentativas incessantes de Anastácia de entretê-lo. Ele só podia responder com balbucios, o que era frustrante para alguém que normalmente tinha muito a dizer.
"Bababa," Ático balbuciava e gorgolejava, sua comunicação limitada a esses sons inocentes.
'Ser criança é mais difícil do que eu pensava,' Ele tentava engatinhar em direção a Anastácia com suas pequeninas mãos de bebê.
Anastácia não desistia de tentar entretê-lo, enquanto apresentava um chocalho para ele brincar.
"Olha, Ático! Um chocalho divertido. Você consegue chacoalhar também?"
'Ah não, de novo não,' Ático suspirou e, relutantemente, chacoalhou o chocalho.
"Isso aí, bom garoto," ela o acariciava como se ele fosse a criança mais adorável do mundo.
"Bom bom, pequeno Át. O Papai estará chegando logo. Está animado?" Anastácia perguntou ao Ático enquanto o erguia com ternura.
'Hmm, um pai? Isso sim é uma reviravolta bem-vinda,' Ático refletiu. Ático nunca havia conhecido o marido de Anastácia, e ele também nunca havia conhecido seu pai na Terra.
Ele tinha desaparecido antes de Ático ter nascido. Talvez não fosse tão ruim ter um pai, isso talvez desse um tempero a mais nas coisas.
'Bem, vamos ver como isso se desenrola.' Ele disse, mas saiu como "Buaaaaw" em vez disso.
"Oh, você também está animado, pequeno Át. Quer ver o Papai?"
Com um sorriso maroto, Ático se acomodou para uma soneca, sua mente já acelerada com pensamentos sobre essa figura misteriosa do papai.
```